Um ariano forjado em bronze

reflexões sobre as disputas de memória em torno da estátua e da praça dedicadas a Gustavo Barroso – Fortaleza, Ceará (1962-2019)

Autores/as

Palabras clave:

Memória, Monumento, Dispustas, Estátua Pública, Gustavo Barroso

Resumen

Em 1962, foi inaugurada a estátua que homenageava Gustavo Barroso, diretor do Museu Histórico Nacional e militante da Ação Integralista Brasileira. Nosso objetivo com este trabalho é problematizar os processos e atores que intervieram na elaboração de memórias através desse monumento. Compreendemos a memória como um material sociopolítico dinâmico e que se (re)constrói através das disputas entre sujeitos. Portanto, propomos uma reflexão que opõem passado e presente para questionar as transformações simbólicas que esse item da cultura material cearense transmitiu ao longo do tempo, reverberando nas práticas adotadas pelos cidadãos na reivindicação do direito à memória no espaço urbano. Se a estátua de Barroso foi inaugurada com o objetivo de contemplar e eternizar a memória do cearense, cotidianamente, a praça onde está situada foi ocupada por grupos opostos que se defrontaram com a imagem de um personagem que contribuiu na organização do pensamento autoritário latino-americano e, oficialmente, legitimado pelo Estado.

Biografía del autor/a

Pedro Henrique Silva Paes, Universidad Estatal de São Paulo UNESP

Pedro Henrique da Silva Paes é Doutorando e Licenciado em História pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Mestre em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Especialista em Ensino de Ciências Humanas pelo Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Ceará (IFECT-CE), câmpus de Caucaia.

Citas

ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras. 2008.

ASSMANN, Aleida. Espaços de recordação: formas e transformações da memória cultural. São Paulo: Editora da UNICAMP. 2011.

AZEVEDO, Miguel Ângelo de. Cronologia ilustrada de Fortaleza: roteiro para um turismo histórico e cultural. Fortaleza: Edições UFC. 2001.

BARROSO, Antonieta Labouriau. [Correspondência]. Destinatário: Azarias Sobreira. Rio de Janeiro, 24 de fevereiro de 1961. Revista do Instituto do Ceará, n. 75, 1961.

BARROSO, Gustavo. Brasil, colônia de banqueiros: história dos empréstimos de 1824 a 1934. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1936.

BARROSO, Gustavo. [Correspondência]. Destinatário: Azarias Sobreira. Rio de Janeiro, 24 de maio de 1957. Revista do Instituto do Ceará, n. 75, 1961.

BARROSO, Gustavo. Liceu do Ceará. 3. ed. Fortaleza: UFC; Casa de José de Alencar, 2000.

BERNARDO, André. Quem são os integralistas, o fascismo brasileiro que mantém seguidores até hoje. BBC News Brasil, Rio de Janeiro, 21 ago. 2021. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese. Acesso em: 10 set. 2021.

BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia: uma defesa das regras do jogo. Tradução de Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1986.

CARDOSO, Gleudson Passos. Práticas letradas e a construção do mito civilizador: “luzes”, seca e abolicionismo em Fortaleza (1873-1904). Fortaleza: Ed. UECE. 2016.

CARVALHO, Nair Morais. Gustavo Barroso. Revista do Instituto do Ceará, n. 77, 1964.

CAVALCANTI, Lauro. Modernistas, arquitetura e patrimônio. In: PANDOLFI, Dulce (org.). Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1999.

CEARÁ recebeu restos mortais de Gustavo Barroso. Tribuna do Ceará, Fortaleza, 30 dez. 1965. Disponível em: http://mhn.museus.gov.br. Acesso em: 10 ago. 2021.

CHAGAS, Mário de Souza. Imaginação museal: museu, memória e poder em Gustavo Barroso, Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro. Rio de Janeiro, 2003. Tese (Doutorado) - Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

CONSTRUÇÃO de estátua-monumento em memória de Gustavo Barroso. Unitário, Fortaleza, 12 jan. 1960. Disponível em: http://mhn.museus.gov.br. Acesso em: 10 ago. 2021.

CONVOCAÇÃO integralista, preparação para desfile: a Secretaria Provincial de Educação convoca todos os ‘camisas-verdes’ de Fortaleza para a concentração de amanhã, na Praça Fernandes Vieira. Uniforme: ‘camisas verdes’. A Razão, Fortaleza, 10 jul. 1937. Disponível em: http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital. Acesso em: 10 ago. 2021.

COSTA, Isabel. Casa Frei Tito vai virar memorial. O Povo, Fortaleza, 27 mar. 2021. Disponível em: https://mais.opovo.com.br. Acesso em: 8 nov. 2021.

DAMASCENO, Pantaleão. Homenagem do Instituto do Ceará, da A.C.I. e da Academia Cearense de Letras a Gustavo Barroso. Unitário, Fortaleza, 3 jan. 1960. Disponível em: http://mhn.museus.gov.br. Acesso em: 10 ago. 2021.

DAMASCENO, Pantaleão. Gustavo Barroso volta à terra cearense esculpido numa bela estátua de bronze. Unitário, Fortaleza, 22 jul. 1962. Disponível em: http://mhn.museus.gov.br. Acesso em: 10 ago. 2021.

DANTAS, Elynaldo Gonçalves. Gustavo Barroso, o Fúhrer brasileiro: nação e identidade no discurso integralista barroseano de 1933-1937. Natal, 2014. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

DANTAS, Eustógio Wanderley Correia. Mar à vista: estudo da maritimidade de Fortaleza. Fortaleza: Edições UFC, 2011.

EM SP, monumento a Marighella é coberto por tinta vermelha, e Escadão Marielle Franco, pichado com frase “viva Borba Gato”. G1, São Paulo, 30 jul. 2021. Disponível em: https://g1.globo.com. Acesso em: 2 ago. 2021.

ESTÁTUA de Gustavo Barroso, dia 18, na praça que tem o seu nome. Correio do Ceará, Fortaleza, 8 ago. 1962. Disponível em: http://mhn.museus.gov.br. Acesso em: 10 de agosto de 2021.

ESTÁTUA de Gustavo Barroso na praça que tem seu nome. O Povo, Fortaleza, 10 jul. 1962. Disponível em: http://mhn.museus.gov.br. Acesso em: 10 ago. 2021.

GIRÃO, Raimundo. Gustavo Barroso. Revista do Instituto do Ceará, n. 72, 1959.

GUSTAVO Barroso. Correio do Ceará, Fortaleza, 30 dez. 1965. Disponível em: http://mhn.museus.gov.br. Acesso em: 10 ago. 2021.

HOJE em Fortaleza os restos mortais de Gustavo Barroso. Unitário, Fortaleza, 29 dez. 1965. Disponível em: http://mhn.museus.gov.br. Acesso em: 10 ago. 2021.

KNAUSS, Paulo. Imaginária urbana: escultura pública na paisagem construída do Brasil. In:

SALGUEIRO, Heliana (org.). Paisagem e arte. São Paulo: CBHA. 2000a.

KNAUSS, Paulo. O descobrimento do Brasil em escultura: imagens do civismo. Projeto História, São Paulo, n. 20, 2000b.

LE GOFF, Jacques. História e memória. São Paulo: Editora UNICAMP, 2013.

MACHADO, Diego Finder. Pensar sobre o vandalismo: os ataques contra o patrimônio cultural e as possibilidades de investigação no campo da História. In: ENCONTRO NACIONAL DE HISTÓRIA- ANPUH, 28., Anais..., Florianópolis, 2015.

MAGALHÃES, Aline Montenegro. Culto da saudade na casa do Brasil: Gustavo Barroso e o Museu Histórico Nacional. Fortaleza: Museu do Ceará; Secretaria de Cultura do Estado do Ceará. 2006.

MANIFESTANTES ocupam casa de Frei Tito em busca de preservação do patrimônio público. Diário do Nordeste, Fortaleza, 11 ago. 2018. Disponível em: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br. Acesso em: 8 nov. 2021.

MARQUEZ, Gabriel Garcia. Os funerais da Mamãe Grande. Rio de Janeiro: Record. 2014.

MELLO, A. da Silva. Gustavo Barroso, o homem. Luta Democrática, Rio de Janeiro, 31 jul. 1961. Disponível em: http://mhn.museus.gov.br. Acesso em: 10 ago. 2021.

MELO JUNIOR, Antônio Ferreira de. A assinatura “Gustavo Barroso”: análise do discurso narrativo de Ideias e Palavras, a Ronda dos Séculos e Os Protocolos dos Sábios de Sião. 2017. Natal, 2017. Dissertação (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

MONTES, Rócio. Protestos do Chile questiona história oficial das estátuas. El País, Santiago do Chile, 26 jan. 2020. Disponível em: https://brasil.elpais.com. Acesso em: 1º ago. 2021.

MOREIRA, Afonsina Maria Augusto. No norte da saudade: esquecimento e memória em Gustavo Barroso. São Paulo, 2006. Tese (Doutorado) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

NOTA sobre o incêndio da estátua de Borba Gato. Informativo Eletrônico da ANPUH – Associação Nacional de História, São Paulo, 30 jul. 2021. Disponível em: https://anpuh.org.br/. Acesso em: 1º ago. 2021.

O CEARÁ a Gustavo Barroso. O Jornal, Rio de Janeiro, 14 ago. 1962. Disponível em: http://mhn.museus.gov.br. Acesso em: 10 ago. 2021.

POLLAK, Michel. Memória, esquecimento, silêncio. São Paulo: Vértice, 1989.

POULOT, Dominique. Uma história do patrimônio no Ocidente, séculos XVIII-XXI. São Paulo: Liberdade. 2009.

PREFEITO de Fortaleza entrega requalificação da Praça Gustavo Barroso. Prefeitura Municipal de Fortaleza, 12 set. 2019. Disponível em: https://www.fortaleza.ce.gov.br/noticias/prefeitura-de-fortaleza-entrega-requalificacao-da-praca-gustavo-barroso. Acesso em: 20 dez. 2020.

QUE RUA ou praça deveria se chamar Gustavo Barroso. O Povo, Fortaleza, 28 jan. 1960. Disponível em: http://mhn.museus.gov.br. Acesso em: 10 ago. 2021.

REGIS, João Rameres. “Galinhas-verdes”: memória e história da Ação Integralista Brasileira Limoeiro - Ceará (1934-1937). Fortaleza, 2004.Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal do Ceará.

REGIS, João Rameres. O integralismo no interior do Ceará (1932-1937): adequações ao jogo político local. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA- ANPUH, 27., Anais..., Natal, 2013.

SCHMIDT, Patrícia. Plínio Salgado: o discurso integralista, a revolução espiritual e a ressurreição da nação. Florianópolis, 2008. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina.

SILVA, Anderson de Souza. O Salão de Abril em dois momentos: Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP) e Prefeitura Municipal de Fortaleza. Fortaleza, 2015. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Ceará.

SUCUPIRA, Luiz. Gustavo Barroso. Unitário, Fortaleza, 1º jan. 1966. Revista do Instituto do Ceará, n. 80, 1966.

VASCONSELOS, Sérgio de. Quarto Império. Blog O Quarto Império, 10 dez. 2013. Disponível em: http://oquartoimperio.blogspot.com/. Acesso em: 9 jun. 2020.

XAVIER, Getúlio. Para 59% dos brasileiros, Bolsonaro é ruim ou péssimo, aponta pesquisa. Carta Capital, Rio de Janeiro, 30 jul. 2021. Disponível em: www.cartacapital.com.br. Acesso em: 1º ago. 2021.

Publicado

2022-12-30

Cómo citar

Silva Paes, P. H. (2022). Um ariano forjado em bronze: reflexões sobre as disputas de memória em torno da estátua e da praça dedicadas a Gustavo Barroso – Fortaleza, Ceará (1962-2019). Patrimônio E Memória, 18(2), 148–175. Recuperado a partir de https://portalojs.assis.unesp.br/index.php/pem/article/view/3023