Dos mantimentos às bateias mais ricas que há nas Minas
distinção do gosto na urbe setecentista, Minas Gerais
Palavras-chave:
Fronteira, Economia minerária, Mantimento, Cozinha, QuitandaResumo
O estudo buscou investigar as práticas de alimentação dos moradores do território minerário, a partir dos condicionantes sociais, culturais e econômicos. Observamos que a agricultura de subsistência (roças), já associada aos descobertos de ouro (e de diamantes) nas fronteiras, foi reconfigurada na economia colonial-atlântica de abastecimento das povoações urbanas. Além da crescente produção agropastoril, houve uma significativa diversificação dos gêneros comercializados. Contudo, o quadro básico nutricional dos moradores livres pobres e dos cativos pouco mudou ao longo do século XVIII. Mesmo assim, não foi desprezível, em uma história mobilizada pelo imaginário e pelos desejos, a disposição dos moradores pobres, ou dos trabalhadores africanos e afrodescendentes, para lograr uma variedade do gosto, que se apresentava nos comestíveis, açucarados ou não, das quitandas, das vendas / cozinhas clandestinas e das comemorações festivas.
Referências
ANDRADE, Francisco Eduardo de. A invenção das Minas Gerais: empresas, descobrimentos e entradas nos sertões do ouro da América portuguesa. Belo Horizonte: Autêntica Editora; PUC Minas, 2008.
ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. Introdução e comentário crítico por Andrée Mansuy Diniz Silva. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2001.
DIÁRIO do Príncipe de Joinville, Anuário do Museu Imperial, v. 11, p. 177-219, 1950.
ARAÚJO, Maria Marta L. de. A alimentação no recolhimento de Santa Maria Madalena de Braga (século XVIII). In: ARAÚJO, Maria Marta L. de; ESTEVES, Alexandra (Org.). Hábitos alimentares e práticas quotidianas nas instituições portuguesas: da Idade Moderna ao Período Liberal. Braga: Lab2PT – Laboratório de Paisagens, Património e Território, 2015.
AUTOS de devassa da Inconfidência Mineira. Belo Horizonte: Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, 2016. v. 5, v. 9.
BLUTEAU, Raphael. Vocabulario portuguez e latino. Lisboa: Oficina de Pascoal da Sylva, 1716-1720. v. 5 e 7.
BRAGA, Isabel M. R. Mendes Drumond. Ovos, ovos, ovos e mais ovos: cultura, economia, dietética e gastronomia, Centro de História da Sociedade e da Cultura, v. 13, 2013, p. 399- 432. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.14195/1645-2259_13_ 18>.
CAMILO, Débora Cristina de Gonzaga. As donas da rua: comerciantes de ascendência africana em Vila Rica e Mariana (1720-1800). Mariana, 2009. Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Ouro Preto.
CASCUDO, Luís da Câmara (Org.). Antologia da alimentação no Brasil. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1977.
COUTO, José Vieira. Memória sobre as minas da capitania de Minas Gerais: suas descrições, ensaios e domicílio próprio, à maneira de itinerário, Revista do Arquivo Público Mineiro, v. 10, n. 1, p. 55-166, 1905.
FIGUEIREDO, Luciano. O avesso da memória: cotidiano e trabalho da mulher em Minas Gerais no século XVIII. Rio de Janeiro: J. Olympio; Brasília: Editora da Unb, 1993.
FRIEIRO, Eduardo. Feijão, angu e couve: ensaio sobre a comida dos mineiros. Belo Horizonte: Centro de Estudos Mineiros; Universidade Federal de Minas Gerais, 1966.
FURTADO, Júnia Ferreira. Um cartógrafo rebelde? José Joaquim da Rocha e a cartografia de Minas Gerais, Anais do Museu Paulista, v.17, n. 2, p. 155-187, jul.-dez. 2009.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Caminhos e fronteiras. 3. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
IMPOSTOS na capitania mineira: clamores e supplicas das Câmaras em nome do povo, Revista do Arquivo Público Mineiro, v. 2, n. 2, p. 287-309, abr.-jun. 1897.
JUHÉ-BEAULATON, Dominique. De l’igname au manioc dans le golfe de Guinée: traite des esclaves et alimentation au royaume du Danhomè (XVIIe-XIXe siècle), Afriques, v. 5, 2014, p. 1-31. Disponível em: <http://journals.openedition.org/ afriques/1669>.
LIMA, Dora de. Les descriptions d’un banquet royal au Ndongo (Angola) en 1560 par le jésuite António Mendes: l’ambivalence des sources coloniales, Afriques, v. 5, 2014, p. 1-24. Disponível em: <http://journals.openedition.org/afriques/1682>.
LISBOA, Joaquim José. Descrição curiosa das principais produções, rios e animais do Brasil, principalmente da capitania de Minas Gerais. Belo Horizonte: Centro de Estudos Históricos e Culturais; Fundação João Pinheiro, 2002.
MAGALHAES, Beatriz Ricardina de. A demanda do trivial: vestuário, alimentação e habitação, Revista Brasileira de Estudos Políticos, n. 65, p. 153-199, julho de 1987.
MAGALHÃES, Sônia Maria de; PIRES, Maria do Carmo. A mineiridade e o mito da fartura de alimentos. In: PIRES, Maria do Carmo; MAGALHÃES, Sônia Maria de. A cozinha brasileira e o patrimônio cultural: história, hospitalidade e turismo. Curitiba: Prismas, 2018.
MARET, Pierre de. Les royaumes Kongo et Luba, cultures et societés dans le bassin du Congo. In: FAUVELLE, François-Xavier (Org.). L’Afrique ancienne: de l’Acacus au Zimbabwe, 20.000 avant notre ère ‒ XVIIe siècle. Paris: Éditions Belin; Humensis, 2018.
MARTINS, João Vicente. Os Bakongo ou Tukongo do nordeste de Angola. Lisboa: Imprensa Nacional; Casa da Moeda, 2008.
MATTA, J. D. Cordeiro da. Ensaio de diccionario Kimbúndu-Portuguez. Lisboa: Tipografia e Estereotipia Moderna da Casa Editora Antonio Maria Pereira, 1893.
MELQUÍADES, Vinícius. Artesãos da pedra: arqueologia e museologia das vasilhas de pedra-sabão em Minas Gerais. São Paulo, 2011. Dissertação (Mestrado em Arqueologia) – Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo.
MENESES, José Newton Coelho. O continente rústico: abastecimento alimentar nas Minas Gerais setecentistas. Diamantina: Maria Fumaça, 2000.
______ . Pátio cercado por árvores de espinho e outras frutas, sem ordem e sem simetria: o quintal em vilas e arraiais de Minas Gerais (séculos XVIII e XIX), Anais do Museu Paulista, v. 23, n. 2, p. 69-92, jul.-dez. 2015.
MORLEY, Helena. Minha vida de menina. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
OLIVEIRA, Vanessa S. Mulher e comércio: a participação feminina nas redes comerciais em Luanda (século XIX). In: PANTOJA, Selma et alii (Org.). Angola e as angolanas: memória, sociedade e cultura. São Paulo: Intermeios, 2016.
PANTOJA, Selma. A dimensão atlântica das quitandeiras. In: FURTADO, Júnia Ferreira (Org.). Diálogos oceânicos: Minas Gerais e as novas abordagens para uma história do Império Ultramarino Português. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001.
PROYART, M. l’abbé. Histoire de Loango, Kakongo, et autres royaumes d'Afrique: rédigée d'après les mémoires des préfets apostoliques de la mission françoise. Paris: chez C. P. Berton, chez N. Crapart; Lyon: chez Bruyset-Ponthus, 1776.
REVISTA DO ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO, v. 10, n. 3, p. 697-715, jul.-dez. 1905.
ROCHA, José Joaquim da. Geografia histórica da capitania de Minas Gerais. Descrição geográfica, topográfica, histórica e política da capitania de Minas Gerais. Memória histórica da capitania de Minas Gerais. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1995.
RODRIGUEZ, Domingos. Arte de cozinha dividida em duas partes, a primeira trata do modo de cozinhar vários pratos de toda a casta de carne, e de fazer conservas, pasteis, tortas, e empadas. A segunda trata de peixes, marisco, frutas, ervas, ovos, laticínios, conservas, e
doces: com a forma dos banquetes para qualquer tempo do ano. Lisboa: Oficina de João Galrão, 1683.
ROMEIRO, Adriana. Paulistas e emboabas no coração das Minas: ideias, práticas e imaginário político no século XVIII. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.
SALDARRIAGA, Gregorio. Comedores de porquerías: control y sanción de la alimentación indígena, desde la óptica española em el Nuevo Reino de Granada (siglos XVI y XVII). Revista de História Iberoamericana, v. 2, n. 2, p. 16-37, 2009.
SANTOS, Orlando. Mamãs quitandeiras, kínguilas e zungueiras: trajectórias femininas e quotidiano de comerciantes de rua em Luanda, Revista Angolana de Sociologia, v. 8, p. 35-61, 2011. Disponível em: <http://journals.openedition.org/ ras/510>.
SILVA, Antônio de Moraes. Diccionario da lingua portugueza: recompilado dos vocabularios impressos ate agora, e nesta segunda edição novamente emendado e muito acrescentado. Lisboa: Tipografia Lacerdina, 1789.
SILVA, Flávio Marcus da. Subsistência e poder: a política do abastecimento alimentar nas Minas setecentistas. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.
SOBRAL NETO, Margarida. O papel da mulher na sociedade portuguesa setecentista. In: FURTADO, Júnia Ferreira (Org.). Diálogos oceânicos: Minas Gerais e as abordagens para uma história do Império Ultramarino Português. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2001.
VASCONCELOS, Diogo de. História antiga das Minas Gerais. 4. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1999.
VASCONCELOS, Diogo Pereira Ribeiro de. Breve descrição geográfica, física e política da capitania de Minas Gerais. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro; Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1994.
ZEMELLA, Mafalda P. O abastecimento da capitania das Minas Gerais no século XVIII. 2. ed. São Paulo: Hucitec; Editora da USP, 1990.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2019 Patrimônio e Memória

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Todo o conteúdo do periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons do tipo atribuição BY.