Entre o passado e o futuro

os riscos climáticos ao Sítio Arqueológico Cais do Valongo, Rio de Janeiro, Brasil

Autores

Palavras-chave:

Patrimônio Arqueológico, Patrimônio Cultural, Mudanças Climáticas, Resistência, Turismo

Resumo

O Sítio Arqueológico Cais do Valongo, localizado no município do Rio de Janeiro, foi, durante o regime escravagista no Brasil, o principal ponto de desembarque de africanos escravizados no País e nas Américas. A partir de reflexões acerca do sítio, objetiva-se contribuir para o fortalecimento da conservação dos patrimônios no Brasil diante dos riscos climáticos, com consequências imprevisíveis e irreversíveis sobre o meio ambiente, a saúde, a vida em sociedade e os patrimônios. Caminha-se ao encontro dos esforços teóricos e metodológicos voltados para a valorização dos patrimônios culturais e arqueológicos no âmbito das políticas sobre mudanças climáticas. A metodologia adotada é composta por revisão bibliográfica, pesquisa documental e de campo. Conclui-se que os patrimônios analisados operam como relevantes elementos para justificar a emergência de ações precaucionais diante dos riscos climáticos. Neste caso específico, o Cais do Valongo pode contribuir para a construção de um espaço de resistência ao negacionismo climático.

Biografia do Autor

Maria Amália Silva Alves de Oliveira, Universidade Estadual Paulista UNESP

Maria Amália Silva Alves de Oliveira é Professora Associada do Departamento de Turismo e Patrimônio e dos Programas de Pós-Graduação em Memória Social (PPGMS) e em Ecoturismo e Conservação (PPGEC) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Pós-Doutora pela Fundação Getúlio Vargas (FGV/Rio). Doutora em Antropologia e Graduada em Turismo e em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Rodrigo Machado Vilani, Universidade Estadual Paulista UNESP

Rodrigo Machado Vilani é Professor Adjunto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Professor do Programa de Pós-Graduação em Ecoturismo e Conservação da UNIRIO. Pós-Doutor pelo Programa de Biodiversidade e Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Doutor em Meio Ambiente e Mestre em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Carlos José Saldanha Machado, Universidade Estadual Paulista UNESP

Carlos José Saldanha Machado é Pesquisador Titular em Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Professor dos Programas de Pós-Graduação em: Biodiversidade e Saúde do Instituto Oswaldo Cruz da Fiocruz; Meio Ambiente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); Gestão e Regulação de Recursos Hídricos em Rede Nacional, de 14 Instituições de Ensino Superior, em parceria com a Agência Nacional de Águas, ponto focal UERJ. Doutor em Antropologia Social pela Universidade Paris V [Ciências Sociais Sorbonne]. Mestre em Política de Ciências e Tecnologias pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Graduado em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq [Nível 1C] e membro do Comitê de Assessoramento de Engenharia e Ciências Ambientais do CNPq (CA-CA).

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Publicado

30-06-2022

Como Citar

Silva Alves Oliveira, M. A., Machado Vilani, R., & Saldanha Machado, C. J. (2022). Entre o passado e o futuro: os riscos climáticos ao Sítio Arqueológico Cais do Valongo, Rio de Janeiro, Brasil. Patrimônio E Memória, 18(1), 353–381. Recuperado de https://portalojs.assis.unesp.br/index.php/pem/article/view/3000

Edição

Seção

Artigos Livres