A cor que suscita inquietação
os primeiros jornais de imprensa negra no Brasil Oitocentista
Palavras-chave:
Imprensa Negra, Escravidão, Cidadania, LiberdadeResumo
A presente pesquisa está atenta ao início da veiculação dos pioneiros jornais da imprensa negra no Brasil Imperial, especificamente, no que se refere à abordagem do exercício de cidadania aos “homens de cor” livres – exercício previsto pela Constituição de 1824, sem restrições de cor, em teoria. Contudo, observa-se como as imposições sociais determinadas pela tonalidade de pele estavam embutidas na sociedade do jovem país independente e foram alvos de uma opinião pública, em formação, germinada por um empreendimento jornalístico negro de diferentes terminologias políticas à época, entre elas, as facções exaltada, moderada e restauradora. Mesmo constatada a inconstância na periodicidade e o baixo número de títulos e de edições dos jornais analisados neste trabalho, há uma centralidade nos assuntos abordados acerca de debates políticos sobre as ocupações destinadas aos mestiços, na sociedade oitocentista fluminense, além das injustiças acometidas a esses sujeitos livres, pelo tom de suas peles. O objetivo é entender as inquietações propostas pelos redatores dos pasquins negros, no que diz respeito à cidadania do “homem de cor” livre, além de investigar a relação entre cor, posicionamento político e a condição de cidadão na sociedade fluminense. O artigo toma, como seu principal corpus documental, três periódicos editados em 1833, O Homem de Côr ou O Mulato ou o Homem de Côr, Brasileiro Pardo e O Lafuente. A partir do exame desses periódicos, cria-se a possibilidade de entender como a cor de pele foi um quesito determinante no alcance da plena cidadania, particularmente, no que concerne à ocupação de cargos públicos.
Referências
Fontes primárias
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O HOMEM DE CÔR. Rio de Janeiro: Typographia Fluminense de Brito e C., n. 1, 14 set. 1833. A partir da terceira edição, em 16 de outubro de 1833, o periódico foi intitulado O Mulato, ou Homem de Côr. De curta duração, sua publicação foi suspensa na quinta edição, a datar de 4 de novembro de 1833.
O LAFUENTE. Rio de Janeiro, Typographia Paraguassu, n. 1, 16 de novembro de 1833.
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