“A Amazônia que eu vi”
Gastão Cruls e a produção etnográfica das sociedades indígenas dos limites do Brasil
Palavras-chave:
Gastão Cruls, Expedição Científica, Etnografia Indígena, AmazôniaResumo
Em 1928, o médico brasileiro Gastão Cruls realizou através da Comissão Rondon uma expedição pela selva Amazônica, transcorrendo o Rio Trombetas ao Rio Cuminá. A intenção desta excursão ao que tudo indica era tão somente conhecer o espaço do qual já havia se ocupado em termos literários e que já havia descrito e formado em seu imaginário. Resultado do período em que Cruls esteve em contato direto com o interior do Brasil, surgiu a obra A Amazônia que eu vi: Óbidos – Tumucumaque, publicada em 1930, na qual consta o relato de viagem em forma de diário registrando sua experiência, esta que possibilitou o autor produzir um relato etnográfico. A construção de um acervo etnográfico obteve certa perspectiva no campo da ciência, assim como, a própria descrição minuciosa presente na obra foi aclamada por sua erudição cientifica. Através da metodologia do “contextualismo linguístico”, entendemos que a produção de uma obra é um ato político expressado pelo sujeito através da ação linguística atrelada ao seu contexto de produção, com o objetivo de reconstruir a intencionalidade do autor. A proposta é compreender o diálogo do autor com a literatura acerca do espaço amazônico assim como as influências que propiciaram a produção etnográfica, seu contato com os indígenas e por fim a contribuição do autor no campo da etnografia, destacando também a relação das expedições científicas na produção de intelectuais sobre regiões afastadas dos grandes núcleos do território nacional, contribuindo na construção de diversas interpretações sobre os limites do Brasil.
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