Saudades do Brasil: O mistério do samba ou a arte do desvelamento
Resumo
Desde o início do século XX, os ritmos brasileiros suscitaram a curiosidade do público e dos músicos franceses. À véspera da Primeira Guerra Mundial, o maxixe, um gênero musical e coreográfico hoje esquecido, inaugurou uma longa série de transferências culturais (ESPAGNE, WERNER, 1987) entre os dois lados do Atlântico. No coração dos Anos Loucos, a Cidade Luz dançava ao ritmo do samba, introduzida pela orquestra brasileira dos Batutas, e descobria os Choros de Heitor Villa-Lobos. Os amantes da música apreciavam, igualmente, os ritmos sincopados das composições brasileiras de Darius Milhaud, como Le Boef sur le toit e as Saudades do Brasil, criadas no Teatro dos Campos Elíseos e na Galeria Montaine em 1920 (LAGO, 2012). Um decênio mais tarde, a etnografia musical fez, do Brasil, uma nova terra de missão. Os sons do Brasil inspiraram uma primera série de publicações de cunho científico, com a edição de Chants populaires du Brésil, lançado em 1930 pela cantora brasileira Elsie Houston-Péret, então esposa do poeta surrealista francês Benjamin Péret (HOUSTON-PERET, 1930). Oscilando entre as figuras do “selvagem” e do “popular”, a música brasileira definia uma forma de “gosto do Outro2 ”, com um toque de exotismo e de primitivismo. Os “ritmos bizarros” e os “instrumentos estranhos” do Brasil evocavam “um Outro” da música, no qual o poder de sedução residia na diferença, essa deliciosa “sensação do diverso”, celebrada por Victor Segalen (1999 [1978], p.54).
Referências
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