A imprensa baiana e o americanismo na Segunda Guerra (1942-1945)
FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.1, nº1, p. 106-123, jan.-jun., 2014.
em dezembro de 1944, há elogios à coragem do povo russo na guerra contra o Eixo e
sustentando que o fascismo promoveu uma propaganda difamatória contra o comunismo:
O liberalismo encontrou no fascismo aquilo que não queria ser: um
adversário intransigente para o comunismo. O liberalismo limitava-se,
apenas, a reprimir a propagação do comunismo, enquanto o fascismo o
combatia sistematicamente, movendo-lhe uma campanha de descrédito,
que encontrava ressonâncias. [...] A Rússia ficou conhecida, então, como
um vasto campo de fome, miséria e morte. Essa campanha persistente e
desenfreada criou até, no centro de onde partia, sem ser mesmo levado em
conta o exagero, a mística de que a URSS era, na verdade, aquilo mesmo.
e essa ilusão levou e está levando o fascismo e seus apêndices à
derrocada. Fascinados pela eficiência de sua máquina de propaganda, os
homens do fáscio e da swastica não se apercebiam de que a Rússia, na
sua aparente desintegração interna, trabalhava febrilmente, para dar ao
mundo, tempos depois, o mais belo espetáculo de fé, de organização e de
civismo. [...] Mas desde a histórica resistência de Stalingrado o mundo
mudou a sua opinião acerca da Rússia. Desvendou-se o mistério. Ela que
tinha sido considerada egressa à barbárie está combatendo a barbárie; ela
que tinha sido considerada uma pátria de homens desfibrados, está
demonstrando o mais alto exemplo de heroísmo, de fé, de obstinação e de
nacionalismo acendrado; ela que tinha sido considerada a inimiga da
Civilização, está salvando a Civilização!” (A Tarde, 16 de dezembro de 1944,
p.4)
Contudo, essa aliança não se desenvolvia sem reservas da parte dos liberais. Afinal,
os periódicos não chegaram a abandonar totalmente o discurso anticomunista, procurando
manter um posicionamento, segundo o qual o único regime, verdadeiramente, democrático
era o representado pelo liberalismo.
Em dezembro de 1944, O Imparcial publicou um artigo
assinado por Hermes Lima, no qual os homens são iguais perante a lei, mas viverão sempre
“diferentemente”: haverá sempre variedade de aptidões, de sensibilidades, estilos de vida, o
que justificaria que também ganhem mais ou menos dinheiro ou morem em casas piores ou
melhores. Nesse sentido, o autor afirma que viver diferentemente não significa viver
antagonicamente, pois o antagonismo “corrói a organização atual da sociedade, impedindo,
por exemplo, que todas as classes tenham o mesmo interesse nos resultados da liberdade”
(O Imparcial, 04 de fevereiro de 1944, p.3). Logo, o autor sugere que as diferenças entre o
padrão de vida dos indivíduos se reduzam a características pessoais, sem levar em
consideração fatores de ordem social, e que, independente dessas distinções, os homens
deveriam evitar o conflito e trabalhar juntos em prol de um objetivo que beneficiaria à
sociedade como um todo. Assim, essa negação da luta de classes levava à rejeição do
comunismo como um sistema legítimo e aceitável, embora a conjuntura de combate ao
nazifascismo induzisse a imprensa baiana a priorizar a campanha contrária à quinta-coluna.
Para citar outro exemplo, numa outra edição de A Tarde, foi publicado um artigo
apontando os “perigos” de uma economia planificada, afirmando existir, entre eles, a falta de
liberdade econômica e, em decorrência disso, um impedimento ao trabalhador de se