Em busca de uma visão mais abrangente da história do jornalismo e o exemplo argentino do grupo Clarín
FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.1, nº1, p. 6-23, jan.-jun., 2014.
jornalismo passou a contar com um revolucionário sistema de transmissão de dados: o
telégrafo elétrico
. Em consequência disso, nasceram as grandes agências noticiosas - a
Havas, na França, a Reuters, na Inglaterra, a Wolff, na Alemanha, e a Associated Press, nos
Estados Unidos, lançadas entre 1830 e 1870 -, que passaram a difundir informações, de
forma centralizada, para pontos remotos do planeta.
A conjuntura favorável conduziu o jornalismo à fase industrial, projetando-se, nos
países ocidentais, como força hegemônica na divulgação de informes sobre fatos e de
ideias e opiniões. A partir de 1850, esse processo intensificou-se e, depois do “surto”, a
imprensa caminhou para seu “apogeu”, como define o historiador francês Fernand Terrou
(1964). Foi uma conquista assentada na doutrina liberal, que consagrava a liberdade de
publicação, ainda que sua concepção tenha enfrentado períodos difíceis antes de vencer as
mais fortes resistências, como aconteceu na França
.
Todas as constituições liberais do século XIX dão lugar à liberdade de
imprensa concebida conforme os princípios inscritos nas declarações do fim
do século XVIII e muitas vezes expressos em termos que vamos encontrar
a escola fiel às fórmulas do artigo 11 da Declaração dos Direitos de 1789
.
Na Inglaterra, a abolição dos últimos obstáculos restritivos à atividade - os impostos
especiais de publicidade, que terminaram em 1853; o do selo, em 1855, e o do papel, em
1863 – representou o crescimento da imprensa e do aumento do seu poder, que se
estendeu ao continente europeu. “O país é governado pelo Times”, podia-se escrever em
1855, segundo Terrou, face à influência exercida pelo jornal, que experimentou saltos
crescentes na sua tiragem
.
No século anterior, em 1739, o telégrafo ótico de Chappe ficou restrito aos comunicados oficiais e somente
indiretamente a imprensa se beneficiou dele. A difusão rápida de notícias iniciou com o telégrafo elétrico, criado
por Morse, nos Estados Unidos, em 1837, por Gauss, na Alemanha, em 1838, Weatstone, na Inglaterra, em
1839, e Foy e Breguet, na França, em 1845. Fernand Terrou (1964, p. 30-31) cita Stefan Zweig para enfatizar a
importância do invento: “Este ano de 1837 em que, pela primeira vez, o telégrafo transmite simultaneamente
através do mundo a notícia dos menores acontecimentos, raramente é mencionada nos manuais de história. No
entanto, do ponto de vista dos efeitos psicológicos provocados pela subversão da noção do tempo, nenhuma
data da história contemporânea lhe pode ser comparada”.
Fernand Terrou (1964, p. 39-40) relembra que, na França, a luta foi árdua e longa, marcada por uma série
extraordinária de revoluções e de mudanças constitucionais. Mas o controle da imprensa foi sendo gradualmente
reduzido: “Durante o chamado período liberal do Império, o torniquete foi se afrouxando pouco a pouco até a
supressão do sistema de advertências, pela lei de 11 de maio de 1868. A liberdade de imprensa provocou
amplos debates no parlamento.”
O artigo 11 da Declaração de 1789 afirma o princípio da liberdade de expressão e de imprensa: “A liberdade de
comunicação dos pensamentos e das opiniões é um dos direitos mais preciosos do homem; portanto, todo
homem pode falar, escrever, imprimir livremente, devendo responder pelo abuso a essa liberdade nos casos
determinados pela lei”.
Em 1829, na Inglaterra, todos os 17 diários juntos alcançavam uma tiragem de 44.000 exemplares, dos quais
10.000 eram do Times. Em 1856, o maior jornal inglês já imprimia 60.000 exemplares. A redução do preço para 1
penny, adotada pelo Daily Telegraph, em 1861, marca o início da imprensa popular no país. A tiragem desse
jornal, que era de 30.000 em 1858, pula para 142.000 em 1861 e atinge 300.000 exemplares em 1880. Na
França, a revolução de 1848, libertou temporariamente o jornalismo e ensejou a criação de numerosas
publicações, a maior parte exibindo artigos políticos produzidos por grandes escritores da época. Já no Segundo
Império, as agressões aos direitos individuais foram acompanhadas pelo desenvolvimento econômico. Isso