NACHTIGALL, Lucas Suzigan
FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.3, nº2, p. 261-264, jul.-dez., 2016.
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Com a vitória de Arlindo Veiga dos Santos, a Frente Negra cresce, estendendo
seu alcance muito além dos negros da classe média e congregando muitos populares,
tanto na capital como pelo interior, onde diversas sedes foram abertas. Com isso, foi
possível promover campanhas pela educação dos negros, bem como outras, como as que
defendiam a necessidade de sair do aluguel e adquirir a casa própria e a admissibilidade
de negros na Guarda Civil de São Paulo.
Simultaneamente, o livro também trabalha a face política da Frente Negra, desde
a participação de negros na Revolução de 32, enquanto o movimento se mantinha
neutro, denunciando o caráter oligárquico das elites revolucionárias, as aproximações
de Arlindo Veiga dos Santos e, com ele, a FNB, com o integralismo de Plínio Salgado, que
estreitaram muito as relações em vários momentos durante a década de 30.
Essa face política culminou com a candidatura de Arlindo Veiga dos Santos
para a Constituinte de 1933 e, após o fracasso da candidatura, o lento afastamento
do intelectual da presidência da Frente Negra Brasileira, onde ele permaneceria como
membro atuante até 1937, quando suas atividades foram encerradas pelo Estado Novo.
O livro, como é possível notar, possui seu conteúdo centralizado na ação de
Arlindo Veiga dos Santos e sua militância negra, monarquista e autoritária, com especial
enfoque em sua participação na Frente Negra Brasileira e jornais negros subjacentes,
como o Voz da Raça e o Clarim da Alvorada, onde participou junto de seu irmão Isaltino.
Sua postura e governos autoritários são diversas vezes apresentados e ressaltados pela
autora, bem como os elementos de inspiração medieval que, aliados à aproximação de
ideologias e movimentos autoritários, tornaram ímpar sua atuação no movimento negro
das décadas de 20 e 30.
Sua campanha pela educação, como mostra a autora, obteve profundos resultados.
O autor pregava a realização de uma “nova abolição”, para combater a “escravidão
moral”, que assolava o Brasil após a abolição formal da escravidão, e que a educação
traria a redenção para o negro, e divulgava assiduamente a necessidade de escolarizar
os filhos. Com esforço conseguiram criar uma escola seriada, com alguns professores,
e lutar contra o analfabetismo em crianças e adultos, profissionalizá-los e capacitá-los
a combater a desigualdade e o preconceito que os negros enfrentavam.
A visão de Arlindo Veiga dos Santos, como nos mostra Malatian, era maniqueísta,
centrada no combate entre o bem (católicos, nacionalistas) e o mal (comunistas,
socialistas, anarquistas, liberais, entre outros). Nesse embate, os negros deviam lutar pela
integração plena na sociedade brasileira, combatendo pela Pátria contra seus inimigos,
como o preconceito e doutrinas perniciosas (socialismo, comunismo, liberalismo) para
o progresso da Nação.
O estilo de escrita do livro é bastante característico da autora Teresa Malatian.
Como seu livro anterior a respeito do Patrianovismo, Império e Missão: Um novo
monarquismo em brasileiro (Editora Nacional, 2001), Malatian aborda a década de 30,
com seus movimentos religiosos, sociais e políticos, com bastante familiaridade. Os
capítulos, curtos, são apresentados de forma breve e temática, mas sucessiva e bem
entrelaçada. Sua redação, que lhe é particular, é muito fluída e agradável, o que facilita
a leitura e absorção da quantidade de informação que a autora traz à obra.
São apresentados, nos capítulos, uma quantidade relevante de trechos de artigos
jornais, poemas e cartas, o que divulga e disponibiliza o acesso a essa documentação.