DIHL, Tuane Ludwig
FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.3, nº2, p. 36-56, jul.-dez., 2016.
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Ambos os sujeitos certamente cruzavam-se nos ambientes intelectuais e políticos
de Porto Alegre antes de Aurélio tornar-se secretário de Júlio, além disso, a diferença de
idade entre eles era somente de 11 anos, os dois foram ativos abolicionistas e participaram
da vanguarda cultural gaúcha encarnada pelo Parthenon Literário
10
(SANTOS 2013). A
relação entre Aurélio e Castilhos foi acionada também naquele texto publicado em 1919:
[...] captando a simpatia de Julio de Castilhos que era um homem que sabia ver
como poucos, e que só admitia na sua privança de estadista, servidores que
reconhecia capazes de a honrarem.
E não foi só a simpatia do Patriarca, que Aurélio soube conquistar.
Conquistou-lhe, também, a amizade.
E a simpatia, confiança e amizade, teve-as, também, até ao seu ultimo alento
de nosso preclaro chefe, Dr. Borges de Medeiros, Presidente do Estado. (A
Federação, 23 de agosto de 1919, p.1.)
Fica claro que as relações entre esses indivíduos ultrapassavam o âmbito
profissional: tornaram-se, sobretudo, amigos. Amizade esta que se estendeu ao
sucessor de Castilhos, Borges de Medeiros, para quem Aurélio igualmente serviu como
Secretário. Ao estudar os arquivos particulares de Aurélio e de Júlio de Castilhos, Paulo
Moreira concluiu que desde os primeiros momentos da ascensão do segundo ao poder
do Estado gaúcho, a presença do primeiro já era significativa.
Sua importância aumentou ainda mais a partir de 1898, quando Castilhos
precisou afastar-se do governo em razão de um câncer na garganta que lhe afligia,
ficando Aurélio, então, como seu representante e interlocutor no Palácio do Governo
(MOREIRA, 2011, p.86-87). Conforme o autor, esse teria sido um dos mais importantes
cargos administrativos da carreira de funcionário público de Aurélio que teve, portanto,
sua memória é preservada e enaltecida por parte dos membros de sua comunidade
étnica, onde a associação com Castilhos constituiu-se numa estratégia frequente
(MOREIRA, 2011, p.85).
No geral, essa relação fica bastante explícita nas edições d’ A Federação, na
medida em que se encontram seguidamente Aurélio e Castilhos marcando presença
nos mesmos eventos e compartilhando os mesmos espaços. E não só aqueles ligados
à política do Estado e que a relação profissional entre eles exigia ambas as presenças,
mas noutros, de naturezas distintas, como festas, concertos, peças teatrais, velórios,
missas, acompanhamento de embarques e desembarques de amigos nos vapores
11
.
Para além dessas ocasiões, em 1895, foi localizada uma nota referente ao
casamento de Aurélio com Isaura da Silva Dias
12
, na qual se destaca o fato de que Júlio
de Castilhos foi padrinho por parte do noivo (A Federação, 09 de setembro de 1895, p.2)
e que por consequência reforça os laços de amizade estabelecidos entre eles.
Os vínculos afetivos que Aurélio estabeleceu com o chefe iam além, alcançando o
PRR como um todo. Inúmeras vezes o encontramos adjetivado como “estimado amigo” e
10. Sobre o Parthenon Literário, ver: SILVEIRA, 2008.
11. Alguns exemplos disso podem ser encontrados nas edições d’ A Federação dos dias: 04/10/1899;
14/10/1899; 30/12/1899; 04/04/1900; 23/04/1900; 04/08/1900; 02/10/1900; 04/03/1901; 04/04/1901.
12. Isaura da Silva Dias foi, na realidade, a segunda esposa de Aurélio Bittencourt. Sua primeira união ma-
trimonial foi com Joana Joaquina do Nascimento, em 1868, com quem teve quatro filhos: Aurélio Viríssimo
de Bittencourt Júnior, Sérgio Aurélio de Bittencourt, Olímpia Augusta de Bittencourt e Adelina Lydia de
Bittencourt. Joana Joaquina, no entanto, faleceu em 1894 com 47 anos de idade. (MOREIRA, 2011)