Espaço da poesia: a construção da “Atenas norte-rio-grandense”
FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.3, nº1, p. 182-204, jan.-jun., 2016.
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Primeiro, deve-se levar em consideração que a obra ASSÚ – “Atenas Norte-
Riograndense” (1966), composta por Vasconcelos, foi resultado de uma visita da
chamada “Caravana Literária” do IHGRN ao Assú, em 1965, inclusive com a presença do
presidente do Instituto, Enélio Lima Petrovich, oportunidade em que Francisco Amorim
lançava o livro História da Imprensa do Assú e Rômulo Wanderley publicava Panorama
da Poesia Norte-Rio-Grandense. Rômulo publicava aí seu segundo livro no ano de 1965,
numa perspectiva de continuar a obra de seu conterrâneo Ezequiel Wanderley, que
escreveu Poetas do Rio Grande do Norte em 1922
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, já citado. Esta produção de Rômulo
Wanderley revela o apego ao que podemos chamar de ponto de origem da “Atenas
Norte-Rio-Grandense”, pois a intenção é atualizar a obra considerada seminal que alçou
os assuenses no panteão das letras potiguares.
Vasconcelos, por sua vez, para consubstanciar a ideia de “Atenas” enfatiza
a importância de Ezequiel Wanderley, dizendo que “somente este livro POETAS DO
RIO GRANDE DO NORTE, publicado com o intuito nitidamente literário, é suficiente
para assegurar ao seu autor, no tempo e no espaço, um lugar privilegiado no panteão
das letras do nosso Estado” (VASCONCELOS, 1966, p. 23). Ezequiel Wanderley para
Vasconcelos aparece como figura consciente, sujeito possuidor de um lugar próprio no
panteão das letras. Ora, não se reconhece, assim, um autor atravessado pelo discurso;
não se fala de um autor que se insere numa dada rede de saberes estratégicos e muito
menos de poder.
Vasconcelos continuou a exaltar as características da “Atenas Norte-Rio-
Grandense” e evidenciou que “É notável a atuação dos assuenses no campo vasto
da literatura norte-rio-grandense, especialmente no jornalismo e na poesia”
(VASCONCELOS, 1966, p. 23). Já fechando o ponto discursivo que abriu com o enunciado
anterior, este mesmo autor comunica que:
Pelo que vimos, valiosíssima tem sido a contribuição do Assú às letras do
Rio Grande do Norte. No jornalismo predominaram as penas de Elias Souto,
Galdino Lima e Palmério Filho. Na poesia e no teatro Ezequiel Wanderley. Em
História, Nestor Lima.Êstes, já deixaram a vida terrena e, lá do céu admiram
a disposição dos que estão, na terra, seguindo as pegadas indeléveis que
deixaram no vasto campo da literatura potiguar. O Assú é, incontestavelmente,
a Atenas do Rio Grande do Norte (VASCONCELOS, 1966, p. 24).
Percebe-se nos enunciados de Vasconcelos uma reparável inclinação a considerar
Assú a “Atenas Norte-Rio-Grandense” em função do jornalismo, poesia e história, na
perspectiva de terra letrada, o que implica pensar na permanência da ideia de reduto
do jornalismo e da poesia potiguar. Sendo assim, o entrelaçamento dos enunciados de
Vasconcelos com a formação discursiva que postula Assú, terra de história, poesia e
tradição, são evidentes, pois sua discursividade deixa implícita a ideia de tradição, na
medida em que vislumbra a noção de origem e continuidade. A positividade da formação
discursiva continua, haja vista existir certo a priori histórico, ou seja, mesmo não se
repetindo, os enunciados pertencentes a uma regularidade discursiva apresentam
certas constantes, daí os nomes próprios (Elias Souto, Galdino Lima e Palmério Filho,
Ezequiel Wanderley e Nestor Lima) e o devotamento de certos atributos (jornalismo,
10. Observa-se que Rômulo Wanderley, na pretensão de atualizar o panorama da poesia do Estado, aca-
bou por ampliar o panorama da poesia assuense, pois se no estudo de Ezequiel Wanderley emergiam
pouco mais de 25 poetas assuenses, com o primeiro escritor esse número se ampliou para 40 poetas.