Entrevistadores: BARROS FILHO, Eduardo Amando de. OLIVEIRA, Wellington Amarante
Tradução: LÓPEZ, Camila Soares
FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.3, nº1, p. 106-111, jan.-jun., 2016.
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2009 ; 1967 au petit écran : Une semaine ordinaire, organizadoconjuntamente com
MirianTsikounas e publicadoem 2014. No Brasil, participou do livro Análise de
Telejornalismo: desafios teórico-metodológicos, com o capítulo “O jornalismo de
televisão e suas mutações: anos 1980-1990 na França”.
1) Primeiramente, nós gostaríamos de agradecer a disponibilidade de nos dar
esta entrevista, e estamos muito contentes. Você poderia nos falar de sua trajetória
de pesquisa e o motivo de seu interesse específico sobre a história da televisão?
Eu agradeço por esta troca. Pessoalmente, aprecio as relações com os colegas
brasileiros que trabalham com a televisão francesa, seja em história, em estudos
culturais ou em ciências da informação. Mas, antes de tudo, sou historiadora e
atreladaao interesse dos historiadores, por um ladoàs fontes televisivascomo fontes
para a história, por outroà televisão como mídia que estrutura a sociedade, sua opinião,
suas representações. Enfim, parece-me importante pensar a televisão como espaçode
transferências culturais e de aculturação. Pessoalmente, trabalhei com história política
e cultural, sob a orientação do historiador especialista em República Maurice Agulhon,
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que realizou pesquisas sobre as imagens de Marianne,
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em acordo comas representações
políticas. É esse vínculo entre as imagens e suas representações que originou meu
interesse pela televisão.
Comecei a trabalhar com fontes televisivas no momento da adoção, na França,
da lei de 1992 sobre o Depósito Legaldas fontes audiovisuais. Encontrei uma colega,
Marie-Françoise Lévy,
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que já havia trabalhado com esse tipo de fonte a partir de uma
perspectivada história. Na Sciences Po Paris,
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o historiador Jean-Noël Jeanneney, desde
1978, estabeleceu um seminário sobre a televisão, que é a origem do dicionário do rádio
e da televisão, “L’Échodusiècle”. Eu me associei à Marie-Françoise Lévy que, junto
ao Instituto Nacional do Audiovisual, tinha o projeto de criar uma coleção de fontes
televisivasdestinada às universidades, “Imagens do tempo presente na televisão”. Então,
constituiu-se uma equipe entre o CNRS,
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o INAe várias universidades. Assim, teve início
um trabalho sobre fontes e de estabelecimento de fontes da televisão francesa de 1949
aos anos de 1960. Hoje, parece difícil fazer história contemporânea dos séculos XX e
XXI sem integrar a contribuiçãodessas fontes.
Nós quisemos implementaruma perspectiva da históriaface àsfontes audiovisuais,
estabelecê-las ao modo de outros tipos de fontes históricas que tenham sido difundidas
ou não por diversas razões (técnicas ou políticas), que descobrem montagens... Não
queríamos fazer uma coleção de fragmentos aos moldes de um documentário, mas
respeitar a integralidade das fontes, analisar o estado no qual elas chegavam a nós e,
ao mesmo tempo, desenvolver uma análise das condições de sua produção, uma análise
das imagens e de sua recepção no contexto de sua época.
Nós utilizamos os guiasde jornais televisivos, bem como os relatórios dos chefes
das emissoras, a documentação escrita que a acompanhava e, igualmente, fontes da
1. Maurice Agulhon foi um historiador francês (1926-2014). Professor do Collège de France entre os anos
de 1986 e 1997, foi autor de La République, obra publicada em 1990 (Nota do Tradutor).
2. Figura feminina alegórica que representa a República francesa (N. do T.).
3. Especialista em história cultural - IRICE-CNRS, Université Paris 1, Panthéon-Sorbonne (N. do T.).
4, Instituto de Estudos Políticos de Paris (N. do T.).
5. Centre National de la Recherche Scientifique (N. do T.).