Mocidade independente: experimentalismo na TV brasileira
FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.3, nº1, p. 60-80, jan.-jun., 2016.
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país. (DIAS, 2008, p.164-165). O que sugere pensar, do mesmo modo, na pressão que
os índices de audiência provocam nas emissoras, diante da produção e permanência
dos programas musicais, uma vez que, certos gêneros musicais, apesar de merecerem
espaço dentro do meio televisivo, não conseguem se firmar frente à baixa audiência que
por antecipação lhes são dados.
No início dos anos 1980, o caminho independente não se colocava apenas em
razão de um fechamento das possibilidades, mas também para aqueles que desejavam
uma renovação, ou até mesmo uma subversão no estatuto da produção cultural do país,
uma postura diante da cultura e mesmo de ação contracultural dentro do contexto de
época (FENERICK, 2004, p. 166). Cabe lembrar que no decorrer de todo este processo
de consolidação da indústria cultural, e a partir daí, diversas áreas de comunicação
e expressões artísticas se viram sem espaço para divulgarem suas ideias, sua arte
ou mesmo seus produtos culturais, sejam eles por motivos econômicos, estéticos ou
ideológicos.
No âmbito da difusão musical independente, aos poucos foi se formando espaços
alternativos na cidade de São Paulo. Dentre eles, o Teatro Lira Paulistana, o SESC
Pompéia, o Museu da Imagem e Som (MIS), o Museu de Arte de São Paulo (MASP), a
Funarte, praças e parques, faculdades e até mesmo, em algumas poucas rádios, como
fora o caso da Excelsior FM com o programa conduzido pelo crítico musical e jornalista
Maurício Kubrusly e na televisão, os programas “Mocidade Independente”, transmitido
pela Rede Bandeirantes, em 1981, e “A Fábrica do Som”, pela TV Cultura entre 1983 e
1984.
Termos como independente, nanico, alternativo, underground e marginal foram
empregados para identificar posturas que lutavam por espaços artísticos e midiáticos
no cinema, no vídeo, na música, na imprensa, na literatura, na televisão, na poesia e
no teatro, entre outros. No entanto, como sugere Gil Nuno Vaz, ao examinar a música
independente, o que importa para além do termo adequado, é compreender o significado
do fenômeno a que ele se refere (VAZ, 1988, p. 11).
No final dos anos 70 e início dos anos 80 a definição de que certo artista era
independente, alternativo, marginal ou experimental, quando não duas características,
ou todas ao mesmo tempo, é um pouco confusa. Deste modo, é importante ressaltar que
estes, são conceitos que “não se excluindo, não são sinônimos”, bem como, qualificam
gestos e atitudes em suas atuações (MOSTAÇO, 1984, p. 5). Assim, segundo Mostaço:
Independente e alternativo recortam-se como conceitos que oferecem uma
dada relação com o Poder. [...] É-se independente: dado o domínio de certo
poder instituído, que impera sobre a ação de hegemonia, postar-se como uma
oposição a ele, como uma soberania própria e isenta de seu controle [...] uma
luta de libertação e reorganização do sistema de forças que o compõem. [...]
Este é o campo preferencial da política. [...] O independente é, então, o mais
radical opositor político do Poder. Alternativo indica, antes de mais nada,
uma posição; sem, todavia, constituir-se numa tópica [...] Sociologicamente
falando é um trânsfuga, antropologicamente falando, um miscigenado,
artisticamente falando, um híbrido. Ainda que quase sempre um alternativo
professe uma ideologia independente, esta relação não é de causas e efeito; e
nem esta relação necessita dar se ao contrário. [...] Experimental e marginal
são conceituações que também beiram os umbrais políticos, ainda que nem
sempre de forma translúcida. Nascidos em outro universo tonificam ou