Juventudes, Socialização e temporalidades: vínculos midiatizados
FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.3, nº1, p. 43-59, jan.-jun., 2016.
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processos de seleção, generalização e analogia” (ABRANTES, 2011, p. 122). Pode-se
dizer que “[...] socialização e individualização constituem duas faces da mesma moeda
(Elias, 1983):nos mesmos atos e relações, tornamo-nos pessoas e fazemos sociedade”
(ABRANTES, 2011, p. 122).
Daí se configuraria o novo arranjo entre socialização primária e secundária que,
embora fronteiriças e institucionalmente estabelecidas, são hoje abaladas por sentidos,
negociações e transversalidades carregadas pelos sujeitos, com suas biografias e
escolhas marcadas de afetos, tensões, gostos e prospectivas. Hoje, os contextos
educativos, comunicacionais e simbólicos – atravessados por intensa midiatização –
diluem a rígida demarcação entre socialização primária e secundária.
Embora permaneça o caráter singular da socialização na infância e a dependência
da família no caso dos adolescentes e/ou jovens, a “[...] intensidade da socialização
varia ao longo da vida, com tendência para uma redução gradual; mas o trabalho de
(re)construção identitária, induzido por recomposições biográficas e/ou sociais, na
modernidade tardia, apontam para algo mais estrutural do que a definição clássica
de ‘socialização secundária’”(ABRANTES, 2011, p. 125), pois “[...] na sociedade atual,
se desenvolve um trabalho mais reflexivo e autônomo dos sujeitos em torno da sua
identidade e biografia. Esses dois terrenos [da socialização primária e secundária] são
mediados por um período de ‘semi-dependência’, mais ou menos tenso e prolongado,
que caracteriza hoje as experiências juvenis” (ABRANTES, 2011, p. 125).
Para Setton (2005), as experiências sociais são combinatórias subjetivas de
elementos objetivos, tensionando os sujeitos e, deste modo, fazendo-os efetivamente
atores sociais. Contudo, este “ator social” hodierno [...] não é redutível aos seus papéis,
nem aos seus interesses e o indivíduo não adere totalmente a nenhum de seus papéis,
que têm como tarefa articular lógicas de ação, que o ligam a cada uma das dimensões
de um sistema. O ator é, então, obrigado a combinar lógicas de ação diferentes e é
a dinâmica gerada por essa atividade que constitui a subjetividade do ator e sua
reflexividade (SETTON, 2005, p. 345).
Assim, o conjunto das experiências dos sujeitos contemporâneos não é
sistematicamente coerente, homogêneo ou compatível; há diferentes tempos e ritmos,
fragmentos e composições. Sobretudo os jovens ressentem estas características, na
forma de descontinuidade e diferenciação entre seus papéis de aluno, sua situação de
filhos e sua condição de jovens em sentido não apenas social, mas subjetivo.
Deste modo, “[...] por não ocupar posições semelhantes em todos os
espaços sociais, o indivíduo vive experiências variadas e às vezes contraditórias na
contemporaneidade” (SETTON, 2005, p. 345). Disto decorre, ainda, um distanciamento
gradual entre a coerência das práticas dos atores (os indivíduos) e os espaços
institucionais em que transitam (como escola, família ou a mídia). Certa perplexidade
e até incongruência percebida nos jovens é, portanto, compreensível, pois à medida