O negacionismo do Holocausto na internet: o caso da “Metapédia – a enciclopédia al-ternativa”
FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.3, nº1, p. 5-23, jan.-jun., 2016.
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In 2007, another network began to crystallize within Europe’s radical right but
with a vastly different ideological character. Activists from the Swedish group
Nordiska Förbundet made a coordinated effort to use the Internet to propagate
a more ‘positive’ image of neo fascist, third position and national revolutionary
politics. They created a blog portal (Motpol.nu), a web community (Nordisk.nu)
and a wiki site (Metapedia). Today there exist a dozen editions of Metapedia.
Making it a vital medium for dissemination of the ideology labeled here as
“multi-fascism”. Metapedia tends to promote anti-Semitism in a cautious way,
not stating too much in words but instead using the hyperlinked wiki format to
make insinuations about a Jewish conspiracy. (FLEISCHER, 2013, p.63)
Na Era pré-internet, o negacionismo era um movimento limitado. Para ter acesso
a sua produção era preciso estar em contato direto com os autores ou pessoas ligadas
a eles. Em termos de distribuição, as editoras cumpriam uma função importante. Eram,
porém, em pequeno número e suas tiragens não ultrapassavam centenas de cópias,
vendias, por sua vez, em livrarias frequentadas, via de regra, por radicais de extrema-
direita. Com a internet tudo muda. A disseminação do conteúdo é virtual. Agora, além
dos tradicionais panfletos, manifestos, livros e artigos, difundem-se listas de e-mail,
fóruns, blogs, redes sociais e aplicativos. Com a chamada “Internet 2.0”, termo que desde
meados dos anos 2000 vem designando um modelo de web fundado na colaboração,
os consumidores também podem criar e editar conteúdos online. (Cf. SPYER, 2007). A
Metapédia, neste sentido, está intima e literalmente conectada com as tendências da
internet colaborativa. Luís Mauro Sá Martino nos ajuda a compreender a lógica e as
potencialidades dessa “nova” internet:
a circulação de bens nas comunidades virtuais está pautada, segundo [Howard]
Rheingold, na troca e no compartilhamento, oferecendo possibilidades
de interação humana diferentes da econômica pautada na produção, no
consumo e no lucro. Não por acaso, ele denomina isso de “economia da
dádiva (gifteconomy). Essa reciprocidade, como denomina o autor, é quase
um princípio ético na economia das comunidades virtuais. É esperado que os
participantes contribuam com informações para deixar o conhecimento, uma
mercadoria preciosa na sociedade contemporânea, à disposição do coletivo.
Nesse sentido, a circulação de informações gratuitas nas comunidades
virtuais oferece a possibilidade de se pensar em alternativas de distribuição
de conhecimento sem necessariamente atrelá-lo a algum tipo de poder
econômico. Há um imediato reflexo político. Na medida em que as comunidades
virtuais organizam-se em torno de interesses comuns, é possível igualmente
esperar algum tipo de mobilização em defesa desse núcleo compartilhado de
temas. Não se trata, de saída, de considerar as comunidades virtuais como um
espaço necessariamente apto à ação política, mas de levar em consideração o
potencial de mobilização nas comunidades. (MARTINO, 2015, p.47)
O poder de colaboração é talvez o principal atrativo da Metapédia. Para participar
do projeto – criando ou editando verbetes – o usuário deve apenas criar um perfil
no sistema e ser aprovado pelos administradores. Os responsáveis pelo site também
se reservam o direito de recrutar pessoas, preferencialmente “escritores confiáveis”.
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Há três níveis de usuários na Media Wiki: Normal user (criam e editam artigos);
Administrator (podem patrulhar e apagar modificações, além de bloquear usuários e
8. Metapédia, “Getting Started”: http://www.metapedia.org/gettingstarted.php. Acesso: 12 mar. 2016.