Uma abordagem antropológica da Idade Média
FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.2, nº2, p.198-201, jul.-dez. 2015.
199
Dicionário temático do Ocidente medieval
3
e, mais recentemente, O corpo, os ritos, os
sonhos, o tempo: ensaios de antropologia medieval, que ora resenho.
Le corps, le rites, les rêves, le temps: essais d´anthropologie médiévale foi
originalmente publicado em 2001 pela editora Gallimard, contudo, foi oferecido ao
mercado brasileiro somente em 2014.
4
Este atraso de treze anos pela versão nacional
não faz jus à importância deste material, pois considera-se que nele constam dezessete
artigos de Schmitt, selecionados pelo próprio autor, os quais representam a multiplicidade
de suas contribuições aos estudos medievais. Tais artigos permaneceram sem uma
versão traduzida oficialmente para a língua portuguesa, embora não fossem inéditos
na época da primeira edição em francês e já constassem como referência clássica em
determinados campos investigativos.
Cabe salientar que os textos compreendidos no livro, publicados ao decorrer de
trinta anos da carreira do medievalista, não foram organizados de maneira cronológica,
mas agrupados em quatro unidades – a serem ainda apresentadas mais adiante –,
constituindo, cada uma delas, um eixo temático. Se, por um lado, a opção por agrupar
os artigos em blocos de assuntos afins facilita a consulta pelo leitor a conjunto tão
heterogêneo; por outro, a alternância de textos do início da sua trajetória acadêmica
com reflexões mais recentes
5
dificulta a percepção do processo de amadurecimento
intelectual de Schmitt.
Pode-se constatar, ainda, que o material compilado foi originalmente vinculado
em meios diversos, cada qual com suas orientações editoriais próprias e seu público-
alvo pretendido: alguns dos textos eram artigos de periódicos acadêmicos, outros,
capítulos em livros. Por isso, há certa discrepância quanto ao tamanho dos escritos,
assim como no nível de aprofundamento na abordagem.
Os artigos foram precedidos por um prefácio redigido pelo próprio Schmitt, no
qual o autor relaciona sua formação intelectual aos debates acadêmicos mais populares
durante o início de sua carreira; assim como aos cursos de renomados pesquisadores
– como Georges Duby e Michel Mollat –, aos quais pôde assistir; e às leituras por
ele realizadas. Além do diálogo com diversos campos da Antropologia, Schmitt destaca
a relevância do comparatismo proposto por Marc Bloch e, depois, por Jean-Pierre
Vernant, no qual o exercício de confrontação entre sociedades díspares ajuda a revelar
as especificidades de cada uma. Logo, o livro é iniciado por um texto em que o autor
contextualiza sua inserção como historiador e esclarece suas principais referências.
A exposição das influências acadêmicas feita pelo próprio Schmitt explicita
a formação e atuação do autor em consonância com as propostas da Nova História.
Peter Burke demonstrou como a terceira geração da Escola dos Annales, que surgiu
após 1968, privilegiou a História das Mentalidades, a análise de fenômenos culturais e
a aproximação com a Antropologia (BURKE, 1997, p. 79-107). Essas novas orientações
para a pesquisa histórica propiciaram a emergência de novos problemas, novos objetos
e novas abordagens.
Ao lado de pesquisadores consagrados como Jacques Le Goff e Georges Duby,
3
Em dois volumes. Organizado em parceria com Jacques Le Goff.
4
Apesar da editora informar em seu site oficial que o livro foi lançado em 2015, na ficha catalográfica
indica 2014 como ano de publicação.
5
O artigo mais antigo data de 1976 e o mais novo, 2000. No total, dois textos foram escritos na década
de 1970, oito na década de 1980, cinco na de 1990 e dois em 2000.