Faces da História, Assis/SP, v. 10, n. 2, p. 132-150, jul./dez., 2023
Bessarábia, atual Romênia, e emigrou para o Brasil com a sua família quando ainda era
criança. De origem judaica e natural do Leste Europeu, na época zona sob influência da
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a URSS, a oposição, ao usar esse fato, buscava
nutrir um sentimento de antissemitismo contra Wainer, além de associá-lo à espionagem ou
ao comunismo. Além do desafeto pessoal que Lacerda nutria contra Wainer, como já foi
dito, esses ataques se inseriram no contexto de anseio da concorrência em se livrar do
Última Hora, que era um sucesso editorial, além da busca da oposição em fragilizar a base de
apoio do presidente da República (Laurenza, 2008, p. 192-194).
Na edição de 18-19 de julho de 1953, o Tribuna tratou de apresentar para os seus
leitores, com direito a um mapa desenhado, a procedência de Wainer. Segundo o jornal,
Edineti era a cidade onde Samuel Wainer nasceu, que seria, segundo o jornal, um lugarejo
sem importância, onde os seus habitantes, em sua maioria judeus e romenos, dedicavam-se
à agricultura, cultivando especialmente o girassol (Tribuna da Imprensa, 1953, p. 2). Nesse
viés, o jornal brinca com essa informação sobre a economia local, dizendo que a mesma é
sugestiva das posições políticas de Samuel ou até de suas atividades jornalísticas, pois, como
o jornal nos leva a interpretar, ele mudava constantemente de posicionamento, assim como
um girassol.
Além disso, jornal ainda complementa que “[...] até 1º de dezembro de 1918, a
Bessarábia era província da Rússia czarista, tendo TODOS os cidadãos essa nacionalidade”
(Tribuna da Imprensa, 1953, p. 2, grifo do autor), levando Wainer, durante os anos de Guerra
Fria, a ser associado pela população brasileira como alguém ligado à URSS. Segundo Karla
Monteiro, jornalista e biógrafa de Wainer, nesse período a imprensa passou a chamá-lo de
“russo branco”, já que nenhum leitor fazia ideia de onde ficava a Bessarábia e porque
qualquer associação com a Rússia gerava pânico (Monteiro, 2020, p. 240). Eram tempos
delicados e a imprensa sabia usar isso ao seu favor.
A notícia sobre a verdadeira nacionalidade de Samuel Wainer é chamada por Hélio
Silva de “a mais avassaladora bomba de retardamento” (Silva, 2007, p. 220). Nas páginas do
Tribuna, o caso de falsificação de documentos ganhou destaque, estampando a primeira
página de várias edições do periódico. De acordo com o Tribuna, aos dezesseis anos Wainer
se aproveitou das facilidades que os cartórios do Brasil ofereciam e se registrou como
brasileiro, aumentando inclusive sua idade em dois anos (Silva, 2007). O Última Hora até
chegou a refutar as publicações oposicionistas, publicando a cópia das listas de passageiros