Faces da História, Assis/SP, v. 10, n. 2, p. 110-131, jul./dez., 2023
Gladstone Chaves de Melo passou a escrever como colunista de Maquis. Convém sinalizar
que a ascensão de Chaves de Melo não significou uma modificação notável na linha
editorial. Mas, sim, que, a partir de então, ele era alguém que tinha gerência – junto de
Amaral Netto – sobre o trabalho.
Chaves de Melo publicou apenas um texto assinado em Maquis. No final de 1959,
Quadros renunciou momentaneamente à sua candidatura à presidência em 1960. Sua
atitude foi motivada pelo choque entre a UDN e o PDC pela escolha de quem seria o
candidato a vice-presidente em sua chapa – Milton Campos ou Fernando Ferrari,
respectivamente (Skidmore, 1969, p. 235). Ao comentar o fato, o secretário de Maquis teceu
algumas considerações sobre a política brasileira:
Se a renúncia do sr. Jânio Quadros foi tomada como um protesto contra um
estado de coisas que ele sempre condenou, e como sempre condenaram a UDN e
o PDC – a divisão do bolo com as fatias já rotuladas, antes de decidir pela renúncia
devia ele ter considerado que não lhe cabia o direito de decepcionar a grande
maioria dos brasileiros que por ele esperava, que esperava pelo 3 de outubro de
1960, para, por suas próprias mãos, proclamar a nova independência, mais
importante talvez que a de 7 de setembro. Pois o povo já estava vivendo da
esperança de melhores dias, o povo já encontrava alento na simples expectativa
daquele 3 de outubro em que uma simples cruz num quadrado mágico seria o fim
de uma oligarquia que o oprime desde 30 anos, seria a sua libertação de métodos
de governo que vão aniquilando as últimas reservas de um povo exangue.
O sr. Jânio Quadros errou gravemente. Se é verdade que os partidos lhe fizeram
exigências tipo PSD, tipo PTB, cabia ao sr. Quadros fazê-los ver que uma das mais
importantes características do seu governo seria justamente a modificação radical
dos atuais métodos de governar. Se cada fatia já devia ter destino certo, sem que
ao dono da festa coubesse o direito de distribuí-las, o sr. Jânio Quadros estaria na
obrigação de dizer claro a quem quer que fosse, que procurassem eles um outro
candidato capaz de satisfazer àquele apetite antecipado. Pois além dos partidos, e
acima até dos partidos, o sr. Jânio Quadros tinha anteriores e seríssimos
compromissos para com o povo, tão sérios como os compromissos do povo para
com ele (Melo, 1959, p. 2)
O trecho do seu artigo indica que ele encampava uma interpretação que era
compartilhada e difundida principalmente por correligionários da UDN. A saber, que o
campo político estava sob domínio de um grupo desde 1930. No esforço de proposição
dessa representação, se colocava à margem qualquer tipo de diferença entre aqueles que
ocuparam o poder. Recorrendo à alegoria de porta-voz do povo, Chaves de Melo sugeriu a
sua crença de que Quadros fosse capaz de romper com essa espécie de ciclo político. Este
que, de acordo com o que Maquis publicava, se caracterizaria como imoral.