Faces da História, Assis/SP, v. 10, n. 2, p. 87-109, jul./dez., 2023
Assim, aspectos acerca das oportunidades políticas e repertório serão detalhados no
tópico seguinte, que trata sobre os aspectos gerais acerca dos ciclos de protestos ocorridos
em junho de 2013 no Brasil.
As Vozes das Ruas e os Ciclos de Protestos nas Cidades do Brasil em 2013: um despertar
crítico
Retomaremos aqui a principal pergunta que abre a parte II, capítulo 5, intitulado
oportunidades e restrições políticas, da obra O Poder em Movimento, de Sidney Tarrow
(2009), uma vez que essa questão faz todo o sentido quando se busca analisar os aspectos
gerais dos considerados ciclos de protestos ocorridos em meados de junho de 2013 no
Brasil. Segue a referida inquirição: O que faz as pessoas comuns irem às ruas, arriscarem
suas vidas e ficarem gravemente feridas para clamar por seus direitos?
Ao buscar uma interpretação que explique a origem e expansão dos ciclos de
protestos pelas principais capitais do Brasil, é importante destacar que estes tiveram como
estopim o aumento dos preços das passagens de ônibus. Após algumas semanas de
protesto, os governos de São Paulo e de outras capitais brasileiras, em circunstâncias
diferentes, voltaram atrás na decisão de aumentar os preços das passagens.
Nesse contexto, os acontecimentos de junho de 2013 assumiram conotações de
“manifestações” pela mídia e tiveram características plurais, conforme assevera Gohn:
Os movimentos foram denominados pela mídia e outros como “manifestações”. De
fato, eles foram, na maioria das vezes, manifestações que expressam estados de
indignação face à conjuntura política nacional. As mobilizações adquiriram, nesses
eventos, um caráter de movimento de massa, de protesto, de revolta coletiva,
aglutinando a indignação de diferentes classes e camadas sociais, predominando a
classe média propriamente dita, e diferentes faixas etárias, destacando-se os
jovens. Sabe-se que elas foram desencadeadas em São Paulo por coletivos
organizados, com o predomínio do Movimento Passe Livre (MPL), a partir de uma
demanda pontual – contra o aumento da tarifa dos transportes coletivos. Quando
o ‘povo’ viu, na TV e jornais, jovens sendo espancados por lutarem por bandeiras
que eram também suas, como a mobilidade urbana, ele também saiu às ruas. O
crescimento das manifestações levou à ampliação das demandas com um foco
central: a má qualidade dos serviços públicos, especialmente transportes, saúde,
educação e segurança pública (Gohn, 2014, p.431).
Ressalta-se que, ao buscarmos realizar essas interpretações sobre as “manifestações”
de 2013, não as descolamos das reflexões sobre os processos e as morfologias que