Clamor Social e Ciclos de Protestos no Brasil em 2013:
aproximações conceituais à luz das teorias dos movimentos
sociais
Social Outcry and Brazil's 2013 Protest Cycles: conceptual approaches in the
light of social movement theories
LOPES, Anne Caroline Nava *
https://orcid.org/0000-0003-0157-0040
LOPES, Silvia Cristianne Nava **
https://orcid.org/0000-0002-1879-6241
RESUMO: O presente texto visa problematizar
alguns aspectos do conceito de ciclo de
protestos, relacionados à teoria clássica dos
movimentos sociais e, para tanto, utilizará, como
campo analítico, os ciclos de protestos ocorridos
no Brasil em junho de 2013 que acabaram de
completar dez anos. Assim, nos propomos a
suscitar reflexões teóricas ligadas aos aspectos
mais gerais daqueles acontecimentos
marcadamente de clamor social, sobretudo no
que respeito ao processo de formação dos ciclos
de protestos. Para tanto, nos valemos, num
primeiro momento, de uma discussão
indispensável sobre as teorias dos movimentos
sociais e, em seguida, abordamos as categorias
de análise de estruturas de oportunidades
políticas e repertório para realizarmos, por fim,
algumas pontuais reflexões sobre o assunto,
principalmente em razão de termos o marco
histórico da década deste acontecimento.
PALAVRAS-CHAVE: Movimentos sociais;
Participação do cidadão; Protestos e Governo.
ABSTRACT: This text aims to problematize some
aspects of the concept of protest cycle related to
the classical theory of social movements and, to
this end, will use as an analytical field the Brazil's
2013 protest cycles, which has just completed
ten years. Thus, we propose to raise theoretical
reflections linked to the more general aspects of
those events marked by social outcry, especially
regarding the process of formation of protest
cycles. In conclusion, we’ll use an indispensable
discussion on the theories of social movements
at first, and, then, we address the categories of
analysis of structures of political opportunities
and repertoire to carry out, some specific,
mainly due to the historical landmark of the
decade of this event.
KEYWORDS: Social movements; Citizen
Participation; Protest and Government.
* Doutora em Ciências Sociais pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do
Maranhão (UFMA), São Luís - MA. Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Maranhão.
Graduada (Bacharelado e Licenciatura) em Ciências Sociais (UFMA). Graduada em História (Licenciatura) pela
Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Graduada em Direito (Bacharelado) pela Universidade Ceuma.
Professora Adjunto III da Universidade Federal do Maranhão, Campus Pinheiro. E-mail: anne.nava@ufma.br
** Doutora em Políticas Públicas pelo Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da Universidade
Federal do Maranhão (UFMA), São Luís - MA. Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do
Maranhão. Graduada em Enfermagem (UFMA). Professora Adjunto III da Universidade Federal do Maranhão,
Campus Bacanga. E-mail: silvia.nava@ufma.br
Este é um artigo de acesso livre distribuído sob licença dos termos da Creative Commons Attribution License.
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Faces da História, Assis/SP, v. 10, n. 2, p. 87-109, jul./dez., 2023
Recebido em: 18/07/2023
Aprovado em: 20/11/2023
Introdução
Uma onda de clamor social ganhou as ruas do Brasil em meados de junho de 2013,
fato que acabou fomentando debates e reflexões em todo país. As imagens dos protestos no
Brasil, veiculadas pela mídia, também repercutiram a necessidade de se compreender mais
claramente qual a natureza deste fenômeno social que se propagou por inúmeras capitais
brasileiras, com slogans de protesto, vandalismo, mobilizações, dentre outros.
Com efeito, é indispensável frisar que as lutas sociais que levaram milhões de
cidadãos às ruas do país em junho de 2013 marcaram o início de uma década turbulenta e
de uma onda expressiva de insatisfações sociais de todas as vertentes políticas imagináveis,
o que instiga reflexões contínuas a respeito das dimensões alcançadas, bem como sobre a
compreensão dos efeitos práticos perceptíveis dez anos depois.
Oportuno mencionar que, nos últimos dez anos, instaurou-se, em múltiplos aspectos,
um quadro de inquietações sociais, sendo que os acontecimentos de 2013 podem ser
considerados marcos iniciais de um processo de turbulência que remodelou a experiência de
se manifestar e ocupar as ruas no Brasil, inclusive a partir de uma série de outros capítulos
com contextualizações muito sui generis, a exemplo do 8 de janeiro de 2023.
Desde então, a lista do que entendemos, genericamente, por protestos no Brasil
marcou temporadas agitadas nas ruas, como por exemplo, ainda em 2013 e no ano seguinte,
com o movimento “Não Vai Ter Copa” e em 2015 e 2016 com as manifestações sobre a
legitimidade do impeachment de Dilma Rousseff do Partido dos Trabalhadores (PT). Vale a
pena mencionar, também, as mobilizações contra a PEC do Teto de Gastos e, além disso, as
manifestações relacionadas às mudanças no currículo do Ensino Médio, inclusive com
ocupações de escolas. Assim, para pensar a história recente do país, ainda envolta no clima
de instabilidades e hostilidades, integra a lista os acontecimentos do ano de 2018 os atos a
favor do então candidato Jair Bolsonaro e seus desdobramentos, com o ponto de chegada
justamente nos acampamentos que pediam golpe de Estado nas portas dos quartéis e a
tentativa de atentado em Brasília, em 8 de janeiro deste ano.
Toda essa cronologia remonta a reflexão sobre a importância dos acontecimentos
de 2013, que marcaram a mudança de rota dos protestos no Brasil, objeto de análise do
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presente texto que visa, à luz dos conceitos clássicos das teorias dos movimentos sociais,
analisar características dessas ações coletivas. Assim, voltando nossa atenção para os
últimos dez anos, percebe-se que em junho de 2013 as insatisfações sociais em praça
pública, as passeatas e a difusão de mensagens via redes sociais, marchas, ocupações de
prédios públicos entre outros, são características da ação do que se entende teoricamente
como ciclo de protestos. Essas formas de atuação em ruas e praças públicas é o que dá
visibilidade ao movimento social, principalmente quando este é focado pela mídia. Os ciclos
de protestos são, pelo menos, sinais de descontentamento social que podem provocar
impactos conjunturais e estruturais, em maior ou menor grau, dependendo de sua
organização e das relações de forças estabelecidas.
Estudos que trazem à tona a discussão sobre movimentos sociais e os reflexos na
sociedade fazem parte das reflexões sociológicas desde suas correntes teóricas mais
clássicas
1
até as abordagens mais culturais
2
e é na perspectiva de construção de uma análise
acerca desse período de contestação social crescente no Brasil e comum na América Latina,
que esse artigo se projeta, fazendo uso teórico das abordagens contemporâneas sobre ação
coletiva.
Note-se que as próprias teorias dos movimentos sociais se construíram diante de um
quadro muito complexo, como plataforma de observação dos clamores sociais espalhados
no Ocidente a partir dos anos 1960. Esse cenário ensejou a constituição das primeiras
definições e conceitos sobre os movimentos sociais, como sabemos, correspondendo às
abordagens clássicas enquanto designações de multidões em busca de mudanças sociais.
Todavia, é mister que se aponte que as cenas de conflitos e tensões das multidões
igualmente se complexificaram na contemporaneidade e, levando isso em consideração, o
que se propõe nessa reflexão é o necessário esforço de aproximações teóricas para ensejar
interpretações indispensáveis em face à cena contemporânea singular.
Nesse sentido, a dimensão metodológica deste trabalho compreende o
desenvolvimento da pesquisa numa perspectiva exploratória, sendo em parte teórica (por
meio de pesquisa bibliográfica), e parte empírica (pesquisa de campo na cidade do Rio de
1
Consideram-se cinco grandes linhas com algumas características comuns: o foco de análise é a teoria da ação
social e a meta principal das correntes teóricas clássicas é buscar compreender os comportamentos coletivos.
Estes, por sua vez, eram analisados segundo um enfoque sociopsicológico.
2
Os principais teóricos dos Novos Movimentos Sociais: Alain Touraine, Jürgen Habermans, Alberto Melucci são
críticos da ortodoxia marxista, mas mantêm o enquadramento macro-histórico e a associação entre mudança
social e as formas de conflitos. A especificidade está na interpretação cultural.
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Janeiro à tempo dos acontecimentos de junho de 2013 com foco nos registros de imagens
urbanas, bem como estudo das fanpages dos respectivos movimentos sociais em caráter
netnográfico).
No campo sociológico, os movimentos sociais são questões recorrentes e
representam um tema exaustivamente debatido pelas ciências sociais. Nesse sentido,
preleciona Tarrow (2009, p. 21) que “os movimentos sociais são compreendidos como
desafios coletivos baseados em objetivos comuns e solidariedade social, numa interação
sustentada pelas elites, opositores e autoridades [...]”.
Para muitas pessoas o é tão fácil entender os ciclos de protestos em nome de
causas e direitos sociais que vêm historicamente acontecendo em âmbito global e que, na
última década, eclodiram também no Brasil, com expressividade em muitas de suas capitais.
O desconhecimento a respeito da história social e política, bem como sobre o significado
profundo das lutas nas ruas, protestos e mobilizações contribui para a perplexidade quanto
à situação presente, na qual se projetou no país, em janeiro de 2023, uma tentativa de golpe
e atos antidemocráticos que jamais podem se confundir com os acontecimentos de 2013.
Neste contexto, o presente artigo visa, de forma breve, sem a intenção de esgotar o
tema, realizar uma reflexão a respeito da contextualização das teorias da ação coletiva e
analisar alguns aspectos referentes ao processo de formação do que passamos a considerar,
a partir desse momento, como ciclo de protestos, especificamente, os fatos ocorridos no
junho de 2013, a fim de problematizar algumas questões como: o caráter de reivindicação e
luta; a prática e a expansão dos ciclos de protestos e a vinculação destes com as redes
sociais. Para tanto, fazemos uso de um arcabouço teórico sobre pensamento social e
movimentos sociais.
Reitera-se, como anteriormente mencionado, que o sentido proposto é o de realizar
aproximações teóricas porque entendemos que os protestos de 2013, foco principal da
discussão, não se enquadram perfeitamente na definição tradicional dos movimentos
sociais. Todavia, diálogos e pontes podem e devem ser abertos, não inviabilizando e nem
comprometendo a reflexão quando se deixa claro quais são as pretensões e alcances do
trabalho e quando se destacam as complexidades dos clamores sociais na
contemporaneidade, fazendo um esforço de compreendê-los num quadro tão recente da
história do país em que eles ainda estão em efervescência e metamorfoses. Em outras
palavras, é preciso partir da compreensão da mudança de perspectiva teórica do conceito
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monossêmico para a polissemia de significados e interpretações, contexto sinalizado por
Alberto Melucci
3
no campo teórico.
Breve Contextualização das Teorias dos Movimentos Sociais
É importante considerar que, a partir dos anos de 1960, em várias regiões
acadêmicas do mundo ocidental, os estudos sobre a questão dos movimentos sociais
ganharam espaço, densidade e status de análise científica. Isso ocorreu porque, em certo
sentido, os movimentos sociais obtiveram visibilidade na própria sociedade, enquanto
fenômenos históricos concretos. Num outro aspecto, é possível afirmar que houve o
desenvolvimento de um arcabouço teórico sobre os movimentos sociais e sobre as ações
coletivas, que ganharam novos patamares, em universos mais amplos, construindo novas
teorias que relacionavam o tema à sociedade, às relações de confronto, às instituições
políticas etc.
De acordo com Gohn (2010), a abordagem clássica sobre os movimentos sociais nas
ciências sociais norte-americanas está associada ao próprio desenvolvimento inicial da
sociologia naquele país. Embora ela tenha ultrapassado suas fronteiras e seus autores não
sejam de nacionalidade exclusivamente americana, foi nos Estados Unidos que ela mais se
desenvolveu, tendo hegemonia neste país por várias décadas e de se espalhando para
outros países. Nesse sentido:
Os autores clássicos analisavam os movimentos em termos de ciclos evolutivos, em
que seu surgimento, crescimento e propagação ocorriam por intermédio de um
processo de comunicação que abrangia contatos, rumores, reações circulares,
difusão das ideias, etc. As insatisfações que geravam as reivindicações eram vistas
como respostas às rápidas mudanças sociais e à desorganização social
subsequente. A adesão aos movimentos seriam respostas cegas e irracionais de
indivíduos desorientados pelo processo de mudança que a sociedade industrial
gerava. Nessas abordagens, dava-se, portanto, grande importância à reação
psicológica dos indivíduos diante das mudanças, reação considerada como
comportamento não-racional ou irracional (Gohn, 2010, p. 24).
Nesse aspecto, infere Angela Alonso (2009) que, dado o caráter cômodo da
dominação no capitalismo tardio ou na sociedade de massa, operada via consumo e afinada
com o padrão dominante de individuação, a mobilização coletiva eclodiria apenas como
3
Melucci A. Acción colectiva, vida cotidiana y democracía. México: El Colegio de México; Centro de Estudios
Sociológicos; 1999.
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irracionalidade, como explosão reativa de frustrações individuais. De uma maneira ou de
outra, a explicação tinha pilares psicossociais, amparando-se em emoções coletivas.
É importante destacar que, quando tratamos do enfoque teórico sobre os
movimentos sociais, desde logo é imprescindível registrar que não um ou outro eixo
teórico e sim, muitas vezes, vários em um mesmo conjunto, conforme o paradigma utilizado.
Desse modo, apontam-se cinco grandes correntes teóricas da abordagem clássica sobre ação
coletiva.
Assim, de acordo com Gohn
4
(1997), a primeira é representada pela Escola de
Chicago e alguns interacionistas simbólicos. Como um dos produtos desta corrente tem-se as
contribuições de Herbert Blumer (1949). A segunda corrente desenvolveu-se ao longo dos
anos 40 e 50, com as teorias sobre a sociedade de massas de Eric Fromm (1941), Hoffer
(1951) e Kornhauser (1959). A terceira corrente predominou nos anos 50, com um forte
acento em variáveis políticas e está presente nos trabalhos de Lipset (1950) e Heberle
(1951). A quarta corrente foi uma combinação das teorias da Escola de Chicago com a teoria
da ação social de Parsons e se fez presente nos trabalhos de Goffman (1959), Turner e Killian
(1957), Smelser (1962) e David Aberle (1966). A quinta e última corrente da abordagem
clássica está representada pelos trabalhos de Gusfield (1955) e Selzinick (1952) e teve
grande influência nas teorias que substituíram o paradigma clássico, mas não gerou, em sua
época, nenhuma teoria específica sobre os movimentos sociais.
A produção teórica na Sociologia a partir dos anos 1970 nos revela novos olhares
sobre as ações coletivas. Nesse contexto, são reconhecidas as contribuições de McCarthy e
Zald (1977) e Jenkins (1983), com o desenvolvimento da Teoria da Mobilização de Recursos
(TMR). Assim, na visão de Alberto Melucci:
Os autores das resource mobilization theory têm colocado em evidência que o nível
de descontentamento sempre presente em um sistema não basta para justificar os
processos de mobilização e têm sublinhado a importância dos “recursos
discricionais” disponíveis e da “estrutura de oportunidades” que tornam possível a
ação (Melucci, 2001, p. 67).
4
Síntese teórica abordada por Maria da Glória Gohn em sua obra intitulada Teoria dos Movimentos Sociais
Paradigmas Clássicos Contemporâneos.
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A TMR, em linhas gerais, enfatizou o significado das bases organizacionais, da
acumulação de recursos e a coordenação coletiva de atores políticos populares, defendendo
as similaridades e convergências entre movimentos sociais e grupos de interesse. Os
modelos iniciais exageraram na centralidade das decisões estratégicas deliberadas para os
movimentos sociais e praticamente não consideraram as eventualidades, a emotividade, a
plasticidade e as características interativas das políticas dos movimentos. Assim:
A TMR, portanto, avalia os movimentos sociais igualando-os a um fenômeno social
como outro qualquer, dotado das mesmas características que os partidos políticos,
por exemplo. A explicação privilegia a racionalidade e a organização e nega relevo a
ideologias e valores na conformação das mobilizações coletivas [...]. As críticas
recebidas também foram volumosas. Insurgindo-se contra teorias excessivamente
culturalistas, a TMR foi parar no extremo oposto: inflou a faceta racional e
estratégica da ação coletiva. À cultura restou um lugar residual (Alonso, 2009, p.
53).
Nesse sentido, a Teoria da Mobilização de Recursos parece transitar em espaços
teóricos limitados aos fundamentos baseados unicamente no cálculo. Assim, assevera
Melucci:
A crítica avançada dos autores da TMR coloca em evidência que as expectativas são
construídas a partir de uma avaliação das possibilidades e dos limites oferecidos
pelo ambiente. Assim fazendo, a TMR mostra a importância de um nível
intermediário completamente ignorado pelos modelos que aceitam uma relação
direta entre descontentamento e mobilização. Todavia, também a TMR permanece
prisioneira do mesmo limite das teorias que critica no que diz respeito às
responsabilidades implícitas na questão da identidade. Na verdade, conceitos como
“recursos discricionais” ou “estruturas de oportunidades” não se referem às
realidades “objetivas”, mas implicam na capacidade de os atores perceberem,
avaliarem e decidirem sobre as possibilidades e os limites oferecidos pelo ambiente
(Melucci, 2001, p. 68).
O processo de desenvolvimento dessas teorias, dos debates e do movimento
conciliatório, tratado no artigo As Teorias dos Movimentos Sociais: um balanço do debate, de
Angela Alonso, coloca um resumo das principais teorias, restando-nos apresentar, em linhas
gerais, o foco e as ênfases das outras duas teorias que, segundo a referida autora, nasceram
dos debates sobre a revolução, ou melhor, da exaustão dos debates marxistas. Ambas se
insurgiram contra as explicações deterministas e economicistas das ações coletivas. São elas:
A Teoria do Processo Político (TPP) e a Teoria dos Novos Movimentos Sociais (TNMS).
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A Teoria do Processo Político enfatizou, diferentemente, o dinamismo, a interação
estratégica, e a resposta ao ambiente político. Impulsionou a produção de pesquisas sobre
as formas de reivindicação que as pessoas utilizam em situações reais da vida, o que seria
conhecido como repertório do confronto. Mais recentemente, uma reação à vertente do
estruturalismo desses estudos anteriores aproximou pesquisadores de perspectivas culturais
e sociais-psicológicas, adicionando outro elemento ao estudo dos movimentos sociais, qual
seja, o processo de criação de quadros interpretativos framing (Mcadam et al., 2009, p. 15-
16).
A TPP, por sua vez, privilegiou o ambiente macropolítico e incorporou a cultura na
análise, por meio do conceito de repertório
5
, embora não tenha lhe dado lugar de grande
destaque. Para Angela Alonso (2009), embora constituída nos Estados Unidos, como a TMR,
a TPP engloba casos europeus em suas análises. Charles Tilly (2007) estudou em
profundidade o movimento revolucionário na França e os movimentos por reformas na
Inglaterra, nos séculos XVIII e XIX. Sidney Tarrow (1994) se deteve no movimento de
redemocratização da Itália da segunda metade do século XX e Doug McAdam no movimento
pelos direitos civis nos Estados Unidos (1982).
Teóricos como Tilly, Tarrow e McAdam passam a sustentar que os movimentos
sociais fazem parte de um amplo conjunto de políticas contenciosas ou de confronto, como
vem sendo traduzido o termo contentious. Com as ferramentas de análise deste amplo
conjunto que envolve o confronto, seria possível interpretar fenômenos que passam por
movimentos sociais, sindicalismo e nacionalismo (Corrêa, 2010).
A Teoria dos Novos Movimentos Sociais enfatizou de maneira muito marcante a
característica das implicações culturais, sobretudo na construção de uma teoria
fundamentada na identidade coletiva. Nesse aspecto, Melucci (2001) alicerçou as bases de
uma nova teoria psicossocial da ação coletiva que contribui e explica a conversão de
cidadãos comuns em ativistas por meio de um processo que engloba ao mesmo tempo
emoção e racionalidade.
5
Charles Tilly apoiou-se numa perspectiva pragmática, definindo repertório como “um conjunto limitado de
rotinas que são apreendidas, compartilhadas e postas em ação por meio de um processo relativamente
deliberado de escolha”
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Nota-se que, de uma forma ou de outra, todas essas três teorias ocuparam os
debates até o início dos anos 1980 e, após isso, houve intensas discussões e polêmicas em
torno do problema identidade versus estratégia. De acordo com Alonso:
Em suma, as três teorias agora clássicas sobre movimentos sociais têm
contornos bastantes peculiares. A TMR focalizou a dimensão microorganizacional e
estratégica da ação coletiva e praticamente limou o simbolismo na explicação. a
TPP privilegiou o ambiente macropolítico e incorporou a cultura na análise, por
meio do conceito de repertório, embora não tenha lhe dado lugar de honra. A
TNMS, inversamente, acentuou aspectos simbólicos e cognitivos e mesmo
emoções coletivas , incluindo-os na própria definição de movimentos sociais. Em
contrapartida, deu menor relevo ao ambiente político em que a mobilização
transcorre e aos interesses e recursos materiais que ela envolve (Alonso, 2009, p.
69).
Observa-se, assim, a partir de todo esse percurso teórico, que os movimentos sociais
não resultam apenas e diretamente do que entendemos como cálculos de interesses, ainda
que esses cálculos se façam presentes em muitos movimentos. Portanto, é importante
considerar que os ciclos de protestos envolvem tanto a ação estratégica, indispensável para
o controle sobre recursos e valores que sustentam a ação coletiva, quanto a construção de
vínculos de solidariedades e identidades coletivas.
Elementos Teóricos para Análise: estrutura de oportunidades políticas e repertório
O Conceito de Estrutura de Oportunidades Políticas
Sabe-se que, de acordo com o que preleciona Tarrow (1994, p.23) na “Teoria da
Mobilização Política
6
, “[...] os movimentos são produzidos quando eles demonstram, por um
lado, a existência de aliados e quando, por outro lado, eles revelam a vulnerabilidade de
seus antagonistas”. Assim, os indivíduos fabricam as ações coletivas através de repertórios
conhecidos, episódios de disputas e pela criação de desafios contenciosos em torno de todas
as suas margens. É característica comum que, em suas bases, existam redes sociais e
símbolos culturais através dos quais as relações sociais estão organizadas.
Na visão de Gohn (1999, p.6) “[...] existem quatro elementos básicos para explicar o
surgimento e o desenvolvimento de um movimento social: oportunidades políticas,
6
A abordagem da mobilização política representa um avanço em relação a todas as outras teorias
produzidas pelo paradigma norte-americano de análise das ações coletivas em geral e dos movimentos sociais
em particular. Uma vez que ela introduz a política e localiza as ações nas estruturas macrossociais.
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repertórios, redes e marcos referenciais”. Naquela teoria, as oportunidades políticas têm
centralidade no processo. Mudanças nas oportunidades políticas criam novas ondas de
movimentos sociais e são responsáveis por seus desdobramentos. Nesse sentido, nos
importa compreender quais seriam essas oportunidades políticas que possibilitaram a
eclosão dos ciclos de protestos em junho de 2013 no Brasil.
É preciso considerar que o conceito de oportunidades políticas enfatiza sempre os
recursos externos ao grupo. Assim, de acordo com Tarrow:
Entendo oportunidades políticas como dimensões consistentes mas não
necessariamente formais, permanentes ou racionais da luta política que
encorajam as pessoas a se engajarem no confronto político. [...]. Como resultado, o
termo “estrutura de oportunidades políticas” não deveria ser entendido como um
modelo invariável que produz, inevitavelmente, movimentos sociais, mas como um
conjunto de indícios de quando surgirá um confronto político, colocando em
movimento uma cadeia causal que pode levar a uma interação sustentada com
autoridades e, portanto, a movimentos sociais (Tarrow, 2009, p. 38-39).
Nesse sentido, para que um movimento ganhe força e seja impulsionado com maior
precisão em busca da consecução de seus objetivos comuns, é necessário oportunidades
políticas favoráveis ou acessíveis, enfatiza Tarrow, em O Poder em Movimento. De maneira
complementar, afirma Alonso:
O conceito de Estrutura de Oportunidades Políticas (EOP) o parâmetro político.
Tarrow (1994, p. 20) argumenta que, quando mudanças nas EOPs, isto é, nas
dimensões formais e informais do ambiente político, se abrem ou se criam novos
canais para expressão de reivindicações para grupos sociais de fora da polity
(Alonso, 2009, p. 55).
Tarrow (2009, p.38) amplia e clarifica o conceito afirmando que “as pessoas se
engajam em confrontos políticos quando mudam os padrões de oportunidades e restrições
políticas e, então, empregando estrategicamente um repertório de ação coletiva, criam
novas oportunidades que são usadas por outros, em ciclos mais amplos de confronto [...]”.
Quando suas lutas giram em torno de grandes divisões na sociedade, quando reúnem
pessoas em volta de mbolos culturais herdados e quando podem ampliar ou construir
densas redes sociais e estruturas conectivas, então esses episódios de confronto resultam
em interações sustentadas com opositores, especificamente, em movimentos sociais.
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Assim, o conceito de Estrutura de Oportunidades Políticas (EOP), de Tarrow, pode
nos auxiliar no entendimento acerca de como os movimentos eclodidos em junho e julho de
2013 se propagam, como novas redes e articulações foram construídas pelos manifestantes,
e de que maneira as oportunidades foram entendidas e formadas naqueles ciclos de
protestos de 2013.
É importante destacar que o autor prefere utilizar a categoria estruturas
mobilizatórias para explicar também as redes que dão origem e fundamento a um
movimento. Nota-se, assim, que estes são conceitos essenciais para que seja possível um
estudo das estruturas que nos levam à morfologia dos movimentos.
Pode-se considerar, num certo sentido, que um dos principais destaques da
construção teórica de Tarrow é a análise sobre os resultados de um movimento, que estão
relacionados ao processo do que o autor designa de mudança social.
Nesse aspecto, os ciclos de ondas de movimentos são os principais catalisadores
capazes de possibilitar efetivas mudanças sociais e, como tal, são parte de lutas políticas
pelo poder. Esta dimensão da análise fornece elementos para a compreensão dos
movimentos como força social e como instrumentos de alcance de justiça social (Gohn,
1997, p. 57).
Tarrow também enfatiza a importância das redes sociais, que, segundo ele,
representam os maiores recursos externos através dos quais as ações coletivas se constroem
e se desenvolvem. Conforme podemos perceber, oportunidades políticas, repertórios e
redes representam os instrumentos fundamentais para a construção do ciclo de protestos na
história recente do Brasil.
O Conceito de Repertório
Primeiramente, é necessário considerar que a questão da interdependência dos
processos associativos se desenvolve sob a expectativa de como a estrutura social e a
mobilização podem ser transformadas em ação. Assim, um dos principais meios para
transformar tais precondições em ação é empregar o que se conhece como repertórios, que
nada mais são do que formas de ação socialmente compartilhadas. Nesse aspecto, uma
construção da apresentação de formas familiares de ação, sem as quais os movimentos não
poderiam lograr transformar oportunidades externas em recursos de ação.
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Tarrow (2009) é um dos nomes de grande destaque entre os estudiosos dos
movimentos sociais. Sua análise acerca das ões coletivas parte do enfoque dos fatores
externos ao movimento, que corresponde a aspectos da conjuntura e da estrutura dos
mesmos. Em sua concepção teórica, além da análise das estruturas de oportunidades
políticas, o autor recorre às percepções dos teóricos culturalistas para examinar os aspectos
internos ao movimento, apreendidos segundo os conceitos de repertório, enquadramento
interpretativo (frames) e identidade coletiva.
A partir das leituras de Sidney Tarrow e Charles Tilly observa-se que os movimentos
sociais ocorrem através dos considerados ciclos de protestos. Neles, o repertório de ação é
a maneira através da qual as pessoas agem juntas em busca de interesses compartilhados
(Tarrow, 2009).
Os movimentos, então, acontecem em ciclos onde temas, símbolos e inovações
táticas de ações individuais e grupais influenciam uns aos outros. São essas estratégias
capazes de disseminar os significados compartilhados que inspiram as pessoas a participar
de uma ação coletiva (Tarrow, 2009).
A interação fortificada de um ciclo corrobora oportunidades e inspirações para
inovações que são muito mais raras e mais perigosas fora deles, o que sugere uma
organização e lógica de mobilização que não se fazem sem a elaboração de um repertório
que visa salvaguardar interesses comuns.
Para conseguir seus objetivos, os atores sociais usam alguns repertórios, que são
ações que estão inseridas em contextos históricos específicos. Assim, para Tarrow:
[...] as pessoas se engajam em confrontos políticos quando mudam os padrões de
oportunidades e restrições políticas e então, empregando estrategicamente um
repertório de ação coletiva, criam novas oportunidades que são criadas por outros,
em ciclos mais amplos de confronto. Quando suas lutas giram em torno de grandes
divisões da sociedade, quando reúnem pessoas em volta de símbolos culturais
herdados e quando podem ampliar ou construir densas redes sociais e estruturas
conectivas, então esses episódios de confronto resultam em interações
sustentadas com opositores especificamente, em movimentos sociais (Tarrow,
2009, p. 38).
Repertório, então, é uma categoria que Tarrow (2009) toma emprestada de Charles
Tilly, que destaca a descrição das práticas da ação coletiva em defesa de interesses
considerados comuns. Trata-se, portanto, de um conceito que envolve o entendimento do
99
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que as pessoas fazem quando engajadas num conflito, o que elas sabem fazer e o que os
outros esperam que elas façam.
Segundo Charles Tilly (2007), quando novos repertórios como greves, comícios,
reuniões públicas e similares passaram a prevalecer e substituíram gradativamente os
repertórios anteriores, tomaram caráter cosmopolita, modular e autônomo:
Eram cosmopolitas ao referir-se com frequência a interesses e questões que diziam
respeito a muitas localidades ou afetavam centros de poder cujas ações afetavam
muitas outras. Eram modulares por ser facilmente transferíveis de um local ou
circunstância para outros [...] eram autônomas por começarem por iniciativas dos
próprios reclamantes e estabelecer contato direto entre estes e os centros de
poder nacionalmente significativos (Tilly; Tarrow, 2007, p.46).
É preciso considerar que nos últimos anos os repertórios dos movimentos sociais
incluem, além das ações tradicionais, o uso das mídias eletrônicas e, em especial, a internet.
O interessante neste presente artigo é buscar compreender como essas estratégias, por
exemplo, no caso dos ciclos de protestos no Brasil em junho de 2013 favoreceram a eclosão
desse movimento.
Com efeito, o repertório se constitui de variáveis que influenciam na sua
transformação em movimentos sociais e ciclos de protestos. Greves, reuniões e passeatas
são alguns tipos de repertório de confronto. Mas, no geral, Tarrow (2009) explica que o
repertório de confronto oferece três tipos básicos de ação coletiva, cada uma com
vantagens e desvantagens: violência, ruptura e convenção.
A categoria repertório, juntamente com a categoria de enquadramento
interpretativo, indica os elementos analíticos a serem considerados na dinâmica interna do
movimento, ou seja, suas ações, práticas, estratégias, mecanismos de coesão, etc.
Vale ressaltar, para fins analíticos do presente artigo, que os ciclos de protestos
ocorridos no Brasil em 2013 foram um evento ímpar na história do país, o que nos leva a
compreender, em linhas gerais, quais e como as oportunidades conjunturais daquele
período favoreceram a eclosão do movimento. Com efeito, com o aporte teórico de Sidney
Tarrow (2009) buscaremos verificar as condições que serviram de oportunidades para o
ocorrido.
100
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Assim, aspectos acerca das oportunidades políticas e repertório serão detalhados no
tópico seguinte, que trata sobre os aspectos gerais acerca dos ciclos de protestos ocorridos
em junho de 2013 no Brasil.
As Vozes das Ruas e os Ciclos de Protestos nas Cidades do Brasil em 2013: um despertar
crítico
Retomaremos aqui a principal pergunta que abre a parte II, capítulo 5, intitulado
oportunidades e restrições políticas, da obra O Poder em Movimento, de Sidney Tarrow
(2009), uma vez que essa questão faz todo o sentido quando se busca analisar os aspectos
gerais dos considerados ciclos de protestos ocorridos em meados de junho de 2013 no
Brasil. Segue a referida inquirição: O que faz as pessoas comuns irem às ruas, arriscarem
suas vidas e ficarem gravemente feridas para clamar por seus direitos?
Ao buscar uma interpretação que explique a origem e expansão dos ciclos de
protestos pelas principais capitais do Brasil, é importante destacar que estes tiveram como
estopim o aumento dos preços das passagens de ônibus. Após algumas semanas de
protesto, os governos de São Paulo e de outras capitais brasileiras, em circunstâncias
diferentes, voltaram atrás na decisão de aumentar os preços das passagens.
Nesse contexto, os acontecimentos de junho de 2013 assumiram conotações de
“manifestações” pela mídia e tiveram características plurais, conforme assevera Gohn:
Os movimentos foram denominados pela mídia e outros como “manifestações”. De
fato, eles foram, na maioria das vezes, manifestações que expressam estados de
indignação face à conjuntura política nacional. As mobilizações adquiriram, nesses
eventos, um caráter de movimento de massa, de protesto, de revolta coletiva,
aglutinando a indignação de diferentes classes e camadas sociais, predominando a
classe média propriamente dita, e diferentes faixas etárias, destacando-se os
jovens. Sabe-se que elas foram desencadeadas em São Paulo por coletivos
organizados, com o predomínio do Movimento Passe Livre (MPL), a partir de uma
demanda pontual contra o aumento da tarifa dos transportes coletivos. Quando
o ‘povo’ viu, na TV e jornais, jovens sendo espancados por lutarem por bandeiras
que eram também suas, como a mobilidade urbana, ele também saiu às ruas. O
crescimento das manifestações levou à ampliação das demandas com um foco
central: a qualidade dos serviços públicos, especialmente transportes, saúde,
educação e segurança pública (Gohn, 2014, p.431).
Ressalta-se que, ao buscarmos realizar essas interpretações sobre as “manifestações”
de 2013, não as descolamos das reflexões sobre os processos e as morfologias que
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caracterizam os ciclos de protestos que ocorreram no Brasil e é sobre esse prisma que se
empreenderá uma breve reflexão, principalmente em razão de compartilhar o
entendimento de Gohn sobre tais acontecimentos em que, em sua visão, “[...] os próprios
manifestantes de junho de 2013, no Brasil, autodenominam suas ações como atos. Analistas
têm se referido a eles como jornadas. Eu considero que, em junho, houve algo mais que
jornadas ou atos. Houve protestos” (Gohn 2014, p. 434-435).
Então, no sentido de buscarmos compreender o processo de formação desses ciclos
de protestos, considera-se, desde já, a importância das estruturas de oportunidades
políticas. A esse respeito assevera Santos (2022, p. 912) ao afirmar que “Da inflexão do on e
do off-line na mobilização social, desprendem-se elementos de uma performance entre
plataformização, participação social e interação entre dispositivos e sujeitos.” Assim, uma
referência obrigatória é justamente o poder de comunicação das redes sociais, pois estas
representam uma característica fundamental para a expansão de ideias, por diferentes
espaços sociais e geográficos e, ao mesmo tempo, representam uma mola propulsora de
fomentação de processos associativos, como sugere Castells em sua obra Redes de
indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet (2013, p.10) ao afirmar que:
“os movimentos espalharam-se por contágio num mundo ligado pela internet sem fio e
caracterizado pela difusão rápida, viral, de imagens e ideias”. Nesse sentido, complementa
Gohn:
As manifestações fazem parte de uma nova forma de movimento social, que se
caracteriza por participação de uma maioria de jovens escolarizados,
predominância de camadas médias, conexão por e em redes digitais, organização
horizontal e de forma autônoma, e crítica às formas tradicionais da política da
atualidade especialmente os partidos e os sindicatos. As convocações para os
atos foram feitas através das redes sociais, e a grande mídia contribuiu para a
adesão da população ao noticiar a agenda, os locais e a hora das manifestações. Há
uma estética particular nas manifestações: em cima da demanda-foco, sem carros
de som o batuque ou as palmas são utilizados no percurso das marchas (Gohn,
2014, p. 431-432).
Entre outros efeitos, tal capacidade de trânsito de informações confere, certamente,
uma capacidade de articulação estratégica essencial para que as resistências sociais tivessem
o resultado positivo, ainda mais porque conseguem quebrar as barreiras e limites espaciais e
geográficos. Assim, é possível visualizar nos ciclos de protestos de junho de 2013 no Brasil
que houve uma significativa importância do uso das redes sociais não no momento de
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formação dos ciclos de protestos, mas em todo seu desenvolvimento, destacando-se o
apoio das redes sociais como facebook e twitter.
Especificamente sobre os ciclos de protestos cuja origem remonta meados de junho e
julho de 2013 no país, existem algumas considerações importantes a serem feitas sobre seu
processo de formação, além das que foram apontadas até aqui. De acordo com Roberto
Schwarz no prefácio da obra Cidades Rebeldes: passe livre e os ciclos de protestos que
tomaram as ruas do Brasil (2013), um indício forte de insatisfação geral com os
problemas sociais que, ao que tudo indica, não foram resolvidos a contento. Assim, infere
Schwarz:
Em duas semanas o Brasil que diziam que havia dado certo que derrubou a
inflação, incluiu os excluídos, está acabando com a pobreza extrema e é um
exemplo internacional foi substituído por outro país, em que o transporte
popular, a educação e a saúde públicas são um desastre e cuja classe política é uma
vergonha, sem falar na corrupção. Qual das duas versões estará certa? É claro que
todos esses defeitos existiam antes, mas eles não pareciam o principal; e é claro
que aqueles méritos do Brasil novo continuam a existir, mas parece que já não dão
a tônica. O espírito crítico, que esteve fora de moda, para não dizer excluído da
pauta, teve agora a oportunidade de renascer. A energia dos protestos recentes, de
cuja dimensão popular ainda sabemos pouco, suspendeu o véu e reequilibrou o
jogo. Talvez ela devolva à nossa cultura o senso da realidade e o nervo crítico. Sem
falar no humor, que nos seus momentos altos ela sempre teve (Schwarz, 2013,
p.15).
Existem fortes indícios de que tudo se iniciou com intensas e inúmeras insatisfações
sociais, conforme aponta o gráfico abaixo extraído da pesquisa de opinião chamada de
Barômetro das Américas
7
.
Gráfico 1. Qual é o Problema Mais Grave que o Brasil Está Enfrentando?
7
A Pesquisa de Opinião Barômetro das Américas (2013) é conduzida pelo Projeto de Opinião Pública da
América Latina. Segundo Aquino (2013) tal projeto funciona com o levantamento de amostras representativas
da população brasileira. Tais levantamentos de dados têm sido coordenados pelo Prof. Lúcio Rennó, da UnB.
103
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Fonte: Barômetro das Américas, 2013.
Fazendo uma observação sobre o Gráfico 1, a respeito dos problemas que os
brasileiros consideravam mais graves, é possível notar que os problemas como educação,
economia, pobreza/desigualdade e infraestrutura são considerados os menos graves ao
passo que a violência, a política, o desemprego e a saúde são considerados os mais graves
para a população. Nesse sentido, cumpre destacar as contribuições de Gilberto Calil:
O governo de Dilma Rousseff transcorre em contexto mais desfavorável, o
que se deve a diversos fatores: a progressiva internalização dos efeitos da
crise econômica capitalista mundial; a completa falta de carisma da presidenta e
seu perfil tecnocrático; a maior repercussão das críticas provenientes da
esquerda às suas políticas privatistas (em especial através dos leilões dos
campos de petróleo do pré-sal e das concessões de aeroportos públicos); e o
impacto dos escândalos de corrupção nas obras vinculadas à realização da
Copa do Mundo em 2014 (Calil, 2013, p. 380).
Assim, as demandas da contestação, que no início eram restritas ao tema transporte,
ampliaram-se, albergando direitos de moradia, educação e outras reivindicações sociais de
caráter cada vez mais plural, fundamentadas no descrédito comum nas instituições políticas
do país. Note-se, conforme afirma Calil (2013, p. 389-390) que, o caráter espontâneo de
grande parte das manifestações, sua composição pluriclassista e a amplitude e diversidade
das reivindicações eram evidentes.
Do ponto de vista prático, é preciso evocar mais uma vez a importância das
estruturas de oportunidades políticas e, nesse aspecto, existem fortes indícios de que os
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processos de formação dos ciclos de protestos se iniciaram realmente com o Movimento do
Passe Livre (MPL) em São Paulo e que este acabou repercutindo em outras capitais. Todavia,
registra-se amplamente o quadro de insatisfação política, a luta contra a homofobia, o
feminismo e protestos contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 37
8
, além do
aumento das passagens, algumas das bandeiras levantadas durante os ciclos de protestos de
junho de 2013 no Brasil.
Figura 1. Movimento do Passe Livre em São Paulo - SP
Fonte: Agência Brasil (EBC), 2013.
As imagens ajudam a visualizar algumas dessas insatisfações sociais.
Compreendemos que é impossível dissociar as principais razões, objetivas e subjetivas,
desses protestos no que diz respeito diretamente à condição precária das cidades, do
aumento das tarifas de ônibus e do caos da mobilidade urbana, das péssimas condições de
vida, do quadro alarmante de desigualdades sociais diante da ostentação dos investimentos
da Copa do Mundo e da atuação da Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA),
dos processos de exclusão, invisibilidade social e da expansão da violência e dos altos índices
de criminalidade presentes na realidade brasileira atual.
Figura 2. Exemplos de Expressões Usadas pelos Manifestantes nas Ruas da Cidade do Rio de
Janeiro no ano de 2013
8
A PEC 37 foi um projeto legislativo brasileiro que se aprovado, limitaria o poder de investigação criminal a
polícias federais e civis, retirando-o de, entre outras organizações, o Ministério Público.
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Fonte: Elaboração própria
9
Figura 3. Expressão Usada pelos Manifestantes Relacionada ao Aumento da Tarifa de Ônibus
nas Ruas da Cidade do Rio de Janeiro no Ano de 2013
Fonte: Elaboração própria.
Figura 4. Expressões de Reivindicações de Diversas Mobilizações nas Ruas da Cidade do Rio
de Janeiro no Ano de 2013
9
Fotografias realizadas pelos autores nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, durante as manifestações de junho
de 2013.
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Fonte: Elaboração própria.
Figura 5. Expressões do Movimento "Vem Pra Rua" Nas Ruas da Cidade do Rio de Janeiro no
ano de 2013
Fonte: Elaboração própria.
É importante destacar que uma das características principais sobre os
acontecimentos de junho de 2013 no Brasil é justamente uma espécie de efeito dominó que
os protestos tiveram. Em outras palavras, os protestos aparentemente localizados se
difundiram a outros espaços, isto é, inúmeras cidades, adquirindo a condição de um
fenômeno em cadeia. Nesses termos, a identificação de experiências concretas e comuns,
em contextos urbanos os mais diferentes possíveis, contribuiu para a legitimação de um
corpo coletivo de contestação.
Vale ressaltar, conforme preleciona Tarrow (2009) que um dos motivos básicos para
as pessoas se unirem para participar de movimentos é a organização de reivindicações
comuns aos opositores, autoridades ou elites. Assim, no caso dos protestos no Brasil em
junho de 2013, a reivindicação de tais temas pode efetivamente ter caracterizado propósitos
comuns compartilhados pelos milhares que erguiam bandeiras, cantarolavam hinos e
gritavam frases que caracterizaram uma das maiores mobilizações políticas do país, cujo
objetivo comum era reagir ao quadro caótico de crise social. Observou-se uma dinâmica
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Faces da História, Assis/SP, v. 10, n. 2, p. 87-109, jul./dez., 2023
mobilizadora intensa e, de fato, cada evento foi capaz de promover ações subsequentes,
criando um verdadeiro ciclo.
Seguindo esse raciocínio, para Tarrow
“[...] as ações coletivas podem ser compreendidas de acordo com a mobilização
dos consensos e identidades, repertórios de confrontos e estruturas de
oportunidades políticas. Esta definição e característica da ação coletiva tem quatro
propriedades empíricas: protesto coletivo, objetivo comum, solidariedade social e
interação sustentada” (Tarrow, 2009, p. 21)
É importante destacar que, nesta conjuntura atual, novos sujeitos sociopolíticos e
culturais entraram em cena, várias lutas sociais emergiram, novos e múltiplos conflitos
eclodiram. Em síntese, as lutas e as demandas se multiplicaram em resposta ao intenso
âmbito de problemas sociais instaurados em tempos críticos.
Nesse sentido, é possível inferir que a maioria dos grupos envolvidos, ligados às
inúmeras pautas de reivindicações, foram, por certo, mobilizados em torno de um objetivo e
alvo comuns, isto é, a contestação efetiva acerca dos problemas sociais do país, havendo,
assim, uma articulação do significado da luta em torno de uma identidade comum,
caracterizada pelo ideal da imagem política do manifestante, consciente de seus direitos.
Diante de nossa impossibilidade de expor um estudo mais consistente sobre os
sujeitos envolvidos, nos limitaremos a discorrer sobre o contexto efervescente dos ciclos de
protestos, como temos feito até aqui. No que diz respeito, ainda, às estruturas de
oportunidades políticas, além da eclosão das mobilizações a partir do MPL, tem-se também
a importância das mobilizações para a Copa do Mundo. Esse evento de grande visibilidade
não poderia ser mais oportuno para a explosão de protestos e repertórios expressos nas
bandeiras de todas as cores, faixas com todos os tipos de reivindicações, apitos e gritos em
grande coro e até flores ofertadas à força policial que deram alma aos protestos promovidos
pelos manifestantes.
As ruas, enquanto lugar de intensa movimentação, funcionaram como um verdadeiro
palco no qual os protestos se desenvolveram, reunindo repertórios coletados de um
conjunto de amplas experiências, algumas delas referentes a práticas correntes de
movimentos sociais: os rostos ora pintados, ora cobertos com camisas, as palavras de ordem
proferidas, as passeatas e outras ações (Direitos Humanos, 2013).
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Segundo Tarrow (2009, p. 51) “a palavra repertório identifica um conjunto limitado
de rotinas que são aprendidas, compartilhadas e executadas através de um processo
relativamente deliberado de escolha [...]”. O resultado seria possibilitar que grupos
espalhados de pessoas que não se conheçam possam agir conjuntamente, aumentando sua
capacidade de ação e a viabilidade de existência de movimentos nacionais.
Vale ressaltar que é justamente a dimensão expressiva dos protestos e seus
repertórios (re)significados no cômputo das ações que importa para interpretar as
mobilizações. Nesse âmbito, é também relevante dialogar com as ideias de Tilly (2007) a
respeito das possibilidades de entendimento das ações coletivas de protesto. O referido
autor opera com o conceito de repertório entendendo-o como um registro de padrões,
tipologias, interesses e rotinas estruturadas nos comportamentos dos sujeitos, sempre
muito criativos e ousados, com o objetivo de construir símbolos e reforçar uma identidade
comum.
Nesse aspecto, as mídias, em geral, se encarregaram de divulgar as imagens de
manifestantes, o uso dos carros de som seguido por multidões, ou apenas o barulho das
suas mãos coletivas em batidas sincronizadas de palmas, que representavam atos
coordenados de comandos, bem como a apresentação de grandes faixas com formatos,
cores e frases diversificadas, entre outros recursos, repertórios de ações que demonstraram
que, além de sujeitos plurais e ideias variadas, também havia uma estrutura de mobilização
que garantiu o fornecimento de determinados recursos essenciais para o sucesso dos
protestos.
Ressalta-se, também, que a forte presença das redes de comunicação e a capacidade
de mobilizar manifestantes, em curto espaço de tempo, indicou a singular importância do
uso das estratégias de ações vinculadas nas redes sociais, encaradas como verdadeiros
instrumentos de combate.
Como verificamos há pouco, além da ampliação dos sujeitos manifestantes e das suas
inúmeras razões para ir às ruas, também ocorreram alterações nas formas de atuação, como
vimos acima, agora em redes.
Na prática, as redes caracterizam-se por possibilitar articulações com
heterogeneidade de muitos sujeitos com potencial associativo, em torno de referências
coletivas e de mobilizações e protestos sociais. É importante ressalvar que, depois de uma
década dos protestos de junho de 2013, os usos das redes sociais, aplicativos de mensagens
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instantâneas, disparos de mensagens em massa, proliferação de fakes news associadas a
pautas conservadoras instigadas no último governo de direita no Brasil, derrotado na eleição
de Luís Inácio Lula da Silva em 2022, reformaram os modelos contestatórios das massas e
assumiram outras configurações dentro e fora das redes e, igualmente, nas ruas e fora delas,
ensejando, portanto, um olhar atento e circuitos de análises diversos.
Em síntese, é ainda muito difícil uma avaliação, em termos gerais, do legado dos
acontecimentos de junho de 2013 e seu impacto a dio e longo prazo. Dez anos depois,
processos inteiramente diversos que culminaram, por exemplo, no 8 de janeiro de 2023, se
revestiram de uma conotação intensamente despolitizada e de caráter golpista.
Por fim, acreditamos que um diálogo com a teoria dos movimentos sociais deveria
buscar o entendimento das ações em sua expressividade, para além da relação causa e
efeito. No presente artigo tentamos entendê-las como práticas e linguagens dotadas de
sentidos múltiplos e, portanto, polissêmicos, que não podem se resumir a generalidades e
interpretações apressadas. Assim, a leitura acerca dos protestos deveria permitir observar
que os mesmos podem ser compreendidos como construções simbólicas com significados
múltiplos que ainda se propagam em ritmos diversos e em espaços variados, inclusive com
retrocessos que demandam, do ponto de vista da articulação e organização, maior
politização e consciência política.
Considerações Finais
Neste trabalho, buscamos analisar as manifestações de junho de 2013 no Brasil à luz
das concepções teóricas sobre os movimentos sociais, passando por uma discussão a
respeito de alguns conceitos e categorias de análise que permitiram aproximações e
interpretações sobre os contextos plurais de clamores sociais então percebidos, em nosso
entendimento, como ciclos de protestos que representaram lutas sociais importantes e que
desencadearam, na última década, ressignificações sobre contestações sociais no país.
Interessante observar que, nestes últimos dez anos na história política e de
confrontos sociais no Brasil, o padrão dos protestos se modificou a partir da relevância
assumida pelas redes sociais e pela sua utilização no desenvolvimento do fluxo de
informações, bem como no processo de organização e alinhamento de diversas forças,
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capazes de englobar diferentes grupos em causas plurais que alinham vozes descontentes
nas ruas.
Partindo do princípio de que as práticas dos protestos e suas ações constituem-se
numa verdadeira gramática dotada de sentidos e repertórios múltiplos, como vimos, essa
constatação instiga uma compreensão de que estes ciclos são portadores de uma linguagem
política implicada, sobremaneira, no sentimento de insatisfação e apelo à mudança. É
preciso reconhecer aqui a dificuldade de uma tradução teórica para o entendimento de algo
tão recente em nosso contexto brasileiro, que, inclusive, aponta para novas transformações,
cujos efeitos e desdobramentos ainda não conhecemos em todas as suas dimensões, a
exemplo dos fatos ocorridos em 8 de janeiro de 2023.
Por fim, nos deparamos com estruturas de mobilizações novas e polissêmicas que
tiveram um marco histórico importante nos acontecimentos de junho de 2013 e que
sugerem novas análises, olhares e reflexões complexas, suscitando um desafio singular para
os estudiosos do assunto, ou, como afirma Gohn (2014, p.439), ‘[...] uma incógnita, um
enigma a decifrar, pois é impossível manter mobilizações de massa por muito tempo. As
raízes da revolta e dos protestos continuam prestes a explodir a qualquer momento”.
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