A equipe da revista Faces da História alegra-se com a publicação seu primeiro
número de 2023, com nove artigos do dossiê, três artigos livres, duas notas de
pesquisa, uma resenha e uma entrevista. Gostaríamos de começar esta breve
apresentação com um agradecimento à nossa equipe editorial, formada por alunos
do Programa de s-Graduação em História da Unesp, pois se empenharam no
desafio de manter uma revista discente em funcionamento. Também reconhecemos
o papel importante dos revisores de língua portuguesa e língua estrangeira que
voluntariamente colaboraram para a manutenção da qualidade da revista Faces da
História. Do mesmo modo, não podemos deixar de agradecer aos pareceristas que
contribuíram para que os artigos fossem analisados de forma ética, sempre prezando
pelo rigor científico.
Na mesma medida em que se reconhece a relevância do tratamento analítico
das fontes históricas para a estruturação do conhecimento sobre o passado, sabe-
se da importância que a historiografia possui para os historiadores de ofício. Tal
como as fontes importam aos pesquisadores, são imprescindíveis os trabalhos
daqueles que vieram antes e que, além de construírem novas reflexões para assuntos
pensados, também desbravaram novos caminhos de pesquisa. Assim, a presente
edição é iniciada com um tributo ao historiador Boris Fausto, que faleceu em abril
deste ano, escrito pela professora Dra. Tania Regina de Luca (PPG
História/Unesp).
A homenagem percorreu justamente as contribuições que o célebre Boris
Fausto promoveu para o meio historiográfico brasileiro. O texto, além de evidenciar
como as inovadoras obras do historiador brasileiro desenvolveram o conhecimento
sobre a história do Brasil, também comentou os diferentes temas trabalhados por ele
por meio de diversificadas perspectivas metodológicas, uma vez que o pesquisador
fez uso de variadas fontes históricas ao longo de seu percurso enquanto investigador
do passado.
Em seguida, apresentamos o dossiê "A História dos Transportes no Brasil e
no Mundo", o qual foi coordenado pelos historiadores Thiago Mantuano e Raphael
Castelo Branco da Silva. Publicado sob uma conjuntura em que inúmeras reflexões
são dirigidas para o âmbito da mobilidade urbana, fator que também gera impactos
na organização política e social, o dossiê tem o grande mérito de, por meio de
trabalhos enriquecedores, evidenciar dilemas que foram enfrentados ao longo do
tempo pela área dos transportes. Deste modo, além de serem apresentados textos
que discutiram a temática dos transportes e dos respectivos projetos políticos,
econômicos e estruturais, com foco direcionado para outros países, também foram
publicados artigos que refletiram sobre a mobilidade histórica brasileira a partir de
variadas perspectivas, como a abordagem de assuntos referentes à locomoção
ferroviária, rodoviária e aérea.
Os breves parágrafos redigidos neste editorial não almejam, e nem dão conta,
de resumir a relevância que possuem os textos publicados no dossiê. Por isto, não
deixem de conferir a apresentação escrita pelos próprios coordenadores, a qual
oferece um pequeno, mas primordial, vislumbre da variedade temática apresentada
por cada um dos autores que se dedicaram a engrandecer cientificamente este
número da Revista Faces da História.
A seção de Artigos Livres, consagrada na trajetória da revista, constitui-se de
textos das mais variadas temáticas com o intuito de fomentar e ampliar o debate
historiográfico. Os três artigos que compõem o número atual demonstram como a
produção acadêmica resulta em trabalhos de grande interesse social.
Quem abre esta seção com o manuscrito Os retratos das mulheres no Brasil
oitocentista a partir da obra: Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens de 1833
de Nísia Floresta é Nicoli F. de Mello que, analisa os retratos das mulheres no Brasil
oitocentista por meio da obra Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens, escrita
por Nísia Floresta e publicada no ano de 1833, em Porto Alegre. O texto segue a
metodologia de análise do discurso consoante em Michel Pêcheux e Eni Orlandi para
entender o discurso de Nísia a partir da historicidade e da ideologia construída em
seu texto. Deste modo, a autora pretende entender os retratos das mulheres
presentes na obra, relacionando-os com o contexto histórico, social e político do
século XIX, sem ignorar a multiplicidade quando se estuda a História das Mulheres.
Seguindo a temática de Mulheres na História, o seguinte artigo é
Autobiografia, escrita de si e subjetividade: a narrativa missionária protestante de
Gladys Aylward, com autoria de Joice Viviane Silva que propõe analisar a
autobiografia de Gladys Aylward (1902-1970), missionária inglesa e personagem
muito singular no meio protestante, que atuou na China após 1930, e as possibilidade
de identificar as técnicas do eu de Michel Foucault. Em discussão com importante
referencial teórico, a autora se debruça a compreender o exercício da “escrita de si”,
e de que forma se evidencia a elaboração da subjetividade e constituição do eu,
enquanto sujeito, em sua escrita.
Fechando os Artigos Livres, segue-se para um estudo com enfoque para a
realidade brasileira; o autor Gustavo dos Santos Prado em seu artigo, Punks x São
Paulo: As representações da cidade presentes nos fanzines (década de 1980),
investiga as interpretações que os punks tiveram da cidade de São Paulo ao longo da
década de 1980 e situa essa produção no contexto social e político do período. Para
tanto, o trabalho analisa os seguintes impressos que circularam no movimento
underground da cidade: Falange Anarquista (1987), Violência Gratuita (1988, 1989),
Aos Berros (1986), Sp Punk (1982), Chantagem Ocasional (1987) e Ex (s.d).
Neste número, ainda contamos com duas notas de pesquisa: a primeira,
intitulada Periódicos sobre o Transporte Rodoviário e o Transporte Rodoviário de
Cargas Brasileiro: 88 Referências entre 1921-2023, de Rafael Antônio Kapron, está
diretamente ligada ao tema do dossiê. O autor apresenta alguns periódicos que
enfatizaram o tema do transporte rodoviário e que podem ser prósperas fontes para
futuras pesquisas científicas na área.
A segunda nota de pesquisa, de autoria de Hellen Morizza de A. C Januario,
cujo título é Entre visualidade e contravisualidade: a reivindicação do direito a olhar
através dos desenhos Las perreras e La parrilla, de Miguel Lawner, expressa a
variedade temática que é inerente a todas as seções da revista. O material tem como
objetivo a identificação e a reflexão sobre as denúncias do autoritarismo do general
chileno Augusto Pinochet que estão presentes nos desenhos do arquiteto Miguel
Lawner.
A resenha de Douglas Henrique de Souza, Entre disputas narrativas de
passados manipulados: a questão das teorias da conspiração na Alemanha nazista
segundo Richard J. Evans, sobre o livro Conspirações sobre Hitler: o Terceiro Reich
e a imaginação paranoica de Richard J. Evans, aponta a importância da obra ao
contrapor fontes históricas com as conspirações hitlerianas que surgiram na época.
Para encerrar esta edição, apresenta-se uma entrevista realizada pelos
coordenadores do dossiê, Thiago Mantuano e Raphael Castelo Branco da Silva, com
o Prof. Dr. Daniel Castillo Hidalgo, especialista em história do transporte marítimo
da época contemporânea. Na entrevista, o Prof. Dr. Daniel faz um panorama sobre a
historiografia e a produção acadêmica atual relacionada à história dos transportes.
Com esta variedade de temas presentes nos artigos deste número, e,
principalmente, com as reflexões propostas pelos artigos do dossiê, desejamos a
todos uma boa leitura.
Aline de Jesus Nascimento
https://orcid.org/0000-0002-0094-8550
Andresa Poleis Brollo
https://orcid.org/0000-0002-3439-9107
Vinicius Sales Barbosa
https://orcid.org/0000-0002-1073-6869