Estado e desempenhando funções de assessor jurídico junto à reitoria da Universidade de
São Paulo, ingressou no curso de História da mesma instituição, concluído em 1967.
Em 1975, veio a público o primeiro dos quatro volumes da História Geral da
Civilização Brasileira dedicados à república, sob direção geral de Boris Fausto, que
substituiu Sérgio Buarque de Holanda, responsável pelos exemplares relativos à Colônia e
ao Império. A coleção, sem dúvida um marco na nossa produção historiográfica,
contribuiu, no que tange especificamente aos tomos do período pós 1889, para
reposicionar a história recente do país e, como bem salientou Fausto na nota de
apresentação do livro inaugural, Estrutura de poder e economia (1889-1930), ambicionava-
se ultrapassar tanto o tratamento episódico dos acontecimentos e personagens quanto as
amplas generalizações de cunho ensaístico, não raro ancoradas em esquemas mecânicos.
O empreendimento da Difusão Europeia do Livro (Difel) estava em sintonia com o
crescente interesse pelas décadas iniciais do século XX, para o que a tese de Fausto muito
contribuíra. O contexto político, por seu turno, marcado pelo golpe de 1964, tornava
urgente compreender os caminhos percorridos. Cabe salientar os objetivos do projeto e o
diagnóstico preciso em relação aos desafios historiográficos:
Sem dúvida, não devemos exagerar o avanço da historiografia nos últimos anos,
cujos limites são demasiado evidentes. O futuro dirá, com razão, que ainda
estamos em grande medida presos ao domínio do quantitativo e do
impressionista, na impossibilidade de integrar a este domínio uma investigação
de padrão científico mais rigoroso. Com igual razão, dirá também que as grandes
linhas estruturais da história do país foram ainda muito pouco tocadas, na área
do cultural e do afetivo. A temática da história das mentalidades e não apenas das
ideias, da história da cultura material e não apenas da história econômica, apenas
engatinha. Por que não pensar em faixas quase intocadas...? (FAUSTO, 1975, p. 8)
Parte das referidas faixas começavam a ser palmilhadas e, ainda uma vez, com
importante contribuição de Fausto. Não é fruto do acaso que vários pesquisadores então
se dedicassem ao estudo da classe operária, perscrutando o processo de constituição, as
diferentes formas de organização, condições de trabalho, conflitos coletivos, posturas
ideológicas, com crescente destaque para as aspirações e aspectos culturais da vivência
dos trabalhadores, na chave postulada por E. P. Thompson, tarefa que tampouco pode ser
dissociada da tentativa de responder às angustiantes demandas do tempo. Na tese de livre-
docência, defendida em 1975 e publicada no ano seguinte pela Difel com o título Trabalho
urbano e conflito social (1890-1920), na influente coleção Corpo e Alma do Brasil, dirigida
por Fernando Henrique Cardoso, Fausto novamente inovou. Um de seus arguidores, de
maneira perspicaz, pontuou: “Você começou escrevendo uma tese sócio-histórica e depois