Usos e atribuições da memória em capas da Revista Militia:
entre monumentos e a construção da
memória coletiva da Fôrça Pública de São Paulo
Uses and attributions of memory on the covers of
Militia Magazine: between monuments and the
construction of the collective memory of the
São Paulo Public Force.
GONÇALVES, Silvane Ribeiro*
https://orcid.org/0000-0002-6179-6255
RESUMO: A presente pesquisa visa analisar
como a Revista Militia (1947/1964) elaborou em
suas capas a construção da identidade e da
unidade da polícia militar paulista através da
construção da memória institucional, por meio
da reminiscência de heróis do passado e do
presente. Dessa forma, pretende-se mapear as
capas que fazem alusão a heróis do passado e do
presente, em seguida, compreender os
conceitos de lugar de memória e memória
coletiva, bem como a definição de monumentos
da memória e, por fim, identificar como as capas
auxiliaram no processo de construção da
memória institucional e aproximação com o
público.
PALAVRAS-CHAVE: Identidade institucional;
Memória; Periódicos Militares; Revista Militia.
ABSTRACT: This upcoming research endeavors
to inquire about how the Militia Magazine
(1947/1964) approached the idea of establishing
the identity and unity of the Brazilian military
police on its covers by focusing on institutional
memory and recalling past and present heroics.
Firstly, it is intended to map the covers that
reference heroes from the past and present,
then to understand the concepts of place of
memory and collective memory, and to define
the significance of memory monuments, and
finally, to reveal how the covers helped building
institutional memory and reaching the public.
KEYWORDS: Institutional identity; Memory;
Military Periodicals; Militia Magazine.
Recebido em: 29/04/2023
Aprovado em: 14/08/2023
Revista Militia e evocação da memória coletiva
* Graduada em História pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO Guarapuava/PR). E-mail:
silvanegoncalves74@gmail.com.
Este é um artigo de acesso livre distribuído sob licença dos termos da Creative Commons Attribution License.
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O estudo da organização das instituições militares e policiais é uma área vital da
pesquisa historiográfica que tem sido negligenciada no campo da História. Refletindo sobre a
construção da identidade da Polícia Militar paulista e da memória institucional por meio das
lembranças de heróis do passado e do presente, identificamos alguns dos possíveis
caminhos percorridos para a construção do pensamento inserido no corpo da Polícia Militar
do Estado de São Paulo, conforme explorado na Revista Militia (1947/1964).
Tendo como foco uma organização policial denominada Fôrça Pública de São Paulo,
organização policial que mais tarde evoluiria para a Polícia Militar de São Paulo, que seria
formalmente reconhecida em 1973. Assim, problematizamos a forma como a instituição
utilizou seu meio de comunicação oficial, a Revista Militia, para divulgar seus ideais e
estereótipos.
Por meio de exemplares predefinidos das capas da Revista Militia que mostravam
feitos e personalidades marcantes, pretendo examinar como esses indivíduos foram
empregados na construção da memória institucional tanto da Fôrça Pública de São Paulo
quanto do Estado. Observando que, à medida que o corpo institucional evoca
personalidades heroicas, torna-se uma força de revitalização e afirmação de ações e padrões
considerados virtuosos de caráter naquela comunidade.
A disponibilidade desses materiais oferece inúmeras possibilidades de pesquisa,
como a História da Imprensa, a História das instituições policiais e a psicologia de seus
funcionários, auxiliando na compreensão dos debates sobre o surgimento e
desenvolvimento da identidade de classe, além de ser uma representação visual das
posturas políticas da época.
as capas dos periódicos, por sua vez, constituem a sua principal propaganda, seu
cartão de visita, sua tentativa primordial de chamar a atenção de um
leitor(a)/consumidor(a). É por meio da capa que um(a) possível leitor(a) tem, ou não, sua
atenção apreendida. A relevância de tal pesquisa reside na medida em que o contexto
político da Fôrça Pública do Estado de São Paulo pode ser melhor compreendido por meio
da estética visual das capas da Revista Milícia, bem como das (re)construções da identidade
policial.
Com base nisso, apontamos a importância do periódico dentro dos debates sobre
imprensa policial e militar, bem como, analisarmos a própria estrutura e formação das
Forças Armadas do Brasil, aqui com destaque para a Polícia Militar de São Paulo, pois, como
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aponta o historiador José Murilo de Carvalho, “[…] o debate sobre o papel das Forças
Armadas hoje exige mais profundos e mais diversificados[…]” (Carvalho, 2005, p. 197) e
entender suas estruturas e concepções tem se mostrado importante para entender o papel
ocupado e desempenhado pelos agentes da força legalizada no cenário social e político
brasileiro.
Diante disso, evidenciar-se o principal conceito utilizado: memória, definido por
Jacques Le Goff como sendo uma “herança do passado […] tudo aquilo que pode evocar o
passado, perpetuar a recordação” (Le Goff, 2013), ainda sobre a definição de monumento, o
autor salienta sua capacidade de ser testemunho de um passado que não está escrito. O que
se configurou com o uso de gravuras ou fotografias de monumentos e quadros de figuras
emblemáticas tais como: o patrono da Fôrça Pública, Brigadeiro Tobias de Alencar; os
Soldados Constitucionalistas da Revolução de 1932; além de figuras que remetem à
fundação da cidade e do estado de São Paulo, como o Pe. José de Anchieta e os
bandeirantes.
É interessante pensar como a instituição em questão busca se inserir no meio militar,
mas também no civil por meio desse periódico. Diante disso, nossa pretensão foi mapear e
analisar quais foram as imagens utilizadas para evocar a memória coletiva dos paulistanos e
qual o interesse por trás dessa reminiscência memorialística. A saber, as capas estão nas
respectivas edições do periódico disponibilizadas no Acervo da Polícia Militar do Estado de
São Paulo (PMESP).
Para responder a problemática proposta, faz-se indispensável leituras sobre o uso de
periódicos como fontes para a História, bem como a análise semiótica dessas iconografias.
Nesse sentido, José Miguel Arias Neto (2013) e Tania Regina De Luca (2008) estão na origem
da metodologia utilizada neste estudo.
Segundo o pesquisador Arias Neto, os impressos militares podem ser interpretados
“[…] como uma arma que demarca territórios políticos instaura diretrizes para a construção
da força armada, da defesa nacional e da própria nação a partir de moralidades e princípios
nacionalistas e patrióticos, em oposição aos civis.” (Arias Neto, 2013, p. 17). E Tania De Luca
pontuará alguns procedimentos necessários para a análise desse tipo de fonte. Com base
nesses autores, destacamos os seguintes procedimentos: a necessidade de compreender a
natureza do periódico, o modo como é produzido, o público-alvo, a ideologia defendida pelo
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corpo editorial, os objetivos, além dos recursos visuais usados (Arias Neto, 2013; Luca,
2008).
Cabe aqui destacar alguns pontos factuais da pesquisa, tais como a seleção e escolha
de capas que serão utilizadas como fonte, ou seja, que terão uma análise mais detalhada. A
pesquisa, embora em fase de andamento ainda, apresentou importantes avanços para a
construção da historiografia referente à História do Brasil Republicano, por meio da análise
de periódicos militares, e dentro do próprio escopo da utilização desse tipo de fonte que
ainda está em processo de desenvolvimento entre os pesquisadores. O fato de serem
poucas pesquisas existentes que utilizam desse meio (periódicos militares), certa
dificuldade em encontrar caminhos mais seguros para uma análise mais satisfatória, não
obstante, espera-se que essa pesquisa possa contribuir para o desenvolvimento de estudos
nesse sentido.
Memória Coletiva: construindo identidades
Apesar de subordinada à Polícia Civil, a Fôrça Pública era a maior força policial de São
Paulo, com um efetivo três vezes maior que a Polícia Civil e duas vezes maior que a Guarda
Civil. Além disso, desde a sua criação, a Instituição tem sido um complemento do Exército,
pois sua formação era inteiramente militar, sendo o próprio Exército quem a dirigia. A
percepção dessa empresa é de que ela foi submetida a uma forte dependência da hierarquia
de comando do Exército Brasileiro e valorização da disciplina, hierarquia e doutrina dos
militares (Battibugli, 2006).
Dentro desse contexto, encontra-se a Revista Militia, cuja primeira edição figurava
nos idos de 1947, destinada a atender tanto aos oficiais da Fôrça Pública e seus familiares,
quanto à população civil interessada. Em pesquisa anterior
1
, observou-se que o periódico
abordava diversos assuntos, dentre eles política, esportes, receitas, entre outros assuntos
que a direção do periódico julgasse atender aos interesses vinculados ao objetivo de
existência da Revista, isto é, porta-voz e construtora da autoimagem da Fôrça Pública
paulista e, consequentemente, de seus agentes. Contudo, nosso recorte de fonte será
constituído de algumas capas da revista, destacando algumas delas a seguir:
1
Pesquisa de Iniciação Científica, realizada entre 2021-22, intitulada: “As Capas da Revista Militia
1947/1973”, com orientação da Prof.ª Dr.ª Rosemeri Moreira.
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A imagem representada abaixo traz a figura do Brigadeiro Tobias Rafael de Aguiar,
patrono da rça Pública e mais tarde da PM de São Paulo e da Rota (Ronda Ostensiva
Tobias de Aguiar grupo de elite da PMSP.
Imagem 1: Brigadeiro Tobias de Aguiar.
Fonte: Capa, Revista Militia, ed. 7/1948.
A segunda imagem escolhida foi a de um monumento dedicado aos Bandeirantes,
responsáveis pelo desbravamento do interior do Brasil e pelo desenvolvimento de São
Paulo.
Imagem 2: Monumento aos Bandeirantes.
Fonte: Capa, Revista Militia, ed. 53/1954.
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A figura 3 apresenta o monumento em homenagem ao padre Jode Anchieta, visto
pelos paulistanos como um herói no sentido de ter sido o fundador da cidade de São Paulo,
juntamente com o padre Manuel da Nóbrega.
Imagem 3: Monumento ao Pe. Anchieta.
Fonte: Capa, Revista Militia, ed. 55/1954.
A quarta imagem exemplificada retrata um monumento erigido em honra dos
Soldados Constitucionalistas de 9 de julho de 1932, vistos como heróis pela instituição e pela
comunidade civil, haja vista que o conflito foi para defender a soberania de São Paulo ante o
avanço do governo de Getúlio Vargas que rompera com o monopólio do poder político nas
mãos de São Paulo e Minas Gerais, durante a chamada República Café com Leite.
Imagem 4: Monumento aos Constitucionalistas de 32.
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Fonte: Capa, Revista Militia, ed. 58/1955.
Com o auxílio de símbolos que remetem à memória coletiva, observou-se que
aspectos que enfatizam o ressurgimento do passado e determinados estereótipos de valores
a serem seguidos. Podemos observar também, por meio das cores utilizadas e na
composição do próprio layout da capa, o destaque para o nome da revista (Gonçalves;
Moreira, 2023), mas nas próprias imagens o destaque para as figuras símbolos,
representadas centralizadas na imagem e em sentido de baixo para cima, o que configura
uma forma de demonstrar a magnitude do que se é representado nas imagens.
Na figura 1, na qual vemos o Brigadeiro Tobias de Aguiar, é notável a representação
de um símbolo de virilidade, honra, o verdadeiro estereótipo de um herói a ser seguido e
temido, como se pode observar na descrição a seguir sobre a personagem:
Ilustrado como um homem branco, com traços delicados e expressão austera, com
o corpo em um ângulo de 45º, olhando para frente, fardado, o brigadeiro apoia a
mão direita em um móvel (escrivaninha, mesa), enquanto a mão esquerda está
apoiada no cabo da espada, como cabe a um espadachim. No editorial dessas
edições o brigadeiro é evocado fazendo alusão ao aniversário da Fôrça Pública. A
história da instituição aparece mesclada à história do fundador (Gonçalves;
Moreira, 2023, p. 04, grifo das autoras).
a utilização das imagens em P&B buscam transmitir ao consumidor do periódico a
percepção de “grandeza que subjaz ao monumento concreto” (Gonçalves; Moreira 2023, p.
05). Outro ponto que chama a atenção são as capas que contrastam, entre outros aspectos,
a dimensão dos monumentos perante o tamanho de um ser humano, como é notado nas
edições 17/1950 (imagem 5), que traz a foto do minarete erigido no mausoléu em honra aos
heróis de 1932, que contrasta com a presença quase imperceptível de uma pessoa que
parece minúscula ante a opulência da construção; e edição 36/1953 (imagem 6), que
destaca a grandiosidade de João Ramalho, fundador da cidade de Santo André, no ABC
Paulista (zona industrial do estado), o monumento colossal que representa a importância do
retratado e da cidade por ele fundada é nitidamente comparado com a “insignificância” dos
transeuntes (Gonçalves; Moreira, 2023, p. 05).
Imagem 5: Monumento aos heróis
de 1932.
Imagem 6: Monumento a João
Ramalho
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Fonte: Capa, Revista Militia, ed.
17/1950.
Fonte: Capa, Revista Militia, ed.
36/1953.
Todavia, não é de personalidades que jazem em mausoléus que a memória
coletiva é incitada, pois personagens contemporâneos também são retratados em capas tais
como: os próprios agentes da Fôrça Pública em rondas, patrulhamentos e outros flagrantes,
seja em expediente ou à paisana. A capa da edição 81/1959 (imagem 7) nos chama a
atenção por uma especial peculiaridade: a capa que destaca Dick, um cão pastor da Fôrça
Pública, que, conforme a revista, ao morrer bravamente, recebeu honras de herói pelos
serviços prestados, serve como um lembrete para evocação do sentimentalismo partilhado
pelos soldados que sofrem com a perda do cão e a população que se comove com o ocorrido
e sente a dor de perder um herói, transmitindo um sentimento de compartilhamento de
memória e dor, aliados ao sentimento de pertencimento, promovido por esse
sentimentalismo compartilhado. Tais flagrantes e evocação de comoção de outros agentes e
da comunidade civil tendem a criar condições excepcionais para a construção de uma
memória que é positiva para a corporação, ao mostrar que são movidos por sentimentos de
braveza e honra, mas também por sentimentos de dedicação, zelo e proteção, mostrando os
agentes sempre vigilantes e prontos para defender a população.
Imagem 7 Dick, miliciano e menino
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Faces da História, Assis/SP, v. 10, n. 2, p. 297-307, jul./dez., 2023
Fonte: Capa, Revista Militia, ed. 81/1959.
Tudo isso facilita a criação de uma imagem que deixa claro a postura do patriotismo,
austeridade, imponência e honra, características associadas ao heroísmo e ao masculino. O
que, por sua vez, pode ser indicativo de que a elaboração dessas capas era focada em
promover tanto um reavivamento ou então a construção e/ou a conservação da memória
coletiva, bem como, para uma institucionalização das mesmas (Gonçalves; Moreira, 2023).
Pensando nisso, é importante discutirmos sobre a construção da memória e como ela
ocorreu. De acordo com Le Goff (1990) e com Pollak (1989), a memória coletiva ocupa um
papel fundamental na construção de identidades. Nesse sentido, a memória evocada pelos
monumentos (Le Goff, 2013) tem o poder de fazer recordar-se do passado ao mesmo tempo
que o perpetua. Outro conceito que se faz indispensável para a análise é o de lugar da
memória, de Pierre Nora, que, segundo o autor, “[…] é lugar de memória se a imaginação
o investe de áurea simbólica […]” (Nora, 1993). Levando a teoria descrita pelos autores para
a pesquisa, é possível observar que a equipe editorial buscava trazer e passar valores ligados
à honra, força, braveza, soberania de São Paulo e amor pelo estado.
Tais sentimentos são trazidos à tona à medida que a memória dos leitores da revista
é reavivada por meio de lembranças sobre quem foram esses grandes personagens,
promovidas assim que o leitor olha a capa da revista e se depara com a gravura de Tobias de
Aguiar ou com um monumento em honra aos soldados constitucionalistas, trazendo a
lembrança de eventos recentes, haja vista que a Revolução Constitucionalista ocorrera em
1932. Segundo Pollak:
A referência ao passado serve para manter a coesão dos grupos e das instituições
que compõem uma sociedade, para definir seu lugar respectivo, sua
complementaridade, mas também as oposições irredutíveis. Manter a coesão
interna e defender as fronteiras daquilo que um grupo tem em comum, em que se
inclui o território (no caso de Estados), eis as duas funções da memória (Pollak,
1989. p. 9, grifo do autor).
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Em síntese, o autor conclui que a memória enquanto “[…] operação coletiva dos
acontecimentos e das interpretações do passado […]” são “[…] tentativas mais ou menos
conscientes de definir e de reforçar sentimentos de pertencimento e fronteiras sociais entre
coletividades […]” (Pollak, 1989, p. 9). Complementando com a visão apresentada por Le
Goff (2013), para o qual o papel da memória é a conservação de certas informações e para
além disso é, de acordo com Pollak, representações de um momento permeado por lutas
que pretendem fixar uma determinada visão, sendo, portanto, a memória um elemento de
constituição de identidade, seja esta individual ou coletiva.
É interessante considerar que o terreno da memória é volátil, uma vez que se pode
produzir outras memórias ou então produzir esquecimentos, que serão construtores de
identidades coletivas e individuais. Sendo assim, podemos destacar que a escolha de tais
monumentos e nomes do passado visa visitar um evento do passado e, ao trazê-lo para o
presente, evocar juízos de valor sobre aquele determinado episódio com algo que se quer
reviver e enfatizar no presente, criando um sentimento de união e pertencimento a partir
daquela memória de um passado unificador e glorioso.
Conclusão
Os periódicos militares fornecem um leque diversificado de fontes, mas são escassos
os estudos sobre o desenvolvimento do pensamento nas Forças Armadas e a
institucionalização da violência nas polícias e militares, bem como sobre a relação entre a
sociedade e as Armas.
A pesquisa revelou que a evocação da memória coletiva proporciona uma atmosfera
propícia à união e à criação de relações amorosas dentro de um determinado grupo ou
comunidade de pessoas com pontos de vista semelhantes. Como Carvalho salienta ao usar o
termo “instituições totais” para se referir aos agentes da força e “mantenedores da ordem”,
como um grupo social específico, vemos como isso vai se moldando através do
reavivamento da memória por meio das capas da revista em questão. Isso também serve de
base para eventuais pesquisas sobre a adesão da Fôrça Pública paulista às forças golpistas de
1964, onde se observa que a cultura do “soldado-cidadão”, forjada no final da monarquia e
que se estendeu até o período republicano, serviu de inspiração para a intervenção militar
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na política, transformando as Forças Armadas em um “poder desestabilizador” (Carvalho,
2005).
Diante desse cenário, vê-se o papel de destaque assumido por tais heróis do passado,
ao transmitirem uma ideia de que o caminho que trilhavam era o certo e único viável. Ao se
utilizar da memória, produzindo novas perspectivas de lembranças e também de
esquecimentos, observa-se que a Fôrça Pública de São Paulo, por meio da Revista Militia,
buscava atingir um público abrangente, que se sentisse representado por aqueles símbolos.
Considera-se que o uso dessas personalidades nas capas do periódico embasa o
posicionamento de aproximar a comunidade de fora da caserna com seus agentes, bem
como a de criar um sentimento de pertencimento e coletividade que é produzido por meio
dos valores enfatizados pelo reavivamento daquelas expressões memorialísticas.
Em última análise, com o auxílio desta investigação, é possível estabelecer
conjecturas de como o enaltecimento de certos eventos e personalidades, conferindo a elas
um caráter de heroísmo e sacralização, observadas nas capas, é contundente o quanto
forjaram e reforçaram os sentimentos de idolatria e pertencimento conferidos por tais
representações. O que, por sua vez, contribuiu efusivamente para a construção de uma
identidade própria da corporação que se mostrava como próxima à comunidade civil.
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