Faces da História, Assis/SP, v. 10, n. 2, p. 321-326, jul./dez., 2023
Estados Unidos. De acordo com Ali Kadri, os Estados Unidos são herdeiros de séculos de
racismo europeu – como mencionado acima sobre as raízes colonialistas da sua estrutura -,
o que criou um estoque de cultura com a lógica de matar pelo lucro (Kadri, 2019, p. 95).
Além disso, o acúmulo de riqueza a partir da destruição da vida humana e do meio-ambiente
é uma “cultura do imperialismo” (Kadri, 2019, p. 98), que só pode ser identificada no capital
liderado pelos Estados Unidos. Por isso, o economista defende que, apesar da China e da
Rússia exercerem poder em esferas de influência, não podem ser consideradas nações
imperialistas. Inclusive, o crescimento chinês poderia implicar, segundo Kadri, em um
obstáculo para essa cultura imperialista.
Imperialismo com referência à Síria constitui um trabalho substancial sobre economia
global e relações internacionais sob o capital estadunidense. A pesquisa de Ali Kadri tem
grande fôlego e traz frutíferos debates a partir das referências a autores e figuras expoentes
do marxismo acadêmico e revolucionário, como Lênin, Rosa Luxemburgo, Anouar Abdel
Malek, Amílcar Cabral, Ho Chi Minh, Mao Zedong, dentre outros. Para aqueles que estão
buscando pela aproximação aos debates marxistas do Sul Global, a leitura pode apresentar
uma introdução aos principais conceitos: a compreensão da violência intrínseca ao
capitalismo e a desvalorização da vida do trabalhador, sobretudo em países periféricos.
Ademais, Kadri fez uma crítica contumaz aos impérios ocidentais, considerando a relação
entre o imperialismo e o colonialismo e a origem do racismo desses impérios ocidentais na
Europa, tendo, atualmente, os Estados Unidos como o seu herdeiro. Dessa forma, a leitura
do livro de Kadri traz contribuições ao debate de que o racismo europeu e o racismo
estadunidense atuaram nas justificativas coloniais e imperialistas para matar minorias raciais
e étnicas em prol do lucro capitalista.
Em contrapartida, ressalta-se que o livro faz uma análise macroeconômica e
sociológica, que pouco dialoga com questões históricas da conjuntura Síria e, quando o faz,
se limita a comentários pontuais e não aprofundados. A obra carece de uma análise mais
aproximada do contexto sírio e não adentra às problemáticas e conflitos sociais internos, o
que constitui um ponto negativo, tendo em vista a ênfase dada à Síria no título da obra.
Entretanto, a leitura de Imperialismo com referência à Síria é atrativa e de grande proveito
para leitores e pesquisadores da teoria marxista e do Sul Global, sobretudo para refletirmos
e criticarmos os resquícios e a inserção do eurocentrismo na produção de conhecimento.