Faces da História, Assis/SP, v. 10, n. 2, p. 168-190, jul./dez., 2023
setembro de 1833, saiu a notícia da Aurora Fluminense a respeito do assassinato do “Sr.
Clemente”, que traz posição bastante diferente da d’O Homem de Côr:
[...] todos os esforços têm sido empregados, para fazer crer que o acontecimento,
ocorrido na tarde do dia 9 do corrente mês, tendo sido gravemente ferido
Clemente José d’Oliveira, responsável do Brasil Afflicto, pelo Alferes o Sr. Carlos
Miguel de Lima, é devido a causas políticas [...] Clemente José d’Oliveira caluniara
com a maior infâmia as irmãs do Sr. Carlos Miguel de Lima [...] o Sr. Carlos Miguel
de Lima, passando fardado pelo Largo do Carioca, aí viu [...] o homem que o
ofendera [...] descarregou-lhe uma cutilada sobre a cabeça. O ferido caiu logo em
terra, (o que, segundo contam, impediu o Sr. Lima de dar-lhe o segundo golpe) e foi
dali transferido ao Hospital donde depois o tiraram [...] então o agressor, saindo
sem ser molestado por pessoa alguma, foi entregar-se à prisão, a fim de sofrer a
pena que a Lei lhe destinar. – Nós não podemos aprovar uma ação que as Leis
condenam; mas perguntamos a qualquer Pai, Esposo, ou Irmão o que faria, se
acerca do que lhe é mais caro, de pessoas de um sexo que não tem defesa, um
bandido, um insolente usasse da linguagem que usou em público, perante um Juiz,
o indivíduo que foi acutilado pelo Sr. Carlos Miguel de Lima?! (Aurora Fluminense,
1833, p. 2)
Não há críticas ao assassino, nenhuma palavra do tipo “vil” a seu respeito. Ao
contrário, se defende explicitamente o filho do regente, quase que se lamentando que a Lei
punisse agressões tais quais a que ocorreu. A matéria da Aurora Fluminense foi publicada um
dia antes do lançamento d’ O Homem de Côr, com muito mais detalhes do que o noticiado
neste último. Sobre o ponto da ofensa no Brasil Afflicto, O Homem de Côr diz que são
mentirosas as afirmações de Carlos Miguel de Lima, taxando-o de vez de assassino. Todavia,
essas afirmações aparecem no n. 2 do jornal, portanto no dia 28 de setembro de 1833,
quinze dias após a notícia aparecer pela primeira vez na Aurora Fluminense. Tendo passado
mais dias, e com o caso mais bem apurado, o periódico de Evaristo da Veiga continuou
defendendo o filho do regente?
No dia 2 de outubro do mesmo ano, a Aurora Fluminense publica o seguinte:
[...] na Verdade de 5ª feira passada, leem-se três documentos que provam a
existência dos obscenos insultos, pronunciados em público juízo por Clemente José
d’Oliveira, contra a respeitável família do Regente o Sr. F. de Lima. Aí se dão
também os motivos da confusão que houve acerca do depoimento verbal e do nº
10 do Brasil Afflicto [...] o fato das torpes e infames calúnias existia, e chegou ao
conhecimento do Sr. C. Miguel de Lima no mesmo dia em que este rompeu no
excesso de que todos já estão informados [...] é debalde que os escritores
caramurus têm procurado macular a honra do Sr. Carlos Miguel de Lima (Aurora
Fluminense, 1833, p. 2-3).