HUNT, Lynn.; Tradução: BEZERRA, Danilo Alves
FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.2, nº2, p. 191-197, jun.-dez., 2015.
195
beneficiará de tensões e até mesmo de conflitos entre as abordagens divergentes.
Outro modo de se virar contra o passado consiste em examinar outros
momentos da história em que a constatação de uma “crise” foi formulada. Assim, em
1926, a American Historical Association (AHA) publicava um relatório intitulado “The
Writing of History”, cuja ambição era lutar contra a perda de influência da história. “Os
bibliotecários que têm nas mãos os livros que as pessoas leem os editores e os livreiros
que distribuem as obras publicadas e todos os outros observadores da situação atual
fazem todos a mesma constatação: a leitura da história está em perda de celeridade,
e que ela não exerce mais o mesmo apelo àqueles próximos que tinham por hábito se
designar como ‘classe educada’.
Esse não era o caso há quarenta anos (BASSETT, 1926), considerando que,
nesta época, os autores do relatório propunham diferentes explicações a este fato:
os professores de história passariam mais tempo no ensino; os autores de trabalhos
históricos da época, que então pertenciam a uma classe mais modesta, contrariamente
aos grandes historiadores do passado, que estavam abrigados da necessidade, se
envolviam em prazeres e possuíam um senso estético; enfim, os estudos universitários
eram muito longos (quatro ou cinco anos), mais especializados e se limitavam à formação,
“sem se atentar ao interesse, ao valor, à possibilidade de desenvolvimento futuro, o
escopo mais vasto, a verdadeira importância do trabalho realizado” (ABBOTT
, 1926).
Quase um século depois, o diagnóstico não é o mesmo no ensaio de David Armitage
e Jo Guldi, mas é surpreendentemente parecido. Apressados em encontrar os culpados
da “crise moral” que atravessa atualmente a História, Armitage e Guldi negligenciam
as mudanças estruturais dentro da disciplina, como o fazia mais sistematicamente o
relatório publicado em 1926.
Em um dos capítulos desse relatório, John Spencer Bassett, um professor de
história do Smith College, começava por uma comparação entre 1884, data de fundação
da AHA, e a situação quarenta anos depois: “Em 1884, as grandes universidades tinham
somente um ou dois professores de história, hoje eles têm dez ou mais. A maior parte
das faculdades tinha um professor de história, mas os cursos ministrados estavam
ligados à economia política, à ciência política ou oratória. Hoje, uma faculdade média
tem entre dois e cinco professores de história, e economia política e a ciência política
possuem seus próprios departamentos” (BASSET, id.)
Os problemas estruturais da disciplina atingiram tamanha magnitude 90
anos depois que eles acentuam efetivamente o sentimento de crise. O número de
historiadores cresceu nos Estados Unidos (como na maior parte, se não em todos,
os países ocidentais). No período entre 1999-2012, as inscrições nas faculdades e
universidades americanas aumentaram em torno de 40% e o número de professores de
ciências humanas foi acrescido em 50%
8
. Só na disciplina de história, o número total de
professores aumentou um terço e alcançou 23.640 indivíduos, dos quais três quartos
ocupam postos nas universidades
9
.
A estrutura social do corpo discente, como a do corpo docente, continua a evoluir,
8
Humanities Indicators, “Number os Humanities Faculty Members”, figure III-9c: “Numbers of Post-
secondary Faculty Teaching in Humanities Disciplines, 1999-2012”, http://www.humanitiesindicators.org/
content/indicatordoc.aspx?i=71#g321
9
Bureau of Labor Statistics, Occupational Employment and Wages, mai 2014, 25-1125 History Teachers,
Postsecondary, http://www.bls.gov/oes/current/oes251125.htm