QUEIROZ, Alexandre
FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.2, nº2, p. 176-190, jun.-dez., 2015.
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escrever seus primeiros romances. Foi referendado como mestre da literatura com o
Prêmio Nobel, em 1982, pelos “seus contos e romances em que o real e o fantástico
são combinados em um mundo ricamente composto de imaginação, refletindo a vida e
os conflitos de um continente”
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, entrando assim para o seleto rol de escritores latino-
americanos agraciados com o prêmio.
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O Nobel veio após a publicação da sua aclamada
obra Cem Anos de Solidão, em 1967.
Entre esses dois grandes marcos da carreira de “Gabo”, como também era
conhecido García Márquez – Cem Anos e o Nobel –, está a publicação de um romance
“de ditador” bem característico do movimento literário realista mágico latino-americano:
O Outono Do Patriarca (El Otoño del Patriarca, no original), lançado em 1975. Era o seu
primeiro romance após Cem Anos de Solidão. Na Espanha, foi a obra mais vendida em
1975, a frente de Confesso que Vivi, do chileno Pablo Neruda.
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O romance foi capitaneado
por uma grande publicidade internacional – o jornal estadunidense New Yorker, por
exemplo, publicou trechos da obra na versão impressa. A difusão do lançamento é
mostra da popularidade alcançada por García Márquez, então referendada em um amplo
movimento literário, do qual era tido como um dos mais importantes representantes.
Não obstante, Pedro Mandagará Ribeiro, em pesquisa sobre os romances O Outono do
patriarca e Zero (Ignácio de Loyola Brandão), este também publicado em 1975, apontou
a complicada recepção da publicação, visto que a expectativa era pelo lançamento de
“Cem Anos de Solidão volume II” (RIBEIRO, 2012, p. 112).
O “Boom” literário latino-americano surgiu nos anos 1960, mantendo grande
repercussão até os anos 80. Configurou-se em um momento no qual os romancistas
da América Latina tiveram ampla divulgação editorial, aliado a obras que utilizavam
do Realismo Mágico como linguagem para representar uma região cuja cultura havia
sido pouco difundida. A Revolução de Cuba, em 1959, e a posterior adesão da ilha ao
Socialismo atraíram mais atenção para a América Latina.
Em plena Guerra Fria, Cuba tornou concreta a busca por uma alternativa
socialista nas Américas. Em torno da Revolução — e da “Geração do Boom”
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—, a
historiadora Adriane Vidal Costa, na tese Intelectuais, Política e Literatura na América
Latina: o debate sobre a Revolução Socialista em Cortázar, García Márquez e Vargas
em 2006. São eles:
Textos Caribenhos (1948 – 1952), Textos Andinos (1954 – 1955), Da Europa e da Amé-
rica (1955 – 1960), Reportagens Políticas (1974 – 1995) e Crônicas (1964 – 1985). Em Reportagens Políticas
(1974 – 1995)
, Léo Schlafman afirmou que García Márquez sempre se declarou convencido de que sua
profissão era jornalista, mas que não gostava da subordinação ideológica às diretrizes da direção do jor-
nal (SCHLAFMAN, 2006, p. 8).
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Descrição da atividade de Gabriel G. Márquez no site oficial do Nobel. Disponível em: <http://www.
nobelprize.org/nobel_prizes/literature/laureates/1982/>. Acesso em: 13 jan. 2015.
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Gabriela Mistral (chilena) recebeu em 1945, Miguel Ángel Asturias (guatemalteco) em 67, Pablo Neruda
(chileno) em 1971. Após Márquez, Octavio Paz (mexicano), em 1990, Dereck Walcott (santa-lucense) no
ano de 1992 e Mario Vargas Llosa (peruano), em 2010, também foram agraciados com o Nobel de Litera-
tura.
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Disponível em <http://acervo.folha.com.br/fsp/1976/01/28/21/4278148>. Acesso em: 08 jun. 2014.
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O termo “boom” é criticado por ser uma onomatopeia em inglês para designar uma explosão, algo efê-
mero, inesperado, despreparado, não condizendo com o processo de desenvolvimento dessa vanguarda
literária. Entretanto, o termo é comumente usado e mais facilmente reconhecido, e reflete elementos da
consolidação e imagem que foi construída sobre o movimento. O pouco conhecimento sobre a América
Latina – em seus mais variados aspectos como literário, cultural e histórico, o papel do mercado editorial
na difusão das obras, o eurocentrismo literário, entre outros, elucidam a formulação dessa expressão.
Dessa forma, mesmo entendendo a problemática em torno do termo, continuarei a usá-lo no artigo para
não confundir o leitor.