a Deus, mas se fosse muito pobre, três soldos seriam o suficiente; outra
alternativa era solicitar a um clérigo de boa vida que celebrasse uma missa em seu nome,
e estando presente, a ouvisse com devoção e a oferecesse pelas mãos do sacerdote como
penitência, equivalente a um dia de pão e água (PEREZ, 2013, p. 359-360). Vale lembrar,
por fim, que essas comutações se referem ao jejum determinado pelo confessor, como
satisfação dos pecados carnais, pois os jejuns estabelecidos pela Igreja não se podem
mudar, nem por esmola, dinheiro ou qualquer outra coisa. Além disso, indica o
Sacramental
que um homem pode fazer jejum no lugar do próximo quando este não pudesse jejuar, do
mesmo modo como os jejuns de um vivo podem livrar o finado do purgatório (SANCHEZ,
2010, p. 302-303).
Segundo Clemente Sánchez de Vercial, para que o jejum fosse benéfico para a alma,
o fiel devia seguir quatro importantes premissas: “largueza, alegria, hora e medida”. A
primeira é largueza, isto é, dar aos pobres o alimento que foi jejuado para que a penitência
gerasse “abastança da alma e não ganância da bolsa”. A segunda é a alegria, que se traduz
nas palavras do Evangelho de São Mateus: “quando jejuardes não sejais assim como os
hipócritas tristes” (BÍBLIA, Mateus 6, 16). A terceira se refere a “hora convinhável”, isto é,
comer no horário apropriado. Por fim, a quarta premissa é “média e mesura no comer”, ou
seja, comer temperadamente (SANCHEZ, 2010, p. 297-298). No que se refere
especificamente à segunda premissa, a
Vita Christi
alega que o homem deve sentir-se
triste pelos seus pecados que geraram penitência, mas não deveria fingir tristeza quando
jejuasse para que recebessem louvor e favores dos homens. De outro modo, “se aquele
que jejua e se faz triste é hipócrita, quanto mais hipócrita seria aquele que não jejua”, mas
pintam a própria face de “amarelidão” para demonstrar que jejuaram (SAXÔNIA, 2010, p.
378-319).
Portanto, podemos concluir que o jejum é uma prática de satisfação do corpo, pois,
disciplinando a fisicalidade ou natureza do corpo, o fiel submetia a carne à alma para, em
unidade, encontrar Deus, pela salvação. Em suma, a prática do jejum está imbuída pelo
desejo profundo de imitar Cristo, que não só controlou seu próprio corpo, como fez dele
uma ferramenta para a salvação da humanidade ao ser crucificado. O evidente paradoxo
entre a negação do corpo ou sua exaltação encontra na prática do jejum um certo
equilíbrio, que coloca fim à dura batalha entre a alma do homem que deseja as coisas
celestiais e seu corpo que deseja as coisas mundanas. Desse modo, todos os homens que
menosprezam o jejum, seriam, nas palavras de Isaac de Nínive, fracos em todas as