ocupantes e ocupados, que fosse autêntica, mas que também divertisse e suscitasse
“estímulos diferentes” e “novos ângulos de apreciação” para “qualquer pessoa interessada
em teatro, sociologia, pintura, política, literatura, história, arquitetura, filosofia ou música”
(GOMES, 1982, p. 464) – interesses correntes de uma sociedade moderna, mais próxima
da civilização do que da barbárie. Arvorando-se nessa tradição, o dossiê A cultura
cinematográfica e sua história reúne trabalhos acadêmicos implicados na multiplicidade
de questões suscitadas pelo fenômeno cinematográfico, suas ideias, teorias, práticas
culturais e usos políticos do passado.
No artigo
O Centro Sperimetale Di Cinematografia e a Revista Bianco e Nero:
Arquivamento, Historiografia e Usos do Passado na Itália Fascista
, Francisco Santiago
Júnior analisa a experiência histórica do Centro Sperimentale Di Cinematografia e o seu
braço editorial, a revista Biano e Nero para narrar diferentes instâncias formadoras da
cultura cinematográfica italiana nos anos 1930 e 40: o papel dos intelectuais na formação
de uma historiografia do cinema italiano; a materialidade do cinema através da imprensa e
das práticas de documentação não fílmica; e a formação do embrião da Cineteca Nazionale
(Roma). Fatores concomitantes que articularam o uso histórico de imagens do passado
enquanto saber específico e legitimador do cinema como cultura.
Em ano eleitoral, Áureo Busseto presta um grande serviço em
Enquadrando o Início
da TV: Projeções do Cinema sobre a Surgente Televisão e o Alerta do Filme S.O.S Tidal
Wave (1939) Acerca de Fake News em Telejornalismo
. No artigo, o historiador disseca
múltiplas intersecções da cultura cinematográfica com esferas da imprensa e da política.
Busseto apresenta, por um recorte filmográfico inédito de obras menos consagradas de
Hollywood, o pioneirismo de um cinema que incorpora a experiência da nascente televisão
em aspectos ainda inalcançáveis da sua tecnologia, mas prenunciativos dos limites éticos
da comunicação social em tempos atuais: as
fake news
, elemento central na trama de
S.O.S. Tidal Wave
, que envolve o então futurista telejornal como ferramenta de interesses
econômicos e políticos-eleitorais – temas proibitivos para um filme exibido por aqui
durante o Estado Novo.
A experiência cultural d´
O cinema de arte do Recife
, ativo entre 1960 e 1974, é
narrada por Alexandre Figueroa de dentro, ou seja, a partir da perspectiva do crítico
cinematográfico do
Diário de Pernambuco
Fernando Spencer, quem fundou o grupo com
os também críticos Celso Marconi, José de Souza Alencar e Ivan Soares. No artigo, a
importância das relações transatlânticas, especialmente com a França, é acentuada na
delimitação de um modelo de formação que concilia a difusão cultural através dos filmes
e da imprensa, onde Spencer deixou os rastros que permitiram ao autor reconstituir a