Papel e plástico
aborda a forma como o passado medieval é utilizado pela direita nos
Estados Unidos e no Brasil.
Para o desenvolvimento do estudo, o historiador utiliza fontes ligadas à internet,
como, por exemplo, canais de YouTube, páginas de Facebook e também grupos de
WhatsApp e Twitter. Todas as redes sociais estudadas por Lanzieri Júnior se relacionam
com o pensamento da direita cristã, nacionalista, defensora dos bons costumes,
armamentista e contrária às minorias. Assim sendo, por meio da análise do discurso
apresentado por esses grupos na internet, foi possível a concepção da obra pelo
historiador.
O alicerce metodológico do livro de Lanzieri Júnior é o “medievalismo”, que pode
ser compreendido como um campo de estudo que se concentra na recepção das
representações medievais, ou seja, é um processo contínuo para recriar, lembrar ou
reapropriar o passado medieval. Nesse sentido, podemos compreender que o conceito está
conectado com o uso da Idade Média em distintos aspectos midiáticos, como, por exemplo,
obras literárias, jogos de videogames, bandas de heavy metal, memes, seriados de
televisão, filmes e até mesmo produção de estudos sobre história. Outro aparato teórico
que embasa o estudo é a história global, no qual se estrutura a prerrogativa dos “4Cs”:
conectar, comparar, conceituar e contextualizar, que são perspectivas defendidas,
pensadas e organizadas pelo historiador Diego Olstein (2015, p. 51-58). Com elas, Lanzieri
Júnior busca entender o uso e a construção de novas narrativas acerca do período
medieval pela extrema direita.
O autor debate com uma historiografia que aborda o medievalismo e compreende
essas releituras na contemporaneidade. Ainda pouco debatidos no Brasil, esses estudos
vêm ganhando forma e impulso com as contribuições de Lanzieri Júnior para a
historiografia brasileira, uma vez que o autor apresenta temas e autores pouco estudados,
como Guillermo Altares, Juan Arias, Candace Barrington, Sebastian Conrad, Andrew B. R.
Elliott, Tommaso di Carpegno Falconieri, Ralph Keyes, Andrew Lych, Richard Utz, entre
outros autores e obras mais recentes. Sendo assim, trata-se de uma contribuição
importante para a compreensão das narrativas contemporâneas sobre o medievo, uma vez
que essa é a primeira obra que apresenta a perspectiva de uma história global, vinculada
às propostas do medievalismo e neomedievalismo.
Compreendemos que o trabalho de Carlile Lanzieri Júnior é uma grande
contribuição para a historiografia referente ao medievo no Brasil, pois o autor é pioneiro
em investigar a reelaboração do período medieval pela direita. O historiador apresenta
uma vasta historiografia que visa a abordar categorias referentes à história pública, ao
medievalismo e ao neomedievalismo. Ou seja, através dessa obra, podemos pensar