O reencontro físico com a terra natal, como veremos, demoraria mais do que o
esperado. Entretanto, desde os primeiros passos no exterior, Tânia se manteve conectada
à cultura brasileira através da música. Prova disso é o seu LP
Via Brasil
(Barclay, 1975),
contendo dez faixas que passeiam por clássicos da música brasileira, tais como: “Samba
de Orly”, “País Tropical”; “Abre Alas”, “Fio Maravilha”, entre outras. Contando com José
Boto na bateria e Hélio Quirino no contrabaixo, o LP foi um sucesso, levando o trio a lotar
o Via Brasil em seus shows. Demonstrando a grande aceitação do trio,
O Globo
(1975, p.
30) informava que Tânia e cia já preparavam outro LP, recebendo ainda “convite para o
famoso Festival de Newport e o reconhecimento de músicos franceses, americanos e até
indianos…”. A partir daí, Tânia gravaria 5 discos em terras francesas e seria convidada para
importantes festivais de jazz, como o de Monterey e o de Santa Bárbara, na Califórnia, o
Playboy Jazz Festival, em Los Angeles, o Kool Jazz, em Nova Iorque, entre outros. Como
Rollemberg (1999, p. 33) esclarece: “se muitos sofrem com o desenraizamento, outros se
descobrem neste processo”. O caso de Tânia se encaixa nisso, mostrando que o exílio
também “oferece um outro lado: a oportunidade do recomeço e da transformação [...] é a
possibilidade de renascer – levando a bagagem acumulada –, de construir uma visão ampla
de mundo” (1999, p. 33).
Outros músicos brasileiros, como Sérgio Mendes e Airto Moreira, também
experimentaram o exílio e o renascimento artístico no exterior, sendo, porém,
experiências pouco trabalhadas pela produção historiográfica brasileira. Estimativas do
site Memorial da Democracia apontam que entre 5 e 10 mil pessoas deixaram o país –
diáspora potencializada pelo recrudescimento do regime, que passava, então, a incluir
mais enfaticamente entre os seus alvos os artistas, classe que começou a optar pelo exílio,
temerosa por retaliações da repressão (PEZZONIA, 2019, p. 02). Mas os instrumentistas,
diferente de cantores exilados da MPB (Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque, por
exemplo), não estão entre os que geralmente são lembrados, desembocando sobre esses
autoexílios um obsequioso silêncio. Válido adicionar que a classe dos instrumentistas
brasileiros assistiu ainda a uma progressiva redução do campo de interesses da música
não cantada no período ditatorial, suscitada, entre outros fatores, pelas novas disposições
estéticas e revisão dos critérios mercadológicos – ambos estimulados pelo convulsivo
contexto político. Não por acaso, no discurso dos músicos daquele período temos um saldo
que justapõe o sucesso estrondoso do formato canção (notadamente, a Canção de
Protesto), certo “patrulhamento” sobre simpatizantes do jazz e a perseguição política que
recaiu mais enfaticamente sobre os cantores/compositores, cujas carreiras serviam como
vias através das quais os músicos podiam trabalhar (RIBEIRO JR., 2018). Tal estado de
coisas, segundo Tinhorão (1991, p. 34):