respeitoso apelo aos doentes de moléstias contagiosas e com especialíssimo
propósito aos enfermos de tuberculose [...]. São José dos Campos é inegável,
constitui hoje uma conhecidíssima estação de saúde. É um centro especialíssimo
de cura. Em procura de saúde, aqui apostam enfermos tuberculosos. É
justamente por isso, também, que a nossa situação se reveste de tão alta
excepcional gravidade, infundindo nos justos receios pelos infinitos perigos que
nos rodeiam. É devido a isso que clínicos de fora, e de reconhecido valor, lembram
as pessoas sãs que vem morar, a conveniência de não residirem nesta cidade,
pois o contágio da tuberculose, aqui, tende a crescer, a subir de forma tal que os
poderes públicos hão de, um dia, providenciar com medidas enérgicas de
segurança geral, muito embora restritivas da descabida e até excessiva
"liberdade" dos enfermos. Essa liberdade hoje se converte em verdadeiro
atentado à vida dos cidadãos. E nem pode ser por menos essa licença que os
doentes gozam de lançar suas cusparadas nas vias públicas sem a menor
cerimônia, sem o menor escrúpulo, cinicamente, com maior malvadeza possível,
fechando seus corações a todo o sentimento do altruísmo e da nobreza muito
longe do amor ao próximo, da comiseração e de piedade (CORREIO JOSEENSE,
18 de abr. 1920).
Diante do quadro entre os que defendiam a vinda dos enfermos como mote do
desenvolvimento local e os que os consideravam uma ameaça à saúde pública, a vida na
cidade transcorria entre a aproximação e a distância. O quadro ameaçador foi acentuado
quando, em fevereiro de 1934, os médicos que defendiam a chegada dos tuberculosos
fizeram um apelo aos colegas de profissão para que não encaminhassem para o município
os doentes sem recursos e desprovidos de guias para internação nos sanatórios (BOLETIM
MÉDICO, 1934). Esses infelizes, segue a matéria,
continuam a afluir em procissão contínua e desesperante, mas os sanatórios
estão abarrotados e, fora deles, a hospedagem gratuita já esgota todas as
possibilidades. Ficam, pois, estes desgraçados, a perambular pelas ruas, quando
suas forças ainda o permitem, a mendigar o dinheiro de passagem de volta e a
exibir um quadro tristíssimo de doença e miséria (BOLETIM MÉDICO, fev. 1934).
Para evitar a discriminação, muitos enfermos escondiam a sua moléstia. Na década
de 1940, um censo expressava a subnotificação dos tuberculosos na cidade. João Flório,
responsável pelos dados, esclareceu que os 1.024 doentes censitados representavam
somente aqueles que não esconderam a sua situação; além destes, havia uma grande parte
que negava o seu estado patológico, e o seu fichamento não foi possível pelo fato de
permanecerem ocultos (FLÓRIO, 1944, p. 60). A situação dos tuberculosos era biológica e
social/trágica, por carregarem consigo as representações da doença, ligada à morte, ao
contágio e ao isolamento.
O embate entre costume e saber fez parte da paisagem cultural joseense quando a
concretização da estância desencadeou uma série de transformações radicais do espaço
urbano e da forma de viver dos moradores. Exemplo disso foi a notícia veiculada no jornal
local sobre o embargo da obra de abastecimento de água central, por “construir,