entre as práticas ali envolvidas, intelectuais e professores entenderam que precisavam
também
constituir lhe uma história
. Neste sentido, dotar o cinema de uma história era
uma maneira de dotá-lo de
valores
. A elaboração de uma historiografia do cinema fora,
portanto, uma prática de escrita da história para inserção do cinema como uma forma
cultural autônoma na Itália dos anos 1930 e 1940.
Parte deste esforço ocorreu pela montagem de artigos, ensaios e manuais de
história do cinema publicados em inúmeros periódicos, desde os jornais até as revistas
especializadas de cinema. Intelectuais como Francesco Pasinetti, Comicio Cochi,
Umberto Barbaro, Luigi Chiarini e tantos mais já realizavam textos históricos em jornais
ou revistas de cultura, mas o CSC e a
Bianco e Nero
, tornaram possível trabalhar
sistematicamente este aspecto. Em revistas especializadas como
Cinema
e
Bianco e
Nero
, eram comuns os textos de história do cinema, voltados à identificação de obras
(filmes e roteiros realizados ou não), padrões estilísticos e técnicos, temáticas,
sets
e
temas visuais, bem como identificar profissionais (roteiristas, atores, diretores,
fotógrafos) que permearam a trajetória temporal dos cinemas italiano e mundial. Em
especial a
Bianco e Nero
foi um espaço privilegiado para documentar e arquivar grande
parte do material de divulgação de saber sobre cinema na Itália, veiculando sínteses de
história das técnicas e filmes e ofereceu o selo da publicação do mais importante texto
de história do cinema italiano dos anos 1930 e 1940, a
Storia del cinema: dalle origini al
oggi
, escrita e publicada por Francesco Pasinetti, em 1939 como edição especial pela
Bianco e Nero
.
Manuais de análise fílmica, estudos fílmicos e os recentes estudos de arqueologia
do cinema parecem concordar que o cinema se tornou definitivamente um objeto
histórico metodicamente constituído apenas a partir da emergência dos estudos
universitários sobre cinema, notadamente dos anos 1960 em diante (ALLEN, GOMERY,
1995; BORDWELL, 2013). Naquele contexto, entre os
textbooks
usados nos
componentes disciplinares dos cursos de cinema nas instituições norte-americanas,
francesas ou italianas, estavam os compêndios da primeira metade do século XX
elaborados por cineastas, intelectuais e/ou literatos e titulados de “histórias do cinema”
tais como
: The film till now
, de Paul Rotha, de 1930;
A history of the movies
, de Benjamin
Hampton, de 1931;
The Rise of American Film
, de Lewis Jacob, de 1939;
Storia del cinema:
dalle origini ad oggi
, de Francesco Pasinetti, de 1939;
Historie d’um art: le cinéma
e
Historie du cinéma mondial
, de Georges Sadoul, de 1949;
Introdução ao cinema
brasileiro
, de Alex Viany, de 1959, entre outros.
Estes textos funcionaram como práticas de significar e qualificar temporalmente
o cinema como experiência social. O esforço por escrever uma história do cinema é uma