Para muitos a mudança do Cinema de Arte para o Coliseu não alterará o
interesse do espectador. O espectador (ilegível) que todos os sábados com
chuva ou com sol está plantado numa poltrona estofada do São Luiz. Outros
acham que o deslocamento para o subúrbio poderá haver recesso do público em
geral. Ora, o Paissandu e o Alvorada cinemas de arte permanentes no Rio, não
estão localizados no coração da cidade, dependem também de dois transportes
e nem por isso deixam de atrair público diariamente às suas sessões.
A mudança do Cinema de Arte para o Coliseu oferece excelentes perspectivas
ao público recifense. Primeiramente teremos duas sessões diárias e três aos
domingos, serão lançados dois filmes mensalmente, com possibilidades de
serem exibidas todas as películas que continuam inéditas há muitos anos nesta
capital. Não os filmes malditos, do público limitado. Há filmes para o grande e
para o pequeno público. Para atender este pequeno público surgem os cinemas
de arte em todo o mundo. (SPENCER, 1967b p. 7)
Além de reafirmar a permanência dos selecionadores (ele próprio, José de Souza
Alencar, Celso Marconi e Ivan Soares), Spencer elencava as vantagens da sala
permanente, entre elas o fato de que se o CAR continuasse a ter apenas uma
apresentação semanal, não teria chance de trazer a metade das fitas já anunciadas para o
mês de março no
Coliseu
. O crítico garantia que eles estavam recebendo ofertas de
películas não somente das distribuidoras do Recife, mas também do sul do país.
Nesta nova fase o CA – Coliseu promete uma seleção de películas de excelente
nível artístico a começar pela que foi elaborada com o apoio dos diretores da
Metro Goldwyn Mayer, que colocaram à disposição dos coordenadores do
Cinema de Arte 5 filmes inéditos, todos de reconhecida categoria estético-
formal.
Esse louvável gesto do sr. Henry H. Ronge, diretor da MGM deve ser também
seguido pelas demais companhias cujos representantes possuem agências no
Recife. Esse apoio é imprescindível no sentido de que o Cinema de Arte possa
cumprir os seus objetivos propostos desde 1960, data de sua fundação no
Recife. (SPENCER, 1967c, p.10).
Afirmava ainda que a ABCA tencionava fazer exibições de filmes premiados em
toda rede de cinemas de arte no Brasil e o Recife estaria incluído.
A primeira sessão do CAR no
Coliseu
foi numa quarta-feira, no dia 02 de março
de 1967, com o filme
O Homem do Prego
(1964), de Sidney Lumet, eleito pela crítica
carioca, segundo Spencer, como um dos dez melhores filmes de 1966. O noticiário do dia
seguinte afirmava que mais de duas mil pessoas haviam prestigiado a sessão inaugural,
registrando a presença de nomes de projeção do mundo social com predominância da
chamada nova geração entre os quais “[...] representantes das forças armadas,
secretários do Estado, comandantes de guarnições, corpo consular, professores,
intelectuais, jornalistas e universitários [...]” (SPENCER, 1967d, p. 7).
A programação inaugural seguiu com obras como o filme japonês
O Túmulo do
Sol
(1962), de Nagisa Oshima, o italiano
A Ilha dos Amores Proibidos
(1962), de Damiano
Damiani, o britânico
Um Gosto de Me
l (1962), e a reprise do norte-americano
Júlio César