De fato, essa adesão a grupos de extrema direita foi se configurando, com o passar
dos anos, em um evento mundial: na Índia, com Narendra Modi (2014); nas Filipinas, com
Rodrigo Duterte (2016); na Alemanha, com a Alternativa para Alemanha (AfD) (2017); nos
Estados Unidos, com Donald Trump (2016) e, no Brasil, com Jair Bolsonaro (2018). Todas
essas expressões possuem suas características próprias, mas, em sua grande maioria,
apresentam-se com um nacionalismo exacerbado e agressivos em relação aos
outgroup
(imigrantes, homossexuais, feministas, esquerda). Afirmam-se como organizações nada
convencionais e se definem como verdadeiros regeneradores da pátria que “corre perigo”.
De acordo com o historiador Enzo Traverso (2019, p. 11), trata-se de um “pós-fascismo”
que se desenvolveu no centro das instituições democráticas.
Desde a queda do socialismo no Bloco do Leste, alguns estudiosos já identificavam
o nacionalismo como a ideologia predominante. Conforme Alberto Cunha, ao contrário do
que aconteceu no início do século XX, esses nacionalismos escolheram “jogar o jogo”
democrático, ou seja, são eleitos através do voto direto pois a população, insatisfeita com
a incapacidade das instituições de Estado em atender suas demandas, identifica-se com
seus discursos reabilitadores e elege esses representantes (2019, p. 76). Ademais, o
filósofo Jurgen Habermas (1991, p. 43) aponta que, com o desencantamento e o fracasso
do ideal socialista, as revoluções no centro-leste europeu acabaram por buscar antigos
símbolos nacionais, havendo um resgate por tradições políticas do período entre guerras
Essa “revolução recuperadora”, orientou-se por modelos que já tinham sido superados,
distanciando-se da tentativa de construir algo novo.
Apesar disso, segundo a cientista política Alexandra Iancu (2019, p. 59), a Polônia
foi o país mais bem-sucedido no processo de transição devido a uma rápida privatização,
renovação política e um processo suave de democratização. Porém, faz-se necessário
ressaltar que houve uma forte polarização no processo de criação do seu sistema
partidário. Essa divisão se materializou, nos anos 1990, entre pós-comunistas e
anticomunistas. De lá para cá, estes últimos, representados pelo PIS, empreenderam uma
agenda de “descomunização” e anticorrupção, aliados a valores tradicionais, ao
catolicismo e a um
ethos
de identidade polaca, representando, acima de tudo, as
comunidades rurais. Com a radicalização gradual do seu discurso, recompensada
eleitoralmente, os líderes do partido adicionaram mais elementos nacionalistas e religiosos
em suas reivindicações.
Desde as últimas eleições em 2019, quando o PIS foi reeleito, teóricos têm
enfatizado um retrocesso democrático acelerado assumindo diferentes formas. Uma delas
foi a restauração e a politização do sistema judicial. De acordo com Iancu (2019, p. 62),