“Terra repartida, vida garantida”, “A terra é de todos nós”, simbolizando a pluralidade da
“massa” e a generalidade daqueles em luta, entre outros cartazes que mencionam termos
como democracia, direitos, igualdade, dever do estado, vida, Deus, mutirão, reforma
urbana. Nesta parte, as imagens da manifestação e as inúmeras faixas de apoio e defesa
da luta pela moradia buscam reforçar a defesa que o vídeo faz da luta, colocando uma
grande massa ao seu lado, corroborando o discurso. Novamente o discurso de defesa da
ocupação é mostrado como autêntico do povo, do povo unido.
A manifestação de rua caracteriza a pressão exercida pelos moradores da
ocupação. A câmera vai passeando e mostrando o rosto do povo, na sua grande maioria
mulheres, mas também homens e crianças, mãos dadas simbolizando a solidariedade entre
eles, pés simbolizando a marcha coletiva. A passeata é filmada de vários ângulos e tenta
nos dar a dimensão do protesto. A montagem sugere dinâmica, vivacidade. Uma música
instrumental animada por palmas, de Milton Nascimento, artista que ficou identificado no
imaginário nacional com a Nova República, alinha a sequência de imagens e enaltece a
cena com um clima de esperança, a ressoar a favor da luta.
Em locução
off
, uma voz feminina declama uma poesia que apela para o
deslumbramento: “Domingo na praça, mar de gente / Muitos rios vindos de todos os
cantos / Cada ocupação é uma nascente / Ocupação na zona leste / É a troca do lixo, do
mato e da marginalidade / Por casas, pessoas, escolas” (HÁ Lugar, 1987).
A locução aqui funciona claramente como “voz de Deus”, que comenta a sequência
de imagens e diz claramente ao espectador a leitura que deve ser feita, de forma que “[...]
seu tom transmite um ponto de vista pronto, com o qual espera que concordemos”, como
aponta Bill Nichols (2005, p. 78), a respeito do uso desse tipo de recurso. Como se a
montagem das imagens da manifestação não fosse suficiente para dignificar a luta e buscar
a identificação e comoção do espectador, a declamação reforça a perspectiva.
Ainda dentro do que identificamos como um primeiro bloco, que enaltece o homem
do povo e sua luta em tom de esperança, o vídeo apresenta um conjunto de entrevistas
com pessoas do povo. Um homem levantando a parede de uma casa explica, confiante, que
já está em curso a negociação do terreno com o proprietário, concluindo: “estamos bem
encaminhados”. Outro explica o processo de organização da ocupação, outra justifica a
ocupação frente aos aluguéis impeditivos, outra afirma que a luta é de todos, e não de uma
liderança específica. Um senhor diz que busca ali “um ranchinho para terminar o resto de
vida”. O que é seguido de um canto africano que reforça o caráter comovente da fala, junto
a imagens de mãos trabalhando a terra, o processo de construção.
É importante destacar que, nessa etapa do documentário, os entrevistados, o povo,
são anônimos, sem identificação, sugerindo uma ideia de unidade de grupo onde, cada