humanismo após a invenção do cinema – a questão da verdade perpassa este campo
geral. Algo que foi percorrido aqui ao alto, na modificação dos termos, ou, como prefere
o ensaio citado, do vocabulário cinematográfico através da filmologia. Cohen-Séat expõe:
Não há evidências de que o espetáculo cinematográfico saberá manter a
comunidade que ele criou. Está aí, para tanto dizer, seu problema final: ou o
cinema não deve preservar de sua unidade nada mais que uma aparência
material, e a
presença do público
significa apenas uma curiosidade fugaz diante
da novidade de um jogo; ou civilização deve esperar da emoção cinematográfica
uma intervenção significativa. (COHEN-SÉAT,1946, p. 29, tradução nossa)
O grifo sobre a “presença do público” é do próprio autor, na sombra do
chamado a um dualismo pertencente ao cinema, como citado. Mas ele completa no
mesmo capítulo, intitulado
Cinema et Humanisme
:
Não é impossível que o cinema, por sua vez, se torne dividido por fronteiras e
por línguas, apesar das demandas econômicas que tendem a tornar o filme uma
mercadoria internacional. Cada produção levaria cada vez mais a marca de sua
origem local. Veríamos uma obra fílmica de sociedades de origem greco-latina,
por exemplo, tão longe dos filmes asiáticos quanto do "Nô" Japonês de uma
tragédia de Racine. Seria um enorme fracasso. Não é inimaginável que a
fragmentação vá muito mais longe. Dentro de um único grupo geográfico, ou
melhor, linguístico, os espetáculos do cinema poderiam ser ainda mais
diferenciados, dependendo dos principais estados do público: dependendo de
como os vários públicos tradicionais se reúnem em torno do teatro clássico ou
drama popular,
music hall
ou
vaudeville
, novela ou conto de fada. (COHEN-
SÉAT, 1946, p. 29).
Ainda que haja a tal “situação (histórica) do cinema”, se o mundo é dividido entre
nações soberanas, ele deve ter seus “mundos” (suas culturas cinematográficas) também
divididos. O espetáculo, portanto, é forjado dentro de “humanismos”, a depender da
situação que se encontra o cinema e sua evolução técnica.
Como se sabe, um caminho se formou entre a fenomenologia e o estruturalismo
naquele momento histórico. Esse caminho pode ser encontrado intuitivamente
desenvolvido nos textos citados. Na coletânea intitulada
Presses Universitaires de
France
, Amedee Ayfre propõe um olhar sobre as proximidades produzidas pelas
presenças humanas – algo que não parecia novo, mas um comum (ou uma noção da
comunidade) já muito esticada por uma compreensão de uma ética global.
Cinema et
presence du prochain – quelques problèmes d’estetique et d’anthropologie
de 1957, data
chave, consagra em certa medida uma espécie de procedimento que André Bazin teria
começado, pois a chamada
iconosfera
se vale de um duplo do humano na confecção, ou
comparação, com a figura do
outro
.