radiofônica de suas propostas, principal meio para efetivar a comunicação com o seu
eleitorado, estratégia que, segundo o autor, garantiu a sua expressiva vitória no pleito
eleitoral de 1958.
Nesta época do ano, são comuns nos meios de comunicação, sobretudo na tevê,
retrospectivas ou balanços dos principais acontecimentos do período que se finda,
objetivando transmitir análises preocupadas com o passado e a prospectar futuros. Mas
é importante que se diga que tal ação, a despeito de apresentar eventos pretéritos e
conteúdo analítico, é distinta da natureza do ofício de historiador, porque a tarefa deste
não se trata de apenas rever os principais acontecimentos de um único ano, organizá-los
em ordem cronológica, debatê-los em poucos minutos ou formar juízos de valor sobre
fatos diversos. Ao contrário, historiadores, como já é bem sabido dos especialistas,
investigam, problematizam, questionam, lançam hipóteses sobre o passado, seja o mais
distante ou recente, motivados por problemas que ecoam na contemporaneidade e
munidos de documentos e ferramental teórico-metodológico, o que define a atividade de
construção de conhecimento científico.
A despeito dessa tentativa de divulgar conteúdo intelectual e do compromisso
com a transmissão de dados fidedignos, a imprensa não passa incólume à análise
apurada de historiadores, porque veículos de comunicação dirigem-se ao grande público
e apresentam política editorial, que carece de ser compreendida. Ademais, por vezes,
meios de comunicação comentem equívocos na transmissão de notícias (LEAL, 2021),
mas, determinado ato, ainda que problemático, não se equipara com a novidade, ou seja,
os disparos consentidos de
fake news
, acompanhados de discursos negacionistas, que
inundam nosso cotidiano através das redes sociais, porque são fabricações cuja intenção
é espalhar mentiras.
Fake news
e negacionismo também têm sua historicidade (NAPOLITANO, 2021),
mas, atualmente, ganham novos contornos devido à instantaneidade da circulação e
acabam por encontrar solo fértil na sociedade brasileira cuja herança é autoritária, uma
vez que não é estimulada para o diálogo democrático. São justamente esses os três
problemas mais graves que necessitam de ser compreendidos pelos historiadores da
contemporaneidade: negacionismo,
fake news
e autoritarismo. Assistimos nos últimos
anos, inclusive no Brasil e sobretudo a partir da pandemia de Covid-19, a discursos
mitomaníacos que desacreditam desde a ciência histórica à medicina, ao contrariar a
obrigatoriedade da utilização de máscaras, incentivar o uso de medicamentos ineficazes
para tratar o vírus, negar de modo contumaz a eficácia de vacinas, incitar a invasão de
hospitais para identificar irregularidades, para ficar nos assuntos mais divulgados.