Faces da História, Assis/SP, v. 8, n. 2, p. 56-75, jul./dez., 2021
sejam formadas por água, mas ele reconheceu que somente a água que penetra na rocha
não pode explicar o processo.” (HOLTEN; STERLL, 2011, p. 186). Podemos pensar na
aproximação de Lund à reflexão sobre o tempo profundo em um movimento de
afastamento dos lugares comuns à época, como a explicação bíblica do dilúvio enquanto
fenômeno, que acompanhou as ideias teológicas de alguns naturalistas, e o catastrofismo
que também evocava inundações e embasou o trabalho de muitos outros como Lund que,
sobre esse tema, de acordo com o que se observa em sua carta a Emery:
Acredita-se, nessas grutas, estar-se perto de costas rochosas à beira do mar, e ver as
paredes de rocha nua corroídas, lixadas pelas ondas. A origem é a mesma e se é
compelido a mudar o período de criação dessas grutas para aqueles tempos, onde
ou grandes lagos terrestres cobriam todas essas, que agora são localizadas em
terreno seco, ou onde todas repousavam no colo do mar. Tanto é certo, que a
filtragem das águas através das rachaduras da pedra calcária, de longe, não é
suficiente para explicar esses fenômenos, principalmente as cavidades profundas e,
entretanto, sem saída, que são corroídas no teto. (HOLTEN; STERLL, 2011, p. 188).
Além disso, na passagem que os autores destacam o maior acolhimento, por parte de
Lund, das evidências do tempo profundo, a partir das paredes das rochas “[ ] Lund havia
chegado em suas considerações sobre a formação das grutas em uma perspectiva geológica
maior”:
De que um tal alisamento das grutas em sua superfície interna por água, que as
preencheu completamente não pode haver qualquer dúvida, pois diversas grutas
encontram-se ainda em nossos dias sob tais condições, em que elas,
periodicamente, são enchidas com água [...] Observei os mesmos fenômenos em
grutas, que, no momento, estão no seco, mas onde diversas circunstâncias me
convenceram de que, em um passado mais remoto, estiveram - periódica ou
continuamente - sob a água [...] Ademais, os tenho observado em grutas, que não
só estão continuamente secas, mas onde, de resto - não considerando justamente
os fenômenos de esvaziamento - não há qualquer prova definitiva de que tenham
estado sob água em tempos idos, onde, entretanto, a topografia da localidade
circunvizinha permite muito bem a suposição da existência, em tempos mais
antigos, de um lago, cuja superfície, de um lago, cuja superfície alcançava a entrada
da gruta. (HOLTEN; STERLL, 2011, p. 189).
Holten e Sterll (2011) reafirmam que Lund não era geólogo, mas a discussão sobre a
rocha calcária foi constante em suas observações das grutas; mesmo com a dificuldade de
tradução dos conceitos geológicos das primeiras décadas do oitocentos para a atualidade,
como “calcário mais antigo” e “rocha primordial”, os autores concluem que o naturalista se
referia a um tempo de formação correspondente ao Cretáceo. A afirmação é insegura; os