Tempos da Terra: possibilidades para
a história da ciência
Earth’s times: possibilities to the history of
Science
MOLLO, Helena Miranda *
https://orcid.org/0000-0002-4607-9426
MARQUES, Ingrid Freitas **
https://orcid.org/0000-0002-3125-05424
RESUMO: O artigo tem por objetivo propor
os registros do mundo natural realizados
pelos naturalistas da segunda metade do
setecentos e primeira metade do oitocentos
como estratégia para pensar as
temporalidades na História. A discussão
sobre as fontes para a história das ciências
se mostra o um amplo horizonte, mas
um oportuno momento para o debate sobre
noções caras à epistemologia da história,
como a noção de processo, sistemas de
verdades e verificabilidade.
PALAVRAS-CHAVE: temporalidade; mundo
natural; naturalistas.
ABSTRACT: The article aims to propose the
records regarding the natural world made by
naturalists, from the second half of the
eighteenth century and the first half of the
nineteenth century, as a strategy for
thinking about temporalities in the History.
The debate about the sources to history of
sciences represents a large horizon, but an
important aspect to epistemology of History,
mainly about the notions as process, truth
systems and verifiability.
KEYWORDS: temporality; natural world;
naturalists.
.
* Doutora em Teoria Literária pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro-RJ. Professora
associada de Teoria e História da historiografia do Departamento de História da Universidade Federal de Ouro
Preto, Mariana-MG. E-mail: hmollo@ufop.edu.br. O artigo é resultado parcial da pesquisa “O continente
americano e o tempo profundo: uma perspectiva da interface entre a história das ciências e a história
ambiental.” O projeto tem sido desenvolvido desde 2019 e recebe bolsa de iniciação científica do Programa de
Iniciação à Pesquisa da UFOP.
** Graduanda em História pela Universidade Federal de Ouro Preto, Mariana-MG, bolsista de iniciação científica
do Programa de Iniciação à Pesquisa (PIP) da UFOP. E-mail: ingridfmarques@outlook.com.
Este é um artigo de acesso livre distribuído sob licença dos termos da Creative Commons Attribution License.
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Recebido em: 21/07/2021
Aprovado em: 08/10/2021
Introdução
Em texto publicado em 2017 no Brasil (BENTIVOGLIO; TOZZI, 2017) , Ewa
Domanska provoca a obra de Hayden White (1972) com a indagação que título a um
artigo do historiador norte-americano: o que é um sistema histórico? Um dos seus pontos
centrais, para a historiadora, habita na estratégia de escolher os antepassados que mais se
adequam às escolhas de uma coletividade e suas habilidades de sobrevivência no tempo.
Segundo a proposta de H. White, o sistema histórico é organizado a partir de demandas que
uma coletividade em dado momento do tempo faz em relação ao passado, promovendo;
dessa forma, genealogias que mais a interessam, e organizando novas identidades e distintas
relações com o passado.
E. Domanska reorganiza a pergunta de White sobre como as coletividades elegem
seus passados e insere nessa relação o futuro. A partir do pensamento do filósofo Ilya
Prigogine, ela justifica a inserção da seguinte forma: “[...] o que fazemos hoje depende de
nossa imagem sobre o futuro, mais do que o futuro depende do que fazemos hoje.”
(PRIGOGYNE, 2004, p. 12, apud DOMANSKA, 2017, p. 99). A historiadora, assim, lança o
desafio de uma “história antecipadora” para uma remodelação das categorias “espaço de
experiência” e “horizonte de expectativa”, propostas por R. Koselleck, na análise da
experiência do tempo histórico. Para Domanska, se o espaço de experiência estiver aberto
tanto a ‘formas não ocidentais’ quanto a ‘experiências não-humanas’ resultaria em um
horizonte de expectativas alternativo, possibilitado pela perspectiva futurista, que ela
defende. A autora, neste texto que inspira o presente artigo, Constituição Do Ancestral
Retroativo, Novo Animismo E Modernidades Alternativas (2017), ao imprimir o futuro com
mais intensidade nas categorias de R. Koselleck
1
e ao aprofundar a indagação sobre o
sistema histórico de H. White, abre o leque a respeito da ancestralidade, não mais restrito
apenas às relações entre humanos, mas em uma direção mais ampla e inovadora,
englobando mesmo as experiências que trazem os animais, as plantas e as coisas, ou seja, as
1
As categorias de espaço de experiência e horizonte de expectativa, formuladas por R. Koselleck (2006) partem
da metáfora do espaço para a compreensão da experiência do tempo histórico. No artigo de E. Domanska, as
categorias propostas por Koselleck são importantes, em uma perspectiva profunda, voltando ao sentido a que
elas remetem, o do espaço.
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outras relações possíveis no mundo. Domanska (2017, p. 100 et passim) enxerga na
possibilidade do novo animismo
2
uma plataforma conceitual que permite novas prospecções
da constituição ancestral e novas construções historiográficas.
No artigo de White (1972) sobre o sistema histórico, a aproximação entre as
comunidades históricas e biológicas são uma perspectiva não de encerramento ou
submissão das explicações formuladas pela história à biologia, mas de comparação entre
conceitos que transitam entre os campos de saber: de comunidade, processo, variação e
mutação. A aproximação com a Biologia permite pensar, segundo H. White, o passado
histórico em sua forma maleável, na possibilidade de escolha de antepassados ideais,
diferentemente dos antepassados genéticos (DOMANSKA, 2017), mas a autora destaca que
a escolha desses ideais se baseia em critérios que o autor de Sistemas históricospróximos
das ciências da vida: o critério da necessidade, e que essas necessidades são justificáveis.
No artigo que propomos, partimos da leitura da historiadora polonesa radicada nos
Estados Unidos que reorganiza a constituição do sistema histórico de White, olhando-o sob
uma perspectiva compósita e não de exclusão, tomando essa leitura como possibilidade
para as organizações temporais na história das ciências. Quando Domanska ressalta a
importância de a historiografia passar a ter como perspectiva os outros seres e as coisas que
ocupam no mundo, toca na construção das camadas do tempo como experiências também
da natureza, na qual a humanidade se insere. Essa perspectiva se mostra importante, pois
permite pensar a descoberta do lugar dos homens na natureza a partir de um processo e
não como uma espécie de ponto de chegada. Quando a produção dos naturalistas do
setecentos e do oitocentos mostra as camadas de tempo do planeta e se percebe que os
homens ainda não estão tão lá, essa informação traz a espessura do tempo da natureza,
ainda não conhecida (BOWLER, 1989; ROSSI, 1992).
Segundo a autora:
Neste sentido, o animismo pode ser como um tipo de epistemologia radical e a
antítese da ciência moderna - oferecendo efetivamente uma crítica à racionalidade
2
O animismo foi considerado por muito tempo e em perspectiva modernista –, uma “religião simples e uma
epistemologia falha”, segundo Nurit Bird-David (2019), mas a revisita que se propõe no novo animismo é uma
epistemologia relacional. Cf em “Animismo” revisitado: pessoa, meio ambiente e epistemologia relacional.
Tradução de Kleyton Rattes In: Debates do NER, ano 19, n. 35, p. 93-171, jan/jul, 2019. Disponível em:
https://seer.ufrgs.br/debatesdoner/article/view/95698. Acesso em 14 jul. 2021.
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ocidental, que, com sua cosmovisão mecanicista poderia ajudar a
reconceitualizar as relações entre natureza e cultura, humanos e não-humanos,
vivos e mortos, orgânico e inorgânico. (DOMANSKA, 2017, p. 101).
A novidade do olhar sobre os fósseis na Modernidade (FARIA, 2006; LUNA FILHO,
2007) e os estudos de taxonomia de Georges Cuvier (1796-1832) significaram uma mudança
no conhecimento da natureza, bem como do tempo. A partir de meados do século XVIII, o
estudo dos fósseis passou a significar uma reflexão também do tempo, visto que a
compreensão proposta por Cuvier dos ossos que analisava tinha como cerne a comparação
anatômica dos animais desaparecidos, e passava a ser intrínseca a relação da vida desses
animais com as diferentes camadas de tempo do Globo.
A verticalização do tempo como resultado da observação das camadas de sedimento
do planeta se intensificava, principalmente a partir do século XVIII. No século XVII, as
descobertas de Nicolaus Steno (1638-1686) traziam elementos da temporalidade para o
conhecimento da Terra, e suas conclusões partiram, justamente, da comparação entre as
camadas de sedimentos, desencadeando a percepção de em quais delas estariam
depositados os fósseis de animais e plantas, e em quais havia a ausência deles.
Antes do aprofundamento que se percebe a partir da segunda metade do setecentos,
pensadores se dedicavam a formular explicações acerca da existência de rochas que se
pareciam com restos petrificados de criaturas que um dia viveram.” (LUNA FILHO, 2007, p.
43). Esses materiais do mundo natural conduziram a questionamentos quanto à dinâmica
em voga na produção dessas rochas na natureza. Algumas das respostas se basearam na
ideia de que as rochas teriam se originado na solidificação, no tempo, de areia no fundo do
mar. A identificação das rochas enquanto camadas sedimentares demandava que aquelas
estruturas tivessem outrora sido submersas, o que, por sua vez, convoca um dinamismo ao
passado que teria de ter comportado fenômenos como a elevação e recuo dos mares (LUNA
FILHO, 2007). O movimento que se percebe nas formas da natureza adquire intensidade e
mostra, em igual medida, interrupções de animais e plantas, impedindo que se visse a
natureza sob a forma de constância e linearidade da vida.
Os mundos extraídos do solo, do conhecimento vindo da geologia que se forma
desse conjunto, ou do rol de suas perquirições não apresentam esquemas de tempo
comuns a todo o Globo, mas evidenciam a maior das novidades: a ausência dos personagens
humanos pelos ambientes de muitos desses animais e por muitas camadas de tempo. Essa
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realidade é impossível de ser ignorada e se transforma em um debate de longo curso, ao
atravessar mais de um século para se pensar e se determinar o(s) lugar(es) dos homens nas
camadas de tempo do planeta.
No já clássico Os sinais do tempo, Paolo Rossi sistematiza a mudança de olhar sobre a
natureza que acontece ao longo da modernidade: “era entre uma imagem da natureza como
série de formas imutáveis e como ordem de estruturas permanentes e uma imagem da
natureza como processo que se desenrola no tempo, como conjunto de estruturas
aparentemente constantes.” (ROSSI, 1992, p. 23). E quanto ao papel dos fósseis nessas duas
formas de experiência da natureza: “no primeiro caso […] são vistos como pedras e objetos
naturais mais estranhos que outras pedras e objetos naturais. No segundo, podem ser vistos
como documentos ou vestígios do passado.” (ROSSI, 1992, p. 23). A classificação das
espécies do mundo natural acompanha de perto essa característica apontada por Rossi.
Pedro E. de Luna Filho (2007), sobre o trabalho que o naturalista dinamarquês Peter W. Lund
(1801-1880) realizou na região central de Minas Gerais, destaca que a nomenclatura lineana
correspondia a um modelo de certa fixidez das categorias classificatórias que enfocava a
semelhança entre as espécies e deixava pouco espaço para a observação das diferenças,
conforme veremos mais adiante, neste artigo.
Para a história da ciência, a leitura trazida por Domanska sobre o sistema histórico de
White mostra-se instigante, principalmente quando nos voltamos para o contexto de
elaboração das coleções dos museus de ciência com os ossos dos grandes mamíferos
extintos da América do Sul. Irina Podgorny e Maria Margaret Lopes (2008) destacam que
museus de ciência na Argentina, organizados ao longo do oitocentos, compõem uma rede
formada por expoentes políticos e naturalistas das terras americanas distantes dos centros
europeus. As autoras abordam o papel que esses espaços desempenharam no contexto da
cultura da história natural; dentre eles, o de projeção de nomes, como o do cura uruguaio
Dámaso Antonio Larrañaga. Tanto os trabalhos de Peter Lund quanto os de Larrañaga são
fundamentais para a compreensão sobre quais formas de inserção de espaços não europeus
compuseram uma rede de naturalistas e intensificaram o debate sobre as espécies e seus
lugares no tempo da Terra. Essa rede alimentada pelos espaços não europeus, como o
museu argentino estudado pelas autoras, foi fundamental para que programas de
investigação ganhassem densidade, como o de G. Cuvier sobre classificação dos animais a
partir dos fósseis. As controvérsias políticas que envolveram a formação das coleções dos
61
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museus nos grandes centros europeus do oitocentos revelam em suas diversas dimensões
que esses naturalistas conquistaram ‘o direito às suas próprias observações’ (PODGORNY;
LOPES, 2008).
As formas de aparecimento desses nomes e desses espaços se deram também pelo
adensamento das contribuições tanto em relação aos fósseis quanto em relação ao uso de
sistemas de classificação das espécies vegetais e animais encontradas. O primeiro volume
dos Escritos de Don Dámaso Antonio Larrañaga (1922) contém várias menções do
naturalista a Lineu. Em algumas delas é, inclusive, possível identificar a declarada intenção
de Larrañaga de realizar o exercício classificatório segundo as determinações lineanas e
mesmo propor mudanças que estivessem de acordo com as regras de Lineu. Uma busca por
Linneo revela 21 menções ao naturalista; quando buscado Linno número de aparições
aumenta para 39 pois engloba termos como “linneano” (a), a grafia “Linnei” e abreviações
como “Linn”, feitas por Larrañaga para indicar que uma dada espécie teria sido classificada
por Lineu.
A forma de observar muda ao longo do setecentos, reordenando de várias formas
o inventário do mundo saído do chão. Lorraine Daston (2017) lembra que essa característica
é importante para a formação do fazer científico. Com a educação do olhar, e a classificação
dessas formas, o mundo ganha novos contornos, e isso podemos observar na descrição de
Campánula (LARRAÑAGA, 1922, p. 11, grifo do autor) em 27 de novembro de 1814, atribuída
a Lineu:
Hoy he visto por la primera vez la Campanula médium de Linneo, cuya flor con
otras formaban un hermoso ramo de adorno sobre una mesa, y á pesar de que
conozco ya algunas especies de este género, no dexó de sorprenderme lo grande y
hermoso de su flor. No aún el nombre provincial que se le da, que quizá será el
de Europa, p.r ser hasta ahora desconocida aquí, á lo menos en la otra Banda.
(LARRANÃGA, 1922, p. 11)
3
.
Essa intenção, declarada de guiar suas análises segundo Lineu, aparece durante uma
reflexão de Larrañaga, datada de 23 de julho de 1814, no seu Diario de Historia Natural do
primeiro volume dos Escritos [...]. Na citação, é possível observar a preocupação do
naturalista com a organização das normas lineanas quando em “Rubia” Reflexión
3
A edição dos volumes dos Escritos de Don maso Antonio Larrañaga de 1922 e 1923 pelo Instituto Histórico
y Geográfico del Uruguay mantém a grafia segundo consta nos diários e cadernos de anotação do naturalista.
62
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gramatical Ocurrencia” (LARRAÑAGA, 1922, p. 04, grifo do autor) ele aborda a recorrência
do término dos nomes botânicos em “á”, opção que ele também acaba por fazer nas suas
nomenclaturas, uma vez que essa terminação seria preferida em seu idioma e concordaria
com o sistema lineano. Além disso, com a observação, o naturalista organiza mudanças e
tensiona seu referencial teórico, construindo assim a atitude científica. A título de
exemplo, vemos a correção suscitada por Larrañaga em seu diário da classificação e
descrição do Megatherium americanum classificado por Cuvier; para ele, não parecia se
tratar de gênero desconhecido para o qual se devesse propor nova nomenclatura, e sim do
já conhecido gênero Bradypus.
Outra discordância observável em seus escritos data de 02 de março de 1815,
quando o cura nega a identificação de uma espécie animal, feita por Sonini, como sendo a
Mycteria americana de Lineu. Para o naturalista, não se trata da Mycteria americana,
tampouco da Nandapoa de Buffon. Larrañaga comenta ainda, sobre o erro que Azara teria
cometido em sua análise sobre a mesma espécie, ao informar que o bico do animal seria
apenas curvo, sem pontuar a direção, para baixo, dessa curvatura. Diante do problema,
atribui a nomenclatura Tantalus loculator à espécie e a referência a partir das classificações
de outros naturalistas das quais discorda: “Couricaca de Margraf y de Buff. Canqui de Azara
n.° 144. Mycteria americana de Linneo según Sonini.” (LARRANÃGA, 1922, p. 29).
Tensionamentos como esse inserem o naturalista na rede de produtores de conhecimento
que, no cerne da História Natural, formalizam as condições para uma análise sistemática dos
objetos da natureza.
4
O panorama até aqui traçado se limita a pensar um período de formulações, como as
que observamos anteriormente a partir de Larrañaga, que vai da segunda metade do século
XVIII até a primeira metade do século XIX, antes do abalo sísmico na história do
conhecimento sobre a história da Terra, provocado pela publicação de A origem das espécies
em 1859. A partir das provocações feitas pelo texto de Ewa Domanska, que evoca o sistema
histórico proposto por Hayden White, e o desafio de pensar novas plataformas conceituais,
sugerimos neste artigo, partir da perspectiva que a história ambiental traz, a relação do meio
4
Os naturalistas europeus Charles-Nicolas-Sigisbert Sonnini de Manoncourt (1751-1812), Georg Marggraf
(1610-1644), Georges-Louis Leclerc (conde de Buffon) (1707-1788) e Félix de Azara (1742-1821) são
frequentemente citados nos trabalhos de Larrañaga que mantém um exercício de sistematização de suas
observações à luz dos debates e produções de uma comunidade mais ampla.
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natural com os seres humanos, e articular com a documentação que os naturalistas, D. A.
Larrañaga e P.W. Lund especificamente, produziram. Com isso, pensar as possíveis
plataformas conceituais segundo E. Domanska mais abrangentes, mais inclusivas para a
história da ciência. Os diários, relatórios, memórias e tratados de Lund e Larrañaga, vistos
sob a ótica da construção de um mundo natural e que perguntam de forma constante sobre
o lugar do homem nele, trazem à história da ciência uma possibilidade de pensar de formas
mais plurais a temporalidade.
Os fósseis, o tempo e as formas de se entender o ambiente
Em uma publicação de 19 de março de 2012, no site de divulgação científica
Colecionadores de ossos (Bone Collectors), dos biólogos e paleontólogos Aline M. Ghilardi e
Tito Aureliano, Pedro Morais e Maurício Schmitt havia a notícia, que era uma descoberta e
ao mesmo tempo uma denúncia: o jornal A Folha de São Paulo trazia uma matéria sobre a
venda de um fóssil no site e-bay. Tratava-se de uma laje da Formação Irati “[...] com quatro
Mesosaurus perfeitamente preservados” (GHILARDI, 2012, s. p.). Para quem não está
familiarizado com a pré-história brasileira, o Mesosaurus esclarecem os colecionadores
era um tipo de pararéptil aquático que viveu cerca de 250 milhões de anos. A era
Paleozóica ou era Primária se estendeu de 450 a 250 ma e se divide em seis períodos. O
Mesosaurus pertence ao período Permiano (último: 299 a 251 ma), e a riqueza, segundo
Aline Ghilardi, que nessa laje da Formação Irati corresponde a uma dupla descoberta: a
viviparidade do Mesosaurus e mais uma contribuição à comprovação da teoria de Alfred L.
Wegener, meteorologista alemão, sobre a deriva continental
5
. Quanto a este animal o
Mesosaurus é possível alcançar, por meio de seu fóssil vendido no e-bay, “radicado”, em
2012, na Flórida, sua ecologia: número de filhotes, como nasciam, em síntese, como se
comportavam. A ‘Bone Colector’ Aline Ghilardi acentua: [...] os fósseis são janelas para o
passado” (GHILARDI, 2012, s. p.).
6
5
Em 1915, o meteorologista alemão Alfred Wegener publicou o livro A origem dos continentes e dos oceanos,
em que avançava a teoria da deriva continental, baseando-se na similaridade entre os fósseis encontrados nos
continentes, bem como das semelhanças geológicas entre eles, o que, por sua vez, originou a teoria do
supercontinente.
6
A notícia sobre a venda do fóssil é interessante sob vários ângulos: como exemplo da aplicação da noção de
vestígio, bem como a compreensão dos diversos ambientes passados como processos formadores do que se
chama de estrutura, e, ao fim, como os fósseis, no Brasil, a partir do DL 4146 de 1942, são patrimônio da União.
A constituição de 1988 considera os fósseis patrimônio cultural e natural do Brasil, ou, como trazia o PL sobre a
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A metáfora “janelas para o passado” usada pela paleontóloga, é mais que um ornato
para o texto, um embelezamento, mas uma ferramenta de acesso a realidades que só temos
condições de conhecer historicamente. Assim funciona a metáfora para o trabalho
historiográfico: uma ferramenta da tradução que se faz das camadas de tempo.
A movimentação das camadas da terra que revelaram seres, bem como as
escavações que ajudaram a promover cortes epistemológicos importantes, tanto na biologia
quanto na paleontologia, são aspectos importantes para a historiografia das ciências que
ombreia permanentemente com a história ambiental. Se tomarmos como ponto de contato
entre esses campos de estudo o próprio fazer científico, Lise Sedrez, em entrevista
concedida ao portal Café História de divulgação da ciência histórica
7
a natureza como
ponto de articulação entre ciência e historiografia, a propósito do objeto da história
ambiental. Tomamos essa definição da historiadora do ambiente para pensarmos as
temporalidades na história da ciência.
Maria Margaret Lopes e Alex Varela (2010) em Viagens, tremores e conchas:
aspectos da natureza da América em escritos de José Bonifácio de Andrada e Silva, José
Hipólito Unanúe e Dámaso Antonio Larrañaga destacam que esses autores, em suas
descrições, contribuíram com o conhecimento geohistórico da natureza sul-americana, e a
importância de seus trabalhos reside, entre outras coisas, na singularidade das espécies
encontradas na região como contraponto às teorias da degeneração, avançadas, sobretudo,
por Buffon. Maria Margaret Lopes (2005), a respeito do lugar específico que o conhecimento
sobre a natureza adquire nos séculos XVII e XVIII, lembra as metáforas de Francis Bacon que
via a natureza como algo a ser explorado ao extremo, para que sua verdade fosse revelada.
Nas cavernas e minas, a verdade, talvez sob a forma de segredo, deveria ser desvendada e o
conhecimento deveria ser, nesses lugares, escavado mais e mais. (LOPES, 2005, p. 03), “[...]
a humanidade poderia recuperar seu domínio perdido sobre o mundo natural”
8
. Encontra-
se, no processo de historicização da natureza, um duplo movimento: encontrar o lugar do
homem quando teria aparecido e validar esse conhecimento segundo uma construção
Proteção do patrimônio fossilífero, um “monumento natural” (Art 3o. do PL 1869/1999, em conformidade com
o artigo 216, inciso V da Constituição Federal de 1988).
7
Lise Sedrez, entrevista ao Café História, 04 jan. 2012. In: https://www.cafehistoria.com.br/historia-
ambiental/. Acesso em: 10 jul. 2021.
8
Aqui incorporamos o tema abordado por Maria Margaret Lopes em seu texto Raras petrificações: registros e
considerações sobre os fósseis na América portuguesa. In: Actas do Congresso Internacional Atlântico de Antigo
Regime: poderes e sociedades. Universidade Nova de Lisboa, 2005.
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narrativa de retomada da dominação desse homem que, singularmente, não aparece
fossilizado, apesar de G. Cuvier ser chamado em vários momentos para atestar a
possibilidade de um fóssil humano, uma tentativa de se encontrar o “homem diluviano”.
A organização de uma geohistória, portanto, para a qual marco divisório seria o
surgimento do homem, procurava estabelecer uma “cadeia ininterrupta entre a história
natural e a história civil.” (CUVIER, 1812a, p. 85 apud FARIA, 2010, p. 06). A descrição
geológica e a histórica devem, então, se confundir, provocando um sentido de linearidade.
Esse caminho em direção a um passado que une a história da natureza à história humana é
percorrido por intermédio dos vestígios do mundo natural a partir dos quais se elaboram as
interpretações acerca do processo decorrido na história terrestre. Em Larrañaga, o papel da
geologia na reconstrução de um passado para o qual faltam os vestígios históricos
necessários aparece no início do terceiro volume dos Escritos de Don Dámaso Antonio
Larrañaga (1923) quando sugere que:
En un país cuya historia se pierde poco más allá de tres siglos y en el que nuestros
padres no nos han dejado monumento ni vestigio alguno con q.e llenar este gran
vacío; parece, no nos queda otro medio que recurrir a la Geología, esta moderna
ciencia que, en tan cortos días, ha hecho descubrimientos los más brillantes sobre
los grandes acontecimientos de nuestro Globo. No hay necesidad, pues, de recurrir
a las fábulas, como lo han hecho los, mas clásicos autores, para llenar estos
tiempos obscuros: nosotros podremos entretener a n.ros lectores con más
dignidad y más provecho suyo: Bastará recurrir a la Naturaleza y consultarla: ella
nos pondrá de manifiesto ese libro tan veraz como interesante. Pero
desgraciadamente los objetos de esta ciencia se hallan n en nuestro país ocultos
y solo podemos leer el rótulo de este gran libro. Aun el hombre avaro no ha
encontrado en él indicios del objeto de sua codicia, y aun no ha desentrañado la
tierra: ésta tampoco presenta aquellas irregularidades o alturas que en otros paises
han sido tan fecundas para los Geólogos. Se advierten solamente algunas minas de
conchilla, que apenas se han escarbado en superficie, y ellas son las que fixaron mi
atención. (LARRAÑAGA, 1923, p. 07).
Até o final do século XVIII, a natureza é tomada por alguns dos principais naturalistas
como imutável e o tempo como puramente contingente, em face das relações lógicas,
necessárias, que conectam as representações numa ordem. (PIMENTA, 2018, p. 364).
Relações apreensíveis, deste modo, em um sistema fixo de classificação como aquele
elaborado por Lineu que crê na imutabilidade da natureza e sustenta que toda ela pode
entrar na sua taxonomia.” (FOUCAULT, 2002, p. 173; 222 apud LUNA FILHO, 2007, p. 43).
Pedro Paulo Pimenta (2018) chama atenção para a organização desse contexto em um
cenário que, por vezes, é entendido como explicação da passagem da História Natural para a
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Biologia, no caminho que vai de Lineu a Cuvier até a primeira metade do século XIX e se
instrumentaliza nas mudanças que as respectivas sínteses desses teóricos concentram uma
em relação a outra. Para o autor, esse olhar se afirma se forem excluídas todas as demais
teorias divergentes daquelas produzidas por esses naturalistas. Esse momento, do ponto de
vista epistemológico, comporta um hibridismo teórico que abre um horizonte de diferentes
possibilidades, dentre as quais está a síntese cuveriana, mas não como o ponto único a se
alcançar por um caminho estreito.
A ordem do mundo natural, anteriormente prevista e expressiva no sistema lineano,
seria assolada pelas rupturas sucessivas propostas na teoria de Cuvier. Esse naturalista se
insere no debate acerca da extinção das espécies quando defende, no seu primeiro trabalho
com os fósseis, apresentado como sumário em discurso de 1796 de um estudo cuja
publicação completa viria em 1798, ser possível identificar três espécies de elefantes a partir
da comparação feita “de ossadas e dentes de três espécimes de proboscídeos.” (FARIA,
2012, p. 65). Até o momento dessa conclusão, duas das espécies de elefantes analisadas por
Cuvier eram conhecidas e compunham a fauna atual: o elefante africano e o asiático. A
terceira espécie, que não havia sido encontrada na natureza, chamado mammoth pelos
siberianos, é que Cuvier entende enquanto uma espécie desaparecida a partir da análise de
seus fósseis (CUVIER; GEOFFROY, 1795, p. 90 apud FARIA, 2012, p. 65).
Assumir o desaparecimento de espécies inteiras era uma questão cara para o estudo
da natureza. As interpretações em torno do fenômeno produziram os mais diferentes
sentidos para dar conta da materialidade que ia sendo exposta com a observação
sistematizada do mundo natural. Uma vez reconhecida a origem orgânica dos fósseis e,
posteriormente, detectada a dessemelhança entre as espécies da fauna atual para os
objetos extraídos da terra, que necessitavam ter integrado um passado da história geológica,
a grande questão da causa para o desaparecimento de parte do estoque das espécies vai
ganhando contornos. Coube aos estudiosos desse momento, reclamar, ou não, uma ruptura
entre passado e presente da Terra que as evidências fossilíferas pareciam, a alguns deles,
paulatinamente denunciar. Haja dito, as prospecções movimentadas no cerne desse campo
de experiência não devem ser tomadas como se compusessem um roteiro inevitável da
elaboração epistemológica que culmina na síntese darwiniana do final do século XIX. As
possibilidades teóricas são inúmeras e se colocam com maior ou menor grau de expressão e
adesão na comunidade de naturalistas.
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A extinção, enquanto fenômeno concreto para as propostas de Cuvier, era alvo da
negação dos naturalistas adeptos ao transformismo uma vez que para esses: “as espécies
transformavam-se ao longo do tempo ao invés de serem extintas.” (FARIA, 2012, p. 66). Essa
perspectiva processual transformista era contestada por Cuvier que apelava ao papel da
anatomia comparada para que as sínteses interpretativas estivessem em consonância com a
materialidade observada. Se o transformismo fosse um fenômeno concreto, aponta Cuvier,
as formas intermediárias entre as espécies, surgidas no processo de transformação, seriam
encontradas na natureza. Veja bem, do mesmo modo, o grande contraponto posto à
determinação de Cuvier em seu estudo sobre os proboscídeos, era o argumento que sugeria
que a terceira espécie analisada e declarada extinta não houvesse sido identificada até
então, o que poderia vir a acontecer nas regiões mais remotas da Terra (FARIA, 2012). Nesse
tensionamento teórico, a geologia é chamada a prestar suporte à compreensão do processo
organizado temporalmente na natureza, por sua vez, passível de reconstrução tal qual
defendido no trecho extraído, e anteriormente exposto, do trabalho de Larrañaga.
Através da defesa do papel ímpar da anatomia comparada, da extinção como
fenômeno e sua relação com a sucessão dos estratos geológicos, Cuvier propõe o programa
de pesquisa de orientação para as massivas investigações empreendidas na primeira metade
do século XIX. De certo, conforme destaca Pimenta, nos debates que o antecedem “são
gestadas as condições conceituais para que o tempo se torne em Cuvier, o agente da
destruição da ordem natural e o palco de sua reconstituição.” (PIMENTA, 2018, p. 365, grifo
do autor). O naturalista reconhece que o limite entre cada estrato geológico teria sido
estabelecido por uma catástrofe responsável por extinguir a fauna da localidade onde se
processou. O conteúdo fossilífero retido em cada estrato corresponderia às espécies ali
viventes no momento anterior ao episódio catastrófico que, em repetição, teria dado origem
aos sucessivos estratos geológicos observáveis. A diferença entre as espécies encontradas a
cada camada resultava da fixação de fauna migrante de outro ambiente decorrido um
tempo da última catástrofe (FARIA, 2012). Essa resposta teórica de Cuvier, conhecida como
“catastrofismo”, propõe rupturas na duração do tempo geológico e reconhece uma
cronologia entre os estratos já assumida por outros naturalistas, como Nicolaus Steno (1638-
1686), um século antes: os estratos inferiores seriam mais antigos e os superiores, mais
recentes.
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As investigações de Cuvier operaram em um sentido de determinação do
pertencimento temporal das espécies segundo sua posição nos estratos geológicos, bem
como do pertencimento espacial, segundo sua distribuição biogeográfica. Mediante esta
diferenciação era necessário estabelecer em que momento terminava um período composto
pela fauna extinta e em que momento se iniciava o outro, composto pela fauna atual, e
ainda, em quais regiões e ambientes as espécies extintas e viventes poderiam, ou não, ser
encontradas de modo que todo o estoque do mundo natural fosse reunido em uma única
narrativa (FARIA, 2012).
Dentre os princípios formulados a partir do objetivo cognitivo do programa cuveriano
de pesquisa se encontra a interpretação de que a vida humana corresponderia tão somente
à última revolução organizada na superfície terrestre e, assim sendo, ossos humanos fósseis
dificilmente seriam encontrados dado seu pertencimento mais recente ao mundo natural
(FARIA, 2010, p. 02-03). Um ponto interessante a se observar sobre esse segmento da
síntese interpretativa de Cuvier é a organização do homem enquanto um elemento parcial
no processo da natureza, não como uma habitação constante nela. Buscam-se essas muitas
camadas do passado geológico nas quais o homem, segundo manda a teoria cuveriana, não
está. Esse momento parece revelar, de maneira paradoxal, a busca também pela
compreensão da existência das outras formas de vida, seus ambientes e as dinâmicas que os
envolvem fora da experiência humana.
Esse fio condutor que move o processo da história geológica à história civil em uma
categoria contínua tem, inegavelmente, o homem como marco separatório. E, no que diz
respeito ao seu surgimento na natureza, seu tempo e sua contemporaneidade com as
formas não-humanas de vida, os naturalistas buscaram elucidar a questão em suas
investigações e no desenvolvimento de aparatos técnicos que, além dos teóricos, auxiliaram
o exame das nossas próprias condições de habitação na natureza. Após a sentença de
Georges Cuvier quanto à antiguidade do homem, os naturalistas do oitocentos voltaram o
olhar e direcionaram seus esforços para a interpretação da materialidade das ossadas
humanas escavadas.
De acordo com Felipe Faria (2010), as análises químicas despontavam como suporte
importante ao estudo dos fósseis e à determinação de sua antiguidade uma vez que a
aplicação de reagentes, de natureza ácida ou alcalina, nas estruturas fossilizadas,
representava um importante procedimento indicador do tempo transcorrido no processo de
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fossilização. Essa técnica foi utilizada, segundo o autor, por naturalistas como Marcel de
Serres (1780-1862), Louis Augustin d’Hombres-Firmas (1776-1857) e Jean Jacques-Huot
(1790-1845) na análise de ossadas humanas encontradas entre 1821 e 1824 em cavernas
francesas, para as quais os naturalistas atestaram recenticidade (FARIA, 2010, p. 07). Os
objetos analisados, conforme postos diante das resoluções cuverianas, apresentam-se
enquanto material de sustentação para a teoria vigente. Uma coesão ganha forma, pelo
menos até aqui, na orientação teórica que guia a leitura da dimensão concreta da natureza
ao passo que essa última, enquanto não apresenta falhas ao referencial teórico, lhe serve de
suporte.
Ainda no trabalho de Faria (2010), o autor nos coloca diante da figura de William
Buckland (1784-1856), responsável por contribuir para o desenvolvimento da tafonomia,
que encontrou em uma caverna de Paviland, localizada ao sul do País de Gales, ossadas de
animais extintos (mamute, rinoceronte, urso-das-cavernas) associadas aos atuais carneiros
em um mesmo estrato. O catastrofismo assegurava que espécies extintas e viventes
estariam dentro dos limites impostos pela divisão estratigráfica. Estariam, portanto,
temporalmente distanciadas. Essa experiência comportada na natureza comprometia as
determinações da teoria catastrofista à medida em que se apresentava enquanto uma
anomalia. Buckland, fiel às propostas cuverianas, atribuiu aquela associação a possíveis
inundações que teriam atuado na junção do conteúdo fossilífero em um mesmo estrato
(FARIA, 2010, p. 08). Essa explicação se aproxima da formulada por Lund para suas
descobertas nas cavernas em Minas Gerais, em Maquiné. Como o próprio Lund explica em
carta a JF Emery, do Museu Imperial, em 1835:
Uma quantidade de observações demonstra que a água subiu rapidamente, mas
entretanto, deu aos animais tempo de encontrar um abrigo, e que a água ficou em
seu novo nível por um tempo bastante curto. Mas todas as observações indicam,
ou melhor, quase provam que a água se movimentou com uma violência
impressionante, e que a corrente nesse hemisfério se movimentou do norte para o
sul. As camadas soltas da superfície da Terra foram levadas pela correnteza e uma
nova superfície foi criada. Essa camada impregnada de água provocou um
extraordinário fluxo de água através de rachaduras da rocha calcárea para dentro
de grutas e causou, com isso, a conservação de documentos valiosos desse
período. A água penetrante, com conteúdo calcáreo, criou dessa forma uma crosta
de estalagmites na superfície da Terra que a água do Dilúvio havia carregado para
dentro das grutas e protegeu os ossos na terra contra o contato danoso com a
atmosfera. (HOLTEN; STERLL, 2011, p. 186).
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Conclusões semelhantes foram formuladas para a ossada humana incompleta
encontrada junto a artefatos associados à fauna extinta em estratos superficiais na mesma
caverna de Paviland. Buckland entendeu a associação segundo a dinâmica de inundações e
rituais de sepultamento dada a presença de artefatos humanos (anéis de marfim,
pederneiras) que, para ele, indicariam ainda, uma sofisticação cultural dos povos que ali
tivessem vivido. Buckland cuidou de analisar outras situações parecidas, entendendo sempre
a dinâmica de inundações e os processos artificiais de sepultamento enquanto possíveis
causas para a anomalia gerada no referencial teórico cuveriano. Sobre Ernst Friederich von
Schlotheim (1764-1832), que encontrou ossadas humanas em estrato inferior a um que
continha fauna extinta, na região de Köstritz (Saxônia), Buckland entendeu o caso em
conformidade com a ideia das inundações ao passo que Cuvier, em seu trabalho intitulado
Recherches sur les ossemens fossiles de quadrupèdes (CUVIER, 1812 apud FARIA, 2010),
recorreu ao posicionamento de Schlotheim que teria admitido a necessidade de estudos
mais aprofundados para então estabelecer afirmações acerca da antiguidade daquele
material. Ainda no Recherches [...], Cuvier analisa ossadas encontradas na ilha de Guadalupe
por Manuel Cortès y Camponès, que, apesar de incompletas, foram entendidas enquanto
material de origem humana. No entanto, por terem sido encontradas em associação com
conchas de moluscos e devido à fácil dissolução de seu material rochoso, foram
determinadas enquanto recentes (CUVIER, 1812 apud FARIA, 2010). Essas e outras
perspectivas foram sendo elaboradas conforme desvios da teoria cuveriana iam sendo
observados nos trabalhos em campo.
Peter W. Lund e Dámaso A. Larrañaga realizaram extensos inventários dos ambientes
da região ao sul da América do Sul (Larrañaga) e da região central de Minas Gerais (Lund).
Larrañaga elabora um cuidadoso levantamento das espécies da região do rio da Prata,
apresentando um ambiente. Ambos, Lund e Larrañaga, se veem às voltas com os fósseis
(Lund com os numerosos que encontrou nas cavernas de Minas) e ambos lidam com a
taxonomia de Georges Cuvier, que, desde o século XVIII ficaria identificado ao catastrofismo,
teoria que explicaria a existência das espécies e, de alguma forma, a algumas diferenças
encontradas na natureza, da diferença encontrada entre o passado e o presente. Seriam os
eventos de ruptura as catástrofes que provocariam as grandes extinções e o aparecimento
de novas espécies, explicando, dessa forma, a diferença das espécies animais e vegetais no
tempo.
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Os avanços feitos por Cuvier em termos de classificação e estudos de anatomia
colocaram os fósseis em um novo patamar nos estudos de História Natural, levando o
ambiente a um outro lugar, o de objeto histórico. Como lembra a paleontóloga Aline
Ghilardi, o objeto da ciência à qual ela se dedica é a vida antiga, os paleoambientes, os
sistemas onde se organizavam as espécies antes dos seres humanos e quando os humanos
passaram a existir. Os naturalistas, entre a segunda metade do setecentos e primeiras
décadas do oitocentos, quando olhavam para os fósseis nas cavernas e terras americanas,
traziam à tona as evidências do tempo profundo, que impactou severa e
incontornavelmente a compreensão da vida na terra e proporcionou esboços da vida, das
espécies e do lugar do homem, seu aparecimento e sua organização em ambientes que o
abrigam e, posteriormente, foram transformados por ele.
Tempos do ambiente, (nem sempre) tempos humanos
Quando se a notícia da venda do fóssil do Mesosaurus no site de compras, a
surpresa, para muitos, é sobre os registros das espécies de tempos tão recuados em solo
brasileiro. Há, contudo, registros de grandes ossadas encontradas, desde o século XVIII,
como em Prados, Minas Gerais. A descoberta foi descrita pelo naturalista Simão Pires
Sardinha (1751-1808) e o relatório data de 1785, quando, durante os anos de 1782 e 1788,
viveu na Capitania de Minas Gerais e desenvolveu estudos de história natural que, segundo
E. Pataca, enviava a Vandelli (PATACA apud FERNANDES et al., 2012). Tratava-se, segundo o
documento, de um Mastodonte (Haplomastodon waringi), animal comum na megafauna
brasileira. A descoberta se deu, segundo o relatório de Sardinha, quando, nas escavações da
lavra, as enxadas dos escravizados bateram nos ossos. A ossada descrita no documento que
hoje se encontra no Arquivo Histórico Ultramarino (AHU) não foi a única conhecida por
Sardinha, e notícias de outras, na comarca do rio das Mortes, chegaram até ele. Outra
descoberta de fósseis na década de 1780 foi feita pelo naturalista Alexandre Rodrigues
Ferreira, na região de Ibituruna, mas parecia não ser de conhecimento de Sardinha
(FERNANDES et al., 2012).
Peter Lund, em carta trocada com J. Reinhardt em 1843 na qual registra suas
descobertas e elabora o material para as memórias a serem escritas, destaca que naquele
ano, considerado por ele o seu mais produtivo, cerca de 200 cavernas teriam sido estudadas,
delas, Lund coletou não somente significativa quantidade de espécimes como também
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obteve esclarecimentos fundamentais. Não se tratava da confirmação das teorias de Cuvier,
as quais tiveram que ser abandonadas, mas das formulações de suas próprias teorias após
sete anos de estudo nas cavernas (LUNA FILHO, 2007).
Sobre o problema da sucessão das eras, das espécies e dos marcos separatórios entre
elas, Lund relata um completo obscurecimento: “Observo várias espécies extintas, como
aquelas que descobri, moverem-se por baixo dessa linha em direção do presente, e diversas
das espécies do presente moverem-se por cima dela em direção ao passado.” (LUND, 1843
apud LUNA FILHO, 2007, p. 294). Segundo Luna Filho, esse parágrafo da carta, de certa
forma, sintetiza a trajetória intelectual de Lund como naturalista: “Lund constatou sem
sombra de dúvidas que não havia nenhuma interrupção física e temporal entre as espécies
extintas e viventes.” (LUNA FILHO, 2007, p. 294). Caminha-se, a partir daí, para a dissolução
do catastrofismo e da compreensão da imutabilidade das espécies que Cuvier se propôs a
defender de maneira veemente. Luna Filho chega a concluir que Lund “aceitou a ideia da
evolução e sabe que ela acontece ao longo do tempo. não sabe ainda como ela se
processa. É a ideia da adaptação que lhe escapa…” (LUNA FILHO, 2007, p. 294-295). Mais
ainda, o “naturalista vislumbrou uma continuidade biológica através do tempo.” (LUNA
FILHO, 2007, p. 295). As cartas de Lund trazidas no trabalho de Luna Filho revelam que o
naturalista encontrou restos humanos em diversas condições que lhe informavam a
possibilidade de o homem ter presenciado o fim de pelo menos cinco espécies de
mamíferos.
O processo vivenciado por Lund de reorganização da teoria sobre os alagamentos nas
grutas e mesmo de sua formação, impacta sua adesão plena ao catastrofismo de Cuvier.
Segundo Holten e Sterll (2011), as explicações a partir das inundações começam a se
esvaziar com as evidências que as grutas de Minas Gerais apresentam. Para os autores, em
1836, quando Lund escreve o tratado Olhar sobre o mundo animal do Brasil, se o
registro de mudanças a respeito da formação das grutas e do solo da região, e não só:
desdobrando para extensões bem mais amplas. Holten e Sterll (2011) registram que Lund
acompanhava os estudos de geologia através da revista Neues Jahrbuch für Mineralogie,
Geologie und Paläontologie, que trazia notas de autoria de Charles Darwin sobre as
“medidas do levantamento na costa do Chile” e para os autores “as novas experiências”,
uma estação de escavações e um número de 59 grutas trabalhadas, provocaram mudanças
essenciais na sua explicação para a formação das grutas. Não qualquer dúvida de que
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sejam formadas por água, mas ele reconheceu que somente a água que penetra na rocha
não pode explicar o processo. (HOLTEN; STERLL, 2011, p. 186). Podemos pensar na
aproximação de Lund à reflexão sobre o tempo profundo em um movimento de
afastamento dos lugares comuns à época, como a explicação bíblica do dilúvio enquanto
fenômeno, que acompanhou as ideias teológicas de alguns naturalistas, e o catastrofismo
que também evocava inundações e embasou o trabalho de muitos outros como Lund que,
sobre esse tema, de acordo com o que se observa em sua carta a Emery:
Acredita-se, nessas grutas, estar-se perto de costas rochosas à beira do mar, e ver as
paredes de rocha nua corroídas, lixadas pelas ondas. A origem é a mesma e se é
compelido a mudar o período de criação dessas grutas para aqueles tempos, onde
ou grandes lagos terrestres cobriam todas essas, que agora são localizadas em
terreno seco, ou onde todas repousavam no colo do mar. Tanto é certo, que a
filtragem das águas através das rachaduras da pedra calcária, de longe, não é
suficiente para explicar esses fenômenos, principalmente as cavidades profundas e,
entretanto, sem saída, que são corroídas no teto. (HOLTEN; STERLL, 2011, p. 188).
Além disso, na passagem que os autores destacam o maior acolhimento, por parte de
Lund, das evidências do tempo profundo, a partir das paredes das rochas “[ ] Lund havia
chegado em suas considerações sobre a formação das grutas em uma perspectiva geológica
maior”:
De que um tal alisamento das grutas em sua superfície interna por água, que as
preencheu completamente não pode haver qualquer dúvida, pois diversas grutas
encontram-se ainda em nossos dias sob tais condições, em que elas,
periodicamente, são enchidas com água [...] Observei os mesmos fenômenos em
grutas, que, no momento, estão no seco, mas onde diversas circunstâncias me
convenceram de que, em um passado mais remoto, estiveram - periódica ou
continuamente - sob a água [...] Ademais, os tenho observado em grutas, que não
estão continuamente secas, mas onde, de resto - não considerando justamente
os fenômenos de esvaziamento - não qualquer prova definitiva de que tenham
estado sob água em tempos idos, onde, entretanto, a topografia da localidade
circunvizinha permite muito bem a suposição da existência, em tempos mais
antigos, de um lago, cuja superfície, de um lago, cuja superfície alcançava a entrada
da gruta. (HOLTEN; STERLL, 2011, p. 189).
Holten e Sterll (2011) reafirmam que Lund não era geólogo, mas a discussão sobre a
rocha calcária foi constante em suas observações das grutas; mesmo com a dificuldade de
tradução dos conceitos geológicos das primeiras décadas do oitocentos para a atualidade,
como “calcário mais antigo” e rocha primordial”, os autores concluem que o naturalista se
referia a um tempo de formação correspondente ao Cretáceo. A afirmação é insegura; os
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autores afirmam que a trajetória de Lund pelas grutas da região de Minas Gerais fez com
que desembarcasse de propostas como as avançadas por Buckland, sobre a dinâmica das
inundações, mas não houve outra que o tivesse provocado a ponto de abraçá-la. Deixou em
aberto, mas não temeu as descobertas que fez, e, no terceiro tratado Olhar sobre o mundo
animal do Brasil (1842) “somente fala em frases muito gerais sobre a destruição que engoliu
‘uma parte’ do mundo animal anterior e que, nos tratados seguintes, absolutamente não
fala nada sobre uma destruição global.” (HOLTEN; STERLL, 2011, p. 202).
Soa irônico e um tanto incrível que o sítio paleontológico situado em Lagoa Santa,
região central de Minas Gerais, tenha recebido o nome de Cuvieri, e tenha sido o lugar
onde, em seus abismos, foram encontrados ossos que tornaram possível traçar a sucessão
das faunas e o lugar dos homens em um tempo bem mais profundo que aquele previsto por
Cuvier. Uma vez que Lund se distancia do referencial catastrofista, denunciado pelos
próprios vestígios da natureza enquanto insuficiente e equivocado para a tradução dos
fenômenos naturais, abre-se um horizonte de possibilidades, não propriamente em Lund
que se ausenta desse cenário investigativo e não se dispõe diante de outra orientação
teórica, mas para a história do conhecimento sobre os processos da Terra, para a qual a
duração temporal deveria comportar a contemporaneidade de espécies que à luz do
catastrofismo estiveram separadas.
Essa contemporaneidade, que não deixava a Lund dúvidas quanto “[à] existência do
homem neste continente [...] de tempos anteriores à época em que acabaram de existir as
últimas raças de animais gigantescos, cujos restos abundam nas cavernas deste país.”
(LUND, 1954b [1844], p. 493 apud FARIA, 2012, p. 208), fornece ao fenômeno investigativo a
imagem necessária à inserção do homem na longuíssima duração do tempo profundo e na
coexistência com os demais seres e coisas que habitam o mundo. Para esse cenário que
irrompe como possibilidade no horizonte da primeira metade do século XIX, empregamos a
defesa de E. Domanska quanto à necessidade de apreensão, pela historiografia, do encontro
entre os agentes que ocupam a Terra. Esse tempo aberto como possibilidade para a história
da ciência não é tão somente humano, mas sim um tempo de associação refletido em
vestígios de um passado prático com o qual o comportamento científico se depara. A
construção do conhecimento geohistórico no sul da América do Sul sendo mobilizado no
exercício descritivo-classificatório-indagativo que articula espécies animais e vegetais,
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extintas e viventes, humanas e não-humanas no tempo e no ambiente é o ponto chave das
fontes de Larrañaga e Lund que o olhar contemporâneo aqui proposto buscou enfatizar.
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