“Agentes da boa vontade” em terras latino-americanas: o trabalho dos técnicos de
campo
O auxílio técnico prestado à América Latina sob o Ponto IV foi operacionalizado
pelo mesmo sistema empregado na região nos tempos da Segunda Guerra Mundial.
Coordenada pelo
Institute of Inter-American Affairs
, agência estatal que sucedeu o
extinto OCIAA, a assistência técnica se estruturou principalmente por meio de um
sistema chamado de
servicios
. Os
servicios
eram um arranjo de cooperação bilateral, no
qual escritórios eram estabelecidos dentro dos ministérios dos países latino-americanos
a fim de planejar e conduzir, com responsabilidade compartilhada entre os EUA e o país
receptor, projetos de auxílio técnico em áreas específicas. Desse modo, no caso da
execução de um projeto de drenagem do solo, por exemplo, era instalado um escritório
do IIAA no Ministério da Agricultura do país receptor e as atividades eram coordenadas
pelo chefe da equipe de campo enviada dos Estados Unidos – geralmente um
expert
sênior na área designada – e pelo ministro local correspondente (OUTLINE, 1952).
A equipe de campo era composta por não mais de dez técnicos, cujos salários,
despesas de viagem, acomodação e locomoção eram pagos pelo próprio IIAA. A
especialidade desses
experts
eram as mais diversas. Em um programa voltado para a
saúde, por exemplo, uma equipe de campo poderia incluir técnicos como médicos,
engenheiros, técnicos de laboratório, higienistas industriais, administradores de
hospitais, enfermeiras, educadores da saúde, gestores de negócios, mas também
secretários bilingues, encanadores, engenheiros elétricos,
experts
em perfuração e assim
por diante. Em junho de 1951, estimava-se que havia 110 técnicos do IIAA empregados só
na área da saúde em todos os países da América Latina juntos (PUBLIC, 1952).
Segundo o IIAA, o formato de auxílio dos
servicios
tinha o objetivo principal de,
com o envio de apenas alguns
experts
, difundir o uso de técnicas que os latino-
americanos pudessem aprender e ensinar posteriormente a
trainees
locais. Isto posto, ao
longo dos anos do programa, dados mostram a progressiva diminuição de técnicos
estadunidenses trabalhando nos
servicios
ao passo que o número de técnicos latino-
americanos empregados crescia. Portanto, para o IIAA, esse sistema tinha o trunfo de
tornar inevitável a cooperação diária entre oficiais, técnicos e administradores de ambos
os países. Assim, seria mais do que apenas prestar consultoria ou aconselhamento, seria
perpetuar a um custo baixo nos países receptores modos de fazer e de viver a partir da
educação, em um processo de fazer conjuntamente atividades como planejamento,
financiamento, administração e direção (THE INSTITUTE, 1949).
Por conseguinte, os agentes desse processo educativo eram idealizados como
agentes da “boa vontade” e do estreitamento dos laços entre as nações latino-