descrição desses
omnibus
com detalhamento e gracejo da lavra de Júlio César Machado,
escritor que registrou a rotina de Lisboa no século XIX:
[...] omnibus pequenos, igualmente feios, igualmente incómodos. Voltavam-se de
vez em quando, o que não deixava de ser pitoresco; iam pelas ruas cascalhando
ferragens, cadeiras que batiam, vidros soando a rachado, estalidos de
chicotadas e imprecações de estrebaria. A sua lotação era de 12 passageiros
dentro e quatro na boleia. Lisboa para se ver livre dos outros, inventara que os
cavalos tinham sarna; e, agora, destes dizia que, antes de os tomar, era
prudente fazer testamento. (BASTOS, 1952, p. 7; CASTRO, 1956, p. 8; DIAS,
2001, p. 18).
Com essas chalaças eram frequentes as reclamações sobre sua lentidão, tomando
muito tempo nos trajetos, mas não de seus atrasos, pois a pontualidade oitocentista era
muito condescente, diziam. A 17 de Outubro de 1855, o
Jornal do Comércio
lamentava que
no dia 14 passado uma viagem de Lisboa a Belém teria durado quatro horas, sendo
possível fazê-la em 53 minutos com gado melhor cuidado. Lembrou ainda que era a
carreira mais interessante, por ser a mais rentável, e que o circuito seria viável em meia
hora. Finalizava, porém, com simpatia com a companhia, lembrando
que os diretores
jamais deixaram de atender convenientemente aos rogos dos lisbonenses (DIAS, 2001, p.
17).
Sobre a receita da
Companhia de Carruagens Omnibus
, para o ano de 1858 da
carreira de Belém, Motta Capitão afirma terem sido 7.006 viagens, transportando
107.088 passageiros, com renda de 12:852$000 réis. Se, grosso modo, julgarmos 365 dias
de funcionamento, difícil certificar os dias exatos em que circulou, são cerca de vinte
viagens por dia, pouco menos de 300 passageiros/dia. Os números são bastante
divergentes com os apresentados por Vieira que traz que entre 1854 e 1858 a receita da
carreira de Belém foi de 20 contos de réis, caindo para 19,7 para o período entre 1858 e
1863 (MOTTA CAPITÃO, 1974, p. 25; VIEIRA, 1982, p. 76).
Acompanhando Vieira, podemos cotejar a receita dessa linha, a mais lucrativa,
com as demais que o autor também apresenta: para o primeiro período a carreira para o
Lumiar teve uma receita de 6,8 contos de réis; Poço do Bispo, 2,4 contos de réis e
Oeiras, 4,9 contos de réis. Apenas uma carreira lucrativa, porém, não sustentaria
empreendimento que alcançasse toda a cidade, ficando o serviço de transporte público
reduzido e limitado. Eram ainda exploradas as carreiras para Sintra e Mafra desde os
anos 1840; para Oeiras, 1851; Carnide, 1852; Loures, 1862 e Cascais, 1863 (VIEIRA, 1982,
p. 73). Ao analisarmos somente a partir dos números absolutos, falta o coeficiente de
despesas de cada linha, as mais lucrativas eram as que seguiam próximas às margens do
Tejo, em terreno plano, e as linhas que levavam aos lugares mais distantes.