MARTINS, Ygor *
https:// orcid.org/0000-0001-5782-1158
MERCIER, Valentine **
https:// orcid.org/0000-0001-9690-4554
RESUMO: O artigo propõe analisar as seleções
teóricas de clínica e prática profissional das
primeiras mulheres psiquiatras que atuaram no
Brasil, entre 1941 e 1970. Para contar essa história,
mobilizamos o
Correio da Manhã
,
Jornal do Brasil
e
Jornal do Commercio,
disponíveis na Hemeroteca
Digital. O estudo desse material possibilitou
verificar a visibilidade pública das psiquiatras, os
métodos terapêuticos que utilizavam, suas
publicações e participações tanto em eventos
científicos como políticos, o que permitiu articular
a reflexão sobre as escolhas científicas que fizeram
e suas atuações sociais na carreira e na política. A
hipótese central que perseguimos demonstrou que
as psiquiatras que se aproximaram da psicanálise
ganharam maior visibilidade científica e
notabilidade política quando comparadas às demais.
Assim, entendemos os mecanismos e estratégias
que incorporaram, se apropriaram e redelinearam
para concretizar trajetórias socioprofissionais que
se projetaram e foram, frequentemente, exitosas.
PALAVRAS-CHAVE: mulheres; psicanálise;
psiquiatria; paradigmas; jornais; carreiras.
ABSTRACT: This paper proposes to analyze the
theoretical selections of clinic and professional
practice of the first women psychiatrists who
worked in Brazil, between 1941 and 1970. To tell this
story, we mobilized the newspapers
Correio da
Manhã
,
Jornal do Brasil
, and
Jornal do Commercio,
available in the digital library
Hemeroteca Digital
.
The study of this material made it possible to verify
the psychiatrists' public visibility, the therapeutic
methods they used, their publications, and their
participation in both scientific and political events,
which made it possible to articulate reflection on
the scientific choices they made and their social
performances in their careers and in politics. The
central hypothesis we pursued demonstrated that
psychiatrists who approached psychoanalysis
gained greater scientific visibility and political
notability when compared to the others. Thus, we
understand the mechanisms and strategies that
they incorporated, appropriated, and redirected
themselves to achieve socio-professional
trajectories that were designed and often
successful.
KEYWORDS: women; psychoanalysis; psychiatry;
paradigms; newspapers; careers.
Recebido em: 12/07/2021
* Graduado em História pelo Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro/RJ. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de
Oswaldo Cruz/FIOCRUZ, Rio de Janeiro/RJ. Professor do Curso de Pré-vestibular Social Beatriz do
Nascimento. E-mail: cruzygormartins@gmail.com.
** Mestra em História pelo
Institut des Hautes Études de l’Amérique latine,
IHEAL Paris 3 Sorbonne-
Nouvelle, Paris, França. Doutoranda em história pela Université Lyon 2, vinculada ao
Laboratoire de
Recherche Historique Rhône-Alpes
(LARHRA), Lyon, França. Professora de português e civilização
brasileira no Departamento de Línguas, Université Jean Moulin Lyon 3. valentine_mercier@hotmail.com
Este é um artigo de acesso livre distribuído sob licença dos termos da Creative Commons Attribution License.
Aprovado em: 08/10/2021
Introdução
Em trabalho anterior (MARTINS; MERCIER, 2021), demonstramos
1
como a
mobilização e constituição de redes foram fundamentais para consolidação das carreiras
das primeiras mulheres psiquiatras no Brasil. Seguindo a reflexão acerca das estratégias
que acionaram a fim de ganhar reconhecimento profissional e notoriedade blica, o
presente artigo propõe estudar de que forma, além das teias constituídas, as seleções
teóricas de clínica e prática profissional seguidas por esse grupo também foram
fundamentais para que avançassem em suas carreiras. Nossa proposta, em linhas mais
amplas, está interessada em aprofundar os conhecimentos acerca dos mecanismos que
elas incorporaram, se apropriaram e redelinearam para concretizar trajetórias
socioprofissionais que se projetaram e foram, frequentemente, bem-sucedidas.
A hipótese central perseguida é a da proximidade das psiquiatras em relação à
psicanálise, ganhando maior visibilidade científica e notabilidade política, quando
comparadas às demais. Ao longo dos anos 1940 a 1970, a psicanálise se concretizou como
um campo do saber que, além de viabilizar o estabelecimento de novidades e inovações
na medicina mental praticada no Brasil até então, possibilitou a ascensão dessas
mulheres. Outras psiquiatras, ao aderirem a
paradigmas
2
(KUHN, 2018)
diferentes,
também acessaram cargos de chefia e, não raramente, concretizaram trajetórias
profissionais exitosas. Entretanto, verificamos que a influência e o impacto exercido
frente a seus grupos de atuação foram mais restritos. No Brasil, particularmente, as
mulheres tiveram centralidade ímpar para a institucionalização e o desenvolvimento da
psicanálise, como a história da médica e psicanalista Marialzira Perestrello (1916 2015)
demonstrou (ABRÃO, 2016; MOURA, 2019). Nosso artigo, ao se interessar pela análise da
trajetória de sete personagens localizadas em outras temporalidades, procurou
1
Trata-se de uma opção político-metodológica, a utilização da primeira pessoa na redação desse artigo. O
autor e autora do estudo partem da noção de que a produção das interpretações que seguirão se originou a
partir de localizações específicas, que devem ser destacadas quando possível. Nesse sentido, acreditamos
que a utilização da primeira pessoa funcionou como um bom marcador para a elucidação de nossos pontos
de vistas.
2
O conceito foi apresentado pelo historiador das ciências Thomas Kuhn na primeira edição de seu livro
A
estrutura das revoluções científicas
, em 1962. Em linhas gerais,
paradigma
diz respeito ao conjunto de
crenças, valores, teorias, técnicas e métodos compartilhados por uma comunidade que incorporou esses
aspectos por meio dos processos educacionais ao redor do campo científico em que atua. Na percepção de
Kuhn, os paradigmas funcionam como elementos que auxiliam a resolução de problemas, que é a marca do
exercício da ciência, e são eles que definem as questões e os métodos legítimos de um campo investigativo.
Acreditamos que a medida que encaramos a psiquiatria como um campo científico, é possível refletir sobre
ela a partir da percepção kuhniana, de forma que a ideia de
paradigma
nos ajudou a problematizá-la e
complexificá-la. Acrescentamos que diferentes
paradigmas
podem coexistir dentro de um período, sendo
que um tende a dominar os demais, levando seus seguidores a terem maior legitimidade dentro do campo
em questão. Aqui, é interessante notar que aquelas psiquiatras que seguiram as correntes da psicanálise se
inseriram neste
paradigma
com maior sucesso profissional do que as outras.
incorporar elementos inéditos que, adicionados a essa interpretação, contribuirão para
complexificação e problematização desse processo.
A biografia coletiva, ou prosopografia (CHARLE, 2013), ajudou a revelar a
dimensão coletiva de determinadas características que, inicialmente, pareciam
individuais. Graças ao estudo das características comuns a um grupo de atores ou
atrizes” (STONE, 1971, p. 46, tradução nossa), podemos “lançar luz sobre as mudanças
sociais e políticas que o grupo revela através de suas dinâmicas internas” (MERCIER,
2020, p. 30, tradução nossa)
3
. Isso nos interessou, pois buscamos mostrar similitudes e
diferenças entre as escolhas das psiquiatras e, deste modo, distinguir de quais formas
dinâmicas coletivas e especificidades individuais interagiram e se relacionaram com o
contexto da ciência psiquiátrica da época. O conjunto de mulheres que investigamos
iniciou o exercício da psiquiatria antes da psicanálise ser amplamente divulgada e, até
mesmo, institucionalizada. Por essa razão, pudemos observar o momento e a maneira
como este saber transformou, ou não, seus percursos.
As psiquiatras em seu tempo: considerações gerais sobre o cenário histórico em que
atuaram
Juana Mancusi de Lopes (1892/3 - ?), Nise da Silveira (1905 – 1999), Hercília Rocha
Pitta (entre 1905 e 1911 - ?), Alice Marques dos Santos (1911 1996), Eurydice de
Magalhães Borges Fortes (1911 - ?), Iracy Doyle (1911 1956) e Ursulina Penteado Bueno
(em torno de 1915 -?) nasceram entre 1892 e 1911 e se formaram entre 1917 e 1937
(MARTINS; MERCIER, 2020)
4
. Nestes primeiros momentos de formação e passos na
carreira, seguiram as correntes dominantes na psiquiatria praticada no Brasil entre os
anos 1920 e 1930. Fortemente influenciadas pelo organicismo e pelo higienismo
(FACCHINETTI; MUÑOZ, 2013), muitas vezes, essas psiquiatras se especializaram no
tratamento de mulheres e de crianças. Em comparação a este momento, quando
encerraram suas formações universitárias e iniciaram suas atividades de trabalho
(MARTINS; MERCIER, 2020), verificamos nas décadas seguintes traços de ruptura e
continuidade.
As psiquiatras em análise seguiram determinadas tendências e acompanharam
aquelas diretrizes de pensamento e prática que vinham em curso no cenário médico-
3
[No original] “éclairer les évolutions sociales et politiques dont le groupe témoigne à travers ses
dynamiques internes.”(MERCIER, 2020, p. 30).
4
Essas e outras informações referentes à biografia das personagens foram apresentadas no âmbito do
seminário
Santé et intégration au Brésil : s’approprier les politiques publiques pour exister (1920-1980)
, em
2020. Em breve, dados, interpretações e considerações às quais chegamos estarão disponíveis em artigo
publicado em revista acadêmica.
científico nacional e internacional do período. Elas inovaram seu exercício das mais
variadas formas e, desse modo, revelaram potencialidades e possibilidades criativas que
os cargos profissionais que ocuparam davam conta de estimular. Para algumas, a
ascensão na carreira, seguindo estes moldes, resultou no processamento de suas
crescentes visibilidades, ao mesmo tempo que seus destacamentos socioculturais
também alimentaram as formulações em torno de seus papeis profissionais. Esse grupo
de figuras femininas foi projetado e reconhecido em várias escalas, o que,
consequentemente, aumentou o alcance e a repercussão de seus trabalhos. Sendo assim,
entendemos que as escolhas em termos de teoria e de prática por parte delas devem ser
pensadas em articulação com as influências que receberam e tiveram a sua vez, em
diferentes níveis.
Com o fim da II Guerra Mundial, em 1945, a situação política e diplomática do
mundo ocidental reorientou e redefiniu parte considerável das dinâmicas sociopolíticas.
Foi nesse momento que os Estados Unidos passaram a influenciar de forma mais enfática
e central a clínica psiquiátrica brasileira. Essa articulação se desenhava desde meados
dos anos 1930 e, pouco a pouco, passou a incorporar o quotidiano clínico e tencionar
orientações outras que vigoravam na época. Em termos epistemológicos, de fato, a
psiquiatria nacional passou a se referenciar a partir das prerrogativas norte-americanas
(CARVALHO; MATHIAS; MARCONDES, 2017). No ano de 1954, por exemplo, o diretor do
Serviço Nacional de Doenças Mentais (SNDM)
5
viajou por oito meses para os Estados
Unidos e Canadá. O Dr. Adauto Botelho (1895-1963), como representante oficial do órgão
que dirigia, foi conhecer as instituições psiquiátricas daqueles países, visando coletar
experiências que poderiam ser úteis e implementadas nas instituições atreladas ao
SNDM (MELLONI, 2009).
Além disso, desde o princípio do século XX, a psicanálise já circulava no Brasil. A
iniciativa de médicos como Juliano Moreira (1873-1933), Antônio Austregésilo (1876-1960),
Fernandes Figueira (1863-1928), Henrique Roxo (1877-1969) foi muito importante nesse
sentido e para sua divulgação. No Rio de Janeiro, especificamente, na principal instituição
de assistência aos doentes mentais da América Latina – o Hospital Nacional de Alienados
(HNA) a utilização do saber ocorria de forma auxiliar à psiquiatria (CASTRO;
FACCHINETTI, 2015). O início de seu processo de institucionalização, efetivamente,
ocorreu ao longo da década de 1940, quando passou a contar com forte investimento
estatal para seu aprimoramento e disseminação. A partir dos anos 1950, com a
5
O Serviço Nacional de Doenças Mentais foi criado em 1941, ao mesmo tempo que outros serviços
nacionais de saúde, com o objetivo central de ampliar a assistência psiquiátrica para todas regiões do
Brasil, além de propor centralizar sua administração e coordenação (BRAGA, 2013).
psicanálise institucionalizada e, em alguma medida, consolidada no país, verificou-se sua
ampla expansão, fato que culminou na constituição de inúmeras sociedades
psicanalíticas na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo (MELLONI, 2009). Percebemos a
centralidade adquirida por esse campo do conhecimento, em especial junto a sua íntima
relação com as políticas de saúde mental implementadas durante aquela época, conforme
a documentação revelou.
O SNDM, em grande medida, foi responsável pela divulgação e ampliação da
psicanálise entre as e os psiquiatras que atuavam no Brasil. Instituído pelo decreto-lei n.
3.171 (02/04/1941) que reorganizou as diretrizes e as políticas vinculadas à saúde no país,
o Serviço, além de extinguir a Divisão de Assistência a Psicopatas e o Serviço de
Assistência a Psicopatas do Distrito Federal até então, os órgãos responsáveis pelas
políticas psiquiátricas brasileiras , tinha como atribuição central orientar as dinâmicas
de regulamentação da saúde mental no país. A atmosfera social em que sua
implementação ocorreu foi marcada pelo desenvolvimento da perspectiva psicanalítica
tanto em âmbito nacional, quanto internacional. Havia um ambiente bastante favorável
para disseminação da psicanálise. O órgão, nesse sentido, ocupou-se pela intensa
divulgação do saber e foi responsável por estimular que seus profissionais dialogassem
com aquela abordagem.
Dada essa centralidade, entendemos que o ano de criação do SNDM, 1941, é um
marcador temporal relevante para balizar o princípio de nosso estudo. Aproximadamente
trinta anos mais tarde, o decreto n. 66.623 (22/05/1970), responsável pela organização
administrativa do Ministério da Saúde, substituiu o SNDM pela Divisão Nacional de
Saúde Mental (DINSAM). Essa alteração, em virtude das modificações acarretadas,
justifica o recorte de fechamento de nosso artigo, em 1970. Percebemos que entre 1941 e
1970 uma série de fatores conjunturais repercutiram sobre os processos e
procedimentos relativos à psiquiatria no Brasil e, consequentemente, impactaram as
carreiras das psiquiatras analisadas.
Em termos político-institucionais, por exemplo, após o encerramento do Estado
Novo de Getúlio Vargas, em 1945, o país experimentou um breve período democrático
(GOMES, 2013), que se estendeu até 1964. Com o golpe civil-militar de 1964 e a crescente
escalada autoritária que culminou, em 1968, no fechamento do regime e na concretização
da ditadura civil-militar (FERREIRA; GOMES, 2014), inúmeras diretrizes no campo da
saúde foram transformadas. A grande complexidade desse recorte exigiu reflexão atenta
sobre como funcionou a articulação entre a ascensão das médicas e as possibilidades
propiciadas pelo contexto histórico específico em que atuaram. Ou seja, há determinadas
características que atravessaram parte dos anos 1940, a década de 1950 e o início de
1960 não encontradas a partir de 1964 e, mais precisamente, de 1968.
Esse conjunto de elementos constituiu o cenário principal onde as psiquiatras
analisadas estiveram. Pode-se indicar que a ambientação médico-científica que vigorou
no Brasil, entre 1941 e 1970, foi marcada pela coexistência de
paradigmas
, “modelos dos
quais brotam as tradições coerentes e específicas da pesquisa científica” (KUHN, 2018, p.
72). Ou seja, a organização da psiquiatria da época foi guiada pela interação entre
inúmeras perspectivas e abordagens e configurou, assim, um verdadeiro mosaico teórico.
Não por acaso, percebeu-se na constituição das profissionais marcas que as
aproximavam de determinadas características, ao mesmo tempo que as afastavam de
outras qualidades. Essa interação, em determinadas situações, levou ao surgimento de
paradigmas
inéditos, responsáveis pela atualização e renovação da disciplina a qual se
articularam.
Como as escolhas teóricas das psiquiatras, em termos de clínica e prática
profissional, determinaram, ou não, o lugar que ocuparam e a influência que exerceram
dentro de sua disciplina? Até que ponto esta influência dependeu, por sua vez, da
dimensão internacional das escolhas feitas? Em outras palavras, como as escolhas
teóricas, as redes internacionais e a visibilidade científica estiveram relacionadas? De
quais formas estes elementos contribuíram para uma melhor compreensão das carreiras
das primeiras psiquiatras brasileiras, ao mesmo tempo que informaram sobre as
dinâmicas internas da psiquiatria no Brasil?
A análise dos jornais ajudou a verificar como essas dinâmicas se expressaram no
dia a dia das personagens. Na medida em que nos informaram sobre suas nomeações, as
movimentações institucionais que realizaram, as práticas e os projetos que encabeçaram,
as viagens que efetuaram, foi possível notar como o estabelecimento profissional dessas
mulheres ocorreu. Os jornais são, efetivamente, documentos riquíssimos, porque
possibilitam problematizar percursos históricos. Esse material, “que cotidianamente
registra cada lance dos embates na arena do poder” (LUCA, 2012, p. 128), forneceu dados
sobre os diversos contextos que constituíram a realidade social das médicas.
Particularmente,
Correio da Man
,
Jornal do Comércio
e
Jornal do Brasil
foram os
principais periódicos consultados. Esses, na temporalidade em questão, eram veículos de
ampla circulação no Distrito Federal. Entretanto, a baixa taxa de alfabetização de parte
considerável da população brasileira no período (FERRARO, 2002) restringia a
abrangência de seus conteúdos.
Além desse material, também incorporamos outros periódicos quando julgamos
pertinente. Para tratar de temas importantes para o estudo cujas referências não
estavam ancoradas nos principais jornais do período, recorremos ao
Diário de Notícias e
A Noite
e para aqueles que tratavam de outras localidades mobilizamos o
Correio
Braziliense
e o
Correio Paulistano.
As revistas de variedades também funcionaram como
ferramenta para complementação das informações que buscamos desenvolver nesse
estudo, como foi o caso de
A Casa
. Ademais, decretos e legislações do período estudado
orientaram o entendimento das dinâmicas responsáveis pela organização da psiquiatria e
da medicina de forma mais ampla. A junção desse corpo documental permitiu estabelecer
conexões e avaliar confrontos em relação aos dados obtidos sobre as médicas.
Dessa forma, ao menos, dois grupos puderam ser distinguidos entre elas. Em
primeiro lugar, três adotaram diferentes correntes da psicanálise e gozaram de
importante notoriedade, revelada por sua presença recorrente nos jornais. Elas se
beneficiaram de certa aparição mais ampla, frequente e constante, à medida que
apareceram também em alguns trabalhos historiográficos e, até mesmo, foram objetos
centrais de determinados estudos, ainda que muitas lacunas sobre suas trajetórias
precisem ser preenchidas. Entretanto, nem todas as psiquiatras abraçaram a psicanálise,
revelando um segundo grupo com membros menos renomadas e reconhecidas
socialmente. Nesse caso, constituído por personagens que alcançaram alguma
proeminência, contudo, foram menos evidenciadas do que aquelas que pertenceram ao
primeiro.
Concretizando seus percursos profissionais: permanências, rupturas e incorporações
nas carreiras das psiquiatras
A médica Iracy Doyle se converteu à psicanálise após duas estadias nos Estados
Unidos. A primeira ocorreu na Johns Hopkins University, em Baltimore, entre 1939 e
1940. Adolf Meyer (1866 1960)
6
, um dos maiores psiquiatras estadunidenses da época
(LAMB, 2014) e fundador da escola americana de psiquiatria dinâmica (ROUDINESCO;
PLON, 1998), era professor da instituição. Entretanto, quem mais a influenciou,
provavelmente, foi Harry Stack Sullivan (1892-1949). Na mesma época, ele também
frequentava e lecionava em várias instituições psiquiátricas de Baltimore (Hospital
Sheppard Pratt, Chestnut Lodge...)
7
e foi o responsável pela fusão dos conceitos
“psicanálise” e “psicobiologia”.
6
Entre suas várias contribuições para medicina mental, desenvolveu o conceito de psicobiologia para
enfatizar as disfunções da personalidade em lugar das patologias cerebrais. Essa noção foi extremamente
relevante e impactou uma geração de seguidores de suas perspectivas. Para mais, (THE EDITORS OF
ENCYCLOPAEDIA, 2021).
7
A depender das referências, a cronologia precisa do momento em que Harry Stack Sullivan esteve em
cada instituição por onde passou mudou. Porém, sabe-se que estava na mesma cidade e era influente
Em 1943, Dr. Sullivan também fez parte da equipe fundadora do Instituto William
Alanson White (Nova York)
8
, onde ocorreu a segunda estadia de Iracy Doyle nos Estados
Unidos, entre 1946 e 1949 (PICCININI, 2010). Conforme mencionamos, nesse momento,
os Estados Unidos passaram a ter influência crescente na medicina mental brasileira, que
incorporou em sua atuação diversos aspectos dessa aproximação. Os cursos de
psiquiatria frequentados por ela nos EUA
9
utilizavam a psicanálise. Porém, defendiam
alternativas à doxa freudiana, levando em conta fatores sociais e culturais para
interpretação e tratamento das neuroses e psicoses (ROUDINESCO; PLON, 1998).
Com seu retorno ao Brasil, a influência de Iracy Doyle se desenvolveu,
principalmente, neste campo. Enquanto, no final dos anos 30 e início dos anos 40 no país
os tratamentos baseados em perspectivas organicistas eram frequentes e hegemônicos
(MUÑOZ, 2015), os anúncios que apareceram nos jornais sobre a clínica da médica,
localizada no bairro da Tijuca (próximo a região central do Rio de Janeiro), passaram a
incluir, por exemplo, a psicoterapia
10
e a psicanálise entre os tratamentos sugeridos. Em
dezembro de 1939, alguns meses depois da primeira ida de Iracy para os Estados Unidos,
apareceu a primeira ocorrência da psicoterapia e da psicanálise nos anúncios:
AMBULATÓRIO DE HYGIENE MENTAL (DO SANATORIO DA TIJUCA - RUA
JOÃO ALFREDO, 25 - PHONE: 38-1188 - Tratamento ambulatorio das doenças
nervosas e mentaes - Convulsotherapia (cardiazol endovenoso - Methodo de
Meduna) Psychotherapia e psycanalyse - tratamento racional das
psychoneuroses) depressões, angustias, medos pathologicos e obsessões).
Electricidade medica: ionização, faradização, diathermia. Massagem,
gymnastica, orthopedica e outros processos de correcção e reeducação motora.
Paralysia da creança e do adulto. Hygiene mental. Diagnostico do temperamento
e orientação profissional - Exame pre-nupcial. - Direcção dos Drs.: ARRUDA
CAMARA E IRACY DOYLE (CORREIO DA MANHÃ, dez. 1939, p. 2)
Além desse, outros dois anúncios destacaram essas terapias (CORREIO DA
MANHÃ
,
dez. 1939, p. 2 e p. 26) antes de desaparecerem. A partir de 1943, o anúncio
sobre a psicoterapia ressurgiu ao lado das terapias físicas.
quando Iracy Doyle estudou nos Estados Unidos. Para mais informações, (CHAPEROT, 2014; MINARD,
2013; PICCININI, 2010; ROUDINESCO; PLON, 1998).
8
O William Alanson White Institute foi fundado, em 1943, por Erich Fromm, Frieda Fromm-Reichmann,
Harry Stack Sullivan, David Rioch, Janet M. Rioch e Clara Thompson (ROUDINESCO; PLON, 1998).
9
Podemos notar que, entre os fundadores do William Alanson White Institute, ao menos Harry Stack
Sullivan, Frieda Fromm-Reichmann, e Clara Thompson foram ligados a Adolf Meyer e às redes da
psiquiatria de Baltimore (MINARD, 2013; ROUDINESCO; PLON, 1998).
10
A psicoterapia se trata de um método de tratamento psicológico das doenças psíquicas que utiliza
como meio terapêutico a relação entre o médico e o paciente, sob a forma de uma relação ou de uma
transferência. O hipnotismo, a sugestão, a catarse, a psicanálise e todos os métodos terapêuticos próprios
da história da psiquiatria dinâmica estão incluídos na noção de psicoterapia”, sendo que a psiquiatria
dinâmica inclui “todas as formas de tratamento psíquico que privilegiam a psicogênese e não a
organogênese das doenças da alma e dos nervos” (ROUDINESCO; PLON, 1998).
Doenças nervosas e mentais. Tratamentos modernos : Eletrochoque -
Eletropirexia. Cardiazol, Insulina, Malaria, Psicoterapia -
Sanatorio da Tijuca
-
Pavilhão separado para nervosos e para curas de repouso. DIÁRIAS DESDE
20$. RUA... [...] Direção : Dra. IRACY DOYLE e Dr. ARRUDA CAMARA
(CORREIO DA MANHÃ, jan. 1943, p.5).
nos anos 1950, imediatamente após a segunda estadia de Iracy Doyle nos
Estados Unidos, os anúncios apenas mencionavam a psicoterapia, a psicanálise, a
terapêutica ocupacional e os “tratamentos modernos”, sem indicação explícita aos
antigos tratamentos de choque que eram costumeiros no serviço da médica:
Clínica de Repouso da Tijuca - Direção técnica : Dra. Iracy Doyle, Dr. Flávio de
Souza, Dr. A. Doyle Ferreira - Psiquiatria - Psicoterapia - Psicanalise -
Terapêutica Ocupacional - Tratamentos modernos das neuroses - Máximo
conforto - Organização modelar. Rua Alves Brito, 12 - Tel. 38-1705 (CORREIO
DA MANHÃ, 1950, p. 37).
Além do mais, Dra. Iracy que por muito tempo se mostrou favorável à utilização
de eletrochoque, como apresentou em conferências e comunicações (ASSOCIAÇÕES,
1941, p. 23), e defendeu uma tese sobre a convulsoterapia, em 1942, escreveu
O
Significado do Movimento Psicanalítico
, em 1950, e
Introdução à Medicina Psicológica
,
em 1952. Seu Instituto de Medicina Psicológica, fundado em 1953, foi um dos primeiros a
formar psicanalistas no Brasil (MELLONI, 2009). Talvez o exemplo mais revelador de que
esteve aberta para incorporação de perspectivas inéditas em sua produção e prática
clínica talvez tenha sido seu livro
Contribuição ao Estudo da Homossexualidade
Feminina
11
.
Neste trabalho, a médica interpretou a sexualidade como uma forma possível de
escapar das normas de gênero, que, em sua percepção, tornavam as mulheres
empregadas de seus maridos (SILVA, 2016). Conforme percebemos, Doyle, apesar de
favorável à utilização de tratamentos vigentes no período em que atuou, como o
eletrochoque e a convulsoterapia, apropriou-se progressivamente de orientações
teóricas da psicanálise, aprimorando sua atuação clínica e viabilizaram a constituição de
um exercício específico. Cada vez mais, passou a valorizar a psicanálise frente aos
demais tratamentos e abordagens utilizadas anteriormente, constituindo-se, portanto,
como uma de suas principais defensoras e difusoras no Brasil.
Vimos como a formação de Iracy Doyle no exterior influenciou suas posturas
teóricas e como isso impactou sua atuação no Rio de Janeiro. A adoção da psicanálise
11
Inicialmente, o estudo foi escrito para que a médica concorresse em concurso à Cádetra de Psiquiatria,
do Instituto de Psiquiatria da Universidade do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ). Foi publicado postumamente, em
1956.
estadunidense lhe conferiu posição inovadora e favoreceu seu reconhecimento no Brasil,
ao mesmo tempo em que estendeu sua influência para além de suas fronteiras mais
próximas. Em memória sobre a psiquiatra, por conta de seu falecimento, em 1956,
percebemos como foi mesmo ativa para o processo de institucionalização da psicanálise
e incentivadora incansável de sua expansão na, então, capital federal. Entre outros
aspectos, Doyle foi apresentada como a "pranteada psicanalista brasileira" e o discurso
proferido pelo Dr. Henrique de Novais Filho (?-?), como representante da Sociedade
Brasileira de Psico-Técnica, expressou os méritos de sua carreira MEMÓRIA…, dez.
1956, p. 8). Quanto ao alcance internacional de sua obra, podemos notar também que foi
um psiquiatra espanhol, o Dr. Emilio Mira y Lopes (1896-1964), quem prefaciou seu livro
Introdução à Medicina Psicológica
(SILVA, 2016) e, após sua morte, uma rua recebeu seu
nome em Portugal (SOARES DE ANDRADE, nov. 1956, p. 21).
O caso de Nise da Silveira e Alice Marques dos Santos foi um pouco diferente, à
medida em que seus reconhecimentos sociais, especialmente o de Nise da Silveira, e a
própria abordagem psicanalítica seguida precederam suas estadias no exterior.
Entretanto, estas dimensões permaneceram fortemente interligadas dentro de ambas
trajetórias e a escolha de tratamentos herdados de alternativas ao organicismo
contribuiu fortemente para impactarem a disciplina. Frequentemente, Dra. Nise da
Silveira foi apresentada como a personagem que revolucionou a psiquiatria praticada,
então, no Brasil (GULLAR, 1996; MELLO, 2014). De fato, a médica foi importante nos
processos que desencadearam a atualização de algumas políticas de saúde mental
desenvolvidas no país (MAGALDI, 2018). Entretanto, como ocorreu com as demais
personagens, seu exercício conjugou elementos de atualização e conservação de
perspectivas coexistentes no cenário em que atuou e sua participação não foi isolada.
Dois anos após sua reinserção no funcionalismo público, em 1946, tornou-se
coordenadora do Setor de Terapia Ocupacional e Reabilitação (STOR) do Centro
Psiquiátrico Nacional (CPN)
12
. Dra. Nise foi mesmo indispensável para a expansão desse
campo na instituição (MAGALDI, 2018), quando passou a defender a centralidade da
expressão artística nas dinâmicas de cura e tratamento dos doentes mentais. A discussão
sobre a relação entre arte e loucura acontecia alguns anos, englobando um
conjunto de agentes. Entre eles, o próprio mentor da médica, o Dr. Austregésilo, se
interessava pela questão. Em São Paulo, desde fins dos anos 1920, o também psiquiatra
12
O CPN foi uma espécie de “herdeiro” do Hospital Nacional de Alienados, pois recebeu parte
considerável dos profissionais e dos pacientes do antigo asilo. A proposta, inicialmente, era que
funcionasse como o principal polo de produção de conhecimentos sobre a medicina mental no Brasil
aliando tratamento dos doentes com os avanços científicos do período (FACCHINETTI et al., 2010).
Dr. Osório Cesar (1895-1979) desenvolvia no Hospital do Juqueri pesquisas sobre o papel
da arte no tratamento dos loucos (LIMA; PELBART, 2007). Sendo assim, seu interesse
pelo tema não estava deslocado de um cenário mais amplo. Ao lado de outros médicos,
as perspectivas interessadas pela articulação entre arte e loucura se tornaram objeto de
interesse investigativo e mecanismo de atuação clínica da psiquiatra.
Contrariando interpretações memorialísticas que conferiram à Dra. Nise o papel
de heroína recusando-se a mobilizar parte dos tratamentos disponíveis em seu período
de atuação por considerá-los agressivos, violento e/ou invasivos, é fundamental delineá-
la como alguém integrante de conjunto mais abrangente. Dentro de seu tempo,
estabeleceu novos contornos para as dinâmicas epistemológicas da clínica psiquiátrica. É
imprescindível problematizar e desconstruir a narrativa, em grande medida, romantizada
formada ao redor da médica, que, ao delineá-la como um ser proeminente na psiquiatria
brasileira, silenciou outras histórias. Efetivamente, para concretizar suas inovações, Dra.
Nise contou com auxílio de diversos agentes, conforme tratamos anteriormente. Eles,
além de estruturarem, fizeram com que essas práticas avançassem como a relação
com o, então, diretor do CPN, o Dr. Paulo Elejalde (1901-1959), que viabilizou a criação do
ateliê de atividades expressivas no STOR (MAGALDI, 2018), em 1946.
Nessa mesma linha, Alice Marques dos Santos também foi central. Lado a lado
com Nise da Silveira, passou a dialogar intimamente com as teorias junguianas
(MAGALDI, 2020). Dra. Alice esteve atrelada a muitos projetos inéditos que, em geral,
foram encabeçados por Dra. Nise. A formação do Grupo de Estudos C. G. Jung, em 1955,
e da Casa das Palmeiras, no ano posterior, por exemplo, expressaram isso. Além de
revelarem a parceria profissional nutrida e a amizade particular construída. Percebemos,
portanto, como os diálogos estabelecidos com o movimento mais amplo de expansão e
atualização da psicanálise foi fundamental para que inovassem e se projetassem
socialmente em suas carreiras. Particularmente, a vinculação com as abordagens
propostas por Carl Gustav Jung (1875-1961) que, naquele contexto histórico específico,
estavam sendo modeladas e consolidadas internacionalmente. Não por acaso, em 1960,
Dra. Alice se licenciou de suas funções públicas no Brasil, a fim de realizar estágio de
aperfeiçoamento no Instituto Jung (DESPACHOS…
,
jun. 1960, p. 2) e, em época próxima,
ambas iniciaram seus processos de análise com uma das principais discípulas do analista
suíço, Marie Louise von Franz (1915-1998) (CÂMARA, 2004).
No Brasil, o reconhecimento socioprofissional de ambas ocorreu antes da
internacionalização de suas carreiras. Enquanto Nise da Silveira ofereceu inúmeros
cursos de terapia ocupacional organizados pela Associação Brasileira de Educação e pelo
SNDM (CURSOS…
,
ag. 1961, p. 16), Dra. Alice foi nomeada, em 1952, pelo, então, Ministro
da Educação e Saúde para "exercer a função de professor de diferentes matérias nos
cursos do Departamento Nacional de Saúde" (NOVOS…, jul. 1952, p. 30). Esses dados
possibilitaram afirmar as trajetórias exitosas que, apesar dos desafios próprios do
desenvolvimento médico-científico e das relações assimétricas de gênero (SCOTT, 1995)
que organizavam o campo, construíram dentro de suas atuações. Na década de 1950,
portanto, eram nacionalmente reconhecidas entre os psiquiatras que atuavam no país
e gozavam de grande prestígio entre seus pares.
A participação de Dra. Nise como integrante oficial da delegação brasileira que foi
para o II Congresso Internacional de Psiquiatria, na cidade de Zurique (Suíça), em 1957,
também revelou essa dimensão. Acreditamos que Dra. Alice também esteve nessa
viagem, que na mesma época sua estadia na Europa é conhecida (MELLO, 2014). Se
não como delegada, evidências apontam a sua possível participação em algumas
atividades no âmbito daquele encontro de importância significativa para a comunidade
médico-psiquiatra do período. Na ocasião, a passagem das personagens pelo Instituto
Jung, em que frequentaram cursos e seguiram suas análises pessoais, tornou seus
trabalhos visíveis para psiquiatras, ao menos, da Europa. Esse fato, certamente,
contribuiu para o enriquecimento da projeção que possuíam nacionalmente e
concretizou o processo de internacionalização das médicas.
Em troca, é possível mencionar ainda o interesse de Carl Jung pelo trabalho dos
pacientes que passavam pelo ateliê de pintura do STOR do CPN coordenado por Dra.
Nise que, em muitos casos, eram encaminhados por recomendação clínico-terapêutica
de Dra. Alice. A questão renovou o entusiasmo despertado por elas que elas despertaram
sobre a psiquiatria no Brasil e apontou para as dinâmicas de trocas científicas
estabelecidas a partir dessa circulação de interesses e saberes encontrados que
encontravam, em geral, na psicanálise e, em particular, na psicologia junguiana sua
fundamentação. Fato foi que o estabelecimento dessas trocas foi fundamental para o
aprimoramento das práticas desenvolvidas por elas em suas atuações. A repercussão de
vários aspectos incorporados apareceu nos contextos institucionais específicos por onde
passaram.
Na Casa das Palmeiras, definida como um “pequeno território livre (SILVEIRA,
1986), mediador da relação entre os doentes mentais, o hospital psiquiátrico e a rua,
Alice Marques dos Santos ocupou várias funções diretivas, concretizando-se,
geralmente, como articuladora política dos anseios e necessidades da instituição.
Caracterizada como essencial para o desenvolvimento do espaço (MELO, 2011), em 1960,
tonou-se sua vice-presidente (NOTAS…
,
fev. 1960, p.16
).
Em sua carreira pública, na
mesma época, passou a cumprir funções de gerência e comando. Precisamente, em 28 de
junho de 1968, concretizou-se como a primeira mulher a dirigir um hospital psiquiátrico
na América Latina, quando assumiu a direção do Hospital Odilon Galotti, que integrava o
CPN (NOTAS…, jun. 1964, p. 32). Como se verificou, o processo de atualização das linhas
teóricas apropriada pela médica acompanhou sua ascensão profissional. A médica
estabeleceu sua projeção e reconhecimento e conseguiu desencadear uma série de
articulações políticas viáveis à execução das novas concepções de pensamento e prática
na psiquiatria que seguiu.
Especialmente no caso de Nise da Silveira, sua influência científica foi tão intensa
que extravasou os limites estabelecidos para o desenvolvimento da medicina e alcançou
o terreno da política. Em 1961 o, então, Presidente da República, Jânio Quadros (1917-
1992), recomendou ao Ministro da Saúde "ajudar, no que fôr possível, o Serviço de
Terapêutica Ocupacional da doutora Nise da Silveira" (BILHETES..., 1961, p.4). Defendeu a
expansão da terapia ocupacional e "determinou, finalmente, que o titular da pasta da
Saúde convoque ao gabinete presidencial a doutora Nise Silveira, e que a mesma traga,
na oportunidade, plano de trabalho para o exercício e de ampliação, para o futuro"
(BILHETES..., maio 1961, p.4). Como se verificou, a médica foi convocada para organizar
as pautas relativas à saúde mental no âmbito político-institucional do período, fato
possível somente graças ao reconhecimento social que angariou ao longo de sua carreira.
Este primeiro grupo de psiquiatras revelou, em grande medida, a importância da
escolha da psicanálise e de sua dimensão internacional, para o avanço das carreiras,
independente da corrente específica adotada por elas. Outras psiquiatras, como veremos
agora, fizeram escolhas diferentes, mesmo que a psicanálise nem sempre tenha sido
totalmente ausente de suas atuações. Estas escolhas revelaram a dinâmica interna da
psiquiatria brasileira na época, ao mesmo tempo que desempenharam um papel
importante no desenvolvimento das carreiras das psiquiatras envolvidas em seu
processamento.
Em linhas gerais, Dra. Juana se comprometeu, profundamente, com orientações
teóricas advindas do higienismo. É perceptível como ao longo da trajetória o tema do
alcoolismo foi central para ela, endossando os encaminhamentos oferecidos a seus
pacientes em sua prática e assinalando os interesses que perseguiram seus interesses
intelectuais. Sua posição, por exemplo, como presidente da União Brasileira Pró-
Temperança
13
(ENCERRADA…, nov. 1954, p. 10) e seu próprio discurso combativo que
13
Ramificação da
World’s Women’s Christian Temperance Union
, foi uma organização criada em 1925,
integrada apenas por mulheres que se dedicavam à luta contra o alcoolismo no Brasil (GARCIA; LEAL;
ABREU, 2008).
encontrava no consumo alcoólico “consequências desastrosas (...) como o aumento do
índice de criminalidade” (SEMANA…, out. 1966, p. 9) demonstraram isso.
Na carreira da psiquiatra, apresentou-se certo lastro advindo de décadas
anteriores, particularmente dos anos 1920 e 1930, em que a noção “redimir o país seria
saneá-lo, higienizá-lo” (FACCHINETTI; MUÑOZ, 2013, p. 243) era essencial. Aliás, foi
neste campo em que Juana Mancusi mais exerceu influência. Na ocasião da Semana Anti-
alcoólica, evento ocorrido anualmente em outubro, muitas vezes, fazia intervenções por
meio de palestras ou na rádio
14
. Foi também para discorrer sobre o mesmo assunto que
compareceu à Escola de Enfermeiras , à Cruz Vermelha
15
(SEMANA…, out. 1942, p. 7) e
ao Instituto de Educação, onde “futuras professoras ouviram uma preleção antialcoólica”
(FUTURAS, out. 1958, p.6).
Enquanto presidente da União Brasileira Pró-Temperança, representou o Brasil
durante vários congressos internacionais da entidade, na Alemanha, Uruguai, México,
Índia, Suíça e Estados Unidos (SEMANA…, dez. 1971, p. 5). Isso conferiu certa visibilidade
internacional a ela, no contexto particular dessa luta. A psicanálise, em franca expansão
no Distrito Federal durante os anos 1950 e 1960, não deixou de influenciar a atuação da
médica. Utilizou a hipnose como método terapêutico para recuperação de alcoólatras e,
em 01 de abril de 1964, participou de uma mesa sobre o tema, Tratamento do alcoolismo
pela hipnose”, na Sociedade Brasileira de Hipnose Médica (NOTAS…, abr. 1964, p. 18).
Porém, o lugar da psicanálise apareceu como marginal nas fontes sobre esta psiquiatra,
cuja notoriedade se limitou às fronteiras da luta anti-alcoólica, manifestado por meio de
eventos anuais. Nesse sentido, não podemos afirmar com certeza que Juana Mancusi
tenha se apropriado plenamente das novas formas de tratamento e das novas propostas
teóricas que apareceram ou se desenvolveram na década de 1940 no Brasil.
Pelo contrário, Dra. Ursulina Penteado Bueno, em São Paulo, inscreveu-se no
movimento de renovação da abordagem clínica oferecida aos pacientes portadores de
doenças mentais no país, nos anos 1940. Além do desenvolvimento da psicanálise
(FACCHINETTI, 2018), observou-se a utilização de novos medicamentos (RUSSO;
VENANCIO, 2006) e a realização de procedimentos cirúrgicos inéditos (TOLEDO, 2019)
na cena médica montada. Certos aspectos da carreira de Dra. Ursulina informaram sobre
como essas novidades circulavam, de forma geral, no território brasileiro e,
particularmente, no Sudeste do país.
14
Exemplos destas intervenções aparecem nos seguintes artigos : INICIA-SE…, out. 1943, p.35 ; UMA
SUGESTÃO…, dez. 1949, p. 5 ; MÉDICA…, out. 1966, p.18.
15
Exemplos destas palestras aparecem nos seguintes artigos : SEMANA…, out. 1940, p, 3 ; SEMANA…, out.
1942, p. 7.
Em notícia sobre a clínica a qual dirigia e era proprietária, verificamos alguns
procedimentos terapêuticos que eram acionados. A hidroterapia, a eletroterapia e a
mecanoterapia (UM GESTO…, out. 1942, p. 7) eram alguns dos métodos que, em
consonância com o momento em que estavam, eram incorporados pela abordagem
proposta pela clínica da médica. Se estes métodos eram utilizados a partir da Primeira
Guerra Mundial, e introduzidos no Brasil durante os anos 1920, desenvolveram-se
amplamente após a Segunda Guerra. Entendemos que o conflito incentivou o processo
de reconhecimento da eficácia daquelas terapêuticas. Assim, Dra. Ursulina Penteado
Bueno teve impacto importante na disciplina psiquiátrica neste sentido, apesar de não
ter se aproximado da psicanálise. Porém, não notamos tantas notícias e reportagens
sobre ela quanto sobre Iracy Doyle, Nise da Silveira e Alice Marques dos Santos e,
contrariamente a estas, seu nome era completamente desconhecido até nossa pesquisa.
Os anos 1960, particularmente, foram muito significativos para carreira de Dra.
Eurydice de Magalhães Borges Fortes. Da mesma forma que para Ursulina Penteado
Bueno, ela ganhou importância na disciplina, porém, sua visibilidade pública posterior
também foi restrita. Conforme demonstramos em apresentação anterior (MARTINS;
MERCIER, 2020), a atuação em consultórios especializados em mulheres e/ou crianças
foi uma estratégia acionada pelas psiquiatras ao longo de 1920 e 1940. Até o momento,
não encontramos evidências que atestassem a atuação de Dra. Eurydice em consultório
particular naquela época. Contudo, a partir de 1967, verificamos anúncios que
informavam sobre sua clínica privada, voltada para “doenças do sistema nervoso” dessas
audiências específicas (DRA. EURYDICE..., set. 1967, p.31).
Falta investigar as condições as quais levaram a médica a trabalhar nesse
consultório, ou se nas décadas anteriores clinicava nele. Sabe-se, porém, que nesse
período já tinha sua carreira consolidada entre pares e importante reconhecimento
socioprofissional. Consultar-se, portanto, com Dra. Eurydice poderia ser elemento de
distinção socioeconômica dos públicos que conseguiam pagar por aquele atendimento.
De toda forma, esse aspecto foi um lastro de períodos anteriores que a perseguiu.
Quanto à inovação em sua carreira, em 1962, tornou-se especialista em “Planejamento,
organização e administração de hospitais” pela Escola Médica de Pós-Graduação da
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (U. CATÓLICA..., dez. 1962, p. 8) . A
opção pela especialização em gestão hospitalar pôde sugerir, assim, que a psiquiatra
estava atenta às necessidades de aprimorar sua formação acadêmica e intelectual para
ocupar futuros cargos de coordenação e direção que pudesse vir a desempenhar.
Finalmente, os dados sobre a doutora Hercília Rocha Pitta são muito escassos, já
nos anos 1930 e, especialmente, a partir da década de 1940. Sabemos que, além do
trabalho desenvolvido na Clínica de Botafogo, em 1943 (DECRETOS…, fev. 1943, p.8), foi
nomeada para a Pasta da Fazenda do governo federal e se especializou em Medicina do
Trabalho (ELAS PROMETEM…, 1947, p. 79). Notamos, então, que continuou a se formar e
a adicionar competências em seu currículo. Se vinculamos isso ao seu pertencimento ao
Partido Trabalhista Brasileiro (PTB)
16
, podemos supor que o fato esteve atrelado a certa
ambição política dela.
Porém, além da projeção proporcionada por sua candidatura a vereadora na
cidade do Rio de Janeiro em 1947, estas escolhas não trouxeram muita visibilidade pública
ou científica e não sabemos em que medida foram inovadoras em termos de teoria e
prática clínica. É possível, inclusive, cruzar essas informações à condição racial da
médica (BIROLI; MIGUEL, 2015). Entre as sete personagens estudadas, Dra. Hercília era
a única negra e, certamente, problematizar esse aspecto também é indispensável para
pensar sua constituição socioprofissional e destacar seus êxitos e falhas. Para
complexificar essa interpretação, é necessário localizar novas fontes que permitam
avaliar como diferentes marcadores sociais projetaram o desenvolvimento de sua
carreira.
Considerações finais
Como se percebe, um conjunto de problemas que ainda pretendemos
investigar diante desse universo temático. Verificamos, assim, como os jornais
funcionaram como uma fonte indispensável para elaboração de reflexões sobre a história
da medicina psiquiátrica em seu cruzamento com a história das mulheres no Brasil e as
discussões sobre gênero e profissionalização na ciência. O processo de ascensão
profissional daquelas definidas como a primeira geração de psiquiatras foi marcado por
toda sorte de dificuldades, mas, ao organizarem estratégias específicas, consolidaram
suas atuações e se tornaram exitosas no campo da medicina mental. Notamos que, nessa
direção, a apropriação da psicanálise e de suas variações foi uma ferramenta
imprescindível para essas realizações.
Os dados disponíveis nos jornais sobre as carreiras das psiquiatras sugeriram a
complexidade que marcou os anos 1940, 1950 e 1960 em relação à coexistência de
diferentes
paradigmas
. Como se observou, apresentaram elementos em sua prática
responsáveis por revelar a capacidade da ciência psiquiátrica se renovar, de acordo com
16
Partido político de âmbito nacional fundado no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, no dia 15 de maio
de 1945, e extinto em outubro de 1965 em decorrência da aplicação do Ato Institucional 2. Fundado sob
impulso de Getúlio Vargas, para conter o comunismo e competir com o Partido Social Democrático, teve
como objetivo atrair camadas populares, principalmente nos grandes centros urbanos, mobilizadas pela
obra social e trabalhista do Estado Novo, e também pela imagem pública de Vargas.” (FERREIRA, [s.d.]).
os contextos sócio-políticos em que está inserida. Ao mesmo tempo que expressaram
marcas de atualização, em muitas situações, conservaram resquícios de momentos
anteriores. A questão é interessante, pois problematiza os direcionamentos e os
contornos sociais que o grupo seguiu e demonstra como a ciência é desenvolvida por
meio da interação entre diferentes
paradigmas
. Nesse caso, o avanço de suas carreiras
chegando a cargos de chefia e direção demonstraram como essa coexistência foi uma
marca nas trajetórias profissionais dessas mulheres.
Todas as psiquiatras estudadas se inseriram, de alguma forma, em diretrizes
específicas que organizaram as dinâmicas da psiquiatria. Porém, também percebemos
que aquelas que optaram pelo
paradigma
mais movimentado, controverso e também
vigoroso, em plena expansão, inclusive com apoio significativo por parte do SNDM
(MELLONI, 2009), ganharam mais visibilidade, notoriedade e influência, até em escala
internacional. Não optar pela psicanálise não significou falta de inovação, carreiras
improdutivas ou ausência de reconhecimento. Entretanto, abraçá-la, independentemente
das diferentes correntes que a caracterizam, proporcionou, com certeza, um espaço
maior para as psiquiatras e para seu sucesso.
Uma lacuna evidenciada diz respeito à relação entre as médicas e seus pacientes.
Acreditamos ser indispensável investigar como funcionou essa articulação, tanto nos
consultórios quanto nos hospitais e clínicas onde atuaram. Certamente, confrontar
prontuários clínicos será central para entender como foi na prática a atuação clínica
dessas personagens. Qual entendimento de saúde e adoecimento incorporaram, diante
dos
paradigmas
que seguiram, para definir e categorizar as categorias nosológicas que
mobilizaram? É possível relacionar as opções de clínica e tratamento com seus êxitos
profissionais? Um repertório temático rico se abriu e, de certo, adentrar esses temas
trará contribuições que concorrerão para o aprimoramento do entendimento das
dinâmicas que estamos analisando.
Outros motivos podem auxiliar no entendimento sobre a diferença de projeção
entre elas. O fato de existir mais reportagens e notícias sobre algumas do que outras
pode ter dissimulado aspectos importantes das carreiras de Eurydice, Hercília, Juana e
Ursulina, e pode resultar de processos ligados às redes desenvolvidas por cada uma.
Porém, o fato das mais conhecidas serem as mesmas que aderiram à psicanálise, não nos
parece mera coincidência. Trata-se, sim, de uma hipótese para ser aprofundada
futuramente. Para isso, será preciso explorar as razões desse fenômeno. Por exemplo, as
características intrínsecas da psicanálise, além do apoio material do qual beneficiou,
como também o impacto que teve dentro da disciplina psiquiátrica com relação ao
tratamento clínico e teórico das mulheres.
Nosso artigo demonstrou a profundidade das dinâmicas que estruturaram o
processo de ascensão profissional das primeiras psiquiatras que atuaram no Brasil, a
partir do início do século XX. À medida que amadureceram, suas carreiras foram
ganhando contornos diversos e suas atuações visibilidades distintas. Observamos como
alcançar postos de chefia e de comando fez parte da realidade dessas personagens, de
forma que os atingir foi expressão de processamentos sociais e culturais mais amplos
comum, em alguma medida, a todas elas.
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