Dr. Osório Cesar (1895-1979) desenvolvia no Hospital do Juqueri pesquisas sobre o papel
da arte no tratamento dos loucos (LIMA; PELBART, 2007). Sendo assim, seu interesse
pelo tema não estava deslocado de um cenário mais amplo. Ao lado de outros médicos,
as perspectivas interessadas pela articulação entre arte e loucura se tornaram objeto de
interesse investigativo e mecanismo de atuação clínica da psiquiatra.
Contrariando interpretações memorialísticas que conferiram à Dra. Nise o papel
de heroína recusando-se a mobilizar parte dos tratamentos disponíveis em seu período
de atuação por considerá-los agressivos, violento e/ou invasivos, é fundamental delineá-
la como alguém integrante de conjunto mais abrangente. Dentro de seu tempo,
estabeleceu novos contornos para as dinâmicas epistemológicas da clínica psiquiátrica. É
imprescindível problematizar e desconstruir a narrativa, em grande medida, romantizada
formada ao redor da médica, que, ao delineá-la como um ser proeminente na psiquiatria
brasileira, silenciou outras histórias. Efetivamente, para concretizar suas inovações, Dra.
Nise contou com auxílio de diversos agentes, conforme tratamos anteriormente. Eles,
além de estruturarem, fizeram com que essas práticas avançassem – como a relação
com o, então, diretor do CPN, o Dr. Paulo Elejalde (1901-1959), que viabilizou a criação do
ateliê de atividades expressivas no STOR (MAGALDI, 2018), em 1946.
Nessa mesma linha, Alice Marques dos Santos também foi central. Lado a lado
com Nise da Silveira, passou a dialogar intimamente com as teorias junguianas
(MAGALDI, 2020). Dra. Alice esteve atrelada a muitos projetos inéditos que, em geral,
foram encabeçados por Dra. Nise. A formação do Grupo de Estudos C. G. Jung, em 1955,
e da Casa das Palmeiras, no ano posterior, por exemplo, expressaram isso. Além de
revelarem a parceria profissional nutrida e a amizade particular construída. Percebemos,
portanto, como os diálogos estabelecidos com o movimento mais amplo de expansão e
atualização da psicanálise foi fundamental para que inovassem e se projetassem
socialmente em suas carreiras. Particularmente, a vinculação com as abordagens
propostas por Carl Gustav Jung (1875-1961) que, naquele contexto histórico específico,
estavam sendo modeladas e consolidadas internacionalmente. Não por acaso, em 1960,
Dra. Alice se licenciou de suas funções públicas no Brasil, a fim de realizar estágio de
aperfeiçoamento no Instituto Jung (DESPACHOS…
,
jun. 1960, p. 2) e, em época próxima,
ambas iniciaram seus processos de análise com uma das principais discípulas do analista
suíço, Marie Louise von Franz (1915-1998) (CÂMARA, 2004).
No Brasil, o reconhecimento socioprofissional de ambas ocorreu antes da
internacionalização de suas carreiras. Enquanto Nise da Silveira ofereceu inúmeros
cursos de terapia ocupacional organizados pela Associação Brasileira de Educação e pelo
SNDM (CURSOS…
,
ag. 1961, p. 16), Dra. Alice foi nomeada, em 1952, pelo, então, Ministro