MELO, Victoria Regina Borges Tavares
*
https://orcid.org/0000-0003-1708-213X
RESUMO: A medicina japonesa desenvolveu-se ao
longo de séculos diferenciando suas características,
porém mantendo sua base associada com a medicina
chinesa e ocidental. Ao longo desse período foram
internalizadas e adaptadas para se adequar as
necessidades da população e as demandas sociais.
Este estudo introdutório centra-se em apresentar
apontamentos sobre a medicina japonesa, com o
objetivo de identificar as influências de Yû Fujikawa
e Tôyô Yamawaki1 e suas obras na construção da
História da medicina japonesa, e como a China e a
Holanda influenciaram os estudos médicos no Japão.
Para isso, utilizaremos como metodologia, a
pesquisa bibliográfica, partindo de fontes primárias
e secundárias, de materiais da época e estudos sobre
as obras e autores dos períodos pesquisados.
Evidenciou-se que as práticas chinesas que
chegaram ao Japão possibilitaram o
desenvolvimento de novos estudos médicos, mais
tarde se associando com a Medicina Ocidental e
agregando novos estudos na área da anatomia.
Enquanto Fujikawa desenvolveu estudos que
contribuíram para a História da Medicina Japonesa,
sendo bastante relevantes mesmo que pouco
conhecido fora do Japão.
PALAVRAS-CHAVE: História da medicina
japonesa; Rampo; Kampo; Tôyô Yamawaki;
Fujikawa.
ABSTRACT: Japanese medicine has developed over
centuries differentiating its characteristics, but
maintaining its base associated with Chinese and
Western medicine. During this period, the
population's needs and social demands were
internalized and adapted. This introductory study
focuses on presenting notes on Japanese medicine,
with the aim of identifying the influences of
Fujikawa and Tôyô Yamawaki and their works in the
construction of the history of Japanese medicine,
and how China and the Netherlands influenced
medical studies in Japan. For that, we will use as a
methodology, the bibliographical research, starting
from primary and secondary sources, from
materials of the time and studies on the works and
authors of the researched periods. It was evidenced
through the research that the Chinese practices that
arrived in Japan enabled the development of new
medical studies, later associating with Western
Medicine, adding new studies in the area of
anatomy. While Fujikawa developed studies that
contributed to the History of Japanese Medicine,
being quite relevant even if little known outside
Japan.
KEYWORDS: History of japanese medicine; Rampo;
Kampo; Tôyô Yamawaki; Yû Fujikawa
Recebido em: 11/07/2021
Aprovado em: 09/10/2021
*
Pedagoga pelo ISERJ, Rio de Janeiro RJ, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Química
Biológica, área de concentração Educação, Difusão e Gestão em Biociências do IBqM/UFRJ, Rio de Janeiro
RJ. E-mail: victoriaborges.melo@gmail.com.
1
Para a romanização de nomes e termos em japonês foi utilizado o Sistema
Kunei
.
Este é um artigo de acesso livre distribuído sob licença dos termos da Creative Commons Attribution License.
Mudanças marcantes
A medicina japonesa tem suas origens nos estudos médicos desenvolvidos na China
e no ocidente, que foram introduzidos no Japão através das trocas comerciais e culturais
com estes países. Os japoneses passaram a incorporar diversos aspectos da medicina
chinesa e oriental, englobando os novos conhecimentos aos vigentes relacionados aos
métodos de cuidados e a saúde. “Este desenvolvimento resultou na gênese do sistema
médico japonês que, portanto, não pode ser chamado de chinês nem ocidental” (HIWAT,
2016, p. 1, tradução nossa)
2
.
Questões relacionadas à medicina e às práticas de cuidado no Japão começam a
surgir com os ensinamentos passados oralmente, e alguns escritos que sobreviveram
foram estudados por Fujikawa. Dentre a literatura existente antes do século V,
encontraram-se menções de Deuses, e seu poder de cura ou de criação de doenças
associados a espíritos malignos (HIWAT, 2016). “De acordo com Fujikawa, essa literatura
antiga até mesmo nos diz que o álcool era usado como uma ferramenta importante na área
de saúde”. (Fujikawa, 1911, pp. 1-3
apud
HIWAT, 2016, p. 4, tradução nossa)
3
.
No século V, começaram as trocas entre os Reinos Coreanos e o Japão, tanto troca
de conhecimentos científicos como tecnologias, havendo inclusive a ida de médicos
coreanos para o Japão. No século VI ocorreu o começo da jornada médica japonesa,
durante o reinado de
Kinmei
4
(540-571). Neste período houve a entrada da doutrina budista
no Japão (ZOFFOLI, s. d.). Foi na mesma época da penetração da doutrina budista que os
japoneses tiveram contato com a literatura médica chinesa, a qual mudaria suas práticas
até a chegada da medicina ocidental entre os séculos XVII e XIX.
5
Os estudos médicos de origem chinesa iniciaram-se em 562, sendo uma ordem de
Kinmei
aos homens de
Paekche
6
para que aprendessem medicina com o objetivo de
difundir os conhecimentos adquiridos para os japoneses (KLEINE, 2015). Sendo à razão
pela qual o aprendizado da medicina chinesa pelos japoneses é atribuído inicialmente aos
2
[No original] This development resulted in the genesis of the Japanese medical system which therefore
can neither be called Chinese nor Western.” (HIWAT, 2016, p. 1).
3
[No original] According to Fujikawa, this ancient literature even tells us that alcohol was used as an
important tool in health care.” (Fujikawa, 1911, p 1-3 apud HIWAT, 2016, p. 4).
4
29° imperador japonês, que governou de 540 a 571.
5
Artigos como
Modern Japanese medical history and the European
influence (2001) destacam que a entrada
da medicina ocidental aconteceu desde a chegada de padres portugueses por volta do século XVII, enquanto,
Les germes du stimulus-diffusion au Japon (s.d.)
datam o desenvolvimento da medicina ocidental a partir de
XVIII/XIX.
6
Reino ao sudoeste da Península Coreana.
coreanos
7
. Quarenta e oito anos depois, a Imperatriz Suiko
8
realiza a mesma ordem,
enviando médicos para a China com o objetivo de estudar a medicina chinesa.
Segundo Kobayashi; Uefuji; Yasumo (2008, p. 360, tradução nossa)
9
, “os registros
mais antigos existentes de qualquer literatura médica formal no Japão chegaram de
Wu
(China) em 562. Esses vários livros médicos incluíam tópicos como medicamentos
fitoterápicos e acupuntura”.
Desde o século VI, o Japão adotou estudos sobre acupuntura, ervas, entre outras
práticas vindas dos estudos médicos chineses que chegavam tanto por intermédio dos
chineses que abarcavam no Japão como dos japoneses que rumavam à China para fins de
estudo. Os holandeses, mais tarde, levaram com sua literatura novos conhecimentos
médicos, possibilitando o desenvolvimento de práticas médicas ocidentais no Japão.
Um dos primeiros autores que serão abordados é Yû Fujikawa, que estudou a
medicina japonesa desde suas primeiras práticas até o período Meiji, contribuindo com as
pesquisas relacionadas aos estudos médicos no Japão. O segundo autor apresentado é
Tôyô Yamawaki, que possui grande importância para o desenvolvimento da anatomia e
dos estudos anatômicos utilizando a observação.
Em meados do século XIX, começaram a surgir obras de diversas áreas da ciência,
que foram levadas ao Japão pelos japoneses que estudavam fora do país e por estrangeiros.
Algumas dessas obras traduzidas eram associadas às áreas da medicina, fisiologia,
patologia e anatomia, sendo normalmente de origem alemã. Na literatura desse período,
também havia a produção e tradução de bibliografias de médicos e histórias da medicina
chinesa. As traduções foram de extrema importância para a difusão dos conhecimentos
médicos.
O esforço de recepção filológica e compreensão sintética que levou os médicos
japoneses ao epicentro de ciência continental acadêmica, preparou as condições
necessárias para abordar, e então assimilar, as características dominantes da
estrutura médica ocidental. (ZOFFOLI, s. a., p. 5, tradução nossa)
10
.
7
De acordo com Kleine e Kobayashi, os estudos médicos chineses entraram no Japão principalmente pela
Península Coreana.
8
Imperatriz que reinou de 592 a 628, a 33° a ascender ao trono, sendo a primeira mulher a utilizar a
denominação
Tenno
天皇(imperador).
9
[No original] “The oldest existing records of any formal medical literature in Japan arrived from Wu (China)
in 562. These various medical books included topics such as herbal drugs and acupuncture.” (KOBAYASHI;
UEFUJI; YASUMO, 2008, p. 360).
10
[No original] “L'effort de réception philologique et de compréhension synthétique qui avait poussé les
médecins japonais jusqu'à l'épicentre de la science continentale savante, prépara les conditions nécessaires
pour aborder, et ensuite assimiler, les traits dominants du cadre médicale occidental” (ZOFFOLI, s. a., p. 5).
A aproximação entre o Japão, China e Holanda, originou o contato com novas
tecnologias e conhecimentos. Esse encontro proporcionou a introdução da medicina
tradicional chinesa no território japonês. A relação entre a medicina chinesa e
holandesa/ocidental está presente nos estudos e obras que abordam sobre
Kampo
11
e
Rampo
12
. Eles se distinguem tanto devido a seus países de origem quanto nas abordagens
utilizadas. Assim, o
Kampo
está associado a práticas fitoterápicas e outros procedimentos
da medicina tradicional oriental, e o
Rampo
às práticas cirúrgicas e oftalmológicas. Essa
divisão aconteceu devido a reserva de mercado que existia na época, onde o
Kampo
era
predominante sendo a cirurgia e oftalmologia as áreas não abordadas pela mesma.
Através da pesquisa de revisão bibliográfica e do estudo qualitativo, buscou-se
interpretar e conceber significado aos textos pesquisados. Foram utilizadas fontes
primárias e secundárias para a realização da pesquisa. Buscamos com este estudo
contribuir com o estado da arte que foi relacionado à História das ciências japonesas e aos
estudos japoneses, dispondo de um estudo capaz de responder às questões inicialmente
propostas. Esta pesquisa consiste na articulação entre os autores pesquisados, gerando
indagações para o desenvolvimento de novos conhecimentos.
Diante do panorama encontrado ao pesquisar sobre a História da Medicina
japonesa, algumas questões começaram a surgir: como se desenvolveu a medicina
japonesa, e quais as influências e autores que contribuíram para sua difusão? Qual a
importância dos trabalhos de Fujikawa e Tôyô Yamawaki para a História da Medicina
japonesa? Essas questões surgem principalmente devido à falta de estudos sobre a
medicina japonesa e as obras desses autores, principalmente em língua portuguesa.
China e Holanda: Influências na medicina japonesa
13
Entre 97 D.C até 709 D.C., por meio das relações comerciais estabelecidas entre
Japão e China, ocorreu uma expansão da literatura e dos conhecimentos de medicina
chinesa. Os médicos e farmacêuticos da península coreana influenciaram no
desenvolvimento de estudos médicos no Japão (HIWAT, 2016). Estes profissionais foram
para Kyushu
14
, dando início ao interesse pelos estudos e pesquisas relacionados à
medicina.
11
Medicina tradicional de origem chinesa no Japão, relacionada ao uso de ervas e práticas como a acupuntura.
Sendo romanizada como Kampo, Kanpo igaku e Kanpô.
12
Medicina de estilo holandês usada no período Edo. Sendo romanizada como Rampo, Ranpo igaku e Ranpô.
13
O resumo da História da medicina apresentado nesta sessão tem como base a condensação de Hiwat em
sua dissertação “Medicine in Edo Japan” (2016) dos estudos de Yû Fujikawa.
14
Kyushu é uma das quatro ilhas principais do Japão.
As relações com a China e a península coreana promoveram a prática do budismo
no Japão, que mudou a vida e a mentalidade dos japoneses. Pessoas foram
enviadas do Japão para a China para aprender mais sobre medicina. Isso
significou, no entanto, que o fluxo indireto de conhecimento medicinal
compartilhado pelos dicos coreanos foi essencialmente interrompido.
(HIWAT, 2016, p. 4, tradução nossa)
15
.
Com a “chegada de padres
16
chineses e monarcas europeus, houve disseminação
do conhecimento sobre a medicina no Japão” (FUJIKAWA, 1911, pp. 4-11
apud
HIWAT, 2016,
p. 4, tradução nossa)
17
. Durante esse período ocorreu a promulgação do
Ishitsuryô
18
(医疾
), código médico que visava a organização do sistema médico japonês. O código é
composto de 27 artigos. O
Ishitsuryô,
faz parte do
Taih
ō
ritsury
ō
19
(大宝律令),
Ordenamento Jurídico, uma constituição composta de pena e lei que foi estabelecido
no período
Asuka
.
[...] Esta lei consiste em 27 artigos e explica o sistema médico japonês, incluindo
os detalhes da educação médica, o número de anos para o treinamento médico e
o exame. [...] A lei determinava que não apenas o estudante de acupuntura, mas
também o estudante de medicina obrigação de estudar pontos de acupuntura,
inferindo que a acupuntura era considerada um procedimento médico
importante. (KOBAYASHI; UEFUJI; YASUMO, 2008, p. 360, tradução nossa)
20
.
“O conhecimento destes médicos chineses foi encontrado principalmente na
literatura da dinastia
Sui
(581-618) e da Dinastia
Tang
(618-907)” (HIWAT, 2016, p. 4,
tradução nossa)
21
. No período
Heian
(794-1185), houve grande troca com a dinastia
Tang
,
devido as viagens médicas da China para o Japão, gerando intercâmbio de conhecimentos
e livros médicos. Assim, japoneses iam para a China para aprimorar suas aprendizagens.
Contudo, segundo Hiwat (2016) ao citar Fujikawa, parte desta literatura foi perdida;
sendo assim, dificuldade em comprovar sua autenticidade ou existência. Por isso,
15
[No original] “Relations with China and the Korean peninsula promoted the practice of Buddhism in Japan
which changed the life and mindset of the Japanese. People were sent from Japan to China to learn more
about medicine. This meant, however, that the indirect inflow of medicinal knowledge shared by Korean
doctors was essentially brought to a halt.” (HIWAT, 2016, p. 4).
16
Pode ser entendido como monges chineses.
17
[No original] “it were mainly Chinese priests and European monarchs who spread knowledge about
medicine in Japan.” (FUJIKAWA, 1911, pp. 4-11 apud HIWAT, 2016, p. 4).
18
Código Yôrô.
19
Código promulgado em 701, refere-se a reorganização administrativa no final do período Asuka.
20
[No original] “[...] This law consists of 26 articles and explains the Japanese medical system, including the
details of medical education, the number of years for medical training and the exam. [...] The law directed
that not only the acupuncture student, but also the medical student had an obligation to study acupoints,
inferring that acupuncture was regarded as important medicine.” (KOBAYASHI; UEFUJI; YASUMO, 2008, p.
360, tradução nossa).
21
[No original] “The knowledge of these Chinese doctors was mainly retrieved from literature from the Sui
dynasty (581CE-618CE) and the Tang dynasty (618CE-907CE).” (HIWAT, 2016, p. 4).
mesmo havendo literatura com nome semelhante aos citados em livros antigos de
medicina, sua validação nem sempre é possível.
Devido à constante troca de ensinamentos e à necessidade de organização destes
conhecimentos, o Doutor de Acupuntura (鍼博士) Tanba Yasunori (912-995) compilou na
enciclopédia japonesa
Ishinpô
(医心方) os estudos da medicina chinesa da época. O livro
abrange citação de textos médicos de chineses e coreanos, contendo textos e compilados
médicos das dinastias
Han
,
Sui
e
Tang
.
Este livro mostra como o conhecimento médico do estrangeiro foram
organizados em resposta às necessidades japonesas. Este livro compreende uma
combinação sistemática de material sobre medicina, acupuntura, ervas, dieta,
higiene e medicina sexual, para citar alguns. (KOBAYASHI; UEFUJI; YASUMO,
2008, p. 360, tradução nossa)
22
.
O
Ishinpô
contém 30 volumes com citação bibliográfica de mais de 200 trabalhos
sobre a medicina chinesa das dinastias
Sui
e
Tang
(581-907)
23
, sendo o texto mais antigo
sobre medicina no Japão. Esses mais de 200 documentos foram preservados na obra;
assim, o livro reúne o material de obras da medicina tradicional chinesa, comparando as
diferenças entre as duas comunidades médicas, a japonesa e a chinesa. O
Ishinpô
tem
importância também para estudo da história da medicina na China, pois a maioria dos
originais dos artigos citados nela se perderam no país de origem e tem sido, portanto,
considerado um testemunho histórico.
Figura 1: ‘
Ishinpô
’ (réplica)
Fonte: KOBAYASHI; UEFUJI; YASUMO, 2008, p. 360
24
22
[No original] “This medical book shows how medical knowledge from the foreign sources were arranged
in response to circumstances in Japan. This book comprises a systematic combination of material on
medicine, acupuncture, herbs, diet, hygiene and sexual medicine, to name a few” (KOBAYASHI; UEFUJI;
YASUMO, 2008, p. 360).
23
Ishinpō. Disponível em: <https://www.wdl.org/pt/item/7116/>. Acesso em: 24 dez. 2020.
24
Fonte original: Mori H, Nagano H. Harikyu Museum (Museu de Medicina Tradicional), vol. 2. Departamento
da Faculdade de Artes e Ciências Médicas de Morinomiya, 2003.
No período
Kamakura
(1187-1333), houve a interrupção da ida de japoneses para a
China com a finalidade de estudo. Porém, ainda havia a entrada da literatura médica no
Japão, principalmente devido aos monges chineses, que compartilhavam seus
aprendizados. A literatura médica chinesa foi sujeita à crítica por autores japoneses,
mesmo sendo utilizada para a literatura médica japonês (HIWAT, 2016).
Nos períodos que sucederam, a literatura médica chinesa continuou presente nas
práticas médicas japonesas. Em 1543, teve início o encontro entre japoneses e
portugueses, gerando o contato com a medicina ocidental pela chegada dos padres
cristãos. “Embora os cristãos e, portanto, também os portugueses, tenham sido banidos
do Japão, em algum momento de 1600 as escolas que ensinavam os métodos cirúrgicos
europeus introduzidos pelos portugueses foram preservadas(idem, ibidem, p. 5, tradução
nossa)
25
.
Embora Hiwat (2016) aponte a data do banimento dos portugueses como sendo
1600, outros estudos sugerem que o banimento dos padres ocorreu, inicialmente, com a
Lei de Expulsão de Padres (バテレン追放令) em 1587, reforçada em 1614 com a Lei de
Proibição de Cristianismo (キリスト教禁止令). Entretanto o fechamento definitivo aos
estrangeiros ocorreu somente em 1639.
O período
Edo
(1603-1868) é marcado pela literatura confucionista que trouxe
novos estudos e informações sobre práticas médicas para os japoneses, devido à
influência do confucionismo na literatura médica. As relações entre Japão e Holanda
tiveram início em 1600, com acordos comerciais estabelecidos entre ambos os países. Ao
observarem os procedimentos adotados pelos médicos holandeses, os japoneses
começaram a aprender sobre a medicina europeia, baseando-se em observações dos
tratamentos e cirurgias realizadas pelos médicos holandeses (IZUMI; ISOZUMI, 2001).
Os protestantes holandeses tinham como objetivo o comércio, enquanto os
protestantes portugueses buscavam a propagação da cristã. Isso fez com que os
japoneses realizassem trocas e acordos, e quando houve o isolamento nacional, um dos
poucos países que o Japão continuou a manter relações foi com a Holanda.
No século XVII, o
shogun
Tsunayoshi Tokugawa
26
reconheceu os avanços
científicos na Holanda, permitindo assim a entrada da literatura científica holandesa no
Japão (HIWAT, 2016). No entanto, ao implementarem uma política de isolamento nacional
em 1639, os japoneses cortaram relações com o mundo, exceto com a Holanda e China
25
[No original] “Even though Christians, and therefore also the Portuguese, were banned from Japan at some
point in the 1600s, the schools that taught the European surgical methods as introduced by the Portuguese
were preserved.” (ide, ibidem, p. 5).
26
Quinto
xogun
, do Xogunato Tokugawa de 1680 a 1709.
(IZUMI; ISOZUMI, 2001). Sendo assim, suas maiores fontes de informação e pesquisas
eram as vindas destes dois países.
Na segunda metade do século XVII, traduções holandesas de Literatura francesa
sobre cirurgia foram doadas à Universidade de Tóquio e traduzidas para japonês.
Com a ajuda desses trabalhos, o estudo da cirurgia pôde se desenvolver no Japão
e várias escolas cirúrgicas foram estabelecidas. Além disso, muitas traduções
holandesas da literatura alemã sobre anatomia humana foram usadas durante
este período. (HIWAT, 2016, p. 6, tradução nossa)
27
.
Em seu livro
Nihon Igakushi,
Fujikawa apresenta a importância da medicina chinesa
e holandesa para o desenvolvimento da história da medicina japonesa. A influência dos
holandeses pode ser notada a partir do século XVII, ainda que se encontrasse dificuldade
para importação de literatura médica holandesa. Durante este período, a maioria dos
estudos e ciências importadas ao Japão vinha da Holanda.
No século XVIII e XIX, a medicina holandesa passou a ser aceita, devido a ampla
divulgação de livros médicos holandeses que foram traduzidos e se tornaram acessíveis.
Sendo assim, os médicos começaram a estudar por estes livros, levando a um aumento da
aceitação da medicina holandesa.
O período
Meiji
(1868-1912) trouxe novos conhecimentos de outros países como da
Alemanha, assim médicos do exército alemão eram convocados para ensinar medicina
alemã. Isso também gerou interesse em expandir o conhecimento de línguas germânicas e
latinas, matemática, geometria e ciências naturais [...] (FUJIKAWA, 1911, p.87-93
apud
HIWAT, 2016, p. 6, tradução nossa)
28
.
Entre os séculos XIX e XX, a medicina alemã começou a ganhar espaço, devido à
sua importância nas práticas médicas. Muitos estudantes de medicina foram para a
Alemanha para conhecer mais sobre suas técnicas, voltando para o Japão influenciados
pela prática médica alemã, dentre eles, o autor Yû Fujikawa.
Rangaku, Rampo igaku e Kampo igaku
No período
Edo
houve a distinção da medicina entre
Kampo igaku
( 方医学) e
Rampo
igaku
( 方医学). As práticas médicas feitas até então denominadas apenas
igaku
,
medicina, passou a ser chamada
Kampo
para diferenciar da “nova” medicina, a vinda da
27
[No original] In the second half of the 17th century, Dutch translations of French literature on surgery
were donated to the Tokyo University and were translated into Japanese. With the help of these works, the
study of surgery was able to develop in Japan and several surgical schools were established. In addition,
many Dutch translations of German literature on human anatomy were used during this period.” (HIWAT,
2016, p. 6).
28
[No original] “German army doctors were summoned to teach German medicine. This also led to interest
in expanding the knowledge of Germanic and Latin languages, mathematics, geometry and natural sciences.”
(FUJIKAWA, 1911, p.87-93
apud
HIWAT, 2016, p. 6).
Holanda. A palavra
Kampo
“refere-se ao sistema de ervas com origem na China, e que
pode ser utilizado para descrever práticas fitoterápico no Japão, estando atualmente
integrada no sistema médico japonês (YU
et al
, 2006).
Por outro lado,
Rampo
está relacionada às práticas médicas do ocidente.
Rampo
é
“[...] usado para se referir às práticas da medicina ocidental que foram usadas no Japão
desde o período Azuchi-Momoyama (1569-1615) e foi obtido através de médicos
portugueses, padres cristãos e da literatura ocidental escrita em holandês” (FUJIKAWA.
1904, p. 439-440
apud
HIWAT, 2016, p. 10, tradução nossa)
29
.
Normalmente,
Rangaku
(蘭学) pode ser definido como “estudos/aprendizagem
holandesa” e
Rampo
igaku
como “medicina estilo holandês ou medicina vinda da Holanda”.
O
Rangaku
contribuiu para o aprendizado dos japoneses sobre os aspectos da revolução
cientifica e tecnológica ocidental.
Os holandeses levaram além de seus conhecimentos médicos os de outros países.
“Embora os holandeses fossem os únicos cidadãos ocidentais capazes de entrar no Japão,
eles também trouxeram conhecimento de outras nações ocidentais com eles” (HIWAT,
2016, p. 8, tradução nossa)
30
. Desse modo, Hiwat (2016) alerta para o uso equivocado
desses termos, por acreditar que suas dimensões são mais amplas ligadas aos estudos
médicos holandeses, alemães e ocidentais, sendo definido como estudos/aprendizagem
ocidentais” e “medicina de estilo ocidental”.
De acordo com Fujikawa, o cirurgião Hanaoka Seishū (1760-1835) foi responsável
pela incorporação de Kampo e Rampo no campo da geka (cirurgia). Hanaoka
também criou diferentes todos para procedimentos médicos internos e
procedimentos externos, mas em procedimentos específicos dentro do campo de
geka. (HIWAT, 2016, p.11-12, tradução nossa)
31
.
Hanaoka Seishu (華岡青洲) desenvolveu discussões e teorias que foram publicadas
e que debatiam sobre os métodos ocidentais, juntando
Kampo
e
Rampo
. A medicina
chinesa teve grande influência nos estudos médicos japoneses, por ser a primeira
literatura sobre medicina introduzidas no Japão. “No entanto, de acordo com Fujikawa com
29
[No original] “[...] used to refer to Western medicine practices that were used in Japan only since the
Azuchi-
Momoyama period (1569CE-1615CE) and was obtained through Portuguese doctors, Christian priests and
Western literature written in Dutch.” (Fujikawa, 1904, p.439-440
apud
HIWAT, 2016, p. 10).
30
[No original] “Dutch were the only Western nationals able to enter Japan, they also brought knowledge
from other Western nations with them” (HIWAT, 2016, p. 8).
31
[No original] “According to Fujikawa, the surgeon Hanaoka Seishū (1760-1835) was responsible for the
incorporation of kanpō and ranpō in the field of geka (surgery). Hanaoka also created diferente methods for
internal medical procedures and external procedures but in particular procedures within the field of geka.”
(HIWAT, 2016, pp. 11-12).
o tempo o Rampo foi usado mais e mais do que Kampo, particularmente no campo de geka”
(idem, ibidem, p. 34, tradução nossa)
32
.
Tanto Yû Fujikawa como Kobayashi, estudioso da medicina japonesa, apontam que
desde sua introdução a medicina ocidental e o
Kampo
coexistem e se combinam nas
práticas médicas japonesas, de modo a se adequar às necessidades da sociedade (HIWAT,
2016). Com o tempo outras práticas médicas foram sendo incorporadas.
Yû Fujukawa e a História da Medicina Japonesa
Fujukawa (1865-1940) foi um médico e cientista nascido no período Meiji. Sua
atuação foi baseada na medicina alemã, devido à ida para Alemanha para estudar medicina.
Em 1891, “iniciou suas pesquisas sobre a história da medicina, examinando cuidadosamente
os registros históricos (HIWAT, 2016, p. 3, tradução nossa)
33
. Aos 16 anos, Fujikawa
ingressou na escola de medicina, graduando-se em 1887. Após obter sua licença médica,
Fujikawa foi estudar medicina na Universidade de Jena, na Alemanha.
Fujikawa publicou os livros
Nihon Igakushi
(日本医学史)em 1904 e
Nihon
Igakushi Kôyô
(日本医学史綱要) em 1933, além de muitas outras obras relacionadas à
História da Medicina japonesa.
Nihon Igakushi
aborda desde a Medicina dos tempos
antigos até o final do período Edo e início do período Meiji, enquanto Nihon Igakushi Kôyô
é um resumo dessa História da Medicina japonesa. Estes livros possuem uma organização
cronológica, contendo partes que apresentam algumas doenças específicas do Japão.
Treze anos após estudar a história da medicina no Japão até o período Meiji, ele
publica seu primeiro livro
Nihon Igakushi
, sendo uma das obras que mais lhe renderam
honras e prêmios. Em sua obra, Fujukawa aborda questões relacionadas ao
conhecimento médico, a história da patologia e seus tratamentos, história da doença e da
condição médica.
Medicina... deve ser baseado na... ciência, mas o objeto de tal [técnica] deve ser o
ser humano, por isso não deve ser mecânico... médicos precisam estudar
ciência médica de forma científica, mas eles também precisam da ciência mental,
filosofia, psicologia, e ética... quando eles têm esse conhecimento sua [técnica]
deve [então] estar completa... existe uma relação próxima com a medicina... à
religião, e existem alguns poucos trabalhos sobre esse relacionamento.
(MESTLER, 1954, p.290, tradução nossa)
34
.
32
[No original] “However, according to Fujikawa over time ranpō was used more and more than kanpō,
particularly within the field of geka.” (Ibidem, p. 34).
33
[No original] “[...] he started his research on the history of medicine by looking thoroughly into historical
records. ((HIWAT, 2016, p. 3).
34
[No original] "Medicine should be based onscience, but the object of such [technique] is the human
being, hence it shouldl not be just mechanical ... Physicians have to study medical science in the scientific
way, but they also need mental science, philosophy, psychology, and ethics WVhen they have such
knowledge their [technique] should [then] be complete ... There is a close relation of medicine ... to religion,
and there are very few works on this relationship […]" (MESTLER, 1954, p. 290).
No livro
Ijutsu to shûyô
(医術と宗教)
35
, Yû Fujikawa aproxima os estudos médicos
da religião, temas que lhe interessam bastante; tanto que o autor dedica uma obra inteira
para abordar essa relação. Para Fujikawa, questões relacionadas à religião e o
tratamento com o ser humano requerem a atenção dos médicos. Assim, além dos
conhecimentos científicos necessários para a prática médica, também é necessária a
sensibilidade para lidar com o ser humano.
Fujikawa manteve uma coleção de mais de 9.000 livros, que atualmente estão na
Biblioteca da Universidade de Kyoto
. Esta coleção fez parte do material que reuniu para a
composição da sua obra sobre História da Medicina no Japão, contendo livros de medicina
japoneses e chineses, entre outras obras relacionadas às práticas médicas
36
. Algumas
dessas obras estão sendo digitalizadas desde 2016
37
.
Tôyô Yamawaki: Pioneiro na anatomia japonesa
A história da dissecação e da anatomia no Japão têm como início os estudos de Tôyô
Yamawaki. Yamawaki foi um médico do período Edo, sendo um dos pioneiros na medicina
experimental denominada de
Kohoha
(古方派). Questionava os conceitos da anatomia na
medicina tradicional chinesa, que definia 11 órgãos (五臓六腑). Foi influenciado
grandemente pelo livro de Johann Vesling
38
, publicado em 1754, na Holanda (IZUMI;
ISOZUMI, 2001).
Durante seus estudos, dissecou lontras, que eram considerados com anatomia
interna análoga a seres humanos para estudar sua estrutura anatômica, especialmente seu
intestino delgado e grosso. Ao dissecá-la encontrou 9 órgãos, o que fez com que ele
achasse que a teoria anatômica da medicina chinesa era inconsistente (WOLFGANG,
2020).
Após receber autorização do governador de Kyoto, em 1754, observou
39
a
dissecação do corpo de um criminoso em Kyoto, e percebeu que as estruturas eram
semelhantes às mencionadas no livro de Vesling (IZUMI; ISOZUMI, 2001, p. 92). Em 1759,
Tôyô Yamawaki publica o livro
Zôshi
(蔵志), uma obra de 2 volumes em que aborda sobre
vísceras.
35
Arte Médica e Religião, 1937.
36
Coleção Fujikawa. Disponível em: <https://rmda.kulib.kyoto-u.ac.jp/en/collection/fujikawa>. Acesso em:
27 dez. 2020.
37
Para acessar a coleção digital, basta acessar: https://rmda.kulib.kyoto-u.ac.jp/en/collection/fujikawa.
38
Anatomista alemão, contribuiu para o avanço dos estudos sobre anatomia no século XVII.
39
Médicos não podiam dissecar cadáver humano, então a dissecação era realizada por um açougueiro (
).
Figura 2: Figuras originais de
Zôshi
(1759) escrito por Tôyô Yamawaki
Fonte: TOUYOU, 1759, p. 29-30
40
Antes de Yamawaki, um oftalmologista registrou e descreveu a estrutura ocular, a
partir de “desenhos de conexões ósseas observando carniça e usou esse método de
observação como meio de adquirir novos conhecimentos (WOLFGANG, 2020). Através
de seu livro, Yamawaki demonstra as influências tanto dos estudos nacionais, no caso do
oftalmologista, como dos estrangeiros para a compreensão dos japoneses sobre os
cadáveres e o valor da observação para a anatomia.
O propósito de Yamawaki é apenas provar os conceitos dos clássicos antigos,
portanto, sua anatomia só pode ser considerada satisfatória. Mas ele estabelece
a crença: a teoria deve ser derivada da observação real. (WOLFGANG, 2020, p.
81, tradução nossa)
41
.
O conhecimento sobre anatomia no Japão antes dos estudos de Tôyô Yamawaki
eram baseados em dissecações de animais (lontras, cães e macacos) e em ilustrações
imperfeitas retiradas de livros de medicina chinesa. É provável que houvesse dissecção
humana anterior a Yamawaki, tendo apenas alguns vestígios na literatura médica, mas
nenhuma obra ou registro é conhecida ou existe atualmente (MESTLER, 1954).
40
TOUYOU, Yamawaki. Zoshi: narabi furoku. 1759. Disponível em: <https://lib-umedia-prd-
01.oit.umn.edu/item/p16022coll362:4131/p16022coll362:4083?child_index=28&query=&sidebar_page=10>.
Acesso em: 23 dez. 2020.
41
[No original] 胁的目的求只是为了证古代典籍中的概念,因此他的解剖只能说是中规中矩。但他确立
了一种信念:理论必须来源于实际观察。 (WOLFGANG, 2020, p. 81).
Figura 3: Figuras originais de Zôshi (1759) escrito por Tôyô Yamawaki
Fonte: TOUYOU, 1759, p. 31-32
Devido à aprovação do governo dos estudos de Tôyô Yamawaki, foi possível o
desenvolvimento da anatomia no Japão com a publicação dos resultados encontrados por
Yamawaki. Assim, segundo Wolfgang (2020), essas publicações abriram precedentes para
que outros anatomistas começassem a publicar e a estudar os aspectos ligados à anatomia.
Assim, suas contribuições não estão apenas nos trabalhos que realizou, mas nas
oportunidades que gerou para novos estudos.
“No entanto, um olhar mais atento sobre essa questão revela a mudança de
paradigma para o ganho de conhecimento, embora os estudos anatômicos não tenham
ocorrido repentinamente após séculos de estagnação” (WOLFGANG, 2020, p. 75, tradução
nossa)
42
. Mas os estudos de Yamawaki marcaram a História da anatomia japonesa, sendo
citados em diversas pesquisas como o pioneiro da anatomia no Japão.
Dentre os autores que trabalharam com a anatomia temos Genpaku Sugita (杉田玄
). Sugita foi um médico e estudioso que traduziu o livro
Ontleedkundige Tafelen
do
holandês para o japonês (
Kaitai Shinsho
解体新書), após comprovar sua precisão de
informação. Ao observar uma dissecação percebeu a precisão do livro holandês e buscou
traduzi-lo, sendo considerado um dos pioneiros no Rangaku (estudo da medicina
ocidental).
42
[No original] “However, a closer look at this issue reveals that the paradigm change to gaining knowledge
though anatomical studies did not occur suddenly after centuries os stagnation.” (WOLFGANG, 2020, p. 75).
Embora houvesse poucos trabalhos sobre anatomia produzidos no Japão, os que
existiam eram importantes para a transição gradual da medicina japonesa, surgida a partir
da medicina tradicional chinesa e das influências ocidentais. Assim, as práticas médicas
japonesas passaram a ir além das contribuições externas, dando credibilidade para as
produções nacionais.
Considerações finais
A jornada da história da medicina japonesa começa bem cedo, em virtude das
interações com outros países que possibilitaram a obtenção de novos conhecimentos
adaptados, quando necessário, às práticas médicas, realidades e às necessidades
japonesas. Diante desse panorama, podemos compreender o papel da medicina chinesa e
Kampo
igaku
e da medicina holandesa/ocidental ou
Rampo igaku
para o Japão, e os estudos
médicos da época.
A História das ciências médicas no Japão conta com diversos autores que, através
de suas obras, possibilitam o estudo da medicina em seus períodos e posterior a isso, como
é o caso de Tôyô Yamawaki, que, com suas pesquisas sobre anatomia, contribuiu para o
desenvolvimento de outras pesquisas relacionadas e para a compreensão da anatomia na
medicina japonesa. Com isso, incentivaram que novos estudos e investigações nacionais
sobre medicina ocorressem em um período em que a busca pela aprendizagem estrangeira
(Ocidente) acontecia com mais frequência.
Ao trazer debates relacionados à História da Medicina, em seu livro que apresenta
desde o início da medicina japonesa até o período Meiji, Yû Fujikawa buscou identificar as
contribuições de outras nações para o campo médico no país, trazendo debates
importantes para a História das Ciências japonesa. Porém, poucas pesquisas sobre seus
estudos ou sobre o autor.
Devido ao número reduzido de literatura existente em língua portuguesa e até
mesmo em outras línguas sobre medicina japonesa, a maioria dos estudos estão apenas
nas universidades do Japão, tornando difícil o acesso para aqueles que pesquisam sobre o
tema. Por isso, o presente artigo busca contribuir para a História da Ciência, trazendo
discussões sobre como a medicina japonesa foi desenvolvida no Japão até o período Edo.
Práticas como
Kampo igaku
e
Rampo igaku
auxiliaram na composição dos estudos
médicos japoneses cada qual influenciou uma área da medicina. Enquanto
Kampo igaku,
atualmente, está associada à área dos fitoterápicos japoneses e outros procedimentos
tradicionais, o
Rampo igaku
contribuiu para a introdução da medicina ocidental e
modernização da medicina japonesa.
Ao longo da história, muitas práticas foram incorporadas ou deixadas de lado.
Conhecer essas práticas permite perceber como as mudanças tanto cientificas como
sociais trouxeram subsídios importantes para o fortalecimento da medicina japonesa, e o
modo como as práticas médicas eram realizadas.
Referências
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influence. Disponível em:
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em: 18 dez.2020.
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Japanese medicine. 2016. Disponível em:
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801348%20July%2015th.pdf?sequence=1>. Acesso em: 06 nov.2020.
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