Dossiê – O lugar sem limites: América Latina em perspectiva
FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.2, nº1, p. 03-05, jan.-jun., 2015.
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Dialogam com os debates acerca do significado de América Latina os projetos
de artistas e intelectuais que buscam integrar, representar e (re)pensar a região. Neste
sentido, Fernanda Nunes Moya, no artigo Francisco Curt Lange e o Americanismo
Musical nas décadas de 1930 e 1940, mostra como a integração cultural do continente
foi buscada a partir da música. Para a concretização do projeto de “americanismo
musical”, que reconhecia na música um elemento promotor da cooperação e agente da
integração dos povos americanos, a colaboração dos intelectuais e artistas em torno
do desenvolvimento de instituições e periódicos, pesquisa e divulgação da música
americana, foi imprescindível.
Quezia Brandão e Wagner Pinheiro Pereira contribuem para o debate sobre
a representação da América Latina através da análise do filme A Idade da Terra, de
Glauber Rocha. Os autores, além de compreenderem a obra como “uma nova concepção
de América Latina e do ser latino-americano”, que busca resgatar as raízes africanas
e indígenas, a cultura mística e as heranças coloniais da região, inserem o filme no
amplo contexto de discussões historiográficas que pensam a integração territorial e o
reconhecimento do Brasil como parte da América Latina.
Eustáquio Ornelas Jr., partindo da relação interamericana entre Estados Unidos
e América Latina, a qual entende como uma circulação, questionando a noção de
imperialismo cultural, propõe analisar o desenvolvimento e organização da coleção
de arte latino-americana desenvolvida pelo MoMA. No artigo Um “empreendimento
pioneiro”: o catálogo da Coleção Latino-Americana do MoMA (1931-1943), o autor
insere a produção do catálogo em um contexto político-cultural mais amplo: a Política de
Boa Vizinhança. Ainda, busca mostrar, através do levantamento dos países e artistas em
destaque nessa coleção, como o Museu entende e representa a arte latino-americana.
O desenvolvimento da produção historiográfica acerca dos estudos em América,
produção esta que dialoga com os acontecimentos políticos e econômicos, nacionais
e mundiais, também é contemplado no presente dossiê. Renato César Santejo Saiani,
preocupado em entender “qual o espaço ocupado por Cuba na produção de História da
América, quais os temas privilegiados e o que influenciou essas escolhas”, realiza um
balanço oportuno sobre a produção historiográfica nacional e articula a produção de
dissertações e teses com as mudanças e consolidação do campo de História da América
no Brasil das últimas décadas.
Ainda referente à historiografia latino-americanista, é notável que países
localizados ao norte do nosso continente ocupam um pequeno espaço. Iuri Cavlak em
O Extremo Norte da América do Sul: A Guiana Inglesa e o Suriname no século XIX,
apresenta raro estudo sobre essa região, no qual ressalta a dificuldade de acesso às
fontes primárias e historiografia acerca do tema. O autor traça um panorama histórico
das ex-colônias inglesa e holandesa durante o século XIX a partir de entrecruzamento da
história social, política e econômica. Importante notar que, conforme esclarece Cavlak,
embora situadas na América do Sul, a região em questão é englobada pela historiografia
caribenha, campo que se debruça de forma mais intensa em ilhas como Cuba, Haiti
e República Dominicana. No caso da historiografia brasileira e sul-americana de
forma geral, a escassez de pesquisas provavelmente se justifica pela falta de contatos
comerciais, políticos, sociais e culturais.
Marcus Vinicius da Costa também percorre regiões pouco exploradas pelos