OLIVEIRA, Rodrigo Perez
FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.2, nº1, p. 236-257, jan.-jun., 2015.
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século XX, tentam entender a vida e a obra desse personagem
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.
De alguma forma, todos os estudos sobre a vida e a obra de Eduardo Prado
com os quais travei contato privilegiaram a análise dos textos publicados no período
compreendido entre os anos 1889 e 1897, quando o autor ofereceu forte oposição aos
primeiros governos da República e se tornou nacional e internacionalmente conhecido
como um aguerrido defensor das tradições conservadoras da Monarquia. Pretendo,
neste artigo, analisar outro momento da trajetória político/intelectual de Eduardo
Prado, exatamente aquele menos conhecido pela bibliografia especializada: os anos
1878/79, quando o personagem estreou no cenário político/intelectual brasileiro.
Ambos os trechos citados sob a forma de epígrafe mostram a ferrenha militância
do jovem Eduardo Prado, então com apenas dezoito anos de idade, nas fileiras do Partido
Conservador paulista. O episódio que deu origem às citações é o mesmo: o meeting
acadêmico organizado pelo Clube Acadêmico Constitucional no pátio da Faculdade de
Direito de São Paulo em 11 de outubro de 1878. O objetivo dos estudantes envolvidos
no ato era protestar contra o governo provincial, que na época era chefiado por João
Batista Pereira, membro do Partido Liberal. Os jovens exigiam, entre outras coisas,
completa liberdade para as manifestações acadêmicas e o afastamento das patrulhas
policiais das instalações da faculdade e das suas intermediações.
Não é gratuito o fato de a mobilização contra o governo de Batista Pereira ter
partido do Clube Acadêmico Constitucional, que era uma agremiação ligada diretamente
ao Partido Conservador paulista. Essa ligação fazia com que o jornal editado pelo clube,
o O Constitucional, encontrasse espaço privilegiado de propaganda nas páginas do
Correio Paulistano
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, que era o órgão oficial do Partido Conservador em São Paulo.
3. Remeto o leitor interessado no tema aos seguintes textos: o artigo “Monarquismo de Eduardo Prado”,
escrito por Afonso Celso de Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto, e publicado em 13 de setembro
de 1901 no jornal “Comércio de São Paulo”; Os artigos escritos pelo Padre Severiano Rezende e publi-
cados no jornal “Diário de São Paulo” em 1908; as biografias escritas por Sebastião Pagano e Cândido
da Mota Filho em 1960, na ocasião das comemorações do centenário do nascimento de Eduardo Prado;
o livro de Darrel Levi sobre a trajetória da Família Prado com ênfase na análise da atuação política dos
quatro filhos de Veridiana e Martinho Prado; o livro Maria de Lourdes Mônaco Janotti sobre a atuação
dos monarquistas nos primeiros anos da República; o livro de Suely Robles Reis sobre a atuação dos jaco-
binos florianistas; o livro de Carlos Henrique Armani sobre a ontologia nacional formulada por Eduardo
Prado; a tese de Carmem Lúcia Tavares Filgueiras sobre a leitura que Eduardo Prado fez os EUA; o livro
de Carlos Berriel sobre as semelhanças e diferenças existentes entre os textos de Eduardo Prado e seu
sobrinho, Paulo Prado; o livro Nancy Leonzo sobre a atuação de Eduardo Prado como um empresário do
ramo agroexportador.
4. A história do jornal Correio Paulistano é emblemática do cenário político/partidário da Monarquia bra-
sileira, que durante a maior parte da existência desse regime político foi marcado pelos conflitos entre os
Partidos Liberal e Conservador. O referido periódico foi fundado em 1854 por Roberto Azevedo Marques,
com o compromisso inicial de manter independência em relação aos grandes partidos políticos. Apesar
da promessa de neutralidade partidária, sob aspecto algum o Correio Paulistano ficou indiferente às dis-
putas protagonizadas por conservadores, liberais e republicanos, características das últimas décadas de
vida da Monarquia brasileira. Durante seus primeiros vinte anos de existência, o Correio Paulistano foi
claramente republicano, fato que mudou após janeiro de 1875, quando o referido jornal passou a ser con-
trolado pelo Partido Liberal, o que gerou a insatisfação de alguns republicanos que, tais como Prudente
de Morais e Campos Salles, fundaram a Província de São Paulo, que se tornou a principal rival do Correio
Paulistano. No dia 04 de dezembro de 1877 aconteceu mais uma mudança no perfil político/editorial do
Correio Paulistano; o jornal que em seus primórdios fora republicano, passara, repentina e bruscamente,
para as fileiras conservadoras. Sobre a história político/editorial do Correio Paulistano, recomendo a
leitura do livro de Lillia Schwarz. Retrato em Branco e Negro: jornais, escravos e cidadãos em São Paulo
no final do século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.