da esquerda. A pesquisa histórica acadêmica tem sido marcada pela tendência a
minimizar o terror esquerdista de uma variedade de maneiras sutis e implícitas
— incluindo a escolha de um vocabulário tendencioso. Riki van Boeschoten, por
exemplo, chama a violência da EAM de “violência revolucionária” e a violência
da direita de “terrorismo”. Ademais, as raras referências ao terror esquerdista
são tipicamente seguidas de explicações que se apressam a caracterizá-lo como
limitado, insignificante ou casos de exceção. (KALYVAS, 2000, p. 143)
Baseado em coletas de história oral, memórias e outros tipos de evidências,
Kalyvas defende que, na região examinada (o nordeste do Peloponeso), a violência e a
intimidação, inclusive a prática de assassinatos, se tornaram um processo contínuo,
planejado e centralizado pela EAM, que buscava o terror para atingir seus objetivos. Tão
importante quanto a conclusão específica de sua pesquisa, é a seguinte afirmação do
autor:
Minha meta não é contribuir para um debate partidário e sem sentido sobre
crueldade comparada: é claro que todos os lados fizeram uso do terror. [...]
[Mas] o foco no terror vermelho é necessário por duas razões: primeiramente,
para equilibrar as perspectivas, e em segundo lugar, porque a exploração
completa da natureza da violência durante a guerra civil grega requer uma
análise comparativa dos usos do terror por todos os atores políticos. Embora
nossa compreensão da violência direitista, especialmente durante a ocupação,
seja amparada por pesquisas recentes, o mesmo não pode ser dito a respeito da
violência esquerdista. (KALYVAS, 2000, p. 143)
As pesquisas do final do século XX e do início do século XXI eram caracterizadas
pela rejeição do maniqueísmo e do impulso de defender um ou outro lado;
posicionamentos muito comuns ao tradicionalismo e ao revisionismo, ainda que ambas
as vertentes apresentem pesquisas rigorosas. Em outra ocasião, Kalyvas e Nikos
Marantzidis, discutindo as novas tendências de estudo, sintetizaram da seguinte forma
as suas contribuições:
[...] a resistência [contra o Eixo] e a guerra civil não foram eventos autocontidos
e apartados, mas coexistentes um com o outro; de fato, a resistência foi uma
forma de guerra civil que incorporou as rupturas internas da sociedade grega. A
guerra civil não foi apenas um conflito entre dois campos ideológicos bem
definidos e entrincheirados, [tampouco] uma guerra entre o Bem (EAM/ELAS) e
o Mal (a Direita); terror e violência não eram um privilégio de um único grupo, e
a coerção era um fator importante, dentre outros, na construção do apoio à
EAM. Pesquisas históricas devem evitar esquemas interpretativos de larga
escala que não sejam amparados por amplas e detalhadas evidências; o foco nas
elites e na intervenção externa diz pouco a respeito da política a nível das
massas; a partir do pós-guerra a crise na Grécia foi antes de tudo uma questão
doméstica, [e] a prioridade deveria residir em estudos locais baseados em ampla
pesquisa de campo e nos arquivos locais. (KALYVAS; MARANTZIDIS, apud
SAKKAS, sd, p. 7)
Observe-se que os novos estudos tendiam, ostensivamente, a criar mais atritos
com os lugares comuns revisionistas do que com a ortodoxia; isso não é de se espantar,
dada a hegemonia revisionista dos anos 1980 e 1990. Nesse sentido, além de Kalyvas, vale