Entrevista com Álvaro Vázquez Mantecón
FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.2, nº1, p. 185-191, jan.-jun., 2015.
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Professor Álvaro, gostaríamos que falasse um pouco sobre sua trajetória
profissional e de como surgiu o interesse em pesquisar a cultura
audiovisual mexicana.
Desde que cursava a licenciatura em História, na Universidad Nacional Autónoma
de México (UNAM), a história do cinema me chamou a atenção. Para mim, foi muito
importante a influência de um de meus professores, Ricardo Pérez Montfort, que
ensinava a história do cinema vinculada à da cultura popular, com enfoque na história
social. Meu trabalho de conclusão da licenciatura já apontava para esses temas: era
um trabalho sobre como o cinema mexicano da “época de ouro” (nos anos quarenta
do século XX) codificava um olhar moral para as noções de campo, cidade e trópico.
Depois, com o passar dos anos, fiz um trabalho muito variado, na medida em que,
além dos produtos acadêmicos convencionais (livros e artigos), fiz documentários e
exposições museográficas (sempre temi que, mais do que diverso, seja um diletante).
Mas vejo que, ao longo desses anos, existe uma constante: tenho me interessado pela
história da cultura por meio de uma perspectiva social, ainda que os formatos dessa
história sejam distintos.
O senhor também tem trabalhos desenvolvidos em museus, com a
organização de exposições. Qual a maior dificuldade na organização de
uma exposição como foi, por exemplo,
La era de la discrepancia : arte y
cultura visual en Mexico 1968-1997
?
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Incluiria mais uma exposição: Desafío a la estabilidad. Procesos artísticos en
México, 1952-1967, que expus no MUAC (Museo Universitario de Arte Contemporáneo
de la UNAM), em 2014, em que participei como organizador curatorial ao lado de Rita
Eder e Pilar García. Mais do que duas exposições, tratam-se de projetos de investigação
coletiva em longo prazo. Ambas estiveram expostas em museus da Universidade e, nesse
sentido, acreditamos ser necessário ir mais além do projeto curatorial comum, que
implica uma investigação monográfica, a edição de um catálogo breve e uma montagem
museográfica que se mantenha por alguns meses. As duas exposições traçavam um
panorama que ainda não se havia feito sobre a arte e a cultura no México contemporâneo,
de maneira que era um tema impossível de ser realizado individualmente. Dessa forma,
empreendemos projetos de investigação universitário – de acordo com o tipo de
museus a que o projeto estava destinado – com a colaboração de vários professores,
investigadores e alunos. Em ambos os casos, foram feitos seminários de pós-graduação
2 Esta exposição foi concebida para o Museo Universitario de Ciencias y Arte (MUCA) da UNAM
na Ciudade do México, onde foi apresentada entre março e setembro de 2007. Organizada pelos cura-
dores Pilar García de Germenos, Álvaro Vázquez Mantecón, Cuauhtémoc Medina y Olivier Debroise, a
exposição foi mais que um panorama de todas as correntes e tendências que emergiram durante essas
três décadas, mas também pretende introduzir cortes transversais para destacar momentos em que ar-
tistas de distintas gerações e provenientes de horizontes culturais diversos se propuseram a transformar
formal ou politicamente o sentido de produzir arte. A mostra se destaca não só pelas mais de 300 obras
- entre pintura, fotografia, escultura, cartazes, ilustrações, cinema, vídeo e documentos - que a confor-
mam, mas pelo esforço de reconstrução de obras destruídas e efêmeras do período, em colaboração com
os próprios artistas. A reconstrução esteve a cargo de Tatiana Falcón, coordenadora do Laboratorio de
Arte del Instituto de Investigaciones Estéticas (IIE) da UNAM. Foi também fundamental a participação de
outras instâncias universitárias como TV UNAM e a Filmoteca na obtenção dos materiais documentais
incluídos no projeto.