ambiental, também veio à público no segundo semestre de 2020 com o Projeto de Lei
(PL) 529, enviado à Assembleia Legislativa pelo chefe do executivo estadual, João Dória
(PSDB), visando a extinção de 10 autarquias e fundações públicas, entre elas a Fundação
Florestal e o Instituto Florestal, responsáveis pela administração das Unidades de
Conservação estaduais, fundamentais para a proteção dos remanescentes naturais em
São Paulo há décadas.
Sob o turvo discurso da eficiência e do equilíbrio das contas
públicas, o ajuste do estado aos preceitos da racionalidade neoliberal
lançou-se fundo
no desmonte de uma das instituições pioneiras em aglutinar pesquisadores e práticas na
conservação da natureza no estado de São Paulo.
A proposta de construção de um grande anel viário, com cerca de 170 quilômetros
contornando a mancha urbana estava em pauta desde a gestão de Jânio Quadros na
prefeitura da capital, entre 1986 e 1989. O projeto, no entanto, não avançou, barrado pela
força de movimentos sociais que se ergueram, sobretudo, com a bandeira da defesa dos
remanescentes da floresta atlântica que circundavam a metrópole, em particular, na
região da serra da Cantareira.
Na década de 1970, as antigas denúncias de devastação da Mata Atlântica no
Estado de São Paulo
ganharam renovado fôlego, unindo um debate mundial, após a
Conferência sobre o Meio Ambiente Humano realizada em Estocolmo, em 1972, com as
situações de degradação social e ambiental, contaminação de rios e mananciais, a
poluição do ar que se adensava na região metropolitana e os impactos do polo
petroquímico de Cubatão, despertando indagações crítica, da situação vista por muitos
como uma tragédia anunciada (RIBEIRO, 2001; MARCONDES, 1999; GUTBERLET, 1996).
A esses debates e clamores pela proteção de remanescentes naturais de Mata Atlântica
,
O PL 529 faz eco a Indicação n° 3983, de 11 de novembro de 2019, do Deputado Estadual Frederico D’
Ávila (PSL) que propõe a liquidação e extinção da Fundação Florestal e do Instituto Florestal (D´ÁVILA,
2019). Segundo informações fornecidas pelo próprio deputado ao site da Assembleia Legislativa, D Ávila é
produtor rural, sua base eleitoral se encontra no agronegócio e serviços de irrigação e é Vice-Presidente
da APROSOJA-SP e APROSOJA-Brasil. Aprovado, o projeto deu origem a lei nº 17.293, de 15 de outubro de
2020 definiu em seu artigo 64 a extinção do Instituto Florestal (SÃO PAULO, 2020b).
Racionalidade neoliberal como a razão do capitalismo contemporâneo que tende a organizar e estruturar
não apenas a ação dos governantes, mas a própria conduta dos governados, cuja característica principal se
dá pela “generalização da concorrência como norma de conduta e da empresa como modelo de
subjetivação” (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 17)
As denúncias de devastação das matas no território paulista remontam às décadas finais do século XIX,
durante a expansão da cafeicultura pelo interior da província, sobretudo, atrelada ao uso da madeira pelas
ferrovias, mobilizando opiniões acerca da finitude da floresta nativa e a introdução de espécies exóticas,
como o eucalipto., criticando veementemente a utilização de madeira extraída de áreas naturais pelas
companhias férreas. Sobre o processo histórico que levou à quase extinção do bioma atlântico, é
incontornável o clássico trabalho de Warren Dean (1996).
O agrônomo Mauro Antônio Moraes Victor foi um dos divulgadores da acentuada perda da cobertura
vegetal original do Estado de São Paulo. Em Suplemento do Centenário do jornal
O Estado de S. Paulo
, em
março de 1975, publicou uma série de representações cartográficas ilustrando o avanço do desmatamento
sobre o território paulista e a projeção para os anos 2000. Em 1976, o texto foi lançado pela Sociedade