O incremento da indústria açucareira era, de certa forma, uma necessidade diante
da concorrência internacional; e, de fato, a usina conseguiu funcionar muito melhor do
que o seu antecessor, o engenho central, o que se deveu, provavelmente, a sua relativa
independência em face dos fornecedores, já que ela própria produzia boa parte da sua
matéria prima. Algumas, aliás, tiveram tanto êxito que levaram à fundação de cidades em
suas redondezas, como foi o caso de Catende (ANDRADE, 1989).
O grande problema é que essa modernização não alterou em nada a estrutura da
cultura tradicional da cana. Os “novos” usineiros não passavam de ex-senhores de
engenho saídos da velha aristocracia. A atividade econômica se intensificava, mas
continuava sob o comando dos velhos grupos. Conforme realçado por Perruci (1978, p.
127), “[...] se o sistema usineiro provoca mudanças importantes, ele deixa intacta a
estrutura de dominação agrária regional, acentuando o caráter monocultor e
monoexportador da economia e contribuindo, assim, para o agravamento dos
“desequilíbrios regionais” no Brasil.”
A expansão da malha ferroviária, em particular, gerou um grande impacto
ecológico, mais uma vez para além do evidente impacto social. Nas palavras de Andrade,
Com a expansão da área cultivada, a cana iria provocar a derrubada das
florestas ainda preservadas, em uma área de relevo acidentado, acelerando a
erosão das encostas e o entulhamento dos vales. Os rios, com os seus leitos em
grande parte cheios de sedimentos transportados pelas enchurradas (
sic
),
ficavam cada vez menos profundos e mais largos. Além disso, a derrubada das
florestas provocava alterações no regime dos rios, dando origem a grandes
cheias nos períodos chuvosos e queda do nível das águas ao mínimo ou até à
periodicidade, no estio, justamente na ocasião em que as indústrias mais
necessitavam de água. (ANDRADE, 1989, p. 34)
Iniciou-se, nesse contexto, no então
Congresso Legislativo do Estado de
Pernambuco
, que era bicameral, conforme permitido pela Constituição da República de
1891, um debate político a respeito da necessidade de “por um paradeiro à vandálica
devastação das florestas locais” (PERNAMBUCO, 50ª Sessão, 1904).
Os parlamentares tinham plena consciência da importância das matas para a
regulação das chuvas e o equilíbrio do clima. Sua preservação, naquele momento, estava
associada ao que os “países cultos” vinham fazendo, daí a ligação com a ideia de
civilização. Por outro lado, como garantir a expansão da agricultura, no modelo
predatório adotado, sem avançar por dentro das florestas? Como impor limites ao corte
das árvores, se o direito de propriedade era absoluto? Foi justamente esse o grande
embate (na verdade, o é até hoje).
Em face das preocupações dos usineiros, acabou sendo apresentado, em 16 de
maio de 1904, o projeto de um Código Florestal para o Estado de Pernambuco, contendo