(LEME, 1869, 1870a, 1870b, 1871a, 1871b, 1872a e 1872b). O que indica que a sua utilização
como fonte vai acontecer a partir do final do século XIX
, tornando-se uma importante
referência sobre a presença dos paulistas na Guerra dos Bárbaros.
Em relação à atuação dos bandeirantes do Planalto de Piratininga, Leme (1869,
1870a, 1870b, 1871a, 1871b, 1872a e 1872b) destaca, entre outros, a atuação de Matias
Cardoso de Almeida, um dos principais líderes das empresas que foram criadas para dar
cabo da resistência dos povos nativos ao avanço colonizador. Ressalta, como comentado
anteriormente, como a sua experiência em incursões pelo Sertão e, especificamente,
nesse tipo de conflito (TAUNAY, 1924, 1927, 1928, 1929, 1930 e 1936b), teria sido o
principal motivo para que o mesmo fosse contratado pelo Governo Geral do Brasil para
liderar um novo estilo de guerra, como informado por Ressurreição (1929a, p. 383), a ser
implementado contra os nativos, nas capitanias do Ceará e Rio Grande.
Pedro Taque Paes Leme, no entanto, ao recuperar a trajetória histórica de Matias
Cardoso, não contempla um período que pode ser considerado como um dos mais
significativos de sua atuação no Sertão, como se discutirá
a posteriori
. Trata-se da
guerra promovida contra os Anaió
, no Sertão do Rio São Francisco, próximo, ao Sul, aos
Rios Verde e Carinhanha
. O autor observa que Matias Cardoso, ao deixar a bandeira de
D. Rodrigo Castelo Branco, após a sua morte no Sertão em 1682, retorna e permanece
em São Paulo até ser convocado para a guerra no Ceará e Rio Grande em 1689 (LEME,
1870a, p. 54). Entretanto, Leme não identificou em sua pesquisa é que, em 1684, Matias
Cardoso foi contratado por Antônio Guedes de Brito, senhor da Casa da Ponte, com aval
do então Governador Geral do Brasil, Antônio de Souza Menezes, para a dita guerra
contra os Anaió, no Sertão do Rio São Francisco; bem como que o mesmo permaneceu
nessa contenda até 1688, e ali foi o responsável por liderar os processos de ocupação
colonial que viriam resultar no primeiro arraial com população sedentária no território
que mais tarde seria parte do Estado de Minas Gerais, como será discutido mais adiante.
Sobre a presença de paulistas no Sertão do Rio São Francisco, o historiador
catarinense Affonso de Escragnolle Taunay, em sua importante e volumosa obra:
História Geral das Bandeiras Paulistas,
ajuda-nos a dimensionar melhor esse fenômeno.
É importante destacar que, antes disto, Varnhagem (1975, p. 256) faz menção à Guerra dos Bárbaros nos
Sertões do Ceará e Rio Grande sem, no entanto, dar maiores detalhes do que aquilo que tinha sido
apresentado por Rocha Pita (2013, p. 219).
A grafia de etnônimos referentes aos povos nativos obedece aqui à Convenção para a Grafia dos Nomes
Tribais de 1956. Portanto, são escritos como inicial maiúscula e não são flexionados quanto a gênero e a
número (MELATTI, 1999, p. 1). Além de Anaió, também aparecem nos documentos consultados as seguintes
grafias:
Ua Nay
,
Anojeses
, A
yayos.
Atualmente estes rios servem de marco divisório entre os Estados de Minas Gerais e Bahia. O Rio Verde
do lado direito e o Carinhanha do lado esquerdo do Rio São Francisco.