Recebido em: 03/03/2015
Aprovado em: 19/05/2015
Cuba nas universidades brasileiras: análise da pro-
dução nos programas de pós graduação em Histó-
ria (1971-2014)
Cuba in Brazilian universities: analysis of production
in graduate programs in History (1971-2014)
SAIANI, Renato Cesar Santejo1
Resumo: Este artigo analisa a produção de pesquisas sobre a História de Cuba nas
universidades brasileiras, entre os anos de 1971 e 2014. Partindo do levantamento das
teses e dissertações produzidas, analisamos o seu volume, os temas privilegiados, o
espaço ocupado por Cuba na produção de História da América e o que influenciou
essas escolhas. Dessa forma, esses elementos serão articulados em uma análise que
busca entender essa produção quando relacionada às mudanças na historiografia e no
desenvolvimento da História da América no meio acadêmico brasileiro.
Palavras-chave: Cuba, Universidades Brasileiras, História da América.
Abstract: This article analyzes the production of research on the history of Cuba in
Brazilian universities, between the year’s 1971 and 2014. Based on the survey of thesis
and dissertations, we analyze the volume, the favorite themes, the space occupied by
Cuba in the production of American History and what influenced and influences those
choices. Therefore, these elements will focus on an analysis that seeks to understand
1. Mestre em História – Doutorando – Programa de Pós-graduação em História – Faculdade de Ciências
e Letras de Assis – UNESP – Universidade Estadual Paulista, Campus de Assis – Av. Dom Antônio, 2100,
CEP:19806-900, Assis, São Paulo – Brasil. Bolsista CAPES. E-mail: nasai85@yahoo.com.br.
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FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.2, nº1, p. 80-95, jan.-jun., 2015.
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this production when related to changes in historiography and in the development of
American History in Brazilian academia.
Keywords: Cuba, Brazilian Universities, American History.
É notável o crescimento atingido nas últimas décadas pelo campo de História
da América na produção das universidades brasileiras, influenciado, sobretudo, pelo
desenvolvimento e criação de cursos de graduação e pós-graduação, o incremento
do campo editorial, o maior acesso aos materiais bibliográficos e documentais, além
da criação de grupos de pesquisa, eventos acadêmicos e associações, a exemplo da
ANPHLAC (Associação Nacional de Pesquisadores e Professores de História das
Américas). As atenções se voltaram para diferentes épocas, temáticas e países, que
passaram a ser explorados a fundo por pesquisadores de diferentes instituições, criando-
se, assim, uma interessante circulação de ideias e descobertas sobre o continente, que
por muito tempo ficou limitado às barreiras de um tênue intercâmbio intelectual e
cultural com o Brasil.
Contudo, esse interesse crescente não se desenvolveu de maneira uniforme,
mas com visíveis defasagens que, segundo José Luís Bendicho Beired (2005, p. 41),
seguem motivações diversas, tais como:
Proximidade geográfica, a existência de fenômenos históricos que vinculem o
Brasil a outras regiões e países, tanto no passado quanto no presente, quando
não a disponibilidade de materiais bibliográficos e documentais no Brasil,
além dos interesses e especialidades dos orientadores.
Nesse sentido, países como Argentina, Paraguai, Estados Unidos e México
dominam grande parte dos estudos desenvolvidos nas universidades brasileiras,
enquanto Cuba, Chile, Bolívia, Venezuela e Colômbia ocupam um segundo plano.
Quando iniciamos uma pesquisa de mestrado sobre o processo de independência
cubana, nos deparamos com uma considerável escassez de traduções e publicações
de obras sobre o tema no Brasil. As seguintes obras são exceções a essa regra: do
cubano Manoel Moreno Fraginals, “Cuba-Espanha-Cuba: uma história em comum”,
publicada pela EDUSC; “Cuba: uma nova história, do britânico Richard Gott, publicada
pela Jorge Zahar; e “Estados Unidos: poder e submissão, do norte-americano Lars
Schoultz, também publicado pela EDUSC. Os três livros trazem um panorama geral
da história cubana, mas dedicam um considerável espaço para a análise do processo
de independência e seus desdobramentos. Se considerarmos as publicações sobre o
tema nas últimas décadas em países como Estados Unidos, Espanha e Inglaterra será
possível notar a existência de uma grande produção, ainda inédita no Brasil, a exemplo
de: La Guerra de Cuba (1895-1898), dos espanhóis Antonio Elorza e Elena Hernández
Sandoica; Guerra y genocídio en Cuba (1895-1898), do norte-americano John Lawrence
Tone, além da obra Cuba: la lucha por la libertad – 1762-1970, disponível em espanhol,
mas de difícil acesso nas bibliotecas das universidades brasileiras.
Partindo dessa realidade, surgiu o questionamento sobre os caminhos percorridos
por esse país nos cursos de História das universidades brasileiras, refletindo sobre
qual o espaço ocupado por Cuba na produção de História da América, quais os temas
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privilegiados e o que influenciou essas escolhas. Dessa forma, neste artigo vamos centrar
a atenção na produção de teses e dissertações de História, entre os anos de 1971 e 2014,
que abordam temáticas referentes a Cuba, na tentativa de traçar uma relação entre essa
produção e os caminhos trilhados pela História da América nas últimas décadas no meio
acadêmico brasileiro.
Julgamos necessário efetuar uma análise que abrangesse diferentes universidades,
com suas diferentes linhas de pesquisa e orientações político-ideológicas. Para isso, foi
utilizado a lista de universidades e de seus respectivos programas de pós-graduação
stricto sensu em História recomendados e reconhecidos pela CAPES (Comissão de
Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior)
2
. Dessa forma, analisamos os bancos de
teses e dissertações dos 69 programas listados pela CAPES com notas que variam de 3 a
7
3
. Após o levantamento foi possível observar que dentre as universidades pesquisadas,
apenas 16 possuíam teses ou dissertações defendidas que se dedicavam a assuntos
relativos à ilha de Cuba, são essas: Universidade de Brasília (UNB), Universidade Federal
de Goiás (UFG), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal
do Espírito Santo (UFES), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade
Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ),
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual Paulista (UNESP),
Campus de Assis e Campus de Franca, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP),
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul (PUC-RS) e Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Foi com grata surpresa que encontramos um número considerável de pesquisas.
Entre 1971, ano de criação de alguns dos principais cursos de pós-graduação do país
4
,
e dezembro de 2014, foram produzidas 65 pesquisas, sendo 41 dissertações e 24 teses
5
(Tabela 1). Contudo, esses trabalhos acabaram por se concentrar em três universidades,
USP, UFG e UNB, que juntas produziram aproximadamente 60% das pesquisas.
São diversos os elementos que podem explicar a centralização dessa produção. O
protagonismo do Programa de Pós-Graduação em História Social da FFLCH-USP, por
exemplo, deve ser atribuído a diferentes fatores, entre os quais estão a antiguidade
da pós-graduação, o número de docentes e programas e a sua reconhecida função
de geradora de docentes que preenchem seus quadros e os de outras universidades
6
2. Relação de Cursos Recomendados e Reconhecidos: Área: História. Brasília, mar.2015. Disponível
em:http://conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/ProjetoRelacaoCursosServlet?acao=pesquisarIes&-
codigoArea=70500002&descricaoArea&descricaoAreaConhecimento=HIST%D3RIA&descricaoAreaA-
valiacao=HIST%D3RIA. Acesso em: 10 de fev. 2015.
3. É importante destacar que algumas universidades possuem mais de um programa de pós-graduação
em História, a exemplo da USP (História Social e História Econômica) e da UERJ (História e História So-
cial). Nesse sentido, para fins de análise quantitativa esses programas não serão separados em duas uni-
dades nas tabelas apresentadas, mas sim considerados dentro das instituições nas quais estão inseridos.
4. Os programas de pós-graduação da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal Flumi-
nense, por exemplo, foram criados nesse ano.
5. É preciso ressaltar que Cuba também tem sido objeto de pesquisa nos programas de pós-graduação de
Sociologia, Ciência Política, Antropologia e em programas interdisciplinares. Se os trabalhos produzidos
nesses programas fossem levados em consideração o número de teses e dissertações sobre Cuba cresce-
ria consideravelmente. Contudo, devemos levar em consideração as balizas propostas para esse artigo e
também as limitações de espaço e tempo como motivos para não incluir tais trabalhos na análise. Assim,
a produção acadêmica desses programas de pós-graduação poderá ser aproveitada em trabalhos futuros.
6. Podemos utilizar como exemplos as atuações de José Luís Bendicho Beired, na UNESP-Assis, Katia
Gerab Baggio, UFMG, Rafael de Bivar Marquese e Júlio Cesar Pimentel Pinto Filho, na USP, todos com
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(BEIRED, 2005, p.39). Além disso, a participação ativa de Maria Lígia Prado e Maria
Helena Capelato no desenvolvimento das orientações em História da América, desde
a década de 1980, não pode ser ignorada. A criação de grupos de estudos, de grupos
temáticos e o intenso intercâmbio entre diferentes universidades, desenvolvidos a partir
da atuação de Prado e Capelato, foram responsáveis por impulsionar as pesquisas em
História da América nessa instituição.
Tabela 1 – Produção de teses e dissertações por universidade.
Universidades Teses Dissertações Total
USP 10 6 16
UFG
1 11 12
UNB
7 3 10
UFF
1 4 5
UNICAMP
3 1 4
UNESP-Assis
- 3 3
UNESP-Franca
- 3 3
UFMG
- 2 2
PUC-RS
- 2 2
UFBA
1 1 2
UFRJ
1 - 1
UFES
- 1 1
UFJF
- 1 1
UFSC
- 1 1
UNISINOS
- 1 1
UFRRJ - 1 1
Total
24 41 65
Seguindo o mesmo caminho, os cursos de pós-graduação da UFG e UNB
figuram entre os mais antigos do país, 1972 e 1976, respectivamente, e contaram com a
participação de figuras importantes para o desenvolvimento das pesquisas sobre Cuba.
Em Goiás, a atuação de Olga Rosa Cabrera Garcia, a partir de meados da década de
1990, proporcionou um grande crescimento no interesse sobre as temáticas relativas
à região do Caribe, com especial atenção para a ilha de Cuba. O desenvolvimento de
trabalhos e projetos que relacionam o Brasil com essa região da América Central,
impulsionados por Cabrera, além de sua intensa atuação como membro do corpo
editorial de diversas revistas dedicadas a temas caribenhos, como “Revista Brasileira
do Caribe”, foram fundamentais para a difusão desse objeto. Também devemos salientar
as orientações de Luiz Sérgio Duarte da Silva, principalmente aquelas que abordam a
questão da identidade nacional cubana. Juntos, os dois professores foram responsáveis
pela orientação de 9 dos 12 trabalhos encontrados na UFG.
Em Brasília, por sua vez, a dedicação a estudos relacionados à Política Externa
Brasileira, orientados, sobretudo, por Amado Luiz Cervo e Luiz Alberto Moniz Bandeira,
serviram para aproximar no meio acadêmico as diplomacias de Brasil e Cuba. Outras
orientações de trabalhos com temáticas cubanas.
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duas figuras também apresentam relevância nas pesquisas desenvolvidas na UNB. Em
primeiro lugar, Jaime de Almeida e suas orientações no campo da História Cultural que
produziram trabalhos relativos à memória cubana, a escravidão e ao pensamento de
José Martí. Em segundo lugar, novamente a participação de Olga Rosa Cabrera Garcia,
que desde meados dos anos 2000 também atua junto à federal de Brasília e contribuiu
com mais duas orientações em temáticas cubanas.
Quanto aos temas abordados, constatamos a preponderância dos estudos
relativos à Revolução Cubana, com 18 pesquisas (Tabela 3). É interessante perceber
que esses trabalhos estão colocadas, em concordância com Werner Altmann, na linha
subsequente daquelas obras “que surgiram imediatamente após Moncada ou na esteira
da euforia da vitória da etapa armada da revolução e que tiveram, em maior ou menor
medida, vinculação com a teoria do foco insurrecional” (ALTMANN, 2007, p. 10), após
esse período de compreensão imediata da Revolução Cubana surgiram estudos que
começaram a perceber essa revolução a partir do desenvolvimento do capitalismo em
Cuba, da luta de classes, do papel fundamental do campesinato e, no campo ideológico,
do nacionalismo anti-imperialista (ALTMANN, 2007, p.10).
Na sequência, observamos o domínio de estudos relacionados à literatura cubana,
11 no total, dos quais se destacam análises de autores como Alejo Carpentier, Guillermo
Cabrera Infante, Carlos Franqui, entre outros. Destacam-se, também, as pesquisas
dedicadas a José Martí, 7 no total, e aos seus ideais americanistas professados na obra
Nuestra América. Além disso, outros temas também suscitaram diversas pesquisas
e merecem destaque, são eles: escravidão (5), movimentos migratórios (5), questões
raciais e de gênero (4), periódicos (4), música, cinema e fotografia (4), independência (3),
educação e saúde (2) e religião (2). Alguns desses trabalhos optaram pela utilização da
comparação, totalizando 16 pesquisas, das quais 11 optaram pela articulação da história
brasileira à cubana. Além disso, existem 5 trabalhos com uma abordagem geográfica
ampla na qual comparam Cuba com dois ou mais países. Essa prática é deveras
importante, pois permite um melhor entendimento das relações políticas, econômicas e
culturais existentes entre Cuba e os demais países americanos.
Apesar de ser uma caracterização repleta de armadilhas e passível de discordâncias,
buscamos agrupar esses trabalhos em áreas de pesquisa. Levando em consideração que
alguns trabalhos flutuam por mais de uma área, optamos por classificá-los de acordo
com o que consideramos sua dimensão preponderante (Tabela 2). Assim, essa divisão
nos indicou o predomínio nas áreas de História Política e História Cultural, com 27 e 18
trabalhos, respectivamente, seguidos pela História das Ideias, com 7 pesquisas, e pela
História das Relações Internacionais, com 5 trabalhos. Era um resultado esperado, na
medida em que se considerava que as tendências historiográficas da terceira geração
dos Annales e da renovação da História Política, assumidas pela historiografia brasileira,
em fins da década de 1970 e início década de 1980, seriam predominantes. Os novos
métodos, temas e abordagens causaram uma inflexão na produção nacional e que se
refletiu na produção sobre História da América, abrindo caminho para que temas e
fontes antes ignorados se tornassem pertinentes aos historiadores daquele período e
dos anos subsequentes.
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Tabela 2 - Pesquisas por áreas
História Política 27
História Cultural 18
História das Ideias 7
Relações Internacionais 5
História Social 3
História Econômica 2
História da Arte 1
História da Educação 1
História Demográfica 1
Total 65
Para melhor esclarecer essas mudanças de métodos e abordagens, podemos
utilizar, como exemplo, o crescimento no interesse e utilização de jornais e revistas como
fontes históricas. Tania Regina de Luca (2006, p. 121) constrói uma análise interessante
sobre os obstáculos enfrentados por esse material:
Na década de 1970, ainda era relativamente pequeno o número de trabalhos
que se valia de jornais e revistas como fonte para o conhecimento da história
do Brasil. A introdução e difusão da imprensa no país e o itinerário de jornais
e jornalistas já contava com bibliografia significativa, além de amiudarem-se
as edições fac-símiles e os catálogos dando conta de diários e revistas que
haviam circulado em diferentes partes do território nacional. Reconhecia-se,
portanto, a importância de tais impressos e não era nova a preocupação de se
escrever a História da imprensa, mas relutava-se a mobilizá-los para a escrita
da História por meio da imprensa.
A imprensa começou a galgar uma nova posição, ainda na década de 1970,
claramente influenciados pelas novas concepções desenvolvidas pela terceira geração
dos Annales, alguns trabalhos
7
trouxeram a imprensa para a posição não só de fonte,
mas também para a de objeto da pesquisa histórica. Esse crescimento disseminou-se
pelas décadas de 1980 e 1990 até atingir o ápice de sua expansão nos anos 2000. Assim,
podemos observar que, entre os anos de 2000 e 2014, foram produzidos 7 trabalhos,
nos quais a imprensa foi utilizada como fonte ou objeto de estudo. Caminho semelhante
foi percorrido pela literatura que, nesse período, surgiu com 12 trabalhos, o cinema com
2 pesquisas e a música e fotografia com 1 trabalho cada.
Tabela 3 – Pesquisas divididas por temas de concentração
Revolução Cubana 18
Literatura cubana
11
José Martí
7
Escravidão
5
Movimentos Migratórios
5
7. Entre estes trabalhos podemos destacar a tese de doutorado de Arnaldo Contier, “Imprensa e ideologia
em São Paulo (1973)”; e as dissertações de Maria Helena Capelato e Maria Lígia Prado (1974), fundidas na
obra “O bravo matutino (1980)”. Para mais informações sobre conferir (LUCA, 2006, p.128-129).
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Questões raciais e de gênero
4
Periódicos
4
Música, Cinema e Fotografia
4
Independência
3
Educação e Saúde
2
Religião 2
Total 65
O predomínio de algumas temáticas deixa claro que a produção sobre Cuba
ainda se concentra em alguns pilares historiográficos e dedica pouca atenção a temas
que são fundamentais para o entendimento de inúmeras situações das quais esses
estudos são dependentes. Deter-nos-emos, brevemente, no caso da independência
cubana e suas consequências diretas e indiretas para melhor exemplificar esse hiato.
O processo de independência cubana foi um dos mais importantes pontos de inflexão
nas relações e influências que agiam no continente americano em fins do século XIX.
Inicialmente, concluiu a desintegração do Império colonial espanhol na América e no
Pacífico, além de aprofundar a crise nacionalista enfrentada pelo território peninsular.
Concomitantemente, configurou-se como o início de uma nova fase da política
exterior norte-americana, mais agressiva e constante nos assuntos internacionais, em
oposição ao isolacionismo das décadas anteriores. Por fim, promoveu a redefinição
dos países latino-americanos em relação aos Estados Unidos e a sua antiga metrópole,
principalmente pelo acirramento do embate das correntes ideológicas representadas
pelo hispanismo e pan-americanismo
8
.
Para o território cubano, o caráter frustrado da independência deixou uma
importante herança para os movimentos revolucionários que surgiram posteriormente,
sobretudo, para a Revolução de 1959 (SAIANI, 2013, p.13). Esse movimento, por sua vez,
não deve ser entendido em uma perspectiva de curta duração, pois os fracassos de 1868
e 1895, segundo José Rodrigues Mao Júnior, “acabaram por determinar a correlação
de classes do movimento nacional cubano, que passou a basear-se num nacionalismo
militante extremado e de caráter crescentemente anti-imperialista” (MAO JÚNIOR,
2007, p. 17). Nesse sentido, nota-se que o ideal revolucionário de 1959 é hereditário
de uma construção de longa duração, que edificou um processo histórico baseado na
constante luta por uma liberdade efetiva. Esse passado foi constantemente evocado
para justificar o projeto revolucionário de fins da década de 1950, como se observa no
discurso de Fidel Castro, diante do Tribunal de Exceção de Santiago, ainda em 1953:
Há uma razão, porém, que nos assiste, mais poderosas que todas as outras:
somos cubanos. E ser cubano implica um dever, não cumpri-lo é crime de
traição. Vivemos orgulhosos da história de nossa pátria: aprendemo-la
na escola e crescemos ouvindo falar de liberdade, de justiça e de direitos.
Ensinaram-nos a venerar desde cedo o exemplo gloriosos de nossos heróis
e de nossos mártires. Céspedes, Agramonte, Maceo, Gómez e Martí foram
os primeiros nomes gravados em nosso cérebro; ensinaram-nos que o Titã
8. Para melhor entender essas mudanças as seguintes obras podem ser consultadas: El Ingenio: complejo
económico-social del azúcar, de Manoel Moreno Fraginals; España: sociedade, política y civilización (siglos
XIX-XX), organizado conjuntamente por Juan Pablo Fusi Aizpúrua, Guadalupe Gomez Ferrer e José Maria
Jover Zamora; e, por fim, Latino America y Estados Unidos: domínio, cooperación y conflito, de Federico Gil.
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(Antonio Maceo) havia dito que a liberdade não se mendiga, mas se conquista
com o fio da espada [...] (CASTRO, 1979, p.107-108).
Apesar dessa comprovada relevância, o processo de independência cubana
ainda é pouco explorado pela historiografia brasileira
9
, obrigando os interessados a
buscarem tais informações na historiografia cubana, espanhola, norte-americana e até
mesmo na argentina, entretanto, como já foi dito, essas obras não são de fácil acesso
aos pesquisadores brasileiros. Obviamente é necessário iniciar um trabalho para que
os obstáculos bibliográficos e documentais sejam ultrapassados e não somente temas
como a independência sejam visitados, mas também a Guerra dos Dez Anos, o governo
de Fulgencio Batista, as relações Brasil-Cuba, a atuação cubana na Guerra Fria, além
de uma produção mais sólida sobre temas como a fotografia, a música, o cinema,
periódicos, educação, a religião, saúde e esporte.
É interessante traçar uma análise das variações da produção ao longo das
últimas cinco décadas, pois nos trará uma importante visão dos fatores que podem
ter influenciado na redução ou crescimento do interesse sobre os assuntos cubanos.
Se dividirmos essa produção em quinquênios (Gráfico 1), podemos notar que nos dois
primeiros lustros, entre os anos de 1970 e 1980, nenhuma pesquisa com temática
cubana foi defendida. Situação alterada apenas em 1981
10
, com a defesa, na UFF, da
dissertação Relações raciais em Cuba e a Guerrilha de cor, de autoria de Ayr Angelo de
Souza. Na UNB, em 1989, Antônio José Barbosa apresentava a dissertação “O Brasil e a
questão cubana: Puntal Del Este, 1962”. Na década de 1990 mais quatro trabalhos foram
defendidos, citados em ordem cronológica: “Cuba na política exterior do Brasil (1959-
1964)”, do cubano Pablo José Saínz Fuentes (UNB – dissertação); “O projeto utópico de
Nuestra America de José Martí”, Eugênio de Rezende Carvalho (UFG – dissertação);
“José Martí e Domingo Sarmiento: duas ideias de construção da Hispano-América”
(UNB – tese), de Dinair Andrade da Silva; “O campesinato e a Revolução Cubana”, de
José Rodrigues Mao Júnior (USP – dissertação).
9. Alguns poucos estudos brasileiros abordaram de forma tangencial, por objetivarem o estudo de outros
temas, a independência cubana, entre eles podemos destacar: “A Revolução Cubana”, Luis Fernando
Ayerbe; “De Martí a Fidel: a Revolução Cubana e a América Latina, Luiz Alberto Moniz Bandeira;” A data
símbolo de 1898: o impacto da independência de Cuba na Espanha e Hispanoamérica”, de Maria Helena
Capelato; “Da guerrilha ao socialismo: a Revolução Cubana, Florestan Fernandes; “A Revolução Cubana
e a questão nacional (1868-1963)”, José Rodrigues Mao Júnior.
10. Existem trabalhos acadêmicos anteriores a essa data, mas tratam-se de obras de livre-docência ou
para a obtenção das cátedras, que, na USP, por exemplo, vigoraram até o ano de 1969. Contudo, optamos
por não utilizar esses trabalhos e restringir a análise às dissertações e teses produzidas nos programas
criados após 1971, nos quais começaram a ser seguidos os parâmetros da pós-graduação vigente até hoje.
Conferir (BEIRED, 2005).
SAIANI, Renato Cesar Santejo
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Gráfico 1 – Produção de pesquisas sobre Cuba por quinquênios
A que atribuir a baixa produção nessas três décadas? Diversos fatores podem ser
combinados. Inicialmente, é necessário destacar a existência de poucos programas de
pós-graduação, que tiveram um crescimento significativo a partir dos anos 2000, o que
levava a uma formação limitada de docentes, sobretudo, aqueles que se dedicavam à
História da América. As mudanças pelas quais passava a historiografia, com renovação
dos campos conceituais, temáticos e metodológicos e a transição política e econômica
pela qual o Brasil passava, inclusive, com o rompimento das relações diplomáticas entre
os países, resgatada apenas em 1986, também foram fatores relevantes. Além disso,
o campo de História da América ainda passava por adaptações e enfrentava alguns
problemas em seu tratamento, como demonstra Maria Lígia Prado (1994, p. 4), em
meados da década de 1980:
O tratamento que se tem dado à história geral dos países da América Latina
nos revela duas posições problemáticas. A primeira é a de assumir uma
perspectiva homogeneizante, que pretende englobar todos os “casos” de
países latino-americanos numa única e coerente interpretação. Além de não
dar conta da história nacional de cada um, essa abordagem ainda se depara
com as eternas “exceções” ao modelo estabelecido. A segunda, oposta, mas
não melhor, é a de simples enumeração dos “casos”, já que se considera
incorreto ou inadequado o viés globalizante. Esses estudos de “caso, além de
comumente serem muito cansativos, perdem alguns marcos históricos mais
amplos, que dão sustentação a uma análise da América Latina.
Para além desses elementos, cabe demonstrar que ensino de História entre
esses anos enfrentou diversas modificações e obstáculos, perdendo espaço, após a
implementação de Estudos Sociais, nos currículos nacionais enquanto o regime militar,
segundo Vitória Rodrigues e Silva, “seguia no seu firme propósito de, por um lado
despolitizar o ensino e, por outro, conferir caráter mais técnico à formação educacional”
(SILVA, p. 2004). Essas práticas se refletiam diretamente na construção dos cursos
universitários de História e na formação dos docentes nessa área. Os tópicos de História
da América ficaram relegados a discussões marginais e à produção de livros e manuais
dominados pela influência do pensamento imposto pela CEPAL (Comissão de Estudo
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Para a América Latina) ou pela teoria da dependência, que descreviam a América Latina
como o lugar do atraso e do subdesenvolvimento (SILVA, 2004, p.95).
Durante os anos 1990, iniciou-se um lento processo de esvaziamento do estudo
de História da América. Apesar de ainda serem mantidos nos manuais escolares, os
tópicos americanos acabaram sendo integrados à classificação de História Geral,
subordinada às etapas da história do capitalismo, ou seja, colonização, imperialismo
e globalização. Se levarmos em consideração o caso específico de Cuba, a situação
torna-se ainda mais crítica, pois o pouco espaço dedicado resume-se ao movimento
revolucionário de 1959 e suas consequências imediatas, sobretudo, a implementação
de uma forma de governo socialista. Tal análise é construída com base em uma série de
ideias pré-concebidas e discutidas de forma superficial.
Em relação ao mercado editorial brasileiro, a América Latina tomou caminhos
longos e tortuosos antes de se estabelecer na produção livreira do país. A escassez
de pesquisas e a pouca interlocução entre intelectuais brasileiros e latino-americanos
não gerava grandes interesses para o investimento maciço na produção de obras que
tratassem sobre os países vizinhos ou que os relacionassem com o Brasil. Foi a partir
da década de 1980, em decorrência da ampliação gradual das pesquisas de História
da América nos programas de pós-graduação, que alimentaram esse mercado em
seus segmentos mais acadêmicos, e o empenho específico de alguns docentes, que a
produção editorial começou a dedicar espaço considerável aos assuntos americanos.
Nesse período, foram traduzidos para o português trabalhos como “A história do
capitalismo na América Latina”, de Agustín Cueva; “Estado militar na América Latina”,
de Alain Rouquié; “A conquista da América: a questão do outro”, de Tzvetan Todorov e
“Invenção da América: reflexão a respeito da estrutura histórica do Novo Mundo”, de
Edmundo O’Gorman (SOARES; PINTO, 2004, p. 138).
Nos anos seguintes, iniciou-se uma importante produção nacional, na qual
a criação e atuação da ANPHLAC foi fundamental, pois, a partir da organização de
encontros especializados em História da América, surgiram obras como “América
Latina: cultura, Estado e sociedade”, organizado por Philomena Gebran e “Caminhos
da História da América no Brasil: tendências e contornos de um campo historiográfico”,
organizado por Jaime de Almeida. Contudo, as temáticas cubanas não eram privilegiadas
e as publicações relativas a elas ainda se mantinham lentas e pontuais, como a antologia
de textos de José Martí, “Nossa América”, organizada pelo cubano Roberto Fernández
Retamar, em 1991, e a publicação de algumas obras literárias de José Lezama Lima,
Virgílio Piñera, Guillermo Cabrera Infante e Reinaldo Arenas. Tal situação tornou-se
patente quando na publicação, em 1997, da primeira versão em português da coleção
The Cambridge History of Latin América, organizada por Leslie Bethell, foram excluídos
todos os capítulos dedicados ao Caribe (SOARES; PINTO, 2004, p. 141).
Em contrapartida, o período compreendido entre os anos 2000 e 2014 apresenta
um crescimento expressivo das pesquisas sobre Cuba. Se considerarmos o quinquênio
2000-2004, observamos a produção de 21 trabalhos, o que representa 33% do total
levantado, seguido por 31% no intervalo dos anos 2005 e 2009 e 28% nos anos de 2010 a
2014. O meio acadêmico e editorial, além das questões políticas e econômicas seguiram,
nesse período, na corrente oposta dos acontecimentos dos anos anteriores.
Um dado importante para explicar essa situação é o crescimento e difusão da
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pós-graduação, principalmente nas instituições radicadas em cidades do interior dos
estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais e para as universidades das regiões
norte, nordeste e sul. No intervalo de quatorze anos – entre 2000 e 2014 – foram
criados 41 novos programas em História
11
, permitindo a formação de novos docentes,
a criação de novos quadros para a incorporação desses profissionais, um maior
intercâmbio intelectual entre as diferentes universidades do país, abrindo caminhos para
o desenvolvimento de mais pesquisas em História da América e, consequentemente,
sobre temas relativos a Cuba. Claramente, esse é um movimento lento e gradual, mas
que começa a dar frutos, pois alguns trabalhos já foram defendidos nesses programas,
entre os quais podemos citar: ”O Uno e o Diverso: Construção Nacional e Incorporação
Indígena no pensamento de José Martí”, de Aline de Souza (UFES – 2007); “Concerto
Barroco de Alejo Carpentier: tensões barrocas e fuga pela música, de Pedro Henrique
Leite (UFJF -2013); e “Vozes do Insilio: o Movimento Cristiano de Liberación entre
dissidência e oposição em Cuba (1988-2002)”, de Lucrécia de Mascarenhas Batista
(UFFRJ - 2013).
A formação de novos docentes, que passaram pelas dificuldades de acesso a
bibliografia e fontes, supridas, em alguns casos, por meio de dispendiosas viagens ao
exterior, reacendeu as possibilidades de produção no campo de História da América
e, mais especificamente, dos assuntos cubanos, pois esses novos mestre e doutores
“ao finalizarem e publicarem seus trabalhos, aproximam dos leitores brasileiros todo
um universo de referências que praticamente não circula entre nós” (SOARES; PINTO,
2004, P.142). Assim, referentes a Cuba, surgiram novas publicações que contribuíram,
em certa medida, para o alargamento das discussões e análises de algumas questões
políticas ou culturais da ilha, entre elas estão “Polifonia tropical: experimentalismo e
engajamento na música popular cubana (Brasil e Cuba, 1967-1972)” e “Cinema Cubano:
Revolução e Política Cultural”, ambos de Mariana Martins Villaça; “Cultura ilhada:
imprensa e Revolução Cubana (1959-1961)” e “Os intelectuais cubanos e a política cultural
da Revolução, de Sílvia Cezar Miskulin; “Cenários Caribenhos”, organizados por Jaime
de Almeida, Olga Rosa Cabrera Garcia e María Teresa Cortés Zavala; além de “Caribe,
Sintonias e dissonâncias”, organizado por Jaime de Almeida e Olga Rosa Cabrera Garcia
e, mais recentemente, “Liberdade hipotecada: o processo de independência cubana na
imprensa brasileira (1895-1902)”, de Renato Cesar Santejo Saiani.
Os historiadores, como indicava Marc Bloch, devem estar atentos a tudo que está
ao seu redor, pois os temas do presente são responsáveis por condicionar e delimitar
o retorno ao passado (BLOCH, 2001). Na esteira desse pensamento, Maria Lígia Prado
considera que a criação do Mercosul “colocou problemas e questões ao historiador da
América Latina, sua existência fez surgir indagações particulares sobre as específicas
relações – não simplesmente relações econômicas – entre os países componentes do
bloco” (PRADO, 2001, p. 147).
Essa situação também se aplica quando nos questionamos sobre as relações
políticas, econômicas e culturais que se desenvolveram entre Brasil e Cuba nos últimos
anos. Claramente, percebemos que, desde o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-
2002), ocorre um estreitamento na ligação política e econômica entre estes países.
Situação que passou por uma considerável aceleração nos governos dos presidentes
Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e no governo Dilma Rousseff, iniciado em 2011, nos
11. Desses 41 novos programas, 18 estão na região sudeste, 15 no nordeste, cinco na região sul, dois na
região norte e apenas um no centro-oeste.
Cuba nas universidades brasileiras: análise da produção nos programas de pós graduação em História (1971-2014)
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quais diversos acordos bilaterais foram assinados e investimentos consideráveis foram
feitos no desenvolvimento da infraestrutura da ilha, abrindo as portas para a atuação
das empresas brasileiras, além da troca constante de visitas feitas pelos respectivos
presidentes e por seus ministros.
Outro ponto a ser destacado são as iniciativas do Programa CAPES/MES-Cuba,
que visa apoiar a formação de recursos humanos de alto nível, vinculando-se a projetos
de cooperação científica entre Instituições de Ensino Superior do Brasil e de Cuba,
em diversas áreas de conhecimento. Essa iniciativa abriu um leque de possibilidades
para os pesquisadores brasileiros sobre temáticas cubanas e gerou um interessante
intercâmbio intelectual entre os dois países
12
. Evidentemente, esse impulso nas relações
políticas e econômicas entre os dois países aguçou o interesse dos historiadores sobre o
passado das relações entre Brasil e Cuba e também sobre a história da ilha, causando um
impacto positivo no aumento das pesquisas produzidas nas universidades brasileiras.
A soma desses fatores nos traz uma explicação para o desenvolvimento acentuado
de pesquisas entre os anos 2000 e 2014. Não se pode ignorar ainda fatores de ordem
pessoal, como questões ideológicas ou posições políticas, tanto dos pesquisadores
quanto de seus orientadores, que influenciaram no interesse e desenvolvimento de
algumas pesquisas, mas são questões abstratas e que não podemos mensurar, ficando,
assim, fora dessa análise. Além disso, é necessário apontar a expansão e disponibilidade
de novas ferramentas de pesquisa, como livros e documentos digitais, que dinamizaram
a pesquisa e diminuíram sobremaneira as dificuldades de acesso a diversos materiais.
Esse número consistente de trabalhos dedicados a explorar as questões cubanas revela,
também, uma preocupação em explorar novos temas, métodos e abordagens, sejam eles
vinculados a questões políticas, culturais ou econômicas da ilha.
Nesse sentido, torna-se necessário elencar esses trabalhos para que eles possam
ser conhecidos e utilizados pelos futuros pesquisadores da história cubana. Para uma
melhor visualização, as instituições e suas respectivas pesquisas foram divididas em
agrupamentos regionais.
Nas instituições da região sudeste foram arrolados os seguintes trabalhos. USP:
Sílvia Miskulin, “Cultura e Política em Cuba: os debates em Lunes de Revolución”; e
“Os intelectuais cubanos e a política cultural da Revolução (1961-1975)”; Mariana
Martins Villaça, “Tropicalismo (1967-1969) e Grupo de Experimentación Sonora (1969-
1972): engajamento e experimentalismo na canção popular no Brasil e em Cuba”; e “O
Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográficos (ICAIC) e política cultural em
Cuba (1959 – 1991)”; Lia Madalena Ramponi Antonioli, “Fontes semelhantes, vertentes
diferentes: a formação do professor primário no Brasil e em Cuba na década de 1960 -
um estudo comparativo”; Marisa de Oliveira, “José Martí nos discursos de Fidel Castro:
da revolução nacional à socialista”; Fernando Bretones Lane, “Notícias Insurgentes.
Política, escravidão e imprensa periódica em Cuba no contexto das independências ibero-
americanas (1810-1823)”; Rafael de Bivar Marquese, “Feitores do corpo, missionários
da mente: história das ideias da administração de escravos nas Américas, séc. XVII
– XIX”; Walderez Loureiro Miguel, “A trabalhadora social na saúde pública em Cuba
(1959-1989): uma profissional em busca de sua identidade”; Gilberto Lopes Teixeira,
Antiimperialismo e nacionalismo: a polêmica dos anos 20 na visão de Haya de la Torre
12. Programa CAPES/MES-Cuba-Projetos. Brasília, set.2008. Disponível em: http://www.capes.gov.br/
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SAIANI, Renato Cesar Santejo
FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.2, nº1, p. 80-95, jan.-jun., 2015.
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e Julio Antonio Mella”; Luís Bernardo Pericás; “Che Guevara e o debate econômico
em Cuba (1959-1964)”; José Rodrigues Mao Júnior, “A Revolução Cubana e a Questão
Nacional (1868-1963)”; Fábio Luis Barbosa dos Santos, “Origens do pensamento e da
política radical na América Latina: um estudo comparativo entre José Martí, Juan B.
Justo e Ricardo Flores Magón”; Ynaê Lopes dos Santos, “Irmãs do Atlântico: escravidão
e espaço urbano no Rio de Janeiro e em Havana (1763-1884)”; Eduardo Ferraz Felippe, “A
ressignificação de Sísifo: tradição, cultura política e história na obra do moderno vetusto
Alejo Carpentier (1928-1980)”. UNICAMP: Mônica Villares Ferrer, “Arte Fotográfica e a
liberdade de expressão: um diálogo entre Brasil e Cuba (1960-1990)”; Jean Rodrigues
Sales, “O impacto da revolução cubana sobre as organizações comunistas brasileiras
(1959-1974)”; Iacy Maia Mata, “Conspirações da “raça de cor”: escravidão, liberdade e
tensões raciais em Santiago de Cuba (1864-1881)”; Karla Maria Fredel, “Arqueologia de
gênero nas cidades de Pelotas/RS – Brasil e Habana Vieja/Habana – Cuba: século XIX”.
UNESP-Assis: André Lopes Ferreira, “A Extrema Esquerda brasileira e a Revolução
Cubana (1959-1974)”, Barthon Favatto Suzano Júnior, “Entre o doce e o amargo: cultura
e revolução em Cuba nas memórias literárias de dois intelectuais exilados”, “Carlos
Franqui e Guillermo Cabrera Infante (1951-1968)”; Renato Cesar Santejo Saiani,
“Liberdade hipotecada: o processo de independência cubana na imprensa brasileira
(1895-1902)”. UNESP-Franca: Telmo Renato da Silva Araújo, “O pensamento racial
em Nina Rodrigues e Fernando Ortiz”; Jorge Eschiriqui Vieira Pinto, “O pensamento
político de José Martí e o liberalismo mexicano”; Cássia Donizetti Vassi, “Mulheres em
Cuba: uma perspectiva jurídica (1901-1976)”. UFF: Carlos Alberto Barão, “O processo de
Retificação de Erros e Tendências Negativas em Cuba: 1986-1991” e “O debate econômico
dos anos 60 em Cuba: um momento do processo revolucionário”; Emilly Couto Feitosa;
As assembleias de poder popular e as tradições de luta democrática e de participação
popular em Cuba”; Graciella Fabrício da Silva, “’O que fazer com Castro?’: Time, Life
e a Revolução Cubana (1959-1962)”. UFRJ: Fábio Muruci dos Santos, “Os homens já se
entendem em Babel: mito e história da América em Oliveira Lima, José Enrique Rodó
e José Martí.UFMG: Cláudia Gomes de Castro, “Imagens da Revolução Cubana: os
cartazes de propaganda política do Estado socialista (1960-1986)”; Itamara Silveira
Soalheiro, “‘Cine sobre ruedas’: expressões da cultura política comunista nos discursos
cinematográficos e na organização do Cine-Móvil cubano (1961-1971)”.
Na região Centro-Oeste os seguintes trabalhos foram levantados. UFG: Eliesse
dos Santos Teixeira Scaramal, “Caça aos bruxos: o fenômeno da repatriação dos
imigrantes haitianos na República de Cuba (1913-1933)”; Kátia Cilene do Couto, “Relações
interétnicas nos centrais açucareiros cubanos (1913-1933)”; Raul Pedro de Barras Batista,
“Os canários em Cuba: uma cultura de migração e de trabalho erigindo a revolução do
açúcar (Década de 80 do século XIX à década de 30 do século XX)”; Emerson Divino
Ribeiro de Oliveira, “Transculturação: Fernando Ortiz, o negro e a identidade nacional
cubana (1906-1940)” e “Gilberto Freyre e Fernando Ortíz: Cultura, Identidade Nacional
e História (1906-1948)”; Andréia Vasquez Borges, “O ideal de nação do movimento
autonomista cubano e da elite açucareira ocidental expresso em seus discursos e ações
de incentivo à imigração (1878-1898)”; Rafael Saddi Teixeira, “A dominação carismática
de Fidel Castro (1952-1960)”; Reinaldo Lima Martins, “1933 em Cuba: o labirinto derretido
– o governo revolucionário dos 100 dias”; Bethoven Soares Darcie, “Os discursos
políticos de Eduardo Chibás como constitutivos do projeto nacional-reformista do
Partido do Povo Cubano”; Maria Martha Luíza Cintra Rabelo, “Cultura e política em
Cuba nas universidades brasileiras: análise da produção nos programas de pós graduação em História (1971-2014)
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Cuba sob o prisma da revista ‘Encuentro de la Cultura Cubana’”; Sandra Maria de
Oliveira, “Las honradas e las impuras: identidade de gênero na literatura cubana de
Miguel de Carrión”. UNB: Edmilson Siqueira de Sá, “O mundo de ponta cabeça: negros
em festa na capitania de Goiás e em Cuba”; Eugênio Rezende de Carvalho, “América para
a Humanidade – o americanismo universalista de José Martí (1853-1895)”; Kátia Cilene
do Couto, “Os desafios da sociedade cubana frente à imigração antilhana (1902-1933)”;
Rickley Leandro Marques, “A condição Mariel: memórias subterrâneas da experiência
revolucionária cubana (1959-1990)”; Dionísio Lázaro Poey Baró, “Cuba: estratégias de
sobrevivência de mulheres negras (século XX)”; Alex Ricardo Medeiros da Silveira,
“Entre calles e eixos: práticas de patrimônio nas cidades de Brasília e Havana”; Giliard
da Silva Prado, “Guerrilhas da memória: estratégias de legitimação da revolução cubana
(1959-2009)”.
Nas instituições da região sul foram encontrados os trabalhos a seguir. UFSC:
Marcelo Gonzales Brasil Fagundes, “Intenções Literárias: Política e História em Alejo
Carpentier”. PUC-RS: Roselena Leal Colombo, “Cuba pós-colapso do Leste Europeu:
Reinserção Internacional e Reformas Estruturais na Revista Economía e Desarrollo
(1996-2000)”; Bruno Henz Biazetto, “A insurreição no meu quintal: processo decisório
e percepção da diplomacia norte-americana durante a Revolução Cubana (1958-1960)”.
UNISINOS: Angelita Lopes de Moura, “Reforma agrária, cubanização/fidelização: a
construção do discurso alarmista subjacente ao golpe militar de 1964”.
Por fim, os trabalhos produzidos em instituições da região nordeste. UFBA:
Ileana de las Mercedes Hodge Limonta, “Cultura de Resistência e Resistência de uma
Identidade Cultural: A Santería Cubana e o Candomblé Brasileiro (1950-2000)”; Bruno
de Oliveira Moreira, “De Heróis a Tiranos: jornal A Tarde, Agências Internacionais de
Notícias e a Revolução Cubana como Representação Jornalística (1959-1964)”.
A construção desse breve panorama demonstra a existência de diversas questões
que envolvem a produção sobre Cuba nas universidades brasileiras. O número relevante
de pesquisas defendidas nos programas de pós-graduação em História revela uma
preocupação em desenvolver um olhar mais atento para uma região que vem ganhando
importância política e econômica para o Brasil. Essa atenção vem acompanhada da
expansão da pós-graduação, do mercado editorial, da produção sobre América Latina
e da acentuação do intercâmbio entre as universidades brasileiras e latino-americanas.
Foi possível observar que a consolidação desses fatores levou a um crescimento
exponencial na produção nos últimos quatorze anos.
Claramente ainda existem algumas defasagens e uma considerável concentração
dessa produção, principalmente quando observamos que 59% dos trabalhos levantados
foram desenvolvidos em universidades da região sudeste, enquanto na região nordeste
foram produzidas apenas 3% das pesquisas e na região norte nenhum trabalho foi
registrado. Essa disparidade é um movimento que precisa ser superado, mas que ainda
caminha de forma muito lenta. É necessário incentivar um maior investimento no
intercâmbio entre as universidades brasileiras e, consequentemente, a maior circulação
de docentes e pesquisadores entre as diferentes regiões para a troca de experiências e
de temáticas, fugindo de um regionalismo que ainda não foi superado no país.
Quanto à distribuição temática dessas pesquisas percebemos que algumas
barreiras ainda precisam ser superadas. O predomínio de alguns temas não representa
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um aspecto propriamente negativo, a crítica baseia-se, sim, na pouca atenção dada a
alguns temas que figuram ainda timidamente na historiografia brasileira. É interessante
que essas temáticas consigam se estabelecer, pois são capazes de se configurarem em
pesquisas relevantes para o melhor entendimento de algumas questões que permeiam
a história da ilha e também de algumas relações que se configuraram ao longo do século
XIX e XX no continente americano. Seria salutar que outros trabalhos se dedicassem ao
levantamento e análise da produção acadêmica sobre os demais países do continente,
pois poderíamos acessar uma considerável quantidade de possibilidades para aqueles
que se interessam pelo desenvolvimento de pesquisas no campo de História da América.
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